O desenvolvimento histórico da teoria da irracionalidade

Por Edjar Dias de Vasconcelos | 12/03/2013 | Filosofia

O desenvolvimento histórico da teoria da irracionalidade.

 Corrente epistemológica que nasceu com a finalidade de contrariar o principio da razão como fundamento lógico, essa tendência denominou-se de irracionalismo.

A mesma sustenta a tese, a capacidade racional humana para compreender a realidade, será mais eficiente, quando trabalhar no limite da própria racionalidade, a grande dificuldade é demarcar esse limite.

A irracionalidade elimina da sua perspectiva, as Ciências da natureza  a matemática, a indústria e a questão técnica do desenvolvimento da  sociedade produtiva.

O que resta figura-se no campo da subjetividade e no substrato pelo menos em parte do irracional, a razão não consegue entender seus condicionamentos ideológicos motivo das incompreensões e produções parciais.  

O irracionalismo é uma filosofia epistemológica, que teve inicio a partir do século XIX e continuidade em parte no século XX, significa  com a tendência em referencia à razão nem sempre é de fato racional.

A compreensão do fenômeno da irracionalidade produção dos filósofos do continente europeu procurou entender a questão do instinto, o sentimento e a vontade contrária à lógica racional.

Em alguns momentos a respeito de determinados aspectos, às vezes o instinto tem prevalência ocupa o lugar da razão, o que significa a instrumentalização da mesma pelo referido, o que é extremamente prejudicial à inteligência e do mesmo modo as emoções.  

A tese fundamental ontológica, a razão não é em sua essência a sua estrutura racional, não tem finalidade ou propósito ao que coordena a sua lógica. Significa na prática que a razão não tem capacidade de compreender as coisas sem distorções.

Distorcer as coisas é algo natural e componente racional, a manifestação do mundo é sua distorção, o que significa que o componente irracional é normal na racionalidade, não ser lógico é de certa forma natural, muito menos racional.

A formulação dos conceitos seja relativamente recente, traços de irracionalismo são encontrados em culturas muito antigas, o que permaneceu em todos os períodos históricos, fará sempre parte da construção da memória.

A tendência irracionalista instintiva classificada por Nietzsche o que foi denominado por ele de dionisíaca pode ser verificado na arte antiga na Filosofia, pensadores como Pitágoras Empédocles entre outros.

Recentemente já no tempo de Darwin, a ideologia irracionalista pode ser analisada em raízes biológicas e no próprio inconsciente na estrutura psicológica estudada por Freud.

Teorias interessantes às quais devem ser estudadas: o pragmatismo, o existencialismo e o vitalismo.

Todos expressam compreensões amplas do pensamento humano. Schopenhauer, típico como o irracionalista do século XIX, formulou uma tese revolucionária, a questão do voluntarismo a vontade cega sem finalidade, orienta a nossa existência perante a realidade.

Outros estudiosos fundamentais: Charles Sanders Peirce e William James defendiam que a estrutura da razão não deveria ser considerada em termo lógico, seus resultados práticos, a vida real transformados em ação o que é útil à humanidade tem caráter de racional o denominado conceito utilitarista.

Weber define a razão em duas perspectivas: por um aspecto a racionalidade substantiva, na defesa do juízo de valores, por outro, a subjetividade, o fundamento funcional e instrumental, legitimado por instrumento positivista em defesa de meios e fins.

Hobbes grande teórico entende a razão apenas como lógica que deve habilitar o indivíduo por meio do instrumento em consonância com o direito e do que é da constituição do Estado.

Numa breve análise, o ser humano reduzido a uma criatura que apenas calcula que atende aos aspectos dos  desejos.

É muito difícil separar o que constitui em vício ou virtude, como de fato entender a realidade, o que seja realmente diferente das constituições das ideologias ou das motivações de instinto.

Neste entendimento epistemológico, as construções racionais perdem sua objetividade e o homem passa ter dificuldades no reconhecimento da identidade. A razão mergulha no mecanismo da irracionalidade quase que absoluta.

No irracionalismo nele desperta uma exaltação do instinto e da vida afetiva em geral, revelando-se Nietzsche como a grande figura desse movimento a relevância concedida ao instinto.

Segundo Ricouer, foram Nietzsche, Freud e Marx, embora percorrendo caminhos diferentes, os protagonistas da suspeita e, com ela, de um novo problema: a mentira da consciência ou a consciência como mentira, os aspectos se misturam em proporcionalidade da análise.

Desse nodo justifica: o filósofo Descartes sabe que as coisas são duvidosas, que não são como aparecem; porém não duvida que a consciência não seja tal como surge a si mesma.

O sentido e a consciência do sentido coincidiriam. Depois de Marx, Nietzsche e Freud, não apenas duvidaram, mas não aceitaram as proposições como verdadeiras, passaram não acreditar na própria consciência.

