O ENRAIZAMENTO DA NEGLIGENCIA PARENTAL E O DESABROCHAR DA IMAGINAÇÃO NOS GALHOS DE MINGUINHO
Por Thalita Brandão Alves | 07/02/2025 | LiteraturaRESUMO
A negligência parental é um tema delicado e impactante que afeta a vida de muitas crianças ao redor do mundo, o livro "Meu pé de laranja lima", escrito por José Mauro de Vasconcelos, é uma obra literária que aborda essa temática. Neste trabalho, objetiva-se explorar como a negligência parental é retratada no livro e analisar os símbolos presentes na narrativa, que contribuem para a compreensão dessas questões. Diante disso, surgiu o seguinte questionamento: “Como a negligência parental é retratada na obra “Meu pé de laranja lima” e quais os efeitos causam no personagem principal Zezé?”. Para preencher essa lacuna, hipotetisa-se que a falta de comunicação aberta e o diálogo entre pais e filhos podem levar a mal-entendidos e distanciamento emocional, pois é através da comunicação efetiva que constrói-se relacionamentos saudáveis e compreende-se as necessidades e emoções das crianças. Nota-se que os comportamentos dos responsáveis têm um impacto direto no desenvolvimento emocional da criança. Estudos como esse revelam a urgência de um olhar mais abrangente sobre a negligência parental, considerando não apenas as suas manifestações, mas também as suas consequências e as dinâmicas familiares que a cercam. A obra estudada aponta para a necessidade de uma abordagem integrada que envolva tanto a pesquisa quanto a prática, visando criar um ambiente mais seguro e saudável para as crianças.
Palavras- chave: Infantojuvenil. Desenvolvimento. Negligência. Parental.
ABSTRACT
Parental neglect is a delicate and impacting issue that affects the lives of many children around the world. The book “My Lime Tree”, written by José Mauro de Vasconcelos, is a literary work that addresses this issue. The aim of this paper is to explore how parental neglect is portrayed in the book and to analyze the symbols present in the narrative, which contribute to understanding these issues. With this in mind, the following question arose: “How is parental neglect portrayed in the book ‘My Lime Tree’ and what effects does it have on the main character Zezé?”. To fill this gap, it is hypothesized that the lack of open communication and dialogue between parents and children can lead to misunderstandings and emotional distancing, since it is through effective communication that healthy relationships are built and children's needs and emotions are understood. It can be seen that the behavior of parents has a direct impact on the child's emotional development. Studies like this reveal the urgency of taking a more comprehensive look at parental neglect, considering not only its manifestations, but also its consequences and the family dynamics that surround it. The work studied points to the need for an integrated approach involving both research and practice, with the aim of creating a safer and healthier environment for children.
Key words: Children and adolescents. Development. Parental Parental.
INTRODUÇÃO
A negligência parental é um tema delicado e impactante que afeta a vida de muitas crianças ao redor do mundo. O livro "Meu pé de laranja lima", escrito por José Mauro de Vasconcelos, é uma obra literária que aborda essa temática de forma sensível e profunda. Neste trabalho, objetiva-se explorar como a negligência parental é retratada no livro e analisar os símbolos presentes na narrativa, que contribuem para a compreensão dessas questões. Diante disso, surgiu o seguinte questionamento: “Como a negligência parental é retratada na obra “Meu pé de laranja lima” e quais os efeitos causam no personagem principal Zezé?”. Para atingir os objetivos propostos, será realizada uma pesquisa bibliográfica, com base em livros, artigos acadêmicos e materiais relacionados à literatura infantojuvenil e a negligência parental. A explicação para a questão acima mencionada expõe que trata-se de um livro que aborda a negligência parental e seu impacto significativo na saúde emocional e psicológica de Zezé, ele experimenta solidão, tristeza e uma sensação de não ser amado ou valorizado. Esses sentimentos são amplificados pela falta de apoio e atenção de seus pais, o que ratifica a negligência e suas consequências negativas, além disso, é possível notar a relação construída com o pé de laranja lima.
Ao investigar a negligência parental, é possível analisar as suas causas, consequências e estratégias de prevenção e intervenção. Também é importante compreender os aspectos psicossociais e culturais que estão envolvidos nesse fenômeno, a fim de desenvolver abordagens mais adequadas e sensíveis para lidar com essa questão complexa. Portanto, a investigação da negligência parental é de extrema relevância para a promoção do bem-estar e proteção das crianças, bem como para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
A escolha de investigar a negligência parental e os símbolos presentes no livro "Meu pé de laranja lima" de José Mauro de Vasconcelos é motivada por algumas razões, primeiramente, pela experiência adquirida durante o exercício da docência em Instituições de Ensino Particular, dado que subtende-se que as crianças que frequentam essas instituições são bem mais assistidas e amparadas por seus genitores dado à suas condições econômicas, porém, a realidade encontrada foi totalmente discrepante já que as crianças apesar de terem todo aparato que a sua condição financeira pode oferecer apresentavam altos níveis de carência que eram apresentados em forma de indisciplina, necessidade de estar junto à um adulto que reafirme sua importância e valor entre outros. Em segundo lugar, por ser um tema relevante e atual, que afeta a vida de muitas crianças e tem consequências significativas em seu desenvolvimento físico, emocional e social. Compreender os fatores que contribuem para a negligência parental e suas representações literárias pode fornecer insights valiosos para profissionais da área da saúde, educação e assistência social, bem como pais e cuidadores. Na obra escolhida, um menino que enfrenta a negligência e a falta de afeto dos pais, permite uma análise aprofundada das dinâmicas familiares e suas implicações na vida das crianças.
Com a realização dessa pesquisa, espera-se contribuir para a compreensão mais profunda da negligência parental e seu retrato literário, bem como destacar a importância dos símbolos na transmissão de significados e na reflexão sobre questões familiares e sociais. Desta forma, a investigação realizada no livro "Meu pé de laranja lima" é relevante e oportuna, pois oferece uma oportunidade significativa para aprofundar o conhecimento sobre esses temas promovendo a conscientização e a busca por soluções que possam melhorar a qualidade de vida das crianças em situações vulneráveis.
