O Dogmatismo é um Vício Antifilosófico

Por BESSANI, Dinaldo | 02/07/2013 | Filosofia

Nossa sucinta apreciação se debruçará em argumentos aos quais tende conscientizar religiosos e afins no tocante a utilização da Filosofia nos meios de preceitos absolutos, neste caso; as igrejas materiais. Em si, a pauta é: para o bem da humanidade o dogmatismo não existe como corrente ou teoria Filosófica.

Nos dicionários da vida, as religiões colocam o ‘dogmatismo como doutrina que admite verdades certas e irrefutáveis, que podem servir de base às crenças’. Em Filosofia, propriamente em Immanuel Kant, àquela é admissível apenas como possível sistema de pensamento, porém sem o poderio da crítica racionalizada. Portanto, pessoas dogmáticas acolhem certezas místicas sem qualquer justificação e se recusam as avaliar criticamente. Não aceitam reflexões mais apuradas e sistemáticas. Regulam-se na interioridade vazia de conhecimentos rasteiros ditos por outros sem averiguações. Basta falar a palavra ‘Deus’, e elas concordarão com tudo o mais que possa ser discorrido.

Eis o motivo que nenhum Filósofo, ainda que não seja cético, aceite ser descrito como dogmático. Em suas Filosofias, as ‘Verdades’ devem estar sempre em aberto para que possa ser discutida e aferida antes de oferecer qualquer veredicto ao público. As teorias se apoiam em pesquisas que buscam fundamentações que podem e devem ser refutadas para o bem da coletividade social. As pretensões são hipotéticas, embora o senso comum às entenda como finalizadas.

É corriqueiro nas escolas, determinadas universidades e, templos sagrados, ouvirmos dizer que os filósofos são todos ateus, materialistas, antissociais, loucos, etc., ou; precursores do catolicismo, do espiritismo e demais superficialidades com efeitos dissonantes de quem parafraseia tal pilhéria sem básico entendimento.

Fornecerei algumas elucidações antidogmáticas para os interessados em autoconhecimento. Fato: não são todos os Filósofos que não creem em Deus. Muitos tinham e tem convicção neste. Vários são agnósticos, deístas, céticos; no entanto, dogmáticos jamais! Se assim fossem estariam longe do arcabouço filosófico primado pela razão e a reflexão crítica.

Materialistas? Esta corrente de pensamento a qual prega a prevalência da matéria sobre o espírito ou a mente, é uma hipótese filosófica que nem todo pensador concorda, afinal, estamos na área da Filosofia (cria-se conceitos próprios), toda doxa em primeiro momento é acolhida, dialogada, analisada com fundos de comprovação ao menos teórica; diferente de dogmas absolutos: é isto e pronto! Não contestem; (o autor está a aludir sobre os vigários e suas catequeses, ou estudos da religião, que desprestigiam o raciocínio lógico sobre o Criador).

Estudiosos como Leucipo, Demócrito, Epicuro e Karl Marx eram Materialistas. Entendam, não eram filhos do suposto Diabo e, adversários cruéis das religiões. Aliás, foram por esses e outros pesquisadores que, vias de regra; Allan Kardec conseguiu codificar o Espiritismo. Assim sendo, diferentemente do que possa pensar muitos espíritas, àquela maneira de ver o mundo ajudaram os Espiritualistas a mudarem e aperfeiçoarem suas concepções e, quiçá; ver a vida mais além. Pois, segundo a Filosofia; toda teoria tem sua importância e faz parte da evolução humana em benefício do próprio Ser. [adendo: investiguem outras linhas filosóficas; pré-socrática (physis), ético moral, estoicismo, epicurismo, ceticismo, racionalismo, empirismo, criticismo, existencialismo, entre outras].

Quanto à questão dos gregos clássicos (Sócrates, Platão e o macedônio, Aristóteles) encontrarem-se quase sempre em bocas que falam demais, mas não tem nada a dizer; garanto-lhes suas não convicções em crença religiosa alguma. Os gregos antigos eram pagãos e acreditavam em deuses. O lamentar é que inúmeros ledores desavisados os veem de forma equivocada, abancando uma frase aqui e ali, citam de forma irresponsável para demonstrarem intelectualidade sem terem alicerce para tal empreendimento.  Vigiai-vos!

Quando àqueles morais falam da alma, por exemplo, estavam a salientar sem pretensão de fé ou qualquer dogmatismo. São ideias hipotéticas que muito contribuíram para o Progresso Moral e Intelectual do Homem; o próprio Sócrates enfatizava: os homens interpretam do modo que querem, não da forma que realmente é.

Ora, se somos falhos e ignorantes, não nos cabe sermos dogmáticos, pois; há sempre algo novo a ser descoberto. Logo, a Filosofia é o instrumento analítico que mais dá liberdade de pensamento; por esta razão, se torna extremamente perigosa à sociedade e, principalmente aos cultos contemplativos sem o devido cuidado e prévia informação de quem a usará. Se partirmos da pressuposição que mais de 95% das pessoas estão sempre equivocadas em suas percepções e análises, procurem imaginar o quanto, exatos dogmas fundamentalistas (inclusive os fantasiados pelos crentes), bloquearam nossa existência e convivência para com uma vida mais sadia e íntegra.

Em suma, o dogmatismo é um vício social infundado, criado por seres de índole inferior que tentam convencer-nos de algo que nem mesmo seus seguidores sabem o que é. Para os fiéis que se moderam na fé racional, se quiserem que a maioria dos cientistas os leve a sério; terão que se dedicar bem mais no que acreditam. E, extirpar vários dogmas absolutos que fazem a humanidade regredir. Do contrário, teremos ‘espiritualistas mais materialistas’ do que já se encontram na contemporaneidade. E no que se diz respeito ao ponto que resolvi deixá-lo por último; o dos ‘especialistas’ verem os livres pensadores como antissociais, loucos, e outras coisas mais: o bom senso existe, contudo; nem todos estão aptos a usufruir dessa virtude nobre.

 

“Há vício desde que haja excesso”. (Sêneca, Lúcio Aneu).