O DIZIMO – UM TROPEÇO NA VIDA DO CRISTÃO

Por Saulo Bento de Melo. | 29/01/2017 | Religião

O DIZIMO – UM TROPEÇO NA VIDA DO CRISTÃO

Devido a carência de informações fidedignas que tratam da prática contributiva no seio da igreja cristã, segue a correta orientação bíblica acerca do dízimo que já virou cultura popular pela repetição das mesmas lições e sermões ao longo dos séculos, tornando-se uma máxima, praticamente sem críticas, verdade absoluta quase que irrefutável. E porque questionar se “todos” ensinam com o mesmo fundamento, não é? Vamos aos fatos:

ANTES DA LEI: Abraão (Gen. 14:20) e Jacó (Gen. 28:20-22) deram dízimos de forma espontânea e VOLUNTÁRIA, utilizando-se de 10% como base percentual, mas poderia livremente ter como referência outra porcentagem, uma vez que DEUS NÃO PEDIU DÍZIMOS a nenhum deles, isto é, não tinham obrigação formal em praticá-lo. Diferentemente dos ensinos equivocados da atualidade, Abraão e Jacó NÃO ESTARIAM ROUBANDO A DEUS se não o fizessem. E atente para isso: Seus dízimos nunca foram em dinheiro.

DURANTE A LEI: Mais adiante o dízimo foi de fato instituído na lei de Moisés e limitado ao povo de Israel (Lv.27:30-34) como a décima parte da produção, exatamente na forma até então praticada, isto é, em alimentos, e somente a tribo de Levi (Sacerdotes Levitas) poderia recebê-lo das demais tribos (Heb.7:5), inclusive usufruí-lo (Dt.26:12). Sua finalidade estendia-se a manutenção do templo, amparar as viúvas, os órfãos, os necessitados e estrangeiros com os mantimentos necessários (Dt 26:11,12).

DÍZIMO NÃO ERA EM DINHEIRO: Sempre estava relacionado às terras herdadas pelos israelitas e suas respectivas produções animal ou vegetal, grãos, rebanhos, enfim, (Dt.14:22; Lv.27:30,32), e não se tem registros bíblicos de dízimos dos ganhos em dinheiro oriundos de rendimentos de outras profissões da época, como comerciantes, carpinteiros, construtores, pescadores, mercadores, atividades assalariadas, etc, e existia sim dinheiro (Lev. 27; Êx.30:14-16; 38:24-31; Gn.23:15,16). As exceções para dizimar em dinheiro ocorriam quando o dizimista demonstrava interesse em ficar com parte do bem, dessa forma teria um acréscimo de 20% sobre o valor dos bens dizimados (Lev. 27:30-32). A outra situação ocorria quando era dificultosa a entrega dos bens produzidos (dízimos) no lugar designado, assim poderia vendê-los e transformá-los em dinheiro, apresentando-o no lugar determinado e adquirir outros bens para substituí-los, inclusive poderia comer dos mesmos (Dt.14:24-26). Em ambos os casos o dízimo estava ligado aos frutos da terra (alimentos).

A MUDANÇA DA LEI: O apóstolo Paulo tratou da mudança de sacerdócio apontando para Cristo como o sacerdote perpétuo (Heb.07:23-28), inclusive afirmando que mudando-se o sacerdócio seria necessário a MUDANÇA DA LEI (Heb.07:12), cujo novo pacto seria muito melhor (Heb.07:22) e com melhores promessas (Heb.08:06). Cristo como o sacerdote eterno não veio da tribo de Levi, mas de Judá que não tinha a incumbência de receber dízimos, nem tampouco havia sacerdotes (Heb.07:14). Oras, os “pastores” da atualidade vieram da tribo de Levi? (Heb.07:05); Não vieram, então usurpam a função de receber dízimos, preferindo o velho pacto (IICor. 03:14-16).

NA GRAÇA (NT): A lei mosaica serviu de aio para nos conduzir a Cristo (Gl 3:23-25), e era sombra do futuro e não a exatidão das coisas (Hb.10.1), e incapaz de nos justificar (Gl.2:16,19; 5:4). Cristo nos livrou da maldição da lei (Gl.3:10,11), e os que insistem nas suas práticas estão separado de Cristo (Gl.5:4). Introduzir na igreja Cristã as práticas da lei mosaica, mesmo que seja SÓ O DÍZIMO, pode contaminar todo o intento de Cristo para sua igreja como corpo, conforme o apóstolo Paulo mencionou em (Gl.5:9), em que um pouco de fermento leveda a massa toda. Os apóstolos não exigiram e não recebiam dízimos, e tampouco ensinaram aos convertidos em Cristo a lei mosaica, pois foi por Ele abolido (2Cor.3:14-17), e separado de Cristo e da graça está os que insistem em justificar-se pelas obras da lei (Gl. 5:4), ainda que limite-se somente a prática errônea do dízimo. Praticá-lo é ignorar o aperfeiçoamento instituído no novo pacto (Heb. 07:28; 8:6).

