O desafio de entrar numa paquera e não sair chamuscado

Por Sueli Nascimento | 22/01/2009 | Crescimento

1 A desconfirmação

Quando era solteiro João nunca recuava diante da chance de paquerar. Um dia foi convidado para uma festa e viu nisso uma chance de encontrar uma namorada. Na festa havia várias garotas interessantes. Num dos grupos que se espalhavam pelo salão uma delas o atraiu intensamente.

Ele se aproximou e a convidou para dançar. A música estava alta, mas não tão alta que a impedisse de ouvi-lo, mesmo porque ele estava bem ao seu lado. Ela continuou conversando com as outras moças e João ficou em dúvida se ela não o ouvira ou se ouvira e ignorara mesmo. Ele se inclinou um pouquinho e repetiu o convite bem em seu ouvido. Ela não respondeu, mas agora ele tinha certeza que fora ouvido.

Suas mãos começaram a suar, sentiu o rosto e as orelhas fervendo, ficou em dúvida sobre o que fazer e constrangido – com a boca que parecia ter adquirido vida própria – repetiu o convite pela terceira vez, num volume que poderia ser ouvido do outro lado da cidade.

Todas da roda fizeram silêncio por cinco segundos e, na eternidade desse tempo, João sentiu-se terrivelmente humilhado. Impressionante a quantidade de pensamentos que lhe vieram à mente naqueles instantes breves, porém eternos.

Como se tivesse saído de seu corpo, ele se viu pelo ponto de vista de todos os que estavam naquela festa: um cara que chamava a atenção por ser mais alto que a média dos homens ali presentes, segurando uma cerveja gelada pingando no sapato de camurça – que com certeza ficaria manchado. Com uma roda de suor se formando sob os braços ele pensou "minhas pernas, eu não sinto minhas pernas".

Desfeito o feitiço do tempo, a moça continuou a conversa de onde parara e foi se movendo de um jeito que a roda se fechou e João, literalmente, foi posto fora do círculo de amizades. Nos cinco segundos seguintes ele ficou olhando para a nuca dela.

Em sua mente aquilo deixou de ser uma festa e se tornou um pesadelo de terror, daqueles bem absurdos, com ele atravessando um corredor interminável que se esticava, deixando a porta de saída do constrangimento inalcançável. No dia seguinte contou o episódio aos amigos, que gargalharam desbragadamente dos detalhes escabrosos. João terminou por rir também.


Sentir-se invisível

O aspecto terrível da desconfirmação, tanto na vida social como na relação de casal, é que não existimos para o outro. Você já deve ter tido sua própria experiência de ser desqualificado, quando alguém dizia que estava consigo, mas era como se não estivesse.

Diferente da rejeição que exprime claramente discordância de gosto e de idéias – e permite que você dialogue e defenda seus pontos de vista – ser desqualificado é uma crueldade, pois significa que suas opiniões, desejos e necessidades não têm a mínima importância e que para ele não faz diferença o modo como você se sente.

Na relação de casal nada é totalmente incondicional. Quando o outro lhe oferece um gesto ou palavra espera receber de você um outro gesto ou palavra que se encaixe no dele. Outras vezes é você quem aguarda com expectativa um "eu também te amo" que legitime o relacionamento. Essas trocas são um bom termômetro do clima da relação, pois demonstram se há coerência de sentimentos e desejos ou se é hora de redefinir alguns pontos do casamento ou do namoro.

O surgimento de atitudes desqualificadoras é facilitado quando, por orgulho ou teimosia, vocês se negam a aceitar que há diferenças entre si, não assumem suas discordâncias e não rejeitam abertamente aquilo com que não concordam, apenas para não ter o trabalho de explicar seus pontos de vista.

Se vocês já chegaram nesse ponto é hora de ter aquela conversa, pois de alguma forma, no dia-a-dia, a falta de atenção, interesse ou as diferenças de opiniões aparecem e dependendo do modo como isso estiver acontecendo a relação está correndo riscos.