Para isso, surge o seguinte questionamento: “Como a negligência parental é trabalhada na obra “Meu pé de laranja lima” e de que maneira o protagonista é afetado por isso?”. Com esse fim, estipulou-se o seguinte objetivo geral analisar a representação da negligência parental no livro "Meu pé de laranja lima" e analisar suas implicações no desenvolvimento das personagens infantis diante da negligência parental retratada, buscando compreender os significados e mensagens transmitidas pelo autor; e os específicos identificar e descrever os principais casos de negligência parental presentes no livro "Meu pé de laranja lima", investigar as consequências dessas situações para as personagens infantis; apontar os símbolos presentes na obra e sua relação com a negligência parental, considerando elementos como o pé de laranja lima, a bola de gude, a figura do Portuga, entre outros; explorar as relações entre os símbolos e a transformação das personagens infantis, levando em conta as possibilidades de superação da negligência parental por meio da construção de laços afetivos e simbólicos.
A metodologia desta pesquisa terá as seguintes características: quanto à abordagem, a presente pesquisa é qualitativa dado que será investigado a subjetividade individual de Zezé; de natureza básica pois objetiva analisar a obra sob uma perspectiva ainda não investigada, pelo menos não foi encontrado nenhum material semelhante nas pesquisas já elaboradas, além de que seus resultados servem de base para outras pesquisas. Outra característica é ser bibliográfica dado que é feita em fontes documentais como bibliotecas, bancos de dados, etc. Os textos pesquisados podem ser livros, teses, dissertações, artigos ou outra produção científica impressa e on-line. Além disso, possui caráter descritivo visto que, descreve os fatos e dados sem que sejam manipulados pelo pesquisador. Apenas observa os fenômenos a fim de descrevê-los, interpretá-los e classificá-los baseando-se nos acontecimentos.
Como material teórico utilizou-se, para conhecer sobre a negligência parental, Oliveira (2017) com o trabalho intitulado “A negligência infantil na perspectiva da psicanálise winnicottiana” no qual discorre acerca da Violência Doméstica contra Crianças e Adolescentes (VDCA) nos dias atuais ser considerada um problema não só social, mas também de saúde pública e se manifesta por diferentes modalidades. Esse trabalho trata de uma das formas de VDCA, ou seja, a negligência infantil entendida como omissão dos cuidados dos pais ou responsáveis perante as necessidades apresentadas pela criança. Neste exposto são apresentadas as características bem como suas consequências para o desenvolvimento infantil. Para o entendimento desse fenômeno utilizou-se a teoria psicanalítica de Winnicott, mais precisamente a sua teoria do desenvolvimento emocional primitivo, que considera que todo ser humano tem a tendência inata a se desenvolver, mas precisa de um ambiente facilitador e suficientemente bom para que isso aconteça de forma saudável. Com o objetivo de contribuir na área da intervenção clínico-institucional de crianças negligenciadas discute-se o lugar e a função da relação analítica e também das instituições de acolhimento como instrumentos que podem fornecer a esses indivíduos a possibilidade de retomada ao processo de desenvolvimento.
O segundo artigo foi “Mau Trato e Negligência Parental: Contributos para a definição social dos conceitos” escrito por Calheiros e Monteiro (2000) este estudo teve por objetivos: a apreensão dos significados particulares dos conceitos de mau trato e de negligência, a nível do senso comum, a nível técnico e a nível jurídico, a identificação de alguns dos fatores responsáveis pela sua variação, e a definição integrada do conceito. Através de uma análise de conteúdo foram analisados os corpus de 123 entrevistas, de 9 relatórios técnicos e do articulado relevante do direito português que integravam ideias e representações sobre mau trato e negligência com crianças. A amostra dos sujeitos da entrevista foi caracterizada em termos socioeconómicos e de experiência profissional com crianças. Da análise do material resultaram 18 subcategorias de mau trato e negligência descritivos das quatro categorias principais em que o tema tem sido abordado na literatura. Uma análise factorial de correspondências mostrou, não só a saliência das dimensões de significado das práticas parentais abusivas, como a importância do estatuto socioeconómico e das pertenças institucionais dos definidores na acentuação diferenciada daquelas dimensões.
O artigo “Uma leitura do social da obra ‘O meu pé de laranja lima’ de José Mauro de Vasconcelos” produzido por Freitas (2012) o objetivo deste trabalho é abordar os aspectos sociais da obra O Meu Pé de Laranja Lima, realçando alguns pontos relacionados à violência vivida por Zezé, o protagonista da obra. Apesar de considerada uma das obras infanto-juvenis brasileiras mais conhecidas, atingindo grande sucesso editorial no Brasil, sendo publicada em vários países, observa-se que são raros, os estudos desenvolvidos sobre esta importante obra de José Mauro de Vasconcelos. Objetivou-se através deste estudo bibliográfico, contribuir para as pesquisas na área de linguagem. A pesquisa fundamenta-se em áreas de pesquisa como: A psicanálise dos contos de fadas, Literatura e Sociedade.
O penúltimo material bibliográfico foi “O meu pé de laranja lima: do broto ao fruto a recepção da obra de José Mauro de Vasconcelos por diferentes gerações” de Cruz (2007), o objetivo principal dessa dissertação foi verificar o efeito receptivo da obra O Meu Pé de Laranja Lima, de José Mauro de Vasconcelos, por um público específico, diferenciado por idade, maturidade, história de leitura e sexo, evidenciando o reconhecimento da mesma pelo público atual. O Meu Pé de Laranja Lima foi uma das obras brasileiras infanto-juvenis mais conhecidas que atingiu grande sucesso editorial no Brasil e logo conseguiu edição em vários países estrangeiros. São raros no Brasil estudos desenvolvidos sobre as obras de José Mauro de Vasconcelos e sobre a obra em questão. O corpus da pesquisa foi composto por doze pessoas, divididas em seis grupos distintos. A dissertação analisou a recepção de O Meu Pé de Laranja Lima por um público atual, de diferentes gerações, verificando assim se ela atingiu ou ultrapassou o horizonte de expectativa do leitor contemporâneo com relação à obra. Algumas teorias, tais como a Estética da Recepção e a Sociologia da Leitura nortearam essa pesquisa, assim como um levantamento etnográfico realizado com público colaborador distinto. Com a realização da pesquisa, houve o levantamento de questões sobre a receptividade da obra por parte daqueles que a leem pela primeira vez e por parte daqueles que a releem. Os resultados demonstraram que o horizonte de expectativas dos leitores foi quebrado ao mesmo tempo em que a leitura provocou identificação com a personagem-herói através da emoção.