Para afirmarem que o dízimo é ensinado no Novo Testamento, seus defensores citam (Mt.23:23), mas não percebem que todas as formalidades da lei ainda estavam vigentes enquanto Jesus vivia com a natureza humana, e assim todas as ordenanças da lei deveriam ser praticadas, inclusive por aqueles de Mt. 23:23 os quais Jesus repreendeu-os severamente.
 A vigência do novo testamento não se deu com o nascimento de Cristo, mas à partir de sua morte e ressurreição. Todo testamento só tem validade com a morte do testador (Heb. 09:16,17). Se Cristo veio cumprir a lei (Mt.05:17), é óbvio que para cumprir era preciso cumpri-la em vida, e na forma em que fora constituída, e assim o fez “Está consumado (cumprido)” (João19:30); Fez-se assim mediador de um Novo Testamento (Heb.9:15), e consequentemente tornando antiquado o primeiro (Heb.8:13).

Com (Mlq.03:10,11) co-relacionam o ato de dizimar ao alcance de “bênçãos sem medidas”. O próprio texto explica, e refere-se à providência divina com chuvas e bom tempo para a produção de cereais que seriam posteriormente dizimados como frutos da terra. Erram ao afirmar que o devorador é o diabo ou espíritos maus que impedem a prosperidade dos não dizimistas, e novamente o mesmo texto esclarece que as plantações estavam sendo prejudicadas de forma a não propiciar boa colheita. O profeta Joel lista pragas como lagarta, gafanhoto, locusta, pulgão, como insetos e/ou pragas existentes e que devoravam plantações de sua época (Joel 1:4). Cuidado! não é tudo de ruim que acontece conosco que tem as digitais do diabo. Bênçãos não estão vinculadas ao ato de dizimar, não é o dízimo a condição para se ter a benevolência de Deus (Ef.2:8).

Citam também (Heb.7:1-10). O foco desse texto não é estabelecer o dízimo no cristianismo, mas afirmar que o menor é abençoado pelo maior (Heb.7:7), referindo-se ao sacerdócio de Melquisedeque relativo ao de Aarão que era fraco, e canalizando para o estabelecimento de um novo sacerdote que é Cristo (Heb.7:27,28), e que mudando o sacerdócio é necessário que haja mudança na lei (Heb.7:12) que em nada aperfeiçoou (Heb.7:19) mediante novo pacto, afirmando que o que se torna antiquado e envelhece perto está de desaparecer. (Heb.8:13).

Recorrem ainda a (Marcos 12:17): “Daí a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”. Não há menção aqui sobre dízimos. Jesus ensina aqui que a religião (Igreja) deve respeitar a autonomia do Estado (César) não usurpando suas atribuições, e vice-versa. Enquanto cidadãos estamos submissos às leis da nação, e enquanto cristãos às leis de Deus. É o que ensinou.

O DÍZIMO E OS APÓSTOLOS: Ainda segundo os dizimistas os “apóstolos não ensinaram o dízimo porque já era prática dos judeus, e não há evidências bíblicas que ele (dízimo) foi revogado.” Citam (At. 21:20):
Oras!, Como revogar o que não estava em vigor? (At.21:21). Basta ter compromisso com a verdade para entender que a lei mosaica teve seu fim, e vigorou até João Batista (Lc:16,16; Mt.3:2) seguida por Cristo cumprindo-a e instituindo um novo pacto com sua morte e ressureição, inclusive os novos convertidos foram ensinados pelos apóstolos para apartarem dos ensinos e costumes inerentes a lei de Moisés (At.21:21), e porque o dízimo iria permanecer? Se assim fosse o Espírito Santo certamente inspirariam os escritores bíblicos do Novo Testamento a registrar essa exceção, pois Deus não é de confusão, mas não o fez, pois tinha melhor e aperfeiçoada prática contributiva para a igreja, sem legalismo, mas com alegria, liberdade e espontaneidade (IICor.9:7,8).

