O Desenvolvimento Após a Adolescência
Por Anderson Rodrigo de Oliveira | 17/11/2008 | PsicologiaO Desenvolvimento Após a Adolescência
A saber, a Psicologia Evolutiva se ocupa do estudo dos processos de desenvolvimento em crianças e adolescentes. A Psicologia Evolutiva tradicional entendia que os processos de desenvolvimento terminavam com o fim da adolescência; ou seja, no momento em que se chegava à meta do desenvolvimento. Ela não negava, porém, que coisas ocorriam com adultos e anciãos, mas supunha que esses acontecimentos ou experiências não introduziam mudanças evolutivas que autorizassem falar de uma nova fase do desenvolvimento.
Alguns investigadores, estudiosos do processo evolutivo, estavam interessados, especialmente, nos processos psicológicos que ocorrem depois da adolescência. Foi preciso esperar que entrassem em cenas as proposições do ciclo vital, para que a vida adulta e a senilidade fosse vistas como etapas fundamentais do desenvolvimento e para que se desse atenção às investigações já existentes ou se estimulassem outras tantas de novo caráter.
1. Mudanças físicas após a adolescência
O desenvolvimento físico é um processo caracterizado por uma notável continuidade. As mudanças físicas da puberdade são uma exceção a essa norma, pois constituem um conjunto mais ou menos simultâneo de mudanças, que transformam de maneira importante o status quo anterior. Entra-se, mais uma vez, em uma longa etapa, na qual predomina a continuidade.
Talvez o único momento de descontinuidade que se pode destacar durante a adultez seja a menopausa nas mulheres. Isso acostuma acontecer entre os 45 e os 50 anos, após um desajuste do ciclo menstrual. Na lógica biológica da velhice, não ocorre mais nenhuma mudança significativa. À medida que avança a idade adulta, vão se produzindo deteriorações de diversos tipos, como a perda da elasticidade muscular, reduções perceptivas, principalmente a visão e audição, diminuição nos reflexos, etc. Tais deteriorizações não comprometem o funcionamento psicológico nem a adaptação cotidiana das pessoas e suas condições de vida e de trabalho.
O cérebro é a sede dos processos psicológicos. Não é de se surpreender que especialistas se tenham interessado por seu envelhecimento e as repercussões disso no funcionamento psicológico. Esse envelhecimento não se traduz por mudanças substanciais no funcionamento e na adaptação cotidiana das pessoas.
Ao surgir um dano cerebral, suas conseqüências não têm porquê ser as mesmas para diferentes indivíduos. Pode-se afirmar que cada um tem a velhice que ganhou, e que os hábitos de vida, de higiene, alimentação, exercícios, sono, enfim, durante a juventude e a vida adulta, rendem bons dividendos na velhice.
2. Funcionamento cognitivo após a adolescência
Comumente existem acordos de que as capacidades dos adultos e anciãos são menos distantes do que as entre adolescentes e jovens. Com base em algumas observações, foi possível constatar que as habilidades cognitivas diminuem com a idade, a partir dos 20 ou trinta anos. Aceitando certas diferenças existentes, é possível indagar qual sua origem.
Há, porém, algumas teses alternativas:
·O problema do projeto da investigação: trata-se de uma investigação transversal, na qual são avaliados sujeitos de diferentes idades, no mesmo momento. As pessoas estudadas diferem não apenas na idade, mas também na geração a que pertencem. É bastante provável que sujeitos de 20 anos tenham uma escolaridade mais prolongada do que os de 50 e os de 80 anos. Não sabemos qual percentagem da diferença observada entre os grupos deve-se à capacidade intelectual em si mesma e qual se deve a fatores de experiência geracional. A investigação evolutiva demonstrou que os resultados são mais otimistas. Outro problema que pode afetar gravemente o desenho das investigações refere-se à forma de recrutamento dos sujeitos. Quando se comparam uns com os outros, o que está sendo colocado em jogo é muito mais que uma mera diferença de idade;
·O problema da familiaridade das tarefas: relaciona-se com o problema do projeto anterior. Os jovens de 20 anos podem estar mais familiarizados com situações nas quais se lhes pede que lembrem de coisas, nas quais precisam memorizar. Algumas tarefas podem não ser completamente estranhas a eles, mas são pouco freqüentes para os sujeitos de 50 anos e muito raras para os de 80;
·O problema de velocidade: conseqüência de transformações no sistema nervoso. Os anciãos têm mais dificuldades em tarefas que implicam velocidade de execução: precisam de um pouco mais de tempo. Em tarefas que exigem velocidade de execução, quando se dá aos sujeitos mais um pouco tempo de estudo, os anciãos se beneficiam mais do que os jovens. O rendimento deles melhora. Já o dos mais jovens se modifica com a presença de um tempo extra;
·Tendência à cautela: há uma tendência geral para o aumento da cautela, conforme se avança na idade. Em algumas tarefas, os mais jovens cometem freqüentemente mais erros de omissão (dão respostas confusas). Já os mais velhos, reduzem a freqüência nos erros de omissão (preferem não responder quando não têm certeza);
·Problemas motivacionais: os idosos podem se sentir menos atraídos pela resolução de problemas com memorização, por exemplo. Não se sentem desafiados para resolvê-los. Não acham nada motivador fazer um esforço para lembrar uma seqüência elaborada para um exercício de memorização.
