O Enfermeiro como Educador: Uma contribuição da didática e da metodologia dialética na atuação profissional
Por luciana angelo | 19/05/2009 | SaúdeLuciana Angelo L. Campos
Resumo: A atuação do profissional enfermeiro na área de ensino apresenta-se
como uma temática pertinente em um momento de transformações no ensino
caracterizado por mudanças sociais e novas demandas educacionais da atualidade.
Este estudo objetivou refletir sobre a formação deste profissional, o perfil
exigido para uma atuação que atenda as necessidades do mercado de trabalho e
principalmente dos educandos e a contribuição da didática e da metodologia
dialética para a formação profissional do docente. Foi utilizada a metodologia
de pesquisa bibliográfica em livros e artigos nacionais. Pode-se concluir que
para uma excelente pratica educacional se faz necessário que se tenha
conhecimento na área pedagógica e sobre o processo de ensino-aprendizagem e de
todos os elementos envolvidos no processo: aluno, professor e objeto de estudo.
Palavras- chave: enfermeiro-
educador, formação, didática e dialética.
Abstract: The role of professional nurses in the field of education presents
itself as a relevant theme in a moment of transformation in education
characterized by social change and new demands of education today. This study
aimed to reflect on the training of professional, the profile required for a
performance that meets the needs of the labor market and especially the
students and the contribution of didactics and methodology of dialectic for training
of teachers. We used the methodology of literature in books and articles
nationals. It can be concluded that for a good educational practices is
necessary to have knowledge in teaching and the teaching-learning process and
everyone involved in the process: student, teacher and subject of study. Keywords:
nurse-teacher, training, didactics and dialectics.
INTRODUÇÃO
Conforme a necessidade atual de se formar um profissional com características que atendam as perspectivas do mercado de trabalho contemporâneo é que vem se repensando a prática pedagógica do enfermeiro professor. O processo de redirecionamento na formação dos profissionais de enfermagem deve estar voltado para as transformações sociais. Portanto, o profissional de ensino em saúde deve integrar suas atividades á realidade dos alunos e incorporar aspectos inerentes à sociedade globalizada deste século. (RODRIGUES; SOBRINHO, 2007).
O enfermeiro é um educador por natureza, pois ele é responsável por orientar os pacientes em prol da prevenção de doenças e da promoção da saúde. Mais além de desenvolver atividades de educação em saúdeatendendo necessidades sociais, atua como docente em diversos níveis de educação escolar.
Essa realidade nos faz questionar: Qual tem sido a conduta de trabalho do professor enfermeiro frente à realidade atual?Os enfermeiros que atuam na área de educação estão preparados para enfrentar os conflitos no processo de trabalho educacional e social?Quais têm sido as crenças e valores que orientam a prática pedagógica dos enfermeiros-educadores?(VASCONCELOS; PRADO, 2004).
Segundo os autores citados acima, os profissionais enfermeiros que atuam na área educacional enfrentam diversos fatores que causam sofrimento e dificuldades no desenvolver de sua atividade pedagógica. Esses fatores vão desde os problemas de falta de valorização profissional, má remuneração, dificuldade em refletir, transmitir, compreender e ser compreendido pelo educando, capacitação técnico-pedagógica e deficiência no relacionamento com os alunos.
Para Rodrigues e Sobrinho(2007)é necessário que haja sempre a capacitação contínua de preparo técnico, teóricoe pedagógico inserida no contexto econômico, político, social e cultural para que haja transformações na atuação do enfermeiro-educador. Os sistemas educacionais modernos, atualizados, empreendedores, possuírem percepção e serem capazes de oferecer condições de trabalho atendendo aos anseios dos professores e alunos(VASCONCELOS; PRADO, 2004).
Para Rodrigues e Sobrinho(2007), a formação do educador é colocada como um dos principais fatores que podem levar à melhoria da educação. Assim, a reflexão a cerca da formação do docente enfermeiro é fundamental devido à complexidade da práticaprofissional inserida no processo de ensino-aprendizagem.
Vasconcelos e Prado(2004) afirmam que o enfermeiro educador entende que sua prática profissional exige competência e comprometimento, mais a partir daí deve ser repensado que o saber, o saber fazer e o saber ser, estão na mão do enfermeiro educador, condição principal de sua atividade de trabalho. Por isso que o planejamento de seu trabalho deve estar relacionado ao processo de ensino-aprendizagem.
O Ministério de educação e Cultura diz ainda que as definições de estratégias de educação que articule esses saberes, de aprender, de fazer, de conviver, de ser, visam desenvolver o aprender a aprender, a conviver junto, a valorização das condições éticas e humanas, como também, desenvolver atitudes e valores orientados para a cidadania e para a solidariedade. Todos esses atributossão indispensáveis à formação do enfermeiro e o educador em saúde deve assegurar-se através de estratégias de ensino baseados nessa perspectiva de educação. Educar para a cidadania ea participação plena na sociedade(FERNANDES, 2004)
È fundamental que o professor crie condições para que o aluno desenvolva sua criticidade, voltada para análise de problemas, substituindo explicações empíricas por princípios autênticos, refutando posições alienantes, tornando-se questionador. (VILLA; CADETE, 2001 apud FREIRE, 1979). O educando e o educador aprendem com a realidade, estabelecem uma relação dialógica, no qual ambos se beneficiam .O professor deixa de ser o detentor do saber para compartilhar conhecimentos com os alunos que chegam a escolas imbuídos de saberes e experiências que servirão de ponto de partida para o processo ensino-aprendizagem(VILLA;CADETE,2001).
Para Fernandes(2004), no desenvolvimento da aprendizagem, a postura que o professor assume diante do aluno, baseada no respeito, na confiança, na percepção do aluno como ser integral, favorece mudanças na forma de agir e sentir do aluno que se considera melhor no seu papel como pessoa e profissional.
Aescolha da pedagogia de ensino a ser aplicada, deve direcionar como o sujeito irá se comportar socialmente A postura reflexiva do aluno diante o objeto de estudo, permitirá uma posição crítica e o tornará capaz de tomar decisões acertadas diante das dificuldades(VILLA; CADETE, 2001).
