O elevador

Por Bia Tannuri | 20/07/2011 | Crônicas

Acionou por várias vezes o botão do elevador em uma ilusória sensação de que poderia trazê-lo mais rápido, estava aflito. Enfim o bendito chega como um vagão de trem da central às seis da tarde, lotado. Quando a porta se abre quase desiste de entrar ao ver todos os olhos voltados para ele em sinal de quase desespero, como que estivessem dizendo: - Ai não mais um... -, mas estava atrasado e se aperta entre os demais. Os olhos dos ocupantes da nave rapidamente retornam para o chão em igual movimento do novo integrante que em um esforço consegue emitir um bom dia entre os dentes que mal dá para ser ouvido. A viagem segue, parando de andar em andar para aumentar o sofrimento dos que não conseguem se encarar. As cabeças ficam tortas na tentativa de evitar o tão difícil olho no olho, tarefa quase impossível dado a falta de espaço, e segue a viagem.
Assim se dá um dos constrangimentos mais constrangedores que um ser humano enfrenta por pura incapacidade de comunicação e de suportar a proximidade com o outro por medo sabe-se lá de que.
Parecem seres enjaulados que não conseguem encarar uns aos outros como que temessem terem seus segredos descobertos através do olhar. Lutam desesperadamente para não cruzarem os olhos com o "adversário" que está ali ao lado, tão perto que dá para ouvir a respiração, porém não suportam o olhar. Os minutos passados dentro daquela maldita caixa que sobe de desce transformam-se em horas intermináveis até que o andar desejado chega, a porta se abre e os ocupantes saem quase que correndo como que libertos. Mas libertos de quem? De pessoas que simplesmente dividiam um espaço por ínfimos minutos? O que é isso? Por que a proximidade constrange tanto as pessoas, por vezes, tornando-as até mesmo mal educadas incapazes de emitir um simples cumprimento?
Encarar o semelhante remete a que? Do que se está fugindo quando se evita o olhar do outro? Do que talvez se possa ver ou descobrir no reflexo do olhar alheio que não se queira ou que não se é capaz de suportar?
Quando se olha nos olhos, no fundo deles, muitas vezes nem é necessário que haja a verbalização da palavra, o entendimento flui de acordo com a capacidade da energia de transmitir.
Os olhos falam, não mentem, não calam, não escamoteiam. Quem os encarar não tem como não se deixar ver por dentro. Quem os encarar não precisa falar com a boca, eles falam por si só.
...E seguiu olhando para o chão dos andares que o elevador da vida o levou sem a capacidade de levantar a cabeça e olhar de frente para os que o rodeavam e por muitas vezes perdeu a hora que deveria saltar e ficou indo e voltando, subindo e descendo até que não sabia mais qual era o seu andar e não mais fazia sentido sair ou não do elevador... E tudo isso pela simples incapacidade de olhar no fundo dos olhos e descobrir. Coitado dele... Está subindo e descendo sem ter aonde ir.
Coitado dele...
Bia Tannuri
http://biatannuri.blogspot.com/
biatannuri@gmail.com