O trabalho desenvolvido pelo filósofo, Razão Cativa de Rouanet, busca recuperar o significado emancipação da razão pelo exercício crítico e autocrítico.

A razão é capaz do desenvolvimento da crítica segundo Rouanet na medida em que reconhece sua competência para lidar com o mundo normativo, desafiando o fundamento positivista.

Ela submete à sua jurisdição o reino dos valores e avalia a maior ou menor racionalidade das normas.

Destaca-se, portanto, a relevância concedida pela razão aos valores e fins, radicalmente excluídos da perspectiva positivista.

De fato, Rouanet ao dividir a razão em razão ingênua a outra sábia, denominada razão crítica, propõe, por um lado, através da mesma uma consistente visão do positivismo e do irracionalismo como expressões decorrentes de uma mesma raiz e, por outro, através da razão sábia, joga a semente da nova etapa: a síntese procedimento de certo modo de Hegel.

Enquanto a razão ingênua abdica de suas prerrogativas críticas, inclusive de desmascarar a pseudo razão, a serviço do poder e do desejo, é uma razão despropositada, ingênua e arrogante, ao mesmo tempo em que, por desconhecer o irracional que a cerca, torna-se presa dele.

A razão sábia é a que identifica e critica a irracionalidade presente no próprio sujeito cognitivo e nas instituições externas, assim como nos discursos que se pretendem racionais quando são meramente ideologias e naturalmente não são poucas.

No resgate da razão, às preocupações de Husserl, fundador da fenomenologia, para caracterizar a etapa da síntese. Husserl percebia na fenomenologia a possibilidade de um caminho para a humanidade, ao reencontrar o verdadeiro sentido da razão. Tarefa árdua difícil ao encaminhamento lógico e crítico.

Esta, segundo o mesmo, deixou-se reduzir aos ismos aplicados ao progresso da Ciência e da técnica, mas incapaz quando frente às grandes interrogações existenciais: a Ciência exclui por princípios aqueles problemas que são candentes para o homem, de sentido e não sentido da existência humana no seu conjunto.

Na miséria de nossa vida, sente-se dizer, esta Ciência não tem nada a nos dizer. Deste modo, segundo Husserl, nossa civilização perdeu sua vocação e sua teleologia, que é aquela de desenvolver sua razão, isto é, torná-la cada vez mais abrangente, até o ponto de se aplicar ao próprio sujeito.

De fato, a crise da humanidade acontece quando ela não é capaz de reconhecer sua identidade a alienação da mesma na perspectiva do entendimento do mundo.

A razão é o elemento específico do homem, de um ser que vive através de atividades e hábitos pessoais, esta vida é um constante vir-a-ser e se desenvolve numa permanente intencionalidade e na incompreensão da sua realização.

E aquilo que nesta vida vem a ser é a própria pessoa. O seu ser é sempre um vir-a-ser para transformar a si mesmo num verdadeiro eu, num eu livre e autônomo, que procura realizar a razão inata nela e o esforço de ficar fiel a si mesmo, o que na prática dificilmente acontece.

Nota-se que nada foge da relação. Isto significa recuperar uma unidade profunda entre sujeito e mundo. Não é possível, de fato, um mundo sem sujeito e  sujeito sem mundo, por isso, o real não pode ser pensado razoavelmente a não ser como entrelaçamento de mundo e sujeito, por fim, como consciência do mundo.

Supera-se desse modo à dicotomia nasce, também, a ideia de intencionalidade do mundo: o real também é originariamente intencional, isto é, consciência e mundo não podem ser pensados senão numa unidade profunda e originária, numa co-presença. O mundo se oferece ao sujeito que constitui e doa os sentidos na procura daquilo que lhe vale, isto é, os fins.

Através desta perspectiva, Husserl afirmou um profundo compromisso pessoal e intersubjetivo com a realidade da vida. O sujeito, sua consciência, precisa aprender a mergulhar o mais profundamente possível no real, para interagir com ele, criar e descobrir, a partir dele, o sentido da vida.

Este é o movimento da razão fenomenológica a racionalidade que não se identifica pura e simplesmente com aquela contida nas Ciências objetivas, mas a razão que, em sua infinita tarefa de descobrir e de construir a si mesma, supera-se e critica-se, na ampliação do próprio horizonte, para a construção de uma humanidade mais autêntica.

O irracionalismo está presente no historicismo e relativismo de Wilhelm Dilthey, que condicionava todo conhecimento à perspectiva histórica do indivíduo.

Schelling e Henri Bergson voltaram para a intuição como única força capaz de enxergar o que é invisível para a Ciência. A razão, em si, não era repudiada, mas perdia o papel de comando.

Para Nietzsche, os códigos morais eram mentiras e fraudes, criadas com o objetivo de mascarar as forças interiores e influenciar o comportamento humano.
O pensamento perde seu caráter de superação e, por isso, também sua relação com a verdade.

Edjar Dias de Vasconcelos.