Assim, exige-se do professor competências para a docência: ser competente em uma área do conhecimento, ou seja, dominar conhecimentos básicos e possuir certa experiência profissional, ter domínio na área pedagógica, que significa dominar o conceito de ensino-aprendizagem, integrando o desenvolvimento cognitivo, afetivo-emocional e de habilidades que significa utilizar estratégias adequadas (RODRIGUES; SOBRINHO, 2007 apud MASSETO, 2001).
O objetivo deste artigo foi repensar a respeito da formação do profissional enfermeiro que atua na área de ensino em âmbito escolar, analisar o perfil necessário para uma docência de qualidade e refletir sobre acontribuição da didática e do método dialético para a formaçãodo professor numa perspectiva reflexiva. Foi realizada uma revisão bibliográfica incluindo publicações em livros e artigos publicados em língua nacional.
Esta temática é de suma importância em virtude da necessidade de ampliar a concepção do enfermeiro educador a cerca da capacitação pedagógica fundamental à atuação docente, repensando sua prática, verificando quais estratégias permitem que o aluno seja atuante no processo de ensino-aprendizagem, ou seja, participativo na construção de seu conhecimento, dando oportunidade ao professor de exercer seu papel de educador com excelência. A discussão será apresentada em três tópicos: O professor no contexto social, a contribuição da didática para formação do professor e o método dialético.
FUNDAMENTAÇÂO TEÒRICA
O PROFESSOR NO CONTEXTO SOCIAL
Nas últimas décadas tem-se questionado a importância do professorno processo ensino- aprendizagem, principalmente pelo fácil acesso às informações fora da sala de aula proporcionado pelo avanço cientifico- tecnológico que ocorreu de forma avassaladora e atingiu todas as classes sociais. Essa realidade dá margem a questões como: o professorresponde as necessidades sociais da atualidade? Qual a função do ensino hoje?O quê ensinar? Como ensinar? (GASPARIN, 2005).
Diante de profundas mudanças que a modernidade desencadeou, onde a sociedade encontra-se em crise de valores e princípios, no qual somos levados a refletir e repensar nossas posições e atitudes,o papel do profissional de educação precisa ser analisado. Partindo da premissa de que a educação e o ensino fazem parte do contexto social e, como este se modifica, a educação e ensino também se tornam dinâmicos. Dessa forma é que educador precisa estar sempre se atualizando (HAIDT, 2003).
O trabalho do professor é parte primordial do processo educativo mais amplo e global pelo qual os membros da sociedade são preparados para a participação ativa na vida social. Para o funcionamento de uma sociedade é necessário que haja a prática educativa, ou seja, a educação (LIBÂNEO, 2003).
Um computador nunca poderá substituir um professor pelo fato de que lhe falta o privilégio humano de gesticular, de falar, de passar emoção, de vibrar com as conquistas dos alunos, de ser interrompido fazendo-lhe refazer sua linha de discussão, de debater e abrir-se ao diálogo(REI [ ] apud CHALITA, 2001). Portanto o professor é fundamental ao aluno, assim como o aluno é fundamental ao professor, é dessa interação que nasce o processo de ensino-aprendizagem, que se constroem conhecimentos, que nascem cidadãos críticos e atuantes na vida social (REI) [ ]
Para Libâneo (2003), a prática educativa é uma exigência da vida em sociedade, atribui ao indivíduo conhecimentos e experiências culturais que os tornam capazes de atuar no meio em que vive e transformá-lo em função das necessidades de todos os aspectos, políticos, sociais e econômicos da coletividade.
Ruiz (2000) afirma que, educadores e educadoras necessitam ser a ponte entre o aluno e a sociedade, percebendo as possibilidades da ação social e cultural na luta pela transformação do meio, através do encontro do aluno com o conhecimento.
Libâneo (2003) diz ainda que, o docente em seu exercício profissional deve permanentemente empenhar-se para instrução e educação dos seus alunos, de forma que desenvolvam e dominem conhecimentos básicos e habilidades, com o objetivo de capacitá-los no trabalho e enfrentar ativamente os problemas sociais.
Gabriel Chalita(2001), em seu livro "Educação - a solução é o afeto"diz que o professor em meio todos os aparatos materiais como computadores, laboratórios, quadras esportivas e materiais didáticos, sempre terá maior destaque. Sem o professor, grande agente do processo educacional, nenhum desses recursos tem valor, mesmo sendo importantes (REI) [ ].
Rei [ ] relata que desde os primórdios o professor tem função vital na construção de uma sociedade ativa. As escolas de Sócrates, Platão e Aristóteles discutiam apenas o que era essencial, através da reflexão a cerca do mundo que os rodeavam e dos problemas que o atingiam. Dessa forma não perdiam tempo com conteúdos engessados, e a aula era preparada visando todo esse amadurecimento dos alunos (REI) [ ]
Para o exercício da profissão educacional há necessidade da formação do professor, não apenas a graduação e a pós-graduação, mas a formação continuada, para que acompanhe todo o processo de transformação social que ocorre permanentemente. Não basta que conheça especificamente uma disciplina e sim todas as áreas que perpassem a disciplina que leciona, e ainda mais importante, conhecer o aluno e todas as suas necessidades. Tudo que for inerente ao aluno deve ser de interesse do professor para que atue com maestria no processo educacional (REI) [ ]
O papel do profissional de educação precisa ser repensado justamente porque não pode mais agir de forma estanque e neutra. Não pode mais desenvolver sua atividade pautando-se em métodos e técnicas e conteúdos apenas. Não pode ser omisso e alheio aos problemas que atingem o homem e o meio em que vive. É exigida desse profissional uma posição concreta sobre tudo que acontece, sua opinião, suas crenças e idéias. É visto com alguém que tem opinião formada e pode dar um parecer sobre as coisas, dialogar e problematizar situações. (RUIZ, 2003)
Anastasiou [ ], afirma que cabe ao professor planejar, preparar e conduzir o processo contínuo de ações que possibilitem aos estudantes, até mesmo os que têm maiores dificuldades, irem aos poucos e conforme seu desenvolvimento, apreendendo o que se pretende oquadro teórico-prático, em momentos seqüenciais e de complexidade crescente. O professor que não prepara as aulas não tem seus objetivos alcançados, não respeita o aluno e a própria profissão.
