O desencantamento do mundo na ótica weberiana

Por GEORGE LUIS CARDOSO SILVA | 21/11/2017 | Filosofia

Introdução

No decorrer história, todas as esferas da vida humana passaram, e ainda passam por diversas mudanças. A sociedade, segundo Weber, coberta de uma visão mítica, mística e transcendental, passa por um processo que ele intitula por “ desencantamento do mundo”. Isso se deu em decorrência da racionalização, da rotinização, e da burocratização social promovida pela evolução intelectual do Homem, enquanto protagonista da vida em sociedade.
Para Weber esse foi um processo pelo qual o mundo já havia passado, ou seja, já é acabado. Todos os fenômenos, que o homem sofre, passaram de explicações baseadas em suas crendices à serem explicados de forma cientifico-racional.
Weber diz que a racionalidade libertou o homem de crendices irracionais, e dos encantos existentes no mundo, ocasionando assim o processo de desencantamento. Tendo em vista sempre a questão de nem todo ser humano ter conseguido alcançar o ponto de chegada desse processo, e de ainda hoje se perceber a irracionalidade presente na sociedade.
Ainda com toda a evolução técnico-cientifica, existem pessoas que preferem se ater às ideologias de cunho religioso, mostrando que o mundo pode ainda estar “encantado”. Max trabalha o desencantamento também na questão das formas de dominação, de um poder carismático a um poder racional e burocrático.
Assim o ponto final do processo de desencantamento do mundo, que de acordo com Weber já aconteceu, é uma humanidade racionalizada, procurando desapossar de seus “deuses e demônios”, que anteriormente “habitavam” a realidade. Com isso a humanidade buscaria fazer com que suas ações estejam despojadas de qualquer resquício de concepções misteriosas e irracionais.

O poder carismático e a disciplina

O poder carismático é exercido por pessoas que possuem características consideradas sobrenaturais, não acessível a todos, por um indivíduo de singular qualidades prodigiosas, de heroísmo marcado pela abnegação e outras particularidades. Entende-se carisma como, já supracitado, uma qualidade extraordinária, sobrenatural e sobre-humana. Os líderes carismáticos governam em decorrência do carisma que possuem, o autor diz que:
Todos eles praticaram suas artes e governaram em virtude desse dom (carisma) e, quando a ideia de Deus já havia sido concebida com clareza, em virtude da missão divina encerrada no dom. Isso se aplica a médicos e profetas, tal como juízes e chefes militares, ou aos chefes das grandes expedições de caça. (WEBER, 1982, p. 284)
A autoridade carismática para exercer o seu poderio, necessita da aprovação dos seus seguidores. Estes dirão se o líder carismático é legítimo ou não, ou seja, a liderança carismática não é dada como um cargo, mas é alcançada devido o reconhecimento, e não eleição, dos seus adeptos. A missão dele só alcançará êxito se obter seguidores, se isso não acontece o seu múnus entra em crise. Além disso, para Weber:
O carisma pode ser, e decerto regularmente é, qualitativamente particularizado. Trata-se mais de uma questão interna do que externa, e resulta na barreira qualitativa da missão e poder do portador do carisma. Em sentido e conteúdo, a missão pode estar dirigida a um grupo de homens que são delimitados localmente, etnicamente, socialmente, politicamente, ocupacionalmente ou de algum a outra forma. Se a missão dirige-se assim a um grupo limitado de homens, como é comum, encontra seus limites dentro desse círculo. (WEBER, 1982, p. 285)
Assim o poder carismático encontra sua delimitação, geralmente, dentro dos círculos em que sua missão está direcionada. A delimitação do corpo administrativo se dá de acordo com o carisma pessoal e não por outros adjetivos possuídos pelos líderes.
Em todas as formas de poder, sobretudo no carismático, para que exista consistência é necessário que haja uma obediência profunda dos governados para com o líder. Com essas características o domínio carismático se difere do burocrático pois:
“Se este depende de uma renda regular, e daí, pelo menos a potiori, de um a economia monetária e tributos em dinheiro, o carisma vive neste mundo, embora não seja deste mundo. Isso deve ser bem compreendido.
Frequentemente, o carisma, deliberadamente, abstém-se da posse de dinheiro e de renda pecuniária per se, como São Francisco e muitos semelhantes e ele; mas tal não é, decerto, a regra. ” (Weber, 1982, p.285)
Max diz que “em sua forma “pura”, o carisma jamais é fonte de lucro privado para seus possuidores, no sentido de exploração econômica através de uma transação. ” Ele não tem por fim o crescimento financeiro do seu portador, ou para lhe servir de fonte de lucro. Então o poder carismático não é exercido para a obtenção de vantagens pessoais mas para um suposto bem dos seguidores. O autor ainda diz que o poder carismático:
É o oposto de toda economia ordenada. É a força mesma que ignora a economia. Isso também é válido, na verdade precisamente, quando o líder carismático se empenha na aquisição de bens, como ocorre com o herói guerreiro carismático. O carisma pode fazer isso porque, pela sua natureza mesma, não é uma estrutura “institucional” e permanente, mas, quando seu tipo é “puro”, é o oposto mesmo do institucionalmente permanente. (WEBER, 1982, p.286)
O poder carismático devido a sua natureza é instável. Se os seguidores do líder carismático, entenderem que ele foi abandonado pela virtude, eles os abandonam na espera de um outro líder que possua essa virtude. Assim pode ser extinta a missão do líder carismático. Percebe-se que este tipo de autoridade, não possui por base normas institucionais ou burocráticas ou em costumes tradicionais. Vê-se que:
O domínio carismático autêntico não conhece, portanto, os códigos jurídicos abstratos e os estatutos e nenhum modo “formal” de adjudicação. Sua lei “objetiva” emana concretamente da experiência altamente pessoal da graça celestial e da força divina do herói. A dominação carismática significa uma rejeição de todos os laços com qualquer ordem externa, em favor da glorificação exclusiva da mentalidade genuína do profeta e herói. (WEBER, 1982, p. 288)
O carisma também passa por um processo de racionalização, sempre que se depara com as instituições permanentes de uma comunidade. Uma das forças que corroboram para que se extinga o carisma pessoal é a disciplina racional, que tem por um de seus resultados a transformação racional da estrutura racional.
A disciplina exige que haja uma obediência que seja uniforme por parte dos homens, ela geralmente é impessoal e neutra estando disposta sempre a servir qualquer força que saiba usar e promover seus serviços. Toda disciplina possui por origem a disciplina do exército, que é uma grande instituição que prepara os homens para a disciplina.
O carisma ainda que rotinizado permanece funcionando em favor dos que o possuem, devido ao seu caráter supranatural em seu estágio puro. Assim o carisma garante aos líderes, que necessitam da continua existência desse poder para exercer seu domínio o poder e posse.

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