O DESAFIO DO LIXO E SUA RELAÇÃO COM A SOCIEDADE DE CONSUMO

Por Danieli Veleda Moura | 07/07/2009 | Ambiental

Fiorillo em sua obra coloca que a denominação resíduo sólido inclui as descargas de materiais sólidos provenientes das operações industriais, comerciais, agrícolas e da comunidade. Em outras palavras, afirma que lixo ou resíduos sólidos são qualquer refugo, lodo, lamas e borras resultantes de atividades humanas de origem doméstica, profissional, agrícola, industrial, nuclear ou de serviço. Considera ainda que estes se agravam constantemente em decorrência do crescimento demográfico dos núcleos urbanos e especialmente das áreas metropolitanas. Dada a conceituação de Fiorillo a respeito do lixo, começa-se este artigo dizendo que a crescente produção do lixo está intimamente ligada ao consumismo exacerbado que se instalou na sociedade de um modo geral, sendo um problema não só local, mas planetário. A densidade populacional, o poder aquisitivo e o modelo de vida norte-americano contribuem para que objetos sejam rapidamente substituídos por outros com melhores marcas, com mais potências, com maior velocidade ou porque estão na moda. O êxodo rural com a conseqüente concentração populacional nos centros urbanos também são fatores importantes no desenvolvimento de tal problema. Concomitantemente às causas ora citadas temos uma coleta e disposição final do lixo ineficaz, já que a maior parte dos lixos coletados são depositados em lixões sem qualquer tratamento, alguns em zonas urbanas, outros próximos a redes hidrográficas. Esse lixo causa contaminação do solo e da água, propicia a proliferação de animais indesejáveis como ratos e baratas sendo, portanto, de qualquer forma, vetor de doenças. Vê-se, assim, que a questão do lixo mais que um problema ambiental é também social e político, principalmente quando nos deparamos com famílias morando nestes locais. Porém, para a análise do contexto do lixo, faz-se necessário analisar o nascimento da cultura de consumo, a qual está intimamente ligada à problemática do lixo na atualidade. O surgimento e a rápida difusão da sociedade de consumo se deram a partir do fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945. Nesse período, os Estados Unidos atingiram um patamar econômico extraordinário o que impulsionou as indústrias a investirem na produção de bens de consumo, viabilizando, assim, a propagação de um novo padrão de comportamento da sociedade, não só americana como mundial, que passou a ver nos Estados Unidos o modelo de sociedade que se gostaria de fazer parte. Assim, os Estados Unidos que sofreram com a Depressão Econômica de 1920 e passaram pela Segunda Guerra Mundial chegaram aos anos 50 representando apenas 6% da população mundial, mas consumindo 1/3 dos produtos produzidos em todo o Planeta. De tal modo é que se percebe que embora se preconize o modelo de vida americano baseado no consumismo, a realidade é conforme Porto Gonçalves preconiza em suas obras, ou seja, que isso é matematicamente impossível de ser alcançado, pois não há recursos suficientes para que todo o mundo consuma como eles. Vê-se, então, que este modelo de sociedade é posto apenas para estimular o consumo dos países subdesenvolvidos que para chegarem ao padrão norte-americano caem na armadilha do consumismo e do descarte, vivendo para trabalhar e consumir os produtos industrializados que enriquecem cada vez mais aquele País. Apenas nos anos 60 é que começam a surgir movimentos contestatórios que passaram a alertar as pessoas acerca das contradições entre o dito progresso e dos riscos da insustentabilidade no uso indiscriminado dos recursos naturais com vistas a atender as necessidades de consumo. É neste período que a idéia de finitude dos recursos naturais é encarada pela sociedade. Contudo, a realidade é que embora se saiba das conseqüências de uma exploração sem limites propiciada pelo consumismo moderno, quem se acostumou ao conforto e ao luxo não quer perdê-los e quem não têm almeja alcançá-los. Entretanto, o foco deste estudo diz respeito à questão do lixo e, portanto, quando fala-se aqui em consumo, preconiza-se aquilo que se refere ao descarte de produtos e o aumento do lixo, pois acredita-se que uma coisa está atrelada a outra. Em outras palavras, significa dizer que os problemas socioambientais causados pelo lixo são decorrentes do consumismo. Entende-se por consumismo a compra exagerada, sem necessidade e/ou utilidade mediata e o conseqüente descarte de outro objeto que já não atende mais aos padrões de modernidade. Essa realidade é freqüentemente percebida em relação ao consumo de eletrônicos, como os computadores; MP3, MP4, ou sabe-se lá em que número esteja atualmente; vídeos-game, celulares. Quem tem condições financeiras a cada dia troca estes objetos e quem não têm passa trabalhando e ao adquiri-los já não tem mais o valor social que tinham há semanas atrás. E, assim, cada vez mais aumenta a quantidade de objetos bons e utilizáveis descartados pela sociedade de consumo. Mas não é somente a este tipo de lixo que referimo-nos. Refere-se, pois, a tudo que a mídia nos empurra como sendo indispensáveis à nossa vida e à nossa felicidade e que, infelizmente, adere-se. É também à "era dos descartáveis" que aumentam absurdamente a quantidade de lixo, já que não são reutilizados; ao desperdício de alimento; a quantidade de embalagens desnecessárias que são todos os dias postas fora, mas principalmente a este modo de produção capitalista que cega, aliena e fere a sociedade de um modo geral. REFERÊNCIAS FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 8 ed. São Paulo: Saraiva, 2007. PEREIRA, Cieusa Maria Calou E. & SAMPAIO, José Levi Furtado. A Integração entre Resíduos Sólidos, Água e Saúde Pública no Ambiente Urbano in MATOS, Kelma Socorro (org.) Cultura de Paz, Educação Ambiental e Movimentos Sociais: Ações com Sensibilidade. Fortaleza: Editora UFC, 2006. PORTO GONÇALVES, Carlos Walter. A Globalização da Natureza e a Natureza da Globalização.Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006. _______. O Desafio Ambiental. Rio de Janeiro: Record, 2004.