O ponto de partida para o educador é acreditar naquilo que ensina, é ter convicção, só assim os alunos se sentirão mobilizados e se envolverão em seus ensinamentos(REI, [ ] apud CHALITA, 2001). Resgatar sua verdadeira função de professorde ensinar, orientar, preparar para a vida e dar condições aos alunos de adentrar a uma vida profissional é tarefa primordial na formação do educador. È buscando uma prática competente, assumindo uma responsabilidade para com seus educandos, que ele realizará a tarefa de transformar pelo conhecimento, pela conscientização(LINS, 2008).
De acordo com Sacristán e Gómez (1998) na sociedade contemporânea, a escola perdeu a supremacia na transmissão e distribuição da informação. Os meios de comunicação de massa, que estão em todos os cantos, oferecem de modo atrativo à maioria dos cidadãos uma grande bagagem de informações variadas. Tais informações vão criando de modo sutil e imperceptível concepções ideológicas que serão utilizadas para explicar e interpretar a realidade bem como tomar decisões. Os indivíduos chegam à escola com uma gama de informações e com poderosas e acríticas pré- concepções sobre os diferentes âmbitos da realidade.
É possível perceber, que os modernos meios de comunicação cumprem a função apenas da reprodução da cultura dominante do que a reelaboração critica da mesma, não se preocupam em oferecer ferramentas para que o sujeito se torne autônomo para um debate aberto e racional sobre qualquer aspecto da vida. Somente a escola pode cumprir essa missão. A partir da análise das pré- concepções e interesses dos educandos acerca da realidade, oferecer condições de questionamento e comparação para construção de uma nova visão, com base na troca de suas relações anteriores (SACRISTÁN, GÓMEZ 1998).
A CONTRIBUIÇÃO DA DIDÁTICA PARA A FORMAÇÃO DO PROFESSOR
Em todas as esferas da vida social existe a atividade educativa de formas diferentes de organização. A educação escolar é um sistema de instrução diferenciado porque possui propósitos intencionais, práticas sistematizadas e alto grau de organização. O conhecimento é democratizado, formando a capacidade de pensar criticamente os problemas e desafios postos pela sociedade. Dessa maneira, a formação profissional do professor visa à atividade específica de docência, sendo a didática e as metodologias especificas das matérias contribuintes para formação técnico- prática necessária a atuação profissional (LIBÂNEO, 2003).
Para Haidt (2003), a didática é definida como a ciência e a arte do ensino. Considera ao mesmo tempo a aprendizagem por parte do aluno e o ensino por parte do professor. Pode-se afirmar que a didática é o estudo da situação instrucional, ou seja, do processo de ensino- aprendizagem que enfatiza esta relação.
Nessa direção, Veiga (2005) diz que a didática é, essencialmente, compreendida e analisada do ponto de vista da concepção do ato de ensinar que coloca em evidencia a atuação do educador transmitindo diretamente conhecimentos específicos, conduzindo e estimulando democraticamente a aprendizagem do aluno, como também, no planejamento de atividades, almejando alcançar objetivos.
Bordenave e Pereira(2002), no livro "Estratégias de ensino-aprendizagem"apontam como uns dos principais problemas do ensino superior o professor. Muitos pela falta de preparação didática, demonstram insegurança no seu relacionamento com os alunos e, para manter sua autoridade e sua auto-imagem, recorrem a um comportamento de auto-proteção, como por exemplo, formalidade na comunicação, nível exagerado de exigência e complexidade nas provas, tom irônico e sarcástico para dominar aqueles que não correspondem com suas expectativas.
Visando a transformação da prática educativa desenvolvida pela escola, a didática traz como conteúdo o desenvolvimento de projetos adequados aos interesses dos alunos, da comunidade escolar e da sociedade, novas tecnologias de comunicação e educação, trabalhos interdisciplinares e coletivos e experiências de aprendizagem que valorizem a construção do conhecimento pela participação ativa dos alunos (VEIGA, 2005).
Nesse contexto, a didática, é uma disciplina pedagógica de natureza teórico- prática voltada para a compreensão do ensino e não está minimizada ao simples domínio das técnicas de orientação didática. Culmina a elaboração de pressupostos teóricos críticos, a discussão teórica dos problemas e os desafios da prática, a proposição de implicações metodológicas para o processo pedagógico no sentido de colaborar para a superação das relações de dominação (Arnoni, et al 2002).
Libâneo (2003) relata que a didática trata das relações e ligações importantes entre o ensino e a aprendizagem, investiga os fatores que influenciam esse processo, indica condições e meios para que o ensino realmente produza conhecimento. Portanto o estudo da didática permite maior segurança profissional, de modo que o professor ganhe base para pensar sua prática e melhore cada vez mais sua atuação e qualidade de seu trabalho.
Bordenave e Pereira (2002) declaram que o segredo do bom ensino é o entusiasmo pessoal do professor que vem de seu amor a ciência e aos alunos. Este entusiasmo só é possível mediante planejamento e metodologia adequados visando acima de tudo uma resposta positiva dos alunos em realizarem atividades por iniciativa própria lançando mão de esforço intelectual e moral que a aprendizagem exige.
Desse modo, a finalidade de se estudar didática é desmistificar o processo de ensino, campo principal da educação escolar. São os conteúdos dos programas e dos livros didáticos, os métodos eformas organizacionais do ensino, as atividades do professor e dos alunos e as diretrizes que regulam e orientam esse processo. È fundamental para o profissional que vai atuar na área de educação escolar o estudo do processo de ensino, é uma forma de garantir métodos seguros e eficazes para a assimilação dos conhecimentos. A didática tem essa função: estudar o processo de ensino e colaborar com a formação profissional do educador centrado na relação ensino-aprendizagem (LIBÂNEO, 2003).
O MÉTODO DIALÉTICO
A mediação pedagógico-dialética é uma relação dialética que caracterizao processo de ensino e o processo de aprendizagem, uma vez que, em ambos os sujeitos envolvidos lidam com saberes, o mediato e o imediato(ARNONI, 2006). Esse método de ensino considera que a realidade não pode ser diretamente apreendida pelo sujeito, sendo necessário que a mesma seja apreendida pelo pensamento e no pensamento, portanto, tendo a reflexão como condição fundamental (ANASTASIOU) [ ].
