O DIÁLOGO

Por Nilma Marques Coelho | 04/03/2013 | Contos

    Ei !

    Preciso de ajuda !

    Ei.

    Ei. Ei, amigo.

    É você.

    Estou surpreso.

    Você está me vendo.

    Tenho dois olhos, né ?

    Você tem celular aí ?

    - Por quê ?

    - Preciso  chamar a polícia.

    A polícia ? Como assim ?

    Minha esposa tentou me matar.

    Sério ?

    Eu estava assistindo ao final do jogo.

    Ela estava na cozinha, lavando a louça.

    De repente, ela perguntou se minha cerveja estava em cima de um --

porta-copos.

    Respondi ; " Não, ele não está em cima de um pota-copos."

    Ela começou a gritar : Vicente, quantas vezes pedi para você usar  ---

um porta-copos ?

    Aí eu falei. Sai lá.

    Quantas vezes pedi para você deixar de ser feia ?

    Depois disso, não ouvi mais nada.

    Mas, no um segundo depois, com uma faca voando da cozinha, com

uma faca na mão e um certo olhar.

    De repente, eu estava segurando o punho dela, enquanto aquele ros--

to feio  ficava perto do meu.

    De alguma jeito, eu a empurrei e saí correndo.

    Saí de casa, e corri quarteirão abaixo, cheguei até aqui...

    Eu só parei agora.

    Olhe para mim.

    Olhe para mim.

    Estou tremendo.

    O que foi ?

    Desculpe, mas é que...

    Já entndi por que consegue me ver e me ouvir.

    Você está morto.

    O que disse ?

    Sua esposa acertou você com a faca.

    Imagino que foi quando estava em cima de você.

    Correr até aqui foi depois disso.

    Você está louco.

    Provável, mas tenho razão.

    Você morreu. Eu também.

    Nós estamos mortos.

    Você está morto ? Eu também ?

    Obrigado. Vou encontrar um telefone em outro lugar.

    Eu fui assaltado.

    Aqui neste beco.

    O cara estava doidão e armado.

    Venha. Vou lhe mostrar.

    Viu ? Levei um tiro na cabeça.

    Somos dois mortos descobrindo que viramos dois fantasmas dialo---

gando.