O DIA ESPERADO
Por Paulo Valença | 12/11/2009 | Contos
1
Logo mais se encontrará com Gisele, no restaurante à beira-mar,
- Está bem, Valter (quando sozinhos ela o trata assim) eu irei.
- E depois...
Insinuou. Ela se voltou – já com a mão no trinco da porta, saindo – e concluiu:
- Terminaremos no motel.
Ele sorriu, baixando a cabeça. A porta fechou-se e, sozinho, relaxou o corpo gordo (mais gordo?) no encosto da cadeira fofa, de couro. Nada como a posição social, o dinheiro, para ser mais prático, para se obter o que se quer. Sim, porque se ele não tivesse o “status” que possui na Empresa, como um dos acionistas, poderia ter uma moça como Gisele, que lhe serve como secretária e amante? Claro que não. Então...
- É aproveitar Dr. Valter!
Sim, “curtir”, pois é um sujeito vivido, com experiência na vida e sabe que o que desfruta nesse jogo amoroso, numa hora, num dia se acabará, como, aliás, tudo em nossa vida se finda, na lei natural das coisas.
- É isso aí, doutor.
O telefone tocou e, atendendo-o, aos poucos se reentregou à função de solucionar os problemas surgidos.
A tarde então morria. Pela vidraça da janela defronte as primeiras luzes se acendiam, nas varandas e apartamentos dos edifícios altos.
- Está bem, providenciarei a encomenda.
Pondo o telefone no gancho, voltou a pensar na morena esguia, alta, bem-feita: Gisele que, além de saber ser secretária, também sabia...
Batida na porta anunciando alguém e a porta se abriu, com a entrada do José, encarregado de turma.
- Com licença.
- Entre, José. Qual é o problema?
O homem morenão com humildade ocupou a cadeira á frente do birô e devagar, começou a falar:
- Doutor estamos com bastante pedido e...
Então, entendendo o que o outro pretendia dizer, interrompeu-o:
- José, nada de serões. Por enquanto, temos de produzir o máximo dentro dos dois expedientes diários.
O encarregado não retrucou:
- Se é assim. Mas...
Ergueu-se e se retirou apressado.
Temos de nos impor, porque senão a peãosada toma “as rédeas”...
Agora dirigindo o carro pensa na Matilde, a esposa. Encontrara-a no apartamento? Ou estará como sempre, em academias ou fazendo compras? E o casal de filhos? Provavelmente se encontrarão fora, em faculdades, cursinhos ou em casa de colegas... E, chegando, ele sentirá mais uma vez, o vazio da ausência da família. Em seguida, após o banho, à mesa se alimentará sem sentir o sabor da comida. Contrariado.
- Já terminou doutor?
- Já Severina, terminei.
As mãos negras recolhem os pratos e os talheres. Erguendo-se, ele se ausenta da sala e na cadeira de balanço, na varanda, busca não pensar, encarar tudo com naturalidade, dizendo-se ser assim mesmo a vida moderna.
- Assim mesmo.
Mas a noite de hoje lhe será diferente, bem diferente. Sorri e ruma à praia de Boa Viagem, onde Gisele, com certeza, já o espera.
Imaginoso, idealiza as cenas pecaminosas que curtirá. O carro corre ao encontro do pecado.
2
Gisele para o jovem moreno, alto, forte, tipo “galã:”.
- Júnior: tenho que me “defender”, Se estou saindo com o Dr. Valter é porque ele tem dinheiro, me dar o que peço. Você acha que gosto disso, cada vez me prostituindo mais? Um cara gordo, branquelo, calvo, pegajoso... Mas, um dia, eu lhe prometo, vou estar “noutra” e dou um chute no homem! Mas, enquanto esse esperado dia não chega...
O rapaz a fita, sem falar. Contendo-se. Afinal, tem de concordar com Gisele, pois quem é que lhe dar dinheiro, que o “sustenta”, para ser mais claro? E se ela não se “vira”, como diz...
A moça se ergue (estão num barzinho, local de encontro de jovens, aqui no Espinheiro) e conclui:
- Bom... Agora me vou. Eu telefono pra você.
- Certo. Espero.
A morena se afasta, provocando olhares de inveja nas moças e desejos nos rapazes. Júnior também a segue com os olhos e de repente, sente-se o menor dos homens... Um dia se libertará de tudo, se verá de frente, sentindo-se um homem? E baixa a cabeça, humilde, como um vencido.