Na perspectiva da mediação dialética, o processo de ensino-aprendizagem é trabalhado com dois saberes; o saber científico e o saber cotidiano, ambos representandodiferentementeo ambiente natural e social. No desenvolver do trabalho educativo, esses saberes não são hierarquizados, e sim igualmente valorizados de forma que o saber cotidiano é imediato e o saber científico, mais elaborado e fruto de reflexão, o saber mediato. Assim, pela mediação dialética, se defrontam os dois saberes, gera-se a contradição, responsável pelo movimento do processo ensino-aprendizagem. Ocorre a superação do imediato pelo mediato, onde o aluno elabora suas sínteses, o saber propriamente aprendido. (ARNONI, 2004)
Para Arnoni(2006), a metodologia da mediação dialética consiste em uma proposição metodológica formada por uma seqüência de situações de ensino(processo de ensino) que potencializa ao aluno a aprendizagem do conteúdo trabalhado(processo de aprendizagem). Exige uma preparação organizada e articulada por parte de quem ensina. A mediação dialética possibilita ao professor planejar suas ações prevendo intervir de forma ativa no processo de aprendizagem, permitindo a elaboração do conhecimento pelo aluno.
O professor que age no contexto da reflexidade dialética desenvolve sua capacidade julgadora. È capaz de apropriar-se criticamente e permanentemente de uma realidade complexa. A teoria reflexiva tem o papel de oferecer aos professores perspectivas de análise para compreenderem os contextos históricos, sociais, culturais, organizacionais e de si mesmos como profissionais, nos quais se dá sua atividade docente, para nele intervir, transformando-os ( ARNONI, 2004))
Para Anastasiou [ ], isto quer dizer que a apreensão que o professor/pesquisador faz de seu objeto de estudo, considerando os elementos do movimento, contradição, alteração qualitativa, e outros, é uma apreensão dialética. O professor quando analisa, registra e organiza a síntese de seu estudo para enfim transmitir está explicitando, através de textos, aula expositiva, ou qualquer atividade, as relações que fez as suas descobertas e elementos que foram acrescentados pelapesquisa realizada.
Em cada situação de ensino, o conteúdo é retomado de forma diferenciada, e cada uma delas serve de base para novas abordagens e para reflexões mais profundas seguintes. Dessa formaas situações de ensino nunca são estanques e isoladas,ao contrário,são totalmente interligadas e interdependentes. A metodologia dialética é composta por momentos pedagógicos ou etapas que favorecem essa reflexão (ARNONI, 2006).
Resgatar, que é o ponto de partida para o processo de ensino. Desse momento são descobertos os saberes cotidianos e imediatos sobre o objeto de estudo e feito uma comparação com aquilo que se pretende ensinar. È o diagnóstico do conhecimento prévioou empírico a cerca do tema. Problematizar, que se caracteriza pelo momento de questionar o saber imediato em direção ao saber mediato que se pretende. Não pode ser uma problematização facilitada, nem dificultada em demasia, para que possa ser compreendida e percebida pelo pensamento e ser entendida(ARNONI, 2006)
Para a autora citada acima, ainda restam dois momentos: sistematizar, que se caracteriza pela internalização do conhecimento. È a elaboração da síntese pelo aluno com o intermédio do diálogo promovido pelo professor. Produzir, que provisoriamente é o ponto de chegada do processo de ensino, de forma que logo será superado por novas sínteses. È um saber mais completo que se tinha no primeiro momento.
Para Anastasiou [ ], enquanto método tradicional visa à memorização, dando ênfase a aulas expositivas e questionários corrigidos e decorados, a metodologia dialética defende a construção do conhecimento no pensamento e pelo pensamento do aluno através de suas relações e com a mediação do professor.
A metodologia dialética entende o homem como ser ativo e de relações. Dessa forma, o conhecimento é construído pelo indivíduo a partir da interação com o mundo que o cerca. Assim, os conteúdos que são abordados na escola devem ser analisados, refletidos e reelaborados pelos alunos. O resultado é a construção do conhecimento próprio educando. A metodologia dialética aponta ser necessária a mobilização para o conhecimento, a construção do conhecimento e elaboração da síntese do conhecimento, fases inseparáveis e que devem fazer parte da preocupação do professor(VASCONCELLOS, 1992).
Segundo Vasconcellos(1992), o professor deve despertar o interesse pelo objeto de estudo. Fazer com que o aluno tenha vontade de saber mais sobre o que se pretende ensinar. Deve atribuir significado ao conteúdo de forma que se torne importante para o educando. Deve permitir que o aluno passe pelos três momentos da construção do conhecimento: síncrese, análise e síntese.E através do método dialético que vai do abstrato para o concretoconsiderando tal movimento do pensamento elaborar seu conhecimento particular e único.
Nesse contexto, é necessário planejar e desenvolver o trabalho educativo na perspectiva da mediação dialética, cujo cerne é a contradição. Dessa maneira, será possível a construção de sínteses onde os alunos poderão realmente aprender. Parao trabalho educativo possibilitar, de forma direta e intencionalmente, que cada aluno internalize os saberes científicos, produzidos pela humanidade, histórica e coletivamente, é fundamental que se adote os fundamentos da mediação dialética como embasamento pedagógico(ARNONI, 2004).
CONCLUSÃO
A reflexão sobre a formação do profissional enfermeiro que atua na área de educação nos permite afirmar que a prática educacional exige uma formação específica onde sejam considerados o processo de ensino-aprendizagem e os elementos que nele são envolvidos: o professor, o aluno e o objeto de estudo.
Dessa forma acredita-se que a relação de ensino-aprendizagem está diretamente relacionada à interação professor-aluno e suas trocas de saberes. È fundamental que o professor no momento do planejamento de suas atividades considere as experiências de seus alunos e a realidade de cada um para desenvolver seu papel de educador com qualidade.
O conhecimento na área pedagógica e implementação de estratégias que valorizem o educando como ser singular e capaz de participar ativamente do processo educacional possibilitam uma atuação docente que desencadeia a construção do conhecimento pelo alunoque será capaz de participar da vida em sociedade de forma significativa. Um bom educador em enfermagem tem de ter muito mais que boa vontade, tem de ter um perfil que se caracterizana preocupação com a formação crítica do aluno.
