O destruidor de Ídolos: Introdução ao Pensamento de Nietzsche

Por Bruno Marinelli | 08/01/2015 | Filosofia

Não somos senhores em nossa própria casa. Isso quer dizer que o resultado de nossas ações não diz em plenitude o que somos, mas a apenas oscilações de nossa potência. Estas Oscilações podem ser pequenas ou grandiosas, depende muito da capacidade do sujeito em adequar a sua vida dentro da causalidade do Mundo. 

Notoriamente, o homem se encontra em um estágio preocupante, tendo em vista que, o homem vem paulatinamente caindo em um efeito altamente prejudicial à nação, o fundamentalismo cristão. O cristianismo sem razão, digo isso, pois não exerce capacidade de pensamento, Deus se reveste mais como um ser mágico onde sua magia é correlacionada a ideia das orações e sacrifícios. Esses posicionamentos acabam por impedir o homem de agir segundo a sua vontade. Logo, o cristianismo passa a ganhar força política acabando com a liberdade individual das pessoas.

Porém, tudo o que pensamos acontece conosco em vida. Isso pelo fato de que mais cedo ou mais tarde acabamos por colocar o pensamento em ação, o que acaba por definir que nossa essência é pensamento e vontade. A vontade pode ser pensada como poder, ou necessidade vital. A ideia de que o Mundo é um celeiro Niilista, acaba por gerar uma sociedade ressentida. A crítica ao Niilismo é uma ideia que deve ser levada a sério, pois, se não conseguirmos compreender esta realidade não adentramos no castelo do pensamento. O conceito é de muita importância e ganhou grande força após os escritos de Nietzsche. O niilismo é no seu sentido mais comum uma forma de conduzir a vida sem valores, ideais, ou até valores superiores; uma forma de conduzir a vida desamarrada de princípios que transcendam a ela. Em tese, não aceitamos valores que conduzem a nossa vida. O niilista é aquele que nega a existência de valores superiores. É levar a vida à luz do que acontece, abrindo mão de qualquer critério que a transcenda. 

Os acontecimentos não podem deixar que devamos aceitar o crepúsculo do Dever, deixar que as coisas aconteçam simplesmente por acontecer. O niilismo não pode ser simplificado aos sabores do mundo. Como também não podemos perder oportunidades em nome de um ideal absoluto. O niilismo a partir de Nietzsche é reconfigurado na figura daqueles que delegam ideias absolutos em sua existência e acabam por perder as oportunidades da vida. O valor acaba por definir o Niilista, a exemplo cita-se o cristão. O cristão em seus princípios acaba por morrer em nome de princípios. Ora para Nietzsche o cristão é um niilista, realidade contrária da definição anteriormente proposta. O próprio Comunismo é uma realidade Niilista, tudo deve girar em nome de uma revolução que gera a ideia do fim das classes sociais. Todos que possuem ideais são niilista. Até mesmo a ideia de Democracia. A real pergunta que devemos elaborar é o que é que tais ideais negam, a exemplo o cristianismo?

Em outras palavras se o niilismo é o lançar em torno do nada, o que o cristianismo nega, o cristianismo nega o Mundo da vida. O mundo da vida entorno de uma ideia. Por ter ideais, valores que julga ser absolutos e superiores o homem nega o mundo dos afetos, dos corpos, das sensações, dos encontros. O niilismo Nietzscheniano é aquele que nega a Terra, nega as pulsões. Em nome do Céu o homem, nega a Terra. Em nome do Céu Blasfema-se sobre a Terra. Eis o Niilista; que em nome de uma monogamia inventada perde a oportunidade de várias outras a serem experimentadas. O compromisso ideal aprisiona os reais desejos dos homens. Por isso Nietzsche não endereça seu posicionamento a qualquer pessoa, mas a própria filosofia, as correntes fechadas e pouco abertas.

O primeiro grande Niilista é Platão. Prega a ideia de um mundo ideal cujo princípio deve nortear as ações humanas, tendo em vistas que o mundo inteligível só pode ser acessado pela alma imaterial. O mundo ideal é dogmático. As ideias são a verdadeira realidade, o que vemos com o corpo não passa de sombras e ilusões. Eis aqui o primeiro grande exemplo de um Niilista que exalta o mundo dos princípios ideais. Venera, adora um mundo de princípios para pecar contra a matéria. Platão é o start do Niilismo. O platonismo é o princípio material do Niilismo.

Em segunda instância a segunda Negação da Terra é o pensamento Aristotélico. Ora, mas se para Platão o mundo das ideias é o mundo das verdades, onde os números são perfeitos. Nietsche precisa atacar Aristóteles através da ideia que o pensador grego faz do mundo, o Cosmos. O Cosmos onde somos apenas uma peça dentro deste encadeamento de virtude, não tem a sintonia com o Mundo. Não temos a Eudaimonia. Nietzsche ataca Aristóteles, chamando escravo mental que a aprisiona através da ideia de equilíbrio entorno do cosmos. Uma dominação de um universo que funciona como uma máquina do qual o homem deva adequar. Aristóteles prega um modelo mental que escraviza a vida.