1
Logo mais se encontrará com Gisele, no restaurante à beira-mar,
- Está bem, Valter (quando sozinhos ela o trata assim) eu irei.
- E depois...
Insinuou. Ela se voltou – já com a mão no trinco da porta, saindo – e concluiu:
- Terminaremos no motel.
Ele sorriu, baixando a cabeça. A porta fechou-se e, sozinho, relaxou o corpo gordo (mais gordo?) no encosto da cadeira fofa, de couro. Nada como a posição social, o dinheiro, para ser mais prático, para se obter o que se quer. Sim, porque se ele não tivesse o “status” que possui na Empresa, como um dos acionistas, poderia ter uma moça como Gisele, que lhe serve como secretária e amante? Claro que não. Então...
- É aproveitar Dr. Valter!
Sim, “curtir”, pois é um sujeito vivido, com experiência na vida e sabe que o que desfruta nesse jogo amoroso, numa hora, num dia se acabará, como, aliás, tudo em nossa vida se finda, na lei natural das coisas.
- É isso aí, doutor.
O telefone tocou e, atendendo-o, aos poucos se reentregou à função de solucionar os problemas surgidos.
A tarde então morria. Pela vidraça da janela defronte as primeiras luzes se acendiam, nas varandas e apartamentos dos edifícios altos.
- Está bem, providenciarei a encomenda.
Pondo o telefone no gancho, voltou a pensar na morena esguia, alta, bem-feita: Gisele que, além de saber ser secretária, também sabia...
Batida na porta anunciando alguém e a porta se abriu, com a entrada do José, encarregado de turma.
- Com licença.
- Entre, José. Qual é o problema?
O homem morenão com humildade ocupou a cadeira á frente do birô e devagar, começou a falar:
- Doutor estamos com bastante pedido e...
Então, entendendo o que o outro pretendia dizer, interrompeu-o:
- José, nada de serões. Por enquanto, temos de produzir o máximo dentro dos dois expedientes diários.
O encarregado não retrucou:
- Se é assim. Mas...
Ergueu-se e se retirou apressado.
Temos de nos impor, porque senão a peãosada toma “as rédeas”...
Agora dirigindo o carro pensa na Matilde, a esposa. Encontrara-a no apartamento? Ou estará como sempre, em academias ou fazendo compras? E o casal de filhos? Provavelmente se encontrarão fora, em faculdades, cursinhos ou em casa de colegas... E, chegando, ele sentirá mais uma vez, o vazio da ausência da família. Em seguida, após o banho, à mesa se alimentará sem sentir o sabor da comida. Contrariado.
- Já terminou doutor?
- Já Severina, terminei.
As mãos negras recolhem os pratos e os talheres. Erguendo-se, ele se ausenta da sala e na cadeira de balanço, na varanda, busca não pensar, encarar tudo com naturalidade, dizendo-se ser assim mesmo a vida moderna.
- Assim mesmo.
Mas a noite de hoje lhe será diferente, bem diferente. Sorri e ruma à praia de Boa Viagem, onde Gisele, com certeza, já o espera.
Imaginoso, idealiza as cenas pecaminosas que curtirá. O carro corre ao encontro do pecado.
2
Gisele para o jovem moreno, alto, forte, tipo “galã:”.
- Júnior: tenho que me “defender”, Se estou saindo com o Dr. Valter é porque ele tem dinheiro, me dar o que peço. Você acha que gosto disso, cada vez me prostituindo mais? Um cara gordo, branquelo, calvo, pegajoso... Mas, um dia, eu lhe prometo, vou estar “noutra” e dou um chute no homem! Mas, enquanto esse esperado dia não chega...
O rapaz a fita, sem falar. Contendo-se. Afinal, tem de concordar com Gisele, pois quem é que lhe dar dinheiro, que o “sustenta”, para ser mais claro? E se ela não se “vira”, como diz...
A moça se ergue (estão num barzinho, local de encontro de jovens, aqui no Espinheiro) e conclui:
- Bom... Agora me vou. Eu telefono pra você.
- Certo. Espero.
A morena se afasta, provocando olhares de inveja nas moças e desejos nos rapazes. Júnior também a segue com os olhos e de repente, sente-se o menor dos homens... Um dia se libertará de tudo, se verá de frente, sentindo-se um homem? E baixa a cabeça, humilde, como um vencido.