Nesse contexto, é de fundamental importância que se estabeleçam programas de educação continuada onde o educando possa refletir sua prática educacional, avaliar sua conduta e promover mudanças na forma de sentir, pensar e atuar das pessoas em relação a si mesmas e aos outros.
O enfermeiro educador necessita desenvolver a consciência de que não é o detentor do saber e nem o centro do processo educacional, e sim direcionar toda atividade profissional ao desenvolvimentoemocional, político e social do aluno para que possa colaborar realmente com a formação de profissionais éticos e capazes de superar dificuldades de qualquer natureza.
INTRODUÇÃO
Conforme a necessidade atual de se formar um profissional com características
que atendam as perspectivas do mercado de trabalho contemporâneo é que vem se
repensando a prática pedagógica do enfermeiro professor. O processo de
redirecionamento na formação dos profissionais de enfermagem deve estar voltado
para as transformações sociais. Portanto, o profissional de ensino em saúde
deve integrar suas atividades á realidade dos alunos e incorporar aspectos
inerentes à sociedade globalizada deste século. (RODRIGUES; SOBRINHO, 2007).
O enfermeiro é um educador por natureza, pois ele é responsável por orientar os
pacientes em prol da prevenção de doenças e da promoção da saúde. Mais além de
desenvolver atividades de educação em saúde atendendo necessidades sociais,
atua como docente em diversos níveis de educação escolar.
Essa realidade nos faz questionar: Qual tem sido a conduta de trabalho do
professor enfermeiro frente à realidade atual?Os enfermeiros que atuam na área
de educação estão preparados para enfrentar os conflitos no processo de
trabalho educacional e social?Quais têm sido as crenças e valores que orientam
a prática pedagógica dos enfermeiros-educadores?(VASCONCELOS; PRADO, 2004).
Segundo os autores citados acima, os profissionais enfermeiros que atuam na
área educacional enfrentam diversos fatores que causam sofrimento e
dificuldades no desenvolver de sua atividade pedagógica. Esses fatores vão
desde os problemas de falta de valorização profissional, má remuneração,
dificuldade em refletir, transmitir, compreender e ser compreendido pelo
educando, capacitação técnico-pedagógica e deficiência no relacionamento com os
alunos.
Para Rodrigues e Sobrinho(2007)é necessário que haja sempre a capacitação
contínua de preparo técnico, teórico e pedagógico inserida no contexto
econômico, político, social e cultural para que haja transformações na atuação
do enfermeiro-educador. Os sistemas educacionais modernos, atualizados,
empreendedores, possuírem percepção e serem capazes de oferecer condições de
trabalho atendendo aos anseios dos professores e alunos(VASCONCELOS; PRADO,
2004).
Para Rodrigues e Sobrinho(2007), a formação do educador é colocada como um dos
principais fatores que podem levar à melhoria da educação. Assim, a reflexão a
cerca da formação do docente enfermeiro é fundamental devido à complexidade da
prática profissional inserida no processo de ensino-aprendizagem.
Vasconcelos e Prado(2004) afirmam que o enfermeiro educador entende que sua
prática profissional exige competência e comprometimento, mais a partir daí
deve ser repensado que o saber, o saber fazer e o saber ser, estão na mão do
enfermeiro educador, condição principal de sua atividade de trabalho. Por isso
que o planejamento de seu trabalho deve estar relacionado ao processo de
ensino-aprendizagem.
O Ministério de educação e Cultura diz ainda que as definições de estratégias
de educação que articule esses saberes, de aprender, de fazer, de conviver, de
ser, visam desenvolver o aprender a aprender, a conviver junto, a valorização
das condições éticas e humanas, como também, desenvolver atitudes e valores
orientados para a cidadania e para a solidariedade. Todos esses atributos são
indispensáveis à formação do enfermeiro e o educador em saúde deve assegurar-se
através de estratégias de ensino baseados nessa perspectiva de educação. Educar
para a cidadania e a participação plena na sociedade(FERNANDES, 2004)
È fundamental que o professor crie condições para que o aluno desenvolva sua
criticidade, voltada para análise de problemas, substituindo explicações
empíricas por princípios autênticos, refutando posições alienantes, tornando-se
questionador. (VILLA; CADETE, 2001 apud FREIRE, 1979). O educando e o educador
aprendem com a realidade, estabelecem uma relação dialógica, no qual ambos se
beneficiam .O professor deixa de ser o detentor do saber para compartilhar
conhecimentos com os alunos que chegam a escolas imbuídos de saberes e
experiências que servirão de ponto de partida para o processo
ensino-aprendizagem(VILLA;CADETE,2001).
Para Fernandes(2004), no desenvolvimento da aprendizagem, a postura que o
professor assume diante do aluno, baseada no respeito, na confiança, na
percepção do aluno como ser integral, favorece mudanças na forma de agir e
sentir do aluno que se considera melhor no seu papel como pessoa e
profissional.
A escolha da pedagogia de ensino a ser aplicada, deve direcionar como o sujeito
irá se comportar socialmente A postura reflexiva do aluno diante o objeto de
estudo, permitirá uma posição crítica e o tornará capaz de tomar decisões
acertadas diante das dificuldades(VILLA; CADETE, 2001).
Assim, exige-se do professor competências para a docência: ser competente em
uma área do conhecimento, ou seja, dominar conhecimentos básicos e possuir
certa experiência profissional, ter domínio na área pedagógica, que significa
dominar o conceito de ensino-aprendizagem, integrando o desenvolvimento
cognitivo, afetivo-emocional e de habilidades que significa utilizar
estratégias adequadas (RODRIGUES; SOBRINHO, 2007 apud MASSETO, 2001).
O objetivo deste artigo foi repensar a respeito da formação do profissional
enfermeiro que atua na área de ensino em âmbito escolar, analisar o perfil
necessário para uma docência de qualidade e refletir sobre a contribuição da
didática e do método dialético para a formação do professor numa perspectiva
reflexiva. Foi realizada uma revisão bibliográfica incluindo publicações em livros
e artigos publicados em língua nacional.
Esta temática é de suma importância em virtude da necessidade de ampliar a
concepção do enfermeiro educador a cerca da capacitação pedagógica fundamental
à atuação docente, repensando sua prática, verificando quais estratégias
permitem que o aluno seja atuante no processo de ensino-aprendizagem, ou seja,
participativo na construção de seu conhecimento, dando oportunidade ao
professor de exercer seu papel de educador com excelência. A discussão será
apresentada em três tópicos: O professor no contexto social, a contribuição da
didática para formação do professor e o método dialético.