O terceiro ataque de Nietsche é o Monoteísmo, em especial o cristianismo, mas não todo ele. São aqueles que buscam a vida adequada na ideia de eternidade. Blasfemamos a vida terrena em nome do paraíso. A Idade Média, nunca ganhou tanta força como agora. As pessoas buscam cotidianamente se vigiar entorno de ideias, principalmente em proveito de eternidade. A crença, a morte corporal, e ainda o deleite pela busca de ideais acaba por negar aquilo que é real. Melhorar a humanidade é a última coisa que Nietzsche pretende fazer. Nietzsche não trás nenhuma verdade para a humanidade. Não deseja melhorar os homens, não quer levantar mais ou novos ídolos.

Ao ler Nietzsche não podemos querer uma seção psicológica. Pois sua filosofia quer pegar o Deus todo poderoso e quebrar as argilas de seus pés. Quanto mais grandiosos mais frágeis são. É preciso quebrar estes ídolos, estes modelos mentais que escravizam a vida. É preciso acabar com as certezas, todas as certezas estão erguidas em modelos frágeis. É preciso desconstruir, porque tudo paira sobre erros, ideias fracas que negam a vida em nome da invenção de um ideal, uma maldição que oprime a realidade. A humanidade se torna falsa em seus próprios sentidos. A própria ideia de Igualdade é um paradigma niilista mentiroso, que acaba por tornar as pessoas ignorantes em suas próprias pulsões.

Em outras palavras é preciso acabar com o pensamento religioso, a mentira pela qual negamos essa vida em torno da crença em outro. A morte de Deus é a morte desta Sombra, deste pensamento que escraviza, e acaba por negar a vida em conseqüência das verdades morais. A filosofia Moral que diz e separa a realidade em dicotomias deve morrer junto com Deus. Sem Deus tudo Rui, logo é claro que com sua morte; morrem também todos os ideais e princípios que alienam a humanidade, a política, as ideologias, a fé. É preciso denunciar todas as muletas metafísicas, é onde o homem apóia sua vida em um corpo que não é seu. Cria-se uma ideia que fábrica condutas. A muleta Metafísica serve como desculpa; principio e pensamento de um mundo que não existe. A própria democracia é uma forma degenerada da organização política, decadente e diminuída da humanidade, pois ela reduz os homens à mediocridade. A ideia aqui é que a democracia parte de uma premissa que não se encontra no mundo da vida, essa premissa é a premissa da igualdade. A ideia de que todos os votos valem igual, parte da premissa de um fundamento, a saber, de que essa organização política iguala os desiguais. A quem poderia interessar essa organização política onde cada homem vale um? Ora, aos fracos. Logo, a democracia é o privilégio dos ruins. Ou seja, a Democracia é uma forma de sociedade que privilegia o que é ruim.

Nietzsche não nos dá saída. E ainda lança seus olhos sobre a consistência do mundo da vida. Ora, se o niilismo é a negação da vida, devemos saber o que é negado. Se a morte de Deus é a morte deste pensamento castrador, o fim da oposição entre o bem e o mal, onde é que é o mal. Nietzsche encontra a essência do Mundo em uma Energia que quando está dentro dos seres é a Vontade de Potência. Um corpo é uma Vontade de Potência. O que Shopenhauer chama de Vontade.

 O que caracteriza um vivente é a Vontade de Potência que busca justamente mais por Vontade de Potência. É a busca por todas as condições para que a vontade aumente. Se potencialize cada vez mais. Naturalmente é energia que busca mais energia. Essa vontade de potência que contamina todos os seres vivos pode ser estudadas a partir de dois tipos de força. A força ativa e a força reativa. Força ativa é aquela que existe por si só. A força reativa é aquela que se opõe a força ativa preexistente. Em alguns momentos da vida prevalece a força ativa e outra a reativa. A força ativa caracteriza o forte, a força reativa caracteriza o fraco. A força ativa é bem exemplificada na arte, o artista é movido pela força ativa, é soberano, faz aquilo que o corpo pede. Já aquele que se incomoda com o outro é reativo, onde a existência do outro depende da força ao qual se opõe. Aquele que se incomoda com o outro é reativo. Aqui é justamente onde encontramos o fundamento da moral. Em outras palavras, quem cria são os sujeitos reativos que em sua magnitude são fracos, são aqueles que se incomodam com os seres ativos, pois os últimos são fortes e independentes em sua própria potência. Aqui nesta esfera o filósofo encontra o problema da democracia, principio e ordenamento da mediocridade. Em síntese quando Nietzsche ataca a Democracia ataca a liberdade e quando ataca a liberdade ataca os fundamentos ideológicos do cristianismo.