O DESENHO INFANTIL E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

Por Neide Rossi Luciana Rossi Nascimento | 12/09/2016 | Educação

como vimos em um artgo já publicado aqui, à importância do processo de aquisição da língua escrita na vida da criança, porque esta apropriação garante o seu desenvolvimento como sujeito pertinente a uma sociedade. Podemos evidenciamos os que este processo de apropriação da língua escrita começa a partir dos seis anos de idade ou anterior ao acesso da criança na escola, a depender da relação e interação que ela tem com o mundo letrado. Nesta etapa, a criança tem algumas características próprias a esta faixa etária, pois possui a curiosidade de aprender e construir as suas relações sociais através da interação com as crianças da mesma idade.  Essa interação pode ocorrer nas escolas de Educação Infantil, nas praças, em casa com a família, vizinhos, ou seja, a criança é um ser social desde o momento que nasce.

Neste período, a criança traz consigo as suas marcas pessoais e suas experiências gráficas representadas na sua primeira escrita, o desenho. Ele instiga a imaginação e permite que a criança conhecer regras e práticas da sociedade em que vive. O desenho revela-se como a sua primeira representação gráfica.

A criança utiliza o lápis e o papel ou qualquer outro material e superfície semelhante para registrar graficamente as suas marcas, os seus rastros, seus traços, ou até mesmo para imitar a escrita de um adulto, isso acontece desde muito cedo. A imitação aparece não como uma cópia, mas revela o desejo da criança em produzir a sua própria escrita. Deste anseio de representar, nascem os seus registros e por meio dele transmite os seus conhecimentos.

Associada à criatividade da criança, os traços, rabiscos e desenhos revelam o pensamento, que ela expressa no papel a sua subjetividade, os seus ideais, revela as alegrias e tristezas, impulsos e curiosidade. Na representação gráfica da criança aparece a sua intimidade, a qual em algumas ocasiões não se mostra capaz de demonstrar pela linguagem falada. Quando por exemplo ela faz uma interpretação da história ouvida, ou do assunto explicado através do desenho, à criança representa ali sua fala, ou explicação do que ouviu.

Dessa forma, antes de aprender convencionalmente a escrever, a criança se serve da sua produção gráfica, ou seja, o desenho para se comunicar. Acreditamos que o desenho é um fundamento importante para a aquisição da língua escrita da criança. Nesse processo podem-se contemplar as diversas formas de linguagens como: a música, o brincar, a dança, pode-se dizer então que a criança quando tem oportunidade de vivenciar outras formas de linguagens significativas no processo de alfabetização passa a compreender e atribui um significado maioria este processo de apropriação da língua escrita. Pois as múltiplas linguagens seriam de apoio a esse processo.

Baseada na reflexão da autora Moreira (2009), constatamos que a criança acaba por repudiar a sua expressão, o seu traço, a sua marca pessoal, o seu desenho, pois podemos observar no processo de alfabetização que “quando pressionada no tempo e pela mecânica que a faz repetir formas sempre iguais, é que a criança rompe com o seu desenho. Acontece realmente uma quebra, um corte e a criança para de desenhar” (2009, p.17)

Perante a importância do processo de alfabetização na vida social da criança, verificamos uma diminuição da produção gráfica (desenho), já que a escrita passa a ser considera mais significativa, passando o desenho ser seu concorrente, ou um “tapa buraco”, inibindo e reduzindo o processo do desenvolvimento gráfico infantil, devido aos métodos utilizados para alfabetizar a criança. Podemos encontrar crianças, pressionas e desestimuladas, por métodos de atividades desenvolvidas para o processo de alfabetização.

Na maioria das vezes, o que ocorre é a falta de interesse por parte do aluno em desenvolver estas atividades, além disso, a linguagem produzida pela criança através do desenho é desprezada. Desta maneira, por ter que aprender uma língua ensinada, que é o caso da escrita, a criança acaba por abandonar o seu desenho. Pois o trabalho educativo proposto para o processo de aquisição da língua escrita nas escolas muitas vezes apresenta os exercícios de escrita que visam somente à repetição e a memorização das sílabas e letras, assim sendo esta técnica acaba por não ensinar a criança a escrever. Mas só contribui para desestimulá-la cada vez mais o desenho da criança.

            Aproveitar-se lembrar de que “a perda do desenho, aparentemente vista como uma substituição de um código por outro, revela apenas a maneira como a criança é vista pela escola” (MOREIRA, 2009, p. 72). Segundo a autora, em algumas situações a escola antecipa o processo de alfabetização exatamente por causa da cobrança feita pela sociedade que é inserir as crianças cada vez mais cedo no mundo letrado. Então, a escola completa o tempo da criança com atividades que não valorizam as diferentes formas de expressão já construídas e vivenciadas ao longo de suas experiências. Assim acorre nas pré-escolas, ou seja, nas escolas da educação infantil, pois se acha erroneamente que a criança tem que ser “pré” alfabetizada e não ser estimulada ao desenvolvimento das múltiplas linguagens que inclui o desenho como já disse antes.

Não trata de desqualificar a aprendizagem da língua escrita, mas atribuir ao desenho o valor que traz consigo, para a criança. Cabe então nesse período às escolas aproveitarem, as diversas formas de expressão, como o desenho, no fim de valorizar experiências de vida da criança e assim proporcionar a ela de forma gradativa e adequada a escrita e sua função social e o sentido da própria para o seu cotidiano.

Apresentar de forma lúdica e gradual o processo da escrita para a criança facilitará a aprendizagem da língua escrita para a mesma. Apontar para as necessidades do educando no sentido de oportunizar a ele a probabilidade de se adaptar aos poucos de um sistema de representação tão complexo como a escrita faz-se a necessário. Evitando assim cobranças e exigências a realização das normas cultas da língua escrita, pois isso contribuir no bloqueio do desenvolvimento do desenho na criança.