Outro artigo visitado foi “Negligência parental: Uma abordagem experimental a problemas comunitários” escrito por Garrido e Camilo (2012) cujo objetivo é apresentar resumidamente a problemática da negligência parental, seus determinantes e principais fatores protetores e fatores de risco associados, assim como discutir as linhas gerais de uma abordagem experimental do desenho, intervenção e avaliação no trabalho com famílias negligentes, designadamente, programas de desenvolvimento de competências parentais, com vista à preservação familiar.
1. “APRENDIA DESCOBRINDO SOZINHO E FAZENDO SOZINHO”, COMPREENDENDO A NEGLIGÊNCIA PARENTAL E SEUS EFEITOS
Negligência, segundo a Enciclopédia Significados, veio do latim “negligentia”, que expressa falta de cuidado, desatenção ou preguiça. É o ato de depreciar, de não dar à algo o seu devido valor. Trata-se de um fenômeno que ocorre quando os pais ou responsáveis por uma criança falham em prover as necessidades básicas e cuidados adequados para o seu desenvolvimento saudável, essa forma de abuso infantil pode se manifestar de diferentes maneiras, como a falta de supervisão adequada, negligência emocional, negligência médica, falta de alimentação adequada, ausência de cuidados de higiene e negligência educacional. A negligência parental tem impactos significativos na vida das crianças, podendo afetar negativamente seu desenvolvimento físico, emocional, cognitivo e social. Crianças expostas à negligência parental podem enfrentar dificuldades no estabelecimento de relacionamentos saudáveis, baixa autoestima, problemas de saúde, atraso no desenvolvimento acadêmico, além de um maior índice de envolvimento em comportamentos de risco e abuso de substâncias.
A compreensão da negligência parental e seus efeitos é um tema que tem ganhado destaque nas últimas décadas, refletindo a complexidade das dinâmicas familiares e as consequências que a falta de cuidado pode trazer para o desenvolvimento das crianças. A análise de diferentes estudos sobre o assunto revela a multidimensionalidade da negligência, suas causas e implicações sociais.
Essa ocorrência é perceptível em diferentes contextos sociais, econômicos e culturais, afetando crianças em todo o mundo. Suas causas podem ser originárias do estresse familiar, isolamento social, problemas de saúde mental dos pais, falta de recursos financeiros, histórico de abuso na infância dos pais, entre outros fatores. A compreensão da negligência parental é fundamental para a implementação de políticas públicas efetivas, programas de prevenção e intervenção adequados, bem como para a capacitação de profissionais que trabalham com crianças e famílias. Além disso, a conscientização sobre esse tema é essencial para promover a proteção dos direitos das crianças e garantir um ambiente seguro e acolhedor para o seu desenvolvimento.
O livro "Meu pé de laranja lima", escrito por José Mauro de Vasconcelos, é uma obra literária conhecida que aborda a negligência parental de forma sensível e profunda. Neste trabalho, pretende-se explorar como a negligência parental é retratada no livro e analisar como Zezé, o protagonista, é afetado por essa condição.
Os Documentos Oficiais dialogam sobre o assunto, a exemplo do artigo 227 da Constituição Federal, bem como o artigo 4º do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/1990), que atribui aos pais e responsáveis o dever geral de cuidado, criação e convivência familiar de seus filhos, bem como de preservá-los de negligências, discriminação, violência, entre outros. Não há como as legislações obrigarem um pai a amar um filho, mas cabe-lhe assegurar um direito de ser cuidado, a negligência ou omissão, no tocante ao dever geral de cuidado podem resultar em processos judiciais por danos morais. O Estatuto da Criança e do Adolescente- ECA (1990) diz que:
Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990.
Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente.
Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade.
Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade.
Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.
Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei aplicam-se a todas as crianças e adolescentes, sem discriminação de nascimento, situação familiar, idade, sexo, raça, etnia ou cor, religião ou crença, deficiência, condição pessoal de desenvolvimento e aprendizagem, condição econômica, ambiente social, região e local de moradia ou outra condição que diferencie as pessoas, as famílias ou a comunidade em que vivem. (incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.
Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:
a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;
b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública;
c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas;
d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude.
Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.
Art. 6º Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento.
A compreensão de que a negligência parental abrange mais do que apenas a falta de cuidados físicos evidentes é resultado de décadas de pesquisa e conhecimento acumulado por vários especialistas no campo. Nessa perspectiva reconhece-se que a negligência parental também pode envolver a falta de apoio emocional, falta de supervisão adequada, falta de estímulo cognitivo, exposição a ambientes perigosos e outros fatores que afetam o bem-estar e o desenvolvimento da criança.
De acordo com Elias (2012), apesar do aumento na literatura sobre o tema, ainda há uma lacuna significativa na pesquisa, especialmente no que diz respeito aos impactos a longo prazo da negligência na saúde física e mental das crianças na vida adulta. Ela argumenta que a resposta a essa questão deve ser uma prioridade de saúde pública, sugerindo que intervenções devem ser desenvolvidas para abordar o contexto ambiental que contribui para a negligência.
Complementando essa discussão, Ruth e Yarger (2022) abordam os custos de desenvolvimento associados à retirada materna precoce, ressaltando que a negligência não é apenas uma questão de falta de cuidados físicos, mas também de suporte emocional. A pesquisa dessas autoras destaca que a negligência parental é um tema que demanda atenção especial, tanto na pesquisa acadêmica quanto nas políticas públicas, para mitigar seus efeitos prejudiciais e promover o bem-estar das crianças.
A negligência dos pais tem sido objeto de pesquisas que destacam a complexidade da dinâmica familiar e seu impacto no bem-estar da criança. Nesse contexto, o artigo de Thistle Elias (2012) oferece uma perspectiva crítica sobre as dificuldades enfrentadas pelos pais, especialmente aqueles que desejam se envolver ativamente na vida de seus filhos, mas são impedidos pela falta de vínculos legais. Ele enfatiza a necessidade de avaliar os sistemas atuais de comunicação de recursos às famílias e de coordenação de serviços, sugerindo que a falta de informações e de acesso pode contribuir para a negligência. Os pais também expressam dificuldade em proteger seus filhos de ambientes comunitários adversos e, ao mesmo tempo, prepará-los para lidar com eles, indicando uma tensão entre proteção e preparação. Essa dinâmica é fundamental para entender como a negligência pode se manifestar em diferentes contextos e como as aspirações dos pais para o futuro de seus filhos podem ser afetadas por essas realidades.