Outros ainda argumentam de variadas formas: “Só compreende o dízimo quem dizima!” “O dízimo é um ato de amor ao próximo!” “O dízimo é uma prova de fé para com Deus, enquanto que não dizimar é a falta dela!” “Dizimar é a prova do desapego ao dinheiro!”, etc. Todos esses constituem conclusões pessoais e nada além disso; São conceitos particulares de quem quer justificar sofrível e forçadamente o dízimo à qualquer custo.

Como já dito, o dízimo atual se difere do original (mosaico) em sua essência, todavia a simples TAXAÇÃO por sí só, ainda que não seja a forma bíblica apropriada, seria até razoável do ponto de vista da necessidade de formação de caixa para custeio da demanda da igreja, porém o GRANDE ERRO está quando torna essa taxa (10%) uma IMPOSIÇÃO, isto é, obrigatória, e AGRAVA mais ainda quando, de forma descontextualizada citam Malaquias 03:08, e imputam o crime de roubo àqueles que por um motivo ou outro não dizimam, mesmo que o fiel tenha contribuído com ofertas voluntárias. Assim, o DÍZIMO IMPOSITIVO constitui numa FERRAMENTA ERRADA e desapropriada para a formação de caixa na igreja no tempo da graça. Se para angariar recursos financeiros os fiéis carecem de tal imposição, isso é uma evidência de que, mesmo crentes em Jesus, ainda lhes faltam conversão aos verdadeiros ensinos de Jesus e à essência dos ensinos apostólicos para a igreja.

A própria vivência ministerial dos apóstolos em nenhum momento sugere que usufruíram de dízimos (ICor.16:1,2), e porque não iria usufruir se tivesse legal no seu tempo? Aliás, se o dízimo estivesse vigente nos tempos apostólicos o fato de não usufruí-lo seria um péssimo exemplo, pois estariam abrindo brechas para possível confusão (heresias) na igreja futura. Mas todos eles foram espirituais o suficiente para entender, praticar e ensinar somente o que o Espírito Santo requeria para a sua igreja em qualquer época (Gl 1:8-12). Ademais, porque não requerem provas no Novo Testamento da REVOGAÇÃO de CADA UMA das centenas de normas e ordenanças do Velho Testamento, mas exigem somente concernente ao dízimo? Muito estranho, não?

Se o dízimo fosse bíblico no tempo da graça, seus praticantes também deveriam não comer carne de porco (Lev.11:7); Deveriam praticar a circuncisão (Gen.17:23-27); Apedrejar os adúlteros (Lev. 20:10); Não comer frutos do mar (Lev.11:10); Oferecer holocausto (Gên. 22:13); Não tirar a barba (Lev.19:27); etc. Todos esses atos, e demais ordenanças e estatutos da lei mosaica são bíblicas também! (Malaq. 4:4) e porque seus apoiadores aboliram as mais de 600 outras práticas da lei e só interessaram na prática impositiva do dízimo que faz parte sim da lei? (Hebr.7:5); Muito Estranho! Se guardar toda a lei e tropeçar num só ponto será culpado de todos (Tg 02:10). Deveriam ainda limitar-se somente aos sábados para santificarem (Ex.20:8) conforme Deus ordenou aos Israelitas. Assim não vale escolher o que quer ou não praticar (Gl.3:10-12), a bíblia não dá essa liberdade, mesmo com nosso livre arbítrio.

Todavia, não estar debaixo da lei mosaica não significa que o cristão no tempo da graça não tenha lei, sim, as têm (Rom.7:6-12; Lc.16:17), porém com outra mentalidade e melhores promessas para sua igreja (Heb.8:6). Jesus não aboliu a lei de Deus, ela é eterna, (Rm.3:31), pelo contrário, Ele fortaleceu o que Deus evidenciou no decálogo, porém de forma melhorada, aperfeiçoada e acrescida do quesito fé em Jesus (Rm. 3:22; 5:1,2) que já fazia-se presente entre o povo, e assim toda a essência dos 10 mandamentos do Velho Testamento foi contemplada no Novo Testamento, de forma que a fé não anula a Lei de Deus (Rm 3:31). O dízimo não está no decálogo e nem destacado no Novo Testamento como em sua forma original praticada na Lei de Moisés que foi abolida (IICor. 3:14-16). A forma de contribuição cristã ensinada e praticada pelos apóstolos constitui num modelo idêntico a forma com que Abraão e Jacó contribuíram antes da lei, com prevalência do ato espontâneo e voluntário, pois não havia lei, e não estariam roubando a Deus se não o fizesse. A forma contributiva foi adaptada a um novo tempo da Graça e para as mesmas finalidades, isto é, manter o templo e toda a demanda da igreja, inclusive atender os necessitados, onde todos podem contribuir livremente e sem culpa conforme sua condição, pela fé (2Cor.9:7,8; 3:17).