FUNDAMENTAÇÂO TEÒRICA
O PROFESSOR NO CONTEXTO SOCIAL
Nas últimas décadas tem-se questionado a importância do professor no processo
ensino- aprendizagem, principalmente pelo fácil acesso às informações fora da
sala de aula proporcionado pelo avanço cientifico- tecnológico que ocorreu de
forma avassaladora e atingiu todas as classes sociais. Essa realidade dá margem
a questões como: o professor responde as necessidades sociais da atualidade?
Qual a função do ensino hoje?O quê ensinar? Como ensinar? (GASPARIN, 2005).
Diante de profundas mudanças que a modernidade desencadeou, onde a sociedade
encontra-se em crise de valores e princípios, no qual somos levados a refletir
e repensar nossas posições e atitudes, o papel do profissional de educação
precisa ser analisado. Partindo da premissa de que a educação e o ensino fazem
parte do contexto social e, como este se modifica, a educação e ensino também
se tornam dinâmicos. Dessa forma é que educador precisa estar sempre se
atualizando (HAIDT, 2003).
O trabalho do professor é parte primordial do processo educativo mais amplo e
global pelo qual os membros da sociedade são preparados para a participação
ativa na vida social. Para o funcionamento de uma sociedade é necessário que
haja a prática educativa, ou seja, a educação (LIBÂNEO, 2003).
Um computador nunca poderá substituir um professor pelo fato de que lhe falta o
privilégio humano de gesticular, de falar, de passar emoção, de vibrar com as
conquistas dos alunos, de ser interrompido fazendo-lhe refazer sua linha de
discussão, de debater e abrir-se ao diálogo(REI [ ] apud CHALITA, 2001).
Portanto o professor é fundamental ao aluno, assim como o aluno é fundamental
ao professor, é dessa interação que nasce o processo de ensino-aprendizagem,
que se constroem conhecimentos, que nascem cidadãos críticos e atuantes na vida
social (REI) [ ]
Para Libâneo (2003), a prática educativa é uma exigência da vida em sociedade,
atribui ao indivíduo conhecimentos e experiências culturais que os tornam
capazes de atuar no meio em que vive e transformá-lo em função das necessidades
de todos os aspectos, políticos, sociais e econômicos da coletividade.
Ruiz (2000) afirma que, educadores e educadoras necessitam ser a ponte entre o
aluno e a sociedade, percebendo as possibilidades da ação social e cultural na
luta pela transformação do meio, através do encontro do aluno com o
conhecimento.
Libâneo (2003) diz ainda que, o docente em seu exercício profissional deve
permanentemente empenhar-se para instrução e educação dos seus alunos, de forma
que desenvolvam e dominem conhecimentos básicos e habilidades, com o objetivo
de capacitá-los no trabalho e enfrentar ativamente os problemas sociais.
Gabriel Chalita(2001), em seu livro "Educação - a solução é o
afeto"diz que o professor em meio todos os aparatos materiais como
computadores, laboratórios, quadras esportivas e materiais didáticos, sempre
terá maior destaque. Sem o professor, grande agente do processo educacional,
nenhum desses recursos tem valor, mesmo sendo importantes (REI) [ ].
Rei [ ] relata que desde os primórdios o professor tem função vital na
construção de uma sociedade ativa. As escolas de Sócrates, Platão e Aristóteles
discutiam apenas o que era essencial, através da reflexão a cerca do mundo que
os rodeavam e dos problemas que o atingiam. Dessa forma não perdiam tempo com
conteúdos engessados, e a aula era preparada visando todo esse amadurecimento
dos alunos (REI) [ ]
Para o exercício da profissão educacional há necessidade da formação do
professor, não apenas a graduação e a pós-graduação, mas a formação continuada,
para que acompanhe todo o processo de transformação social que ocorre
permanentemente. Não basta que conheça especificamente uma disciplina e sim
todas as áreas que perpassem a disciplina que leciona, e ainda mais importante,
conhecer o aluno e todas as suas necessidades. Tudo que for inerente ao aluno
deve ser de interesse do professor para que atue com maestria no processo
educacional (REI) [ ]
O papel do profissional de educação precisa ser repensado justamente porque não
pode mais agir de forma estanque e neutra. Não pode mais desenvolver sua
atividade pautando-se em métodos e técnicas e conteúdos apenas. Não pode ser
omisso e alheio aos problemas que atingem o homem e o meio em que vive. É
exigida desse profissional uma posição concreta sobre tudo que acontece, sua
opinião, suas crenças e idéias. É visto com alguém que tem opinião formada e
pode dar um parecer sobre as coisas, dialogar e problematizar situações. (RUIZ,
2003)
Anastasiou [ ], afirma que cabe ao professor planejar, preparar e conduzir o
processo contínuo de ações que possibilitem aos estudantes, até mesmo os que
têm maiores dificuldades, irem aos poucos e conforme seu desenvolvimento,
apreendendo o que se pretende o quadro teórico-prático, em momentos seqüenciais
e de complexidade crescente. O professor que não prepara as aulas não tem seus
objetivos alcançados, não respeita o aluno e a própria profissão.
O ponto de partida para o educador é acreditar naquilo que ensina, é ter
convicção, só assim os alunos se sentirão mobilizados e se envolverão em seus
ensinamentos(REI, [ ] apud CHALITA, 2001). Resgatar sua verdadeira função de
professor de ensinar, orientar, preparar para a vida e dar condições aos alunos
de adentrar a uma vida profissional é tarefa primordial na formação do
educador. È buscando uma prática competente, assumindo uma responsabilidade para
com seus educandos, que ele realizará a tarefa de transformar pelo
conhecimento, pela conscientização(LINS, 2008).
De acordo com Sacristán e Gómez (1998) na sociedade contemporânea, a escola
perdeu a supremacia na transmissão e distribuição da informação. Os meios de
comunicação de massa, que estão em todos os cantos, oferecem de modo atrativo à
maioria dos cidadãos uma grande bagagem de informações variadas. Tais
informações vão criando de modo sutil e imperceptível concepções ideológicas
que serão utilizadas para explicar e interpretar a realidade bem como tomar
decisões. Os indivíduos chegam à escola com uma gama de informações e com
poderosas e acríticas pré- concepções sobre os diferentes âmbitos da realidade.