Esses estudos, em conjunto, oferecem uma visão abrangente da negligência parental, suas causas e consequências, bem como a importância de intervenções sociais para mitigar seus efeitos. Revela, ainda, a necessidade de um entendimento aprofundado sobre a negligência e suas implicações, tanto para as crianças quanto para as famílias, destacando a relevância de ações que promovam o fortalecimento das competências parentais e a proteção dos menores.
2. “O DESCOBRIDOR DAS COISAS” CONHECENDO A OBRA DE JOSÉ MAURO DE VASCONCELOS
José Mauro de Vasconcelos nasceu no subúrbio do Rio de Janeiro (em Bangu), no dia 26 de fevereiro de 1920. Aos 22 anos, dotado de imensa criatividade e ânimo literário, deu início a sua carreira literária com o livro Banana Brava. Como não podia se dedicar integralmente a literatura, trabalhou como garçom, instrutor de boxe e operário. Teve uma vida produtiva literária farta, seus livros foram reeditados inúmeras vezes, traduzidos para o exterior e alguns ganharam adaptação para o audiovisual. Em 1968, publicou o seu maior sucesso de público e crítica: Meu Pé de Laranja Lima. Além de ter vivido para a escrita, José Mauro também trabalhou como ator (recebeu inclusive o Prêmio Saci de Melhor Ator e de Melhor Ator Coadjuvante). Faleceu no dia 24 de julho de 1984, aos 64 anos, na cidade de São Paulo.
O livro “O meu pé de laranja lima”, considerado um clássico da literatura infantojuvenil brasileira, é uma história autobiográfica que relata a infância sofrida, as longas conversas com um pé de laranja que fica no quintal de casa e as buscas por mudanças. Com quase 6 anos, o protagonista vive aprontando, viaja com sua imaginação, explora, descobre e responde aos adultos. A obra foi adaptada para a televisão e para o cinema. Ela foi traduzida para 32 idiomas e publicado em outros 19 países, esse fato é um pouco preocupante, dado que demonstra que os dramas vividos pela criança no subúrbio do Rio de Janeiro são comuns a inúmeras crianças atribuindo a negligência infantil um caráter universal. Muitos leitores se identificam com o fato do menino escapar do cenário real esmagador, rumo a um imaginário feito de possibilidades felizes. Vale lembrar que Zezé era vítima de violência física e também psicológica por parte dos mais velhos, com base nisso, afirma-se que o livro possibilita encarar a infância sob um ponto de vista, muitas vezes esquecido diante da enorme quantidade de material que tem como tema a infância idealizada. É como expõe Cândido (1972), a literatura trabalha a sensibilidade humana. E é por meio da identificação com as personagens, que a literatura vai provocando o prazer, o riso, o medo, a dor, a dúvida.
O contexto histórico da publicação da obra, a saber o ano de 1968, era um pouco peculiar já que o país se encontrava no auge da ditadura militar, nos chamados anos de chumbo sob forte repressão. No ano da publicação de O meu pé de laranja lima, foi realizada no Rio de Janeiro A Passeata dos Cem Mil. No mesmo ano foi promulgado o AI-5 (Ato Institucional número 5), que proibia qualquer manifestação contrária ao regime. Foram anos duros marcados pela perseguição de opositores políticos e pela tortura. Por enfocar mais no universo infantil e não abordar propriamente nenhuma questão política, a obra passou pelos censores sem apresentar qualquer tipo de problema. De toda forma, vê-se no cotidiano do protagonista de José Mauro, como o menino sofria repressões, não pelo governo, mas dentro da própria casa, pela sua própria família. Sobre essa característica da literatura, escreve Aguiar e Silva (1979):
A literatura é veículo de evasão, mas pode também constituir importante instrumento de crítica social; a literatura é instrumento de catarse, de libertação e de apaziguamento íntimos, mas também é instrumento de comunicação, apto a dar a conhecer aos outros a singularidade da nossa situação e capaz de permitir, por conseguinte, que comuniquemos através daquilo que nos separa.
O romance foi escrito por José Mauro de Vasconcelos e é dividido em duas partes, a primeira parte do livro se debruça sobre a vida do menino, as suas aventuras e as consequências dela, e conta a história de Zezé, filho de uma família muito pobre, é um garoto comum, de cinco anos, natural de Bangu, periferia do Rio de Janeiro. Muito esperto e independente, é conhecido pela sua malandrice e é o narrador de sua própria história em O meu pé de laranja lima. O garoto é tão esperto que acaba aprendendo a ler sozinho. Como é possível observar nesse trecho da obra:
“- Juro, Totóca, que não sei. Não sei mesmo.
- Você está mentindo. Você estudou com alguém.
- Não estudei nada. Ninguém me ensinou. Só se foi o diabo que Jandira diz que é meu padrinho, que me ensinou dormindo.
Totóca estava perplexo. No começo até me dera cocorotes para eu contar. Mas nem eu sabia contar” (Vasconcelos, 1975, p. 8-9)
A vida de Zezé era boa, tranquila e estável. Ele vivia com a família em uma casa confortável e tinha tudo o que era preciso em termos materiais, até que o pai perdeu o emprego e a mãe viu-se obrigada a trabalhar na cidade, mais especificamente no Moinho Inglês. Empregada em uma fábrica, a mãe passa o dia no trabalho enquanto o pai, desempregado, fica em casa. Com a nova condição da família, eles se veem obrigados a mudar de casa e passam a ter uma rotina muito mais modesta. Os Natais fartos de outrora foram substituídos pela mesa vazia e por uma árvore sem presentes. Na nova casa tem um quintal, o que permite que cada filho escolha uma árvore para chamar de sua. Zezé é o último a escolher acaba ficando com o pé de laranja lima, uma árvore franzina e nada vistosa, depois de muita relutância, Zezé acaba se afeiçoando à arvore ao ponto de batizá-la de “Minguinho” surge, então, uma forte e genuína amizade.