O dízimo CONSTRANGE: Nem todos podem dizimar em função do pequeno ganho. Alguns até obrigam os fiéis a apresentarem holerites para fins de comprovação de rendimentos; CONDENA: Quem não dizima é constantemente taxado de ladrão, e como fica a consciência deste?; É EXCLUDENTE: O não dizimista em algumas denominações são excluídos ou limitados em algumas liberdades e cerimoniais da igreja, inclusive da ceia; NÃO JUSTIFICA: (Lc.18:12-14; Ef. 2:8; Rm.3:20) e pode conduzir o dizimista a um estado de conforto como se fosse o bastante; INDUZ A CONFUSÃO: Deve-se dizimar dos rendimentos das aplicações financeiras? Das doações recebidas? Dos animais que nascem? Da restituição do Imposto de Renda? Dizima-se dos lucros dos negócios? Da herança recebida? PESO NA CONSCIÊNCIA: Os que de pouco ganho ofertam mas não dizimam, como ficam suas consciências, serão eternos devedores de Deus?

O dízimo, segundo a lei de Moisés, constituía numa forma apropriada de contribuição num contexto em que a religião era predominante (Teocracia), e Deus de fato se colocou como o governo do povo de Israel desde a saída do Egito (Ex.15:18; Núm.15:41), e dos dízimos vinham os mantimentos para variadas assistências. Não bastasse sua não validade, na atualidade o dízimo não mais convém, pois a maioria das nações não vive mais num estado Teocrático com forma específica de contribuição. Hoje as formas de governos vigentes, quer seja Democracia, Monarquia, ou qualquer outra, o povo está submetido a altas cargas tributárias imposta pela lei do país, além de grande parte dos Cristãos serem de pouca condição financeira. Nesse contexto nem sempre o cristão consegue honrar pontualmente sua obrigação em dizimar conforme lhe é ensinado, transformando-se num “eterno roubador” e “inadimplente” de Deus, uma vez que dificilmente conseguirá repor o que outrora deixara de dizimar, ainda que tal membro seja um fiel ofertante. Infelizmente muitos líderes ainda dizem que a pobreza é fruto da desobediência ao dízimo; Lamentável!

A essência do dízimo era a prática da caridade e do amor ao próximo intermediados pelos sacerdotes Levitas, prática totalmente diferente da distribuição dos dízimos na atualidade, onde há desvios de finalidade com a arrecadação concentrada e muito pouco revertida aos que mais precisam. São geralmente destinados aos líderes e enviados para centrais muito distantes que gastam livremente como bem querem. Ao invés da abundância de mantimentos aos necessitados priorizam projetos materiais, salários exorbitantes, acúmulo de fortunas, enfim.
Não acredito que são ingênuos os que assim pregam e compartilham, mas de propósito agem. O fato é que o dízimo tem enriquecido “sem medida” muitos lideres, enquanto o povo em geral não se beneficiam das referidas promessas, e continuam pobres.

Além da imposição dos DÍZIMOS cobram ainda as OFERTAS (comuns e alçadas) como obrigações distintas. Segundo seus doutrinadores um ofertante que não dizima sempre estará inadimplente com Deus, ainda que o valor ofertado ultrapasse os 10% do ganho, e nesse ponto eles têm razão, pois ao pé da Lei Mosaica esse entendimento procede, e constitui num sério complicador para o Cristão de boa fé.

Por fim, é evidente que a igreja precisa de dinheiro para diversas finalidades, e todos os membros devem ser encorajados/ensinados à contribuírem, porém a forma contributiva na igreja cristã deve pautar-se pelos ensinos de (2Cor.9:7,8; 8:1-3; ICor.16:1-3; Fil.4:14-16; Lc. 08:1-3), cada um contribua segundo propôs no seu coração, não com tristeza, nem por constrangimento, mas com alegria, ou seja, contribuição VOLUNTÁRIA, OCULTA e SEM IMPOSIÇÃO de valor ou taxa.

A igreja de Cristo precisa permanecer na doutrina cristã apostólica (At.2:42) e não na mosaica (Lc:16,16; At.21:21), fora desse padrão é esvaziado de fundamento bíblico.

Infelizmente a falta de fé prefere impor, fixar e praticar erroneamente o legalismo do Antigo Testamento ao invés de confiar no mover e guia do Espírito Santo no seio da igreja com liberdade (IICor. 03:17). Com Jesus tudo é muito simples e descomplicado, mas os homens insistem em complicar.