É possível perceber, que os modernos meios de comunicação cumprem a função
apenas da reprodução da cultura dominante do que a reelaboração critica da
mesma, não se preocupam em oferecer ferramentas para que o sujeito se torne
autônomo para um debate aberto e racional sobre qualquer aspecto da vida.
Somente a escola pode cumprir essa missão. A partir da análise das pré-
concepções e interesses dos educandos acerca da realidade, oferecer condições
de questionamento e comparação para construção de uma nova visão, com base na
troca de suas relações anteriores (SACRISTÁN, GÓMEZ 1998).
A CONTRIBUIÇÃO DA DIDÁTICA PARA A FORMAÇÃO DO PROFESSOR
Em todas as esferas da vida social existe a atividade educativa de formas
diferentes de organização. A educação escolar é um sistema de instrução
diferenciado porque possui propósitos intencionais, práticas sistematizadas e
alto grau de organização. O conhecimento é democratizado, formando a capacidade
de pensar criticamente os problemas e desafios postos pela sociedade. Dessa
maneira, a formação profissional do professor visa à atividade específica de
docência, sendo a didática e as metodologias especificas das matérias
contribuintes para formação técnico- prática necessária a atuação profissional
(LIBÂNEO, 2003).
Para Haidt (2003), a didática é definida como a ciência e a arte do ensino.
Considera ao mesmo tempo a aprendizagem por parte do aluno e o ensino por parte
do professor. Pode-se afirmar que a didática é o estudo da situação
instrucional, ou seja, do processo de ensino- aprendizagem que enfatiza esta relação.
Nessa direção, Veiga (2005) diz que a didática é, essencialmente, compreendida
e analisada do ponto de vista da concepção do ato de ensinar que coloca em
evidencia a atuação do educador transmitindo diretamente conhecimentos
específicos, conduzindo e estimulando democraticamente a aprendizagem do aluno,
como também, no planejamento de atividades, almejando alcançar objetivos.
Bordenave e Pereira(2002), no livro "Estratégias de
ensino-aprendizagem"apontam como uns dos principais problemas do ensino
superior o professor. Muitos pela falta de preparação didática, demonstram
insegurança no seu relacionamento com os alunos e, para manter sua autoridade e
sua auto-imagem, recorrem a um comportamento de auto-proteção, como por
exemplo, formalidade na comunicação, nível exagerado de exigência e
complexidade nas provas, tom irônico e sarcástico para dominar aqueles que não
correspondem com suas expectativas.
Visando a transformação da prática educativa desenvolvida pela escola, a
didática traz como conteúdo o desenvolvimento de projetos adequados aos
interesses dos alunos, da comunidade escolar e da sociedade, novas tecnologias
de comunicação e educação, trabalhos interdisciplinares e coletivos e
experiências de aprendizagem que valorizem a construção do conhecimento pela
participação ativa dos alunos (VEIGA, 2005).
Nesse contexto, a didática, é uma disciplina pedagógica de natureza teórico-
prática voltada para a compreensão do ensino e não está minimizada ao simples
domínio das técnicas de orientação didática. Culmina a elaboração de
pressupostos teóricos críticos, a discussão teórica dos problemas e os desafios
da prática, a proposição de implicações metodológicas para o processo
pedagógico no sentido de colaborar para a superação das relações de dominação
(Arnoni, et al 2002).
Libâneo (2003) relata que a didática trata das relações e ligações importantes
entre o ensino e a aprendizagem, investiga os fatores que influenciam esse
processo, indica condições e meios para que o ensino realmente produza conhecimento.
Portanto o estudo da didática permite maior segurança profissional, de modo que
o professor ganhe base para pensar sua prática e melhore cada vez mais sua
atuação e qualidade de seu trabalho.
Bordenave e Pereira (2002) declaram que o segredo do bom ensino é o entusiasmo
pessoal do professor que vem de seu amor a ciência e aos alunos. Este
entusiasmo só é possível mediante planejamento e metodologia adequados visando
acima de tudo uma resposta positiva dos alunos em realizarem atividades por iniciativa
própria lançando mão de esforço intelectual e moral que a aprendizagem exige.
Desse modo, a finalidade de se estudar didática é desmistificar o processo de
ensino, campo principal da educação escolar. São os conteúdos dos programas e
dos livros didáticos, os métodos e formas organizacionais do ensino, as
atividades do professor e dos alunos e as diretrizes que regulam e orientam
esse processo. È fundamental para o profissional que vai atuar na área de
educação escolar o estudo do processo de ensino, é uma forma de garantir
métodos seguros e eficazes para a assimilação dos conhecimentos. A didática tem
essa função: estudar o processo de ensino e colaborar com a formação
profissional do educador centrado na relação ensino-aprendizagem (LIBÂNEO, 2003).
O MÉTODO DIALÉTICO
A mediação pedagógico-dialética é uma relação dialética que caracteriza o
processo de ensino e o processo de aprendizagem, uma vez que, em ambos os
sujeitos envolvidos lidam com saberes, o mediato e o imediato(ARNONI, 2006).
Esse método de ensino considera que a realidade não pode ser diretamente
apreendida pelo sujeito, sendo necessário que a mesma seja apreendida pelo
pensamento e no pensamento, portanto, tendo a reflexão como condição
fundamental (ANASTASIOU) [ ].
Na perspectiva da mediação dialética, o processo de ensino-aprendizagem é
trabalhado com dois saberes; o saber científico e o saber cotidiano, ambos
representando diferentemente o ambiente natural e social. No desenvolver do
trabalho educativo, esses saberes não são hierarquizados, e sim igualmente
valorizados de forma que o saber cotidiano é imediato e o saber científico,
mais elaborado e fruto de reflexão, o saber mediato. Assim, pela mediação
dialética, se defrontam os dois saberes, gera-se a contradição, responsável
pelo movimento do processo ensino-aprendizagem. Ocorre a superação do imediato
pelo mediato, onde o aluno elabora suas sínteses, o saber propriamente
aprendido. (ARNONI, 2004)
Para Arnoni(2006), a metodologia da mediação dialética consiste em uma proposição
metodológica formada por uma seqüência de situações de ensino(processo de
ensino) que potencializa ao aluno a aprendizagem do conteúdo
trabalhado(processo de aprendizagem). Exige uma preparação organizada e
articulada por parte de quem ensina. A mediação dialética possibilita ao
professor planejar suas ações prevendo intervir de forma ativa no processo de
aprendizagem, permitindo a elaboração do conhecimento pelo aluno.