Como vivia aprontando, era recorrente Zezé ser pego em uma das travessuras e apanhar dos pais ou dos irmãos. Depois lá ia ele se consolar com Minguinho, o pé de laranja lima. Numa das vezes que aprontou, apanhou tanto da irmã e do pai que precisou ficar uma semana sem ir à escola. Além de Minguinho, o outro grande amigo de Zezé é Manuel Valadares, também conhecido como Portuga, e é sobre ele que girará a segunda parte do livro. O Portuga tratava Zezé como filho e dava toda a paciência e afeto que o garoto não recebia em casa. A amizade entre os dois não era partilhada com o resto da família.
Por uma fatalidade do destino, o Portuga é atropelado e morre. Zezé, por sua vez, adoece. E para piorar a vida do menino ainda decidem cortar o pé de laranja lima, que vinha crescendo mais do que era suposto no quintal. A situação muda quando o pai arranja um emprego depois de um longo período em casa. O menino, entretanto, apesar dos seus quase seis anos, não se esquece da tragédia. A narrativa é extremamente poética e cada travessura do menino é contada a partir do olhar doce da criança.
No que diz respeito a escola literária em que o romance pode ser inserido, é viável atribuí-lo como componente do movimento literário Realismo-Naturalismo, essa escola experimentou seu apogeu no final do século XIX e início do século XX, que buscava retratar a realidade de forma objetiva, muitas vezes enfatizando as condições sociais e a influência do meio ambiente sobre os personagens. No caso do livro de José Mauro de Vasconcelos, reflete na descrição da vida difícil de Zezé e sua família na favela, enquanto a presença do pé de laranja lima proporciona uma atmosfera fantástica e imaginativa. Segundo, Bosi (2017) o Realismo- Naturalismo apresenta características como denúncia social, análise de traços de personalidade e psique das personagens, explica o ser humano objetivamente e sem ilusões além da busca pelo engajamento social. Um dos aspectos mais marcantes da obra é a habilidade de retratar a realidade social e econômica da época, visto que, o autor explora a pobreza de forma realista, mostrando as dificuldades enfrentadas pela família e o impacto disso na vida do protagonista. Essa abordagem realista contribui para a construção do perfil das camadas mais marginalizadas da sociedade.
Além disso, o autor utiliza a imaginação como uma ferramenta para Zezé escapar das adversidades do mundo real. O pé de laranja lima, que se torna o confidente e amigo imaginário de Zezé, desempenha um papel fundamental na história. Através das conversas com o pé de laranja lima, Zezé encontra conforto e um refúgio para suas emoções conflitantes. Essa mescla de realidade e fantasia traz uma camada poética e simbólica ao romance, representando a capacidade da imaginação de transformar a realidade e fornecer consolo em momentos difíceis. O que também atribui à obra uma das características da literatura fantástica, que como escreve Camarani (2014, p.107 – 108) tem:
Como primeira característica do gênero, Furtado (1980) aponta justamente o surgimento do sobrenatural em um ambiente cotidiano e familiar, retomando as definições de Caillois e Vax; completa seu pensamento afirmando que, assim, a fenomenologia meta-empírica (de índole maléfica) é sempre o elemento temático dominante da narrativa fantástica.
Outro elemento importante na análise literária do livro ao longo da narrativa, o leitor acompanha o desenvolvimento do protagonista, desde a sua inocência inicial até a compreensão gradual das complexidades da vida e das responsabilidades que carrega. Zezé enfrenta desafios emocionais e aprende importantes lições sobre amizade, família e perdas, o que contribui para o seu crescimento como indivíduo.
A linguagem utilizada por Vasconcelos é simples e acessível, adequada ao público infantojuvenil para o qual o livro foi originalmente escrito. No entanto, a simplicidade da narrativa não diminui a profundidade dos temas abordados, pelo contrário, a escrita envolvente do autor e a voz autêntica de Zezé capturam os leitores, fazendo-os refletir sobre questões universais da infância e da condição humana.
Como a televisão passou a ter um papel importante na sociedade, dado que adentrava os mais diversos ambientes da sociedade, alcançando as mais diferentes classes sociais. A história contada por José Mauro de Vasconcelos ficou conhecida pelo grande público principalmente devido às adaptações feitas para a Tv. Marcello (2017) escreve que em 1970, Aurélio Teixeira dirigiu a adaptação cinematográfica de O meu pé de laranja lima que conquistou o coração dos espectadores. No mesmo ano, surgiu a novela da Tupi, com roteiro de Ivani Ribeiro e direção de Carlos Zara. Nessa primeira versão, Haroldo Botta interpretou Zezé e Eva Wilma interpretou Jandira. Dez anos mais tarde, a Rede Bandeirantes aproveitou o texto de Ivani Ribeiro e levou ao ar a segunda adaptação do clássico infanto-juvenil. A nova versão, dirigida por Edson Braga, foi ao ar entre 29 de setembro de 1980 e 25 de abril de 1981. O protagonista escolhido para viver Zezé foi Alexandre Raymundo.
Depois do sucesso da primeira edição, a Band decidiu fazer uma nova versão de O meu pé de laranja lima. O primeiro capítulo foi ao ar no dia 7 de dezembro de 1998. Essa adaptação foi assinada por Ana Maria Moretszohn, Maria Cláudia Oliveira, Dayse Chaves, Izabel de Oliveira e Vera Villar, com direção de Antônio Moura Matos e Henrique Martins. Dessa versão participaram atores como Regiane Alves (interpretando Lili), Rodrigo Lombardi (interpretando Henrique) e Fernando Pavão (interpretando Raul).
