O desabrochar da vida no seu esplendor distópico

Por Joacir Soares d'Abadia | 19/06/2023 | Filosofia

A vida é surpresa para nós a cada vez que se desabrocha no pespontar um um novo ciclo do sol. Cada novo amanhecer revela o presente de uma oportunidade, um convite para desvendar seus mistérios ocultos. A vida, esse enigma envolto em véus multicoloridos, desvela-se perante nós como uma dançarina apaixonada, sedutora em seus movimentos e imprevisível em suas voltas. 

Contudo, somos prisioneiros de nossa própria hesitação, permitindo que o tempo se escoe entre nossos dedos como grãos de areia fugidios. "Só nos realizamos quando nos doamos aos outros", proclamou São João Bosco (1815-1888), cujas palavras vibram como um chamado transcendental. Em suas obras, ele revelou a importância de um viver generoso, de estender a mão ao próximo e encontrar a divindade no acolhimento fraterno.

Deixamos que as correntes da rotina e a amargura da trivialidade corroam nossa essência, transformando nossas vidas em um arremedo de existência. E assim, a vida, essa musa incansável, amarga o desgosto de ser negligenciada, aprisionada pelos grilhões da inércia. Será que é a nossa falta de coragem, de audácia em saborear cada instante, que refreia o ímpeto vital que pulsa em nosso ser?

O tempo urge, sussurrando em nossos ouvidos a efemeridade dos dias. É chegada a hora de lançarmo-nos aos braços do destino, de dançar ao ritmo frenético da paixão pela vida. Romper as amarras da mesmice, abraçar o desconhecido e desvendar as maravilhas que nos esperam além do horizonte. Michael Guéry, com sua alma cristã e coração compassivo, entendeu que o verdadeiro cristianismo reside na atenção e no cuidado dedicados aos outros: “o cristão é alguém que dá atenção aos outros”. Pois somente na intensidade da vivência encontraremos a plenitude, e somente no corajoso mergulho no desconhecido seremos verdadeiramente livres. 

Oh, vida vilipendiada, que vagas pelos caminhos tortuosos do tempo, és uma nômade solitária em busca de sentido. Presa em uma dança eterna com os ventos impetuosos, é tua a sina de ser a própria autora de tua história, a mestra de cerimônias em um teatro de ilusões. Contudo, Madame Monmarson (c. 1844 - 1911), cujas palavras emanam do âmago de sua alma, proclamou que a doçura se origina na pureza de nossa essência mais íntima. Seus escritos são testemunhas da busca pela harmonia interior, onde o amor transborda e suaviza as arestas do mundo hostil que nos cerca.

No entanto, será que a vida, em sua plenitude, está sufocada pela mera superficialidade de nossa existência? Eis a indagação que permeia os escritos dos grandes pensadores.

Pitágoras (c. 570 a.C. - c. 495 a.C.), mestre dos números e dos segredos ocultos do universo, afirmou que aqueles que ousam trilhar o caminho da verdade estão mais próximos dos deuses. Sua sabedoria ancestral resplandece como uma estrela guia, conduzindo-nos pela senda da autenticidade e revelando a veracidade de nossos propósitos.

E, em meio a esse turbilhão de reflexões, M. Beauchemin, em toda a sua sensibilidade, revelou a beleza do amor na simples declaração: "Preciso de ti". Suas palavras ecoam como um murmúrio apaixonado, ressaltando a importância do afeto e da conexão humana na tessitura da existência.

Como uma voz que voa além dos tempos de vida e morte, Espinosa, o filósofo destemido, ousou desvendar os mistérios da vida em sua complexa teia de dualidades. Entre o bem e o mal, o pecado e a remissão, ele proclamou que o amor é uma denúncia à própria vida. Suas palavras desafiam as convenções e nos convidam a questionar os fundamentos que sustentam nossa existência?

Entretanto, há outra voz que ecoa em contraponto. Nietzsche, o poeta dos segredos sombrios, sussurra em nossa consciência que “nós não apenas vivemos, mas nos escondemos da morte”. Em suas filosofias enigmáticas, ele nos leva além das fronteiras da compreensão, revelando o temor que permeia nossos corações diante do inevitável fim das nossas vidas. 

Assim, permitamo-nos perder nas entrelinhas dessas estrofes envolventes, encontrando um refúgio na reflexão e no encanto das palavras que tem o desejo de tocar nossas vidas. Que a fusão desses elementos nos arrebate e nos faça descobrir, a cada compasso, a beleza intrínseca que se esconde nas sombras do mundo distópico, revelando-nos a verdadeira essência da vida.

Por fim, na névoa soturna da existência, onde o horizonte é velado por sombras agourentas, desvela-se a vida em todo o seu esplendor distópico. Em meio a um mundo árido e frio, ela surge como um lampejo de esperança, tecendo sua narrativa em versos poéticos que se entrelaçam com as fibras da alma.

Desponta, enigmática e enfeitiçante, cada estrofe dessa sinfonia obscura. Como um sol poente derramando seus últimos raios sobre o abismo da melancolia, a vida se desabrocha em um espetáculo de luz e sombras. É uma conspiração cósmica, um encanto que se revela nas teias do destino: a vida que se vive. 


Padre Joacir d’Abadia, Filósofo, autor de 16 livros, Especialista em Docência do Ensino Superior, Bacharel em Filosofia e Teologia, Licenciando em Filosofia, Professor de Filosofia Prática. Acadêmico: ALANEG, ALBPLGO, AlLAP, FEBACLA e da "Casa do Poeta Brasileiro -  Seção Formosa-GO"_ Contato: (61) 9 9931-5433 | Segue lá no Instagram: https://www.instagram.com/padrejoacirdabadia/