O professor que age no contexto da reflexidade dialética desenvolve sua capacidade
julgadora. È capaz de apropriar-se criticamente e permanentemente de uma
realidade complexa. A teoria reflexiva tem o papel de oferecer aos professores
perspectivas de análise para compreenderem os contextos históricos, sociais,
culturais, organizacionais e de si mesmos como profissionais, nos quais se dá
sua atividade docente, para nele intervir, transformando-os ( ARNONI, 2004))
Para Anastasiou [ ], isto quer dizer que a apreensão que o
professor/pesquisador faz de seu objeto de estudo, considerando os elementos do
movimento, contradição, alteração qualitativa, e outros, é uma apreensão
dialética. O professor quando analisa, registra e organiza a síntese de seu
estudo para enfim transmitir está explicitando, através de textos, aula
expositiva, ou qualquer atividade, as relações que fez as suas descobertas e
elementos que foram acrescentados pela pesquisa realizada.
Em cada situação de ensino, o conteúdo é retomado de forma diferenciada, e cada
uma delas serve de base para novas abordagens e para reflexões mais profundas
seguintes. Dessa forma as situações de ensino nunca são estanques e isoladas,ao
contrário,são totalmente interligadas e interdependentes. A metodologia
dialética é composta por momentos pedagógicos ou etapas que favorecem essa
reflexão (ARNONI, 2006).
Resgatar, que é o ponto de partida para o processo de ensino. Desse momento são
descobertos os saberes cotidianos e imediatos sobre o objeto de estudo e feito
uma comparação com aquilo que se pretende ensinar. È o diagnóstico do conhecimento
prévio ou empírico a cerca do tema. Problematizar, que se caracteriza pelo
momento de questionar o saber imediato em direção ao saber mediato que se
pretende. Não pode ser uma problematização facilitada, nem dificultada em
demasia, para que possa ser compreendida e percebida pelo pensamento e ser
entendida(ARNONI, 2006)
Para a autora citada acima, ainda restam dois momentos: sistematizar, que se
caracteriza pela internalização do conhecimento. È a elaboração da síntese pelo
aluno com o intermédio do diálogo promovido pelo professor. Produzir, que
provisoriamente é o ponto de chegada do processo de ensino, de forma que logo
será superado por novas sínteses. È um saber mais completo que se tinha no
primeiro momento.
Para Anastasiou [ ], enquanto método tradicional visa à memorização, dando
ênfase a aulas expositivas e questionários corrigidos e decorados, a
metodologia dialética defende a construção do conhecimento no pensamento e pelo
pensamento do aluno através de suas relações e com a mediação do professor.
A metodologia dialética entende o homem como ser ativo e de relações. Dessa
forma, o conhecimento é construído pelo indivíduo a partir da interação com o
mundo que o cerca. Assim, os conteúdos que são abordados na escola devem ser
analisados, refletidos e reelaborados pelos alunos. O resultado é a construção
do conhecimento próprio educando. A metodologia dialética aponta ser necessária
a mobilização para o conhecimento, a construção do conhecimento e elaboração da
síntese do conhecimento, fases inseparáveis e que devem fazer parte da
preocupação do professor(VASCONCELLOS, 1992).
Segundo Vasconcellos(1992), o professor deve despertar o interesse pelo objeto
de estudo. Fazer com que o aluno tenha vontade de saber mais sobre o que se
pretende ensinar. Deve atribuir significado ao conteúdo de forma que se torne
importante para o educando. Deve permitir que o aluno passe pelos três momentos
da construção do conhecimento: síncrese, análise e síntese. E através do método
dialético que vai do abstrato para o concreto considerando tal movimento do
pensamento elaborar seu conhecimento particular e único.
Nesse contexto, é necessário planejar e desenvolver o trabalho educativo na
perspectiva da mediação dialética, cujo cerne é a contradição. Dessa maneira,
será possível a construção de sínteses onde os alunos poderão realmente
aprender. Para o trabalho educativo possibilitar, de forma direta e
intencionalmente, que cada aluno internalize os saberes científicos, produzidos
pela humanidade, histórica e coletivamente, é fundamental que se adote os
fundamentos da mediação dialética como embasamento pedagógico(ARNONI, 2004).
CONCLUSÃO
A reflexão sobre a formação do profissional enfermeiro que
atua na área de educação nos permite afirmar que a prática educacional exige
uma formação específica onde sejam considerados o processo de
ensino-aprendizagem e os elementos que nele são envolvidos: o professor, o
aluno e o objeto de estudo.
Dessa forma acredita-se que a relação de ensino-aprendizagem está diretamente
relacionada à interação professor-aluno e suas trocas de saberes. È fundamental
que o professor no momento do planejamento de suas atividades considere as
experiências de seus alunos e a realidade de cada um para desenvolver seu papel
de educador com qualidade.
O conhecimento na área pedagógica e implementação de estratégias que valorizem
o educando como ser singular e capaz de participar ativamente do processo
educacional possibilitam uma atuação docente que desencadeia a construção do
conhecimento pelo aluno que será capaz de participar da vida em sociedade de
forma significativa. Um bom educador em enfermagem tem de ter muito mais que
boa vontade, tem de ter um perfil que se caracteriza na preocupação com a
formação crítica do aluno.
Nesse contexto, é de fundamental importância que se estabeleçam programas de
educação continuada onde o educando possa refletir sua prática educacional,
avaliar sua conduta e promover mudanças na forma de sentir, pensar e atuar das
pessoas em relação a si mesmas e aos outros.
O enfermeiro educador necessita desenvolver a consciência de que não é o
detentor do saber e nem o centro do processo educacional, e sim direcionar toda
atividade profissional ao desenvolvimento emocional, político e social do aluno
para que possa colaborar realmente com a formação de profissionais éticos e
capazes de superar dificuldades de qualquer natureza.
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