Em entrevista à Revista Literartes, realizada em 2013, a roteirista Melanie Dimantas expôs, quando questionada sobre o impacto dessa história nos dias de hoje, que:
Acho que o jovem não vê muito bem histórias que refletem a infância problemática, que falam de tristeza, porque o filme não foi tão bem. Já não se lê mais Os meninos da rua Paulo, literatura triste e realista. Esse tipo de literatura perdeu um pouco o seu lugar. Hoje existe mais ironia e até histórias como O Rei Leão, de fundo shakespeariano são atenuadas com números musicais, com a ideia de superação e piadas. No filme, o diretor precisou ousar mais na forma e no ar soturno do filme porque, caso contrário, não haveria impacto nenhum. (Literartes,2013,p. 20-21)
Após a leitura do romance percebe-se que há a abordagem de temas pertinentes quanto ao universo infantil, nota-se também, no desenrolar do romance, que sempre há conflitos com os adultos que acabam por negligenciar as crianças que se refugiam em um universo particular fruto da grande imaginação e criatividade delas. Observa-se também como o afeto, quando essa mesma criança negligenciada é abraçada por um adulto, é capaz de trazer acolhimento. Garrido e Camilo (2012), expõem que:
Calheiros (2006) especifica a definição de negligência distinguindo (i) a negligência física, como falta de cuidados básicos à criança ao nível das suas necessidades físicas (habitação, alimentação, higiene, vestuário, acompanhamento da saúde física), (ii) a negligência educacional, como omissões parentais relativamente ao acompanhamento escolar, desenvolvimento e saúde mental da criança e, (iii) a falta de supervisão, como omissões ao nível dos cuidados com a segurança física, socialização, estimulação e acompanhamento aos filhos menores.
Com base nessa definição, é possível afirmar que no livro os pais de Zezé são caracterizados como negligentes e distantes emocionalmente e se enquadram nos tipos negligência educacional (ii) e a falta de supervisão (iii) dado que, eles não demonstram interesse ou envolvimento emocional com Zezé, deixando-o frequentemente desamparado e carente de afeto.
3. “LÁ EM CASA CADA IRMÃO MAIS VELHO CRIAVA UM MAIS MOÇO.” UMA ANÁLISE DA NEGLIGÊNCIA PARENTAL SOFRIDA POR ZEZÉ
Os personagens principais da narrativa de José Mauro de Vasconcelos são Zezé, um menino travesso, de cinco anos, morador do subúrbio do Rio de Janeiro; Totóca, o irmão mais velho de Zezé, é interesseiro, mentiroso e egoísta; Luís, irmão caçula de Zezé, era chamado pelo menino de Rei Luiz e o grande orgulho de Zezé por ser independente, aventureiro e muito autônomo; Glória, irmã mais velha, muitas vezes protetora de Zezé; Seu Paulo, o pai, frustrado com o desemprego e desiludido com a incapacidade de sustentar a família, acaba sendo impaciente com os filhos, costuma beber com muita frequência e quando tenta disciplinar as crianças faz uso da força e algumas vezes se arrepende das surras que dá; Dona Maria, a mãe, é retratada como extremamente cuidadosa e preocupada com os filhos, quando percebe a situação financeira complicada da família arregaça as mangas e vai trabalhar na cidade para sustentar a casa; Portuga Manuel Valadares trata Zezé como um filho e enche o menino de carinho e atenção que muitas vezes o garoto não recebe em casa; e Minguinho, também conhecido como Xururuca, é o pé de laranja lima do quintal, grande amigo e confidente de Zezé.
O estilo familiar ou parental determina o desenvolvimento e educação da criança/jovem, tendo sempre consequências positivas ou negativas para o seu futuro. Pereira (2020) à luz da investigadora Diana Baumrind, identifica os estilos parentais: autoritário, democrático (autoritativo) e permissivo. Com base na análise realizada é possível afirmar que na obra de José Vasconcelos nota-se o estilo autoritário, uma vez que,
caracteriza-se pela manifestação do poder e por reduzidos níveis de apoio, envolvimento e comunicação. Os pais tentam moldar, controlar e avaliar os comportamentos das crianças/jovens de acordo com um padrão definido, valorizando a obediência e o respeito da autoridade. As punições e medidas coercivas são frequentemente utilizadas como formas de exercer o controlo. Estes pais tendem a desencorajar a independência e a individualidade da criança, bem como a comunicação, exercendo sobre as crianças um elevado controlo psicológico. Pressupõe que os pais “valorizam o controle e a obediência inquestionável” (Pereira,2020, p. 8).
Essa dinâmica familiar, marcada pela pobreza, a falta de recursos e o autoritarismo do pai, tem um impacto significativo no desenvolvimento psicológico de Zezé. Ele busca refúgio em sua imaginação e cria um mundo de fantasia personificado no "Minguinho", um amigo imaginário, o protagonista encontra nesse mundo uma forma de lidar com as dificuldades reais que enfrenta em sua vida cotidiana e para compensar a falta de cuidado emocional por parte dos pais. Como ratifica Kazdin & Whitley (2003):
As famílias em que se verificam problemas nos cuidados com os filhos, tal como a negligência, tendam a viver em condições materiais mais adversas, geradoras de tensões que, no cotidiano, se acresceriam às geradas pela própria prática parental.
Visando destacar a relação entre Zezé e seus pais, fez-se necessário a descrição mais aprofundada dos sujeitos envolvidos para que, deste modo, seja possível analisar corretamente. Inicialmente, tem-se a mãe de Zezé, dona Maria, é descrita como uma mulher amorosa, mas sobrecarregada pelas responsabilidades do lar e pela falta de recursos. Ela é retratada como uma figura submissa ao marido, incapaz de impor limites ou se opor às atitudes autoritárias dele, apesar de toda a postura da mãe em relação à Zezé, o menino demonstra compreensão e empatia, o que caracteriza de certa forma um amadurecimento precoce:
Mamãe nasceu trabalhando. Desde os seis anos de idade quando fizeram a Fábrica que puseram ela trabalhando. Sentavam Mamãe bem em cima de uma mesa e ela tinha que ficar limpando e enxugando ferros. Era tão pequenininha que fazia molhado em cima da mesa porque não podia descer sozinha... Por isso ela nunca foi à Escola e nem aprendeu a ler. Quando escutei essa história dela fiquei tão triste que prometi que quando fosse poeta e sábio eu ia ler minhas poesias para ela... (pág. 18)
O pai de Zezé é retratado como uma figura distante e ausente na vida do protagonista, essa caracterização evidencia um homem que está frequentemente ausente do convívio familiar e tem pouco envolvimento emocional com seu filho. Essas deficiências no relacionamento entre pai e filho contribuem para a sensação de desconexão emocional entre eles, tanto que, após reclamar da condição financeira de seu pai, e ele ouvir, Zezé sai em busca de dinheiro para poder agradá-lo e para isso engraxa sapatos durante todo o dia após o Natal para deixa-lo feliz:
“ – Passei o dia trabalhando para comprar este presente de Natal para Papai.
