O desejo

Por Rodrigo Dobkowski Mandryk | 31/10/2016 | Poesias

O desejo Conheci um homem que desejava. Desejava um corpo Pois o seu já não usava. Não usava pela dor. A exaustão também o impedia Em sua pele sentia Seus limites todo dia. O cansaço se fez De tanto uso se fazer Constantemente carregando Outras vezes apertando Batendo e martelando Ora puxando, ora jogando Jogando um saco aqui outro ali Jogou um saco no sofá Era o saco de seu corpo que estava lá Corpo que não podia mais usar. Se assim era com seu corpo Também o era com sua mente Que, agora, pouco aprendia Talvez nada E muito pouco guardava Em sua memória sofrida. Ah memórias! Lembranças de um saco solto no sofá Cansado de tanto labutar Não conseguia nem pensar Sem sequer se angustiar Com as contas a pagar Contas de escola e comida Da casa e da vida. Vida? Vida de um saco solto no sofá. E assim se fez o desejo Brotando dentro do peito O sentimento premente De um indivíduo servente Cansado de servir. Queria sorrir! Sorrir como as pessoas da TV Que posta em frente ao sofá Insistia em tagarelar Uma vida de felicidade. Via rostos sorridentes Tanta alegria evidente! Queria viver lá. Onde nada pode abalar Onde não tem conta a pagar Onde não há com o que se preocupar. Tudo dará certo, diziam eles. Por certo nada entendiam Da sua vida difícil Do seu nobre ofício Ofício de saco solto no sofá! Desejou um rosto de verdade Ansiava por uma identidade Mas a única que carregava Ele não gostava Tal qual um saco, soltou-se Caiu de contínuo, zumbindo Sentindo a emoção do vento A queda interminável. E ao chegar ao chão Viram-no como o saco solto no sofá Solto ali, ali ficou.