Devido à presença de diversas atividades faladas formais pelo currículo escolar, a criança passa a dizer que não sabe mais desenhar. Nessa circunstância, o desenho infantil é substituído pelas necessidades exigidas pelo contexto social, ficando assim à margem e nas sobras do tempo nas salas de aula como já havia dito anteriormente, ou seja, a desvalorização do desenho ocorre nesse momento.

 Podemos considerar que “[...] desenhar e o brincar deveriam ser estágios preparatórios ao desenvolvimento da linguagem das crianças” (VYGOTSKY, 1984, p.134). Segundo Vygotsky, o desenho da criança é o seu meio de expressão, por isso que ele é considerado como uma linguagem indispensável para a aquisição da linguagem escrita na alfabetização. As crianças por esse motivo que são espontaneamente introduzidas a este processo com mais facilidade assimilam a relação que há entre o desenho e a escrita.

De acordo com DERDYK (1993), para a criança aprender a escrever, é essencial que seja oferecida a ela oportunidade de pensar, elaborar hipóteses sobre o desenvolvimento da escrita e prevalecer-se dos seus conhecimentos construídos dentro e fora do ambiente escolar, para que a criança possa construir “[...] as suas hipóteses e desenvolver a sua capacidade intelectiva e projetiva, principalmente, quando existem as possibilidades e condições físicas, emocionais e intelectuais para elaborar estas “teorias” sob forma de atividades expressivas” (1993, p.54). Ou seja, a escola ao reconhecer o desenho como linguagem que faz parte do processo de alfabetização contribuirá para a criança desenvolver com mais estimulo esse processo da aquisição da língua escrita.

Porém é de responsabilidade do educador criar ambientes estimuladores, não somente da aquisição da escrita, mas do desenvolvimento do desenho na sala de aula. Portanto, se houver respeito e mediação do professor, a criança poderá estabelecer através do ato de escrever as suas dúvidas e hipóteses. Quanto a isso, a autora Edith Derdyk (1993, p. 50) comenta que quando o educador reconhecer o seu:

[...] o processo de aquisição linguagem gráfica, retomando as descobertas e frustrações que envolvem o ato de desenhar, revivendo operações mentais e práticas que são exigidas pelo desenho, surgirá uma forma inédita e pessoal de se relacionar com o universo infantil: a partir da experimentação e da investigação que nascem novos significados no encontro entre o adulto e a criança.

De acordo com essa citação da autora é percebível o valor do resgate do desenho da criança no período da infância pelo educador. Faz se necessário então esse educador aventurar-se nesse universo gráfico infantil tão encantador que só ele pode percorrer na intenção de atribuir significados e vivenciar esta linguagem gráfica, típica à criança, que é o seu desenho. Essa conexão pode e deve ser feita, durante toda a etapa da educação infantil que vai do 0 aos 6 anos, essa linguagem é muito rica e importante para o desenvolvimento integral da criança nesse período e cabe a nós educadores desenvolver o prazer em desenhar nas crianças desde os bebês até a pré-escola, pois o desenho tem um significado na vida da criança, podemos perceber e compreender quando adentramos nas produções feitas por elas.

Esta percepção só é possível num momento em que o educador descobrir através da prática o prazer de criar a partir de suas manifestações artísticas, ou seja, temos que valorizar o nosso ato de desenhar, e experimentar as várias linguagens (dança, gestos, músicas entre outros) não levará em consideração o valor importância, dos desenhos feitos pelas crianças e o sentido desta construção para o desenvolvimento da sua linguagem gráfica. Devemos desenvolver as linguagens gráficas na educação infantil através de atividades lúdicas que levaram as crianças a animar-se no desenvolvimento das mesmas.

Pude observar que o olhar do educador para o desenho infantil significa muito para criança, dependendo de como este reaja em relação a esta linguagem, a criança pode ser encorajada a demonstrar e expressar o seu potencial criativo. Se o educador evidenciar uma atitude insatisfeita perante sua produção o desenho, a criança pode se desestimular.

A Escola dessa forma deve valorizar a importância do desenho na construção da linguagem escrita, esse processo deve ser desenvolvido nas pré-escolas, cuja necessita reconhecer o valor do desenho infantil para o desenvolvimento não só escolar (motricidade/coordenação motora), mas ainda atribuir o verdadeiro significado que ele tem na vida de uma criança. Na etapa da educação infantil é importante dar oportunidade a criança de desenhar livremente, em papéis de tamanhos e texturas diferentes, em posições variadas, com materiais diversos.

Quando a criança vai tendo domínio de seus movimentos e gestos, as propostas devem ser diferentes: desenhar em vários tempos e ritmos, fazer passeios e expressar o que observou no papel, incentivar o desenho coletivo, desenhar as etapas cursadas após uma brincadeira ou jogo e muitas outras atividades podem ser feitas com a criança para ajudá-la a aprimorar suas capacidades de desenhar. Os educadores dessa etapa que diariamente convivem com essas crianças precisam ainda respeitar o ritmo de cada criança, a maneira como sua obra está evoluindo, porque cada criança tem um tempo e uma maneira de internalizar suas experiências, e alguns educadores sem informações necessárias acha que esses “rabiscos” não devem ser valorizados e expostos para a apreciação de todos no ambiente escolar.

Assim sendo, sabemos que a necessidade de se expressar é inerente ao ser humano, por isso faz- se há necessário pensar no desenho infantil não só como uma forma de expressão, mas como uma linguagem que servirá como alicerce para o seu desenvolvimento gráfica, e também como primeira escrita produzida por ela, a qual encontra a necessidade de emitir as suas marcas pessoais.