- Verdade Zezé? E o que ele te deu?
- Nada, coitado. Ele está ainda desempregado, o senhor sabe.
Ele ficou emocionado e ninguém falou no bar.” (pág. 35)
Essa falta de envolvimento emocional é evidenciada pela falta de comunicação efetiva, falta de apoio emocional e pouca atenção dada às necessidades e sentimentos de Zezé. Percebe-se que ambos, os pais, são preocupados majoritariamente com suas próprias vidas e problemas. Que pode ser observado no trecho abaixo:
LÁ EM CASA cada irmão mais velho criava um mais moço. Jandira tomara conta de Glória e de outra irmã que fora dada para ser gente no Norte. Antônio era o quindim dela. Depois Lalá tomara conta de mim até bem pouco tempo. (...)Depois então vinha o meu irmãozinho Luís. Esse quem tomava mais conta dele era Glória e depois eu. Ninguém precisava tomar conta dele, porque menininho mais lindo, bonzinho e quietinho não existia. (Vasconcelos, 1975, p. 13)
O trecho ilustra a transferência de responsabilidade para os filhos mais velhos, atribuindo-lhes a função de educar e amparar seus irmãos menores, enquanto os pais se ocupam com os problemas da vida adulta, a saber, desemprego e longas jornadas de trabalho e acabam por negligenciar as necessidades emocionais do filho.
Os pais de Zezé não conseguem reconhecer ou validar suas experiências, deixando-o se sentindo incompreendido e desvalorizado. Bruce Perry (2017), renomado psiquiatra infantil e neurocientista, enfatiza que :
a negligência parental não se limita apenas à falta de cuidados físicos evidentes, como a ausência de alimentação ou abrigo. A falta de respostas e interações afetivas dos cuidadores também pode ser considerada negligência, pois compromete o desenvolvimento emocional e a formação de um apego seguro entre a criança e seus cuidadores.
Essa caracterização dos pais de Zezé impacta negativamente seu desenvolvimento e bem-estar emocional, a saber, a forma como Zezé percebe a si mesmo, salienta-se que sempre é de modo pejorativo e depreciativo, e o mundo ao seu redor moldando sua jornada emocional ao longo da história.
“- Sério. Você vê, eu não presto para nada, estou cansado de sofrer pancada e puxões de orelha. Vou deixar de ser uma boca a mais...
Comecei a sentir um nó doloroso na garganta. Precisava muito de coragem para contar o resto.
- Vais fugir então?
- Não. Eu passei esta semana toda pensando nisso. Hoje de noite eu vou me atirar debaixo do Mangaratiba.” (pág.95)
A falta de recursos financeiros, a rigidez do pai e a sobrecarga da mãe contribuem para a negligência emocional sofrida por Zezé, levando-o a buscar refúgio em sua imaginação e a enfrentar suas dificuldades emocionais de forma solitária.
Essa falta de cuidados pode afetar, de modo direto, aspectos do desenvolvimento do protagonista, por exemplo, a falta de estímulo cognitivo e interação verbal adequada pode retardar o desenvolvimento da linguagem e da capacidade de comunicação das crianças. A falta de supervisão adequada pode expor as crianças a situações perigosas ou prejudiciais, comprometendo seu desenvolvimento emocional e social. Além disso, a negligência parental pode levar a uma falta de apego seguro entre pais e filhos. O apego seguro é crucial durante a fase pré-operatória, pois fornece uma base emocional estável para que as crianças explorem o mundo e desenvolvam confiança em si mesmas. A falta desse apego pode levar a problemas de comportamento, dificuldades de relacionamento e dificuldades emocionais nas crianças.
O teórico Henri Wallon (1989) defende a abordagem integrada do desenvolvimento infantil, contemplando os aspectos da afetividade, motricidade e inteligência. Ele enfatiza que o desenvolvimento da inteligência depende das experiências proporcionadas pelo ambiente e da capacidade do sujeito em assimilá-las. Nesse sentido, fatores como o ambiente físico, as interações com pessoas próximas, o uso da linguagem e os conhecimentos culturais contribuem de maneira efetiva para moldar e influenciar o processo de desenvolvimento infantil.
Zezé é uma criança de quase seis anos está passando pela fase denominada por Wallon (1989) como personalismo, estágio do desenvolvimento infantil responsável pela criação da personalidade da criança. O autor conceitua essa fase da seguinte maneira:
Personalismo (três aos seis anos, aproximadamente): nesta fase ocorre a construção da consciência de si, através das interações sociais, dirigindo o interesse da criança para as pessoas, predominando assim as relações afetivas. Há uma mistura afetiva e pessoal, que refaz, no plano do pensamento, a indiferenciação inicial entre inteligência e afetividade.
Para lidar com isso Zezé desenvolveu várias estratégias, ao longo do romance, que mostram a criatividade e resiliência, visto que, ele busca conexões e amizades em outros lugares, como na escola e com outros personagens do livro, e essas amizades proporcionam a Zezé um senso de pertencimento e afeto que ele não encontra em casa.
A ausência de diálogo e a falta de compreensão das necessidades afetivas de Zezé contribuem para seu isolamento emocional e para a busca de afeto em outras fontes, com destaque, Tio Edmundo; Portuga Manuel Valadares e Minguinho. Zezé é uma criança sensível e carente de afeto e que muitas vezes é ignorado ou repreendido isso resulta em comportamentos inadequados e travessuras, o que leva a punições e rejeição. No entanto, seus pais não mostram interesse por suas histórias e não lhe dão espaço para se expressar, evidenciando que possuem uma visão de Zezé como um mentiroso.
As amizades e figuras masculinas que desempenham um papel paternal e ajudam Zezé a lidar com a falta de atenção dos pais fornecem a ele apoio emocional, carinho e orientação que ele não encontrava em seu ambiente familiar. Zezé encontrou nessas amizades um senso de companheirismo e amizade que lhe faltava em sua própria família, uma vez que, elas proporcionam a ele um espaço seguro para expressar suas emoções e receber apoio. As figuras paternas substitutas, demonstram interesse genuíno por ele, ouviram suas histórias, deram-lhe atenção e carinho e essa demonstração de afeto e cuidado fortaleceu sua autoestima e proporcionou um senso de valor e importância.