Quando se utilizam situações ou problemas da vida real, com as quais as pessoas estão mais familiarizadas e que sentem uma maior motivação, a importância tende a ser menos relevante. Há ocasiões em que o rendimento dos mais velhos pode superar o dos mais novos.
Uma investigação de tipo mais tradicional estabeleceu que o QI diminui a partir da aproximação dos 25 aos 30 anos, com notáveis quedas a partir dos 65 aos 70 anos. As coisas não são tão simples: por um lado, a utilização de projetos de investigação mais complexos mostra que a redução não é tão acentuada, nem parece tão rápida como se pensava. Sabemos que ainda que se produza uma certa diminuição das pontuações do QI, o que na realidade acontece é que essa redução não ocorre em algumas dimensões cognitivas avaliadas pelos testes de inteligência. Em outras dimensões não apenas não há uma diminuição, mas ocorre estabilidade. Pode ocorrer até um aumento, algumas das vezes. As pontuações de QI podem se manter nos adultos anciãos em níveis comparáveis aos dos jovens e adultos. A idade, porém, não é o melhor referencial para se utilizar quando se trata de determinar a competência intelectual das pessoas durante o processo de envelhecimento.
3. Desenvolvimento da personalidade após a adolescência
Não é fácil fazer referência a todos os problemas relacionados com o desenvolvimento social e da personalidade nos anos que vão do final da adolescência até a velhice avançada. Muitas e diferentes são as questões que os psicólogos evolutivos exploraram. As averiguações tiradas das respostas a tais questões são complexas e cheias de nuanças.
No que diz respeito ao desenvolvimento da personalidade, os problemas se referem a duas questões fundamentais: a existência de uma crise na metade da vida, e a estabilidade dos traços de personalidade.
Simultaneamente ao estabelecimento de relações de intimidade, os adultos vão se inserindo no mundo profissional com uma implicação cada vez maior em um trabalho no qual vão adquirindo conhecimento e experiência. Conseqüência disso, temos um período marcado pela geratividade e produtividade, situado em torno dos 30 ao 35 anos. Já as relações pessoais e familiares desdobram as possibilidades da pessoa, desenvolvem suas destrezas, colocam-na em responsabilidades como genitor, na melhora de seu status quo profissional, entre outros. É durante esse período que ocorre a crise da metade da vida.
O que se sabe sobre a crise da metade da vida é que ela não é uma crise necessária. Ela não afeta todas as pessoas e não é universal dentro do perfil evolutivo humano. Há pessoas para as quais a metade da vida é uma época particularmente feliz e produtiva, sem elementos como tormentas e dramas. Essa crise também se manifesta com intensidades diferentes: para algumas pessoas é um momento de crise intensa, com profundas remoções dos fundamentos da própria vida; para outras, é apenas uma ocasião para refazer alguns projetos, algumas questões familiares e de trabalho.
4. Família e trabalho
A entrada no mundo do trabalho e a formação de uma unidade familiar própria são identificadas como papéis, atividades e relações de maior importância já no final da adolescência. A forma como ocorrem expectativas sociais em torno deles são claramente dependentes em relação a fatores históricos, culturais e sociais.
5. A morte
Potencialmente, as pessoas podem viver aproximadamente até os 120 anos. A esperança de vida tem aumentado em muito ultimamente. Conseqüência de melhoras no tratamento médico e dos estilos de vida.
A etapa que antecede à morte (para alguns pode acontecer meses antes; para outros anos antes) dá lugar ao que se denominou "descida terminal", expressão com a qual se faz referência à redução da capacidade intelectual e a certas alterações da personalidade.
Para Erik Erikson, o ciclo vital se encerra por uma etapa marcada pelo sentimento de integridade, um período no qual se reflete sobre o próprio curso vital. Encontram-se, nele, sentidos e significados, com aceitação de frustrações e limitações que nele ocorreram. A pessoa enfrenta a morte como algo inevitável e trata de continuar dando sentido a sua existência e desfrutar dela. Quando as coisas acontecem de maneira menos positiva, o sentimento de desespero, no final da vida, predomina sobre o de integridade.
Ao aproximar-se da morte, as pessoas mais velhas atravessam uma série de etapas. Para alguns teóricos, as etapas são cinco: negação da proximidade da morte ("imagina, ainda tenho saúde para dar e vender"), ira diante constatação da sua proximidade, "negociação" (aceitação, porém com esperanças de que só acontecerá depois de ter todos os objetivos alcançados), depressão e, por fim, aceitação. Para outros teóricos, entretanto, esses estágios não são invariáveis para todas as pessoas e que não devem ser entendidos de maneira rígida.