O EMPRESÁRIO EGOCÊNTRICO
Por Romão Miranda Vidal | 15/02/2010 | CrônicasO EMPRESÁRIO EGOCÊNTRICO.
Existem certas pessoas, que sentem-se acima de tudo e de todos. Suas convicções, posições, pensamentos e atitudes, jamais poderão e sequer deverão ser contestadas, quanto mais contrariadas.
Se donas de uma empresa ou algo assemelhado exigem que tudo orbite ao seu redor, todos serão satélites que sofrem atração de acordo com seu estado de espírito e humor.
Umas mais próximas. Outras distantes. Mas não as descarta, pois sabe que um dia delas irá necessitar, uma vez que no fundo da sua percepção, sabe muito bem o quanto são inteligentes e importantes. Mas por assim o saber, o seu ego não admite que alguém com raciocínio e inteligência igual ou superior a sua, se faça presente
Suas idéias sempre terão predomínio sob as demais apresentadas, mesmo que sejam coerentes e sábias, trazendo benefícios sólidos em curto prazo.
Essas pessoas, digamos egocêntricas, quando possuidoras de um nível intelectual elevado e graças a esta situação, conseguem se firmar no plano empresarial, não mede esforços para obter vantagens e, sobretudo espezinhar seus concorrentes.
Não dividem espaço, poder, administração, gerencia e decisões. E quando tal acontece, sempre estará na posição “um olho no gato e outro na sardinha.” Em geral encontram pessoas que lhe são subservientes, que abdicam até da sua vida pessoal, por sentirem um masoquismo inquestionável, ao trabalharem para este tipo de empresário. Sofrem as maiores amarguras, quando o todo poderoso patrão, não encontra um pequeno defeito, em alguma tarefa ou produto a ele solicitado. Ao contrário ao serem elogiados, não admitem que fossem capazes de tal feito. Respondem “ ...graças ao apoio do senhor”.
Conseguem na maioria das vezes e isto é estatístico, romper barreiras incríveis. Posicionam-se muito bem na sociedade, em partidos políticos, em cargos representativos ligados as atividades empresariais, na qual milita. Adoram ser alvo de comentários, a respeito de suas vitórias sobre concorrentes, mesmo que para tal tenha que sacrificar todo o corpo funcional. Não são capazes de sequer pensar em deixar de ser elogiados. O egocentrismo é seu combustível.
Quando necessitam de algum favor, apresentam-se de forma mais humilde que um paupérrimo seguidor de São Francisco de Assis. Mas assim que suas necessidades forem atendidas, sequer um agradecimento se fará ouvir.
O que leva ao extremo do sofrimento, para estas pessoas, é o de admitir qualquer tipo de erro. É um absurdo que isto com elas venham acontecer. Não admitem de forma alguma.
Ou é um funcionário (em geral aquele masoquista), a esposa, o trânsito, o provedor de InterNet, o gerenciador de e-mail que leva a culpa.
Sofrem porque em geral, com o passar dos anos, olha e vê a sua empresa consolidada e não tem nenhum sucessor, para dar continuidade a todo um processo de construção egocêntrica que desenvolveu, consolidou e atendeu as demandas da sociedade. Só Deus sabe a que preço. Mas caminha como todos nós caminhamos para a extinção física dos nossos corpos.
Se por um acaso houver um que lhe suceda. Terá inegavelmente o seu perfil. Quando não, viverá de forma escamoteada, até o momento de assumir a empresa e então será aquela mixórdia total. O velho carro, de segunda ou terceira mão, dará lugar ao mais caro dos importados. Aquele terno herdado, que foi reformado no alfaiate de um bairro distante, terá um lugar certo: lixo. Ou ainda em caso de exceção, aqueles ternos de microfibra, vendidos em liquidação, por R$ 98,00 em seis parcelas de R$ 16,33 ao mês, também será jogado fora. Administrará a empresa, ou seja, o que for, no início com certa continuidade, temendo até que a fotografia na parede, o recrimine por esta ou aquela atitude inovadora. Mas irá se digladiar, com aquele subserviente, agora “viúvo” que não concorda com as mudanças e irá lhe causar dificuldades. Pois sabe de todas as chaves, de todas as portas, sabe qual a marca de papel higiênico que o patrão mais gostava e assim por diante. E o tempo então se encarregará de mostrar as prováveis situações que irão ou não se consolidar.
A primeira. O sucessor, se herdeiro único e que se criou sobre o bastão do pai, agora falecido, colocará para fora todos os seus ressentimentos. E creiam. Coitados dos funcionários, fornecedores, concorrentes e até clientes. Herdam não a empresa, mas todo o atavismo egocêntrico e assumidamente egoísta.
A segunda. Existem mais de um sucessor. Um se destacará e fará dos demais seus subalternos. Até um determinado ponto. Quando então haverá um conflito de idéias, posições, interesses, brigas de cunhadas e então tudo vai por água abaixo.
A terceira. Dois herdeiros, irmãos. Provavelmente um dos herdeiros paternos assumirá a direção, em geral o mais velho e o mais jovem demonstrará desinteresse pela empresa.
Ao empresário que viveu toda a sua existência na tenaz busca da perfeição egocêntrica, sem sequer dar uma olhada ao redor, sem estender a mão ao próximo, mas sempre que a estendeu o fez para buscar para si o que melhor lhe convinha. Só resta ficar sofrer por antecipação.
E então o prazo de validade biológica, vai chegando ao fim.
O que fazer? Abrir o capital da empresa (isto quando possível)? Propor uma participação societária? Desde que mantenha a maioria do capital.
Ou continuar a administrar a empresa, vendo que suas energias, suas idéias, seu vigor administrativo aos poucos vão sendo erodidos e que o fim se aproxima.
Em geral o empresário que age de maneira egocêntrica, despótica, egoísta, personalizada em excesso, traz uma bagagem herdada de sofrimentos, de humilhações e até pressões psicológicas em alguma etapa da sua vida. Independente se familiar ou não.
A primeira oportunidade que lhe é ofertada assume, com todas as suas forças e energias.
E então tudo aquilo que ficou represado, por anos e anos é desaguado nos que convivem no dia a dia da empresa.
Interessante neste tipo de empresário, a mesma atitude empresarial se faz presente na vida familiar.
E então é chegado o momento do balanço de toda uma vida e das indagações.
De que adiantou todo este despotismo?
De que adiantou em não concordar com as idéias dos outros, sempre impondo as suas como sendo a máxima das máximas idearias?
De que adiantou não admitir que seus familiares, amigos, parceiros, assessores, fornecedores são seres humanos iguais e que os projetos e idéias apresentadas, poderiam melhorar o relacionamento, o desempenho e até o ganho da empresa? Mas não. Tudo tem que ser conforme o seu modo de pensar e agir.
E então a idade chegou.
As conseqüências do estresse emocional, psicológico, físico, comercial, administrativo e até espiritual é o extenso cardápio, que lhe será servido diariamente. Tendo como opções, a hipertensão, o diabetes, a diminuição da libido, a impotência sexual, artrite reumatóide, Mal de Alzheimer, Mal de Parkinson e esquizofrenia.
E como sobremesa. A morte, o enterro e o epitáfio final: Ainda bem que morreu...