Zezé também encontrou em suas amizades modelos de comportamento positivos, ele pôde observar como essas pessoas lidavam com os desafios da vida, como demonstravam amor e afeto, e como agiam como mentores e guias. Esses modelos alternativos ajudaram Zezé a desenvolver habilidades sociais, a compreender o mundo ao seu redor e a buscar relacionamentos saudáveis. Em resumo, foram fundamentais para suprir a falta de atenção e afeto dos pais na vida de Zezé.
Com base nisso, entende-se que as ações de Zezé são mediadas pelo estilo parental em que ele convive/ é exposto. O estilo parental refere-se a um conjunto de comportamentos, atitudes e cognições dos adultos direcionados às crianças, que cria um clima emocional específico. Desta forma, compreende-se que a negligencia parental e estilo parental estão interligadas graças à aspectos como estilos parentais inadequados, especialmente o estilo negligente. Entender essa relação é crucial para desenvolver intervenções que melhorem a dinâmica familiar e promovam um ambiente saudável para o desenvolvimento das crianças.
Nota-se que os comportamentos dos responsáveis têm um impacto direto no desenvolvimento emocional da criança. As práticas educativas podem ser classificadas como positivas ou negativas, sendo que, as práticas positivas visam transmitir confiança e afeto, enquanto as práticas negativas geram conflitos, estresse, desconfiança, violência e comportamentos desestruturados (Fava, 2018).
A análise da influência da negligência parental no desenvolvimento emocional de Zezé, protagonista da obra "Meu pé de laranja lima" de José Mauro de Vasconcelos, pode ser compreendida à luz de diversas perspectivas teóricas apresentadas na literatura. Faim (2015) destaca que a negligência parental, ao não fornecer os cuidados maternos adequados nas fases iniciais do desenvolvimento, pode resultar em repercussões significativas na vida psíquica da criança. A teoria winnicottiana sugere que a falta de um ambiente acolhedor leva a sentimentos de intrusão, o que pode culminar em distúrbios emocionais na adolescência e na vida adulta. Essa perspectiva é crucial para entender a vulnerabilidade emocional de Zezé, que, em sua busca por afeto e acolhimento, enfrenta a ausência de uma figura parental que satisfaça suas necessidades emocionais.
Em continuidade, Gomes (2018) aborda a negligência emocional como um fator que resulta em uma falsa maturidade e dificuldades nas relações sociais. A descrição de Zezé, que se sente isolado e autossuficiente, reflete essas dificuldades, evidenciando a perda de confiança em si mesmo que a negligência parental pode provocar. Essa falta de suporte emocional compromete a capacidade de Zezé de estabelecer vínculos saudáveis, o que é essencial para seu desenvolvimento. Além disso, o estudo de Bezerra, Anastácio e Girão (2018) enfatiza a importância das relações parentais no desenvolvimento da criança, abordando como diferentes estilos parentais influenciam a socialização emocional e comportamental.
A pesquisa sugere que, enquanto os estilos autoritativos promovem um desenvolvimento mais ajustado, a ausência de um modelo parental eficaz pode levar a consequências negativas no aprendizado e na formação da identidade da criança. A dinâmica familiar de Zezé, marcada por sua relação conturbada com os pais, exemplifica como a qualidade das interações parentais pode impactar não apenas o desenvolvimento emocional, mas também a capacidade de aprendizado e adaptação social. Dessa forma, a literatura revisitada revela a complexidade da negligência parental e suas múltiplas facetas, evidenciando como essa ausência afeta profundamente o desenvolvimento emocional de Zezé, refletindo a necessidade de um ambiente familiar saudável e acolhedor para o pleno desenvolvimento da criança.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através da história de Zezé e de suas interações com os pais destaca-se o impacto profundo que a negligência parental pode ter na vida de uma criança. O livro enfatiza como o afeto e a atenção dos pais são vitais para o desenvolvimento emocional e psicológico de uma criança e que quando há deficiência nessa relação tem-se como resultado sentimentos de solidão, baixa autoestima e dificuldades emocionais. A história mostra como a falta de comunicação aberta e o diálogo entre pais e filhos podem levar a mal-entendidos e distanciamento emocional, pois é através da comunicação efetiva que constrói-se relacionamentos saudáveis e compreende-se as necessidades e emoções das crianças.
As lições destacadas no romance "Meu Pé de Laranja Lima" servem como um lembrete de como os pais desempenham um papel fundamental no bem-estar e desenvolvimento de seus filhos, ressaltando a necessidade de atender às necessidades emocionais, físicas e psicológicas das crianças. Esses elementos são cruciais para ajudar as crianças a lidarem com seus sentimentos, desafios e descobertas, promovendo um ambiente seguro e acolhedor.
A negligência parental na obra tem um impacto significativo na saúde emocional e psicológica de Zezé. Ele experimenta solidão, tristeza e uma sensação de não ser amado ou valorizado. Esses sentimentos são amplificados pela falta de apoio e atenção de seus pais, o que ratifica a negligência e suas consequências negativas. Essas são ratificadas quando o livro retrata as ramificações duradouras que a falta de cuidado e atenção dos pais pode ter sobre a saúde mental e bem-estar de uma criança.
O livro "Meu pé de laranja lima" retrata de forma tocante a realidade da negligência parental e suas consequências na vida das crianças. Através dos símbolos presentes na narrativa, o autor José Mauro de Vasconcelos nos convida a refletir sobre a importância do amor, do cuidado e da presença emocional na vida das crianças. A obra ressalta a resiliência e a capacidade de superação do protagonista diante das dificuldades causadas pela negligência, ao mesmo tempo em que nos alerta sobre a importância de criar um ambiente familiar amoroso e acolhedor para o desenvolvimento saudável das crianças.
Estudos como esse revelam a urgência de um olhar mais abrangente sobre a negligência parental, considerando não apenas as suas manifestações, mas também as suas consequências e as dinâmicas familiares que a cercam. E aponta para a necessidade de uma abordagem integrada que envolva tanto a pesquisa quanto a prática, visando criar um ambiente mais seguro e saudável para as crianças.
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