O dente do papai
Por Edson Terto da Silva | 22/11/2011 | CrônicasEmbora tenha virado folclore entre policiais de Campinas(SP), a história a seguir é verídica e chegou render demissão de um funcionário do Instituto Médico Legal(IML). A segunda-feira está começando no 3º Distrito Policial. Tiras chegam colocando conversas do fim semana em dia, pessoas procuram atendimento para saberem de ocorrências registradas nos Plantões, o delegado chega, faz um cumprimento geral e segue para sua sala, que fica na entrada do DP.
Como os jornais já estão sobre a mesa, o delegado, figura simpática, tipo bonachão e com óculos colocados na pontinha do nariz, passa as vistas pelo noticiário e fica concentrado naquela tarefa. Ele quase nem percebe a chegada de um homem branco, alto, muito forte,que coloca os braços num dos batentes da porta e diz:"eu vim buscar o dente do meu pai".
O delegado ergue lentamente os óculos, fica meio assustado com o porte físico do visitante e mais ainda intrigado com a inusitada busca. Afinal, o que podia ter acontecido para fazer alguém vir numa Delegacia buscar o dente do pai? Tudo ocorre em frações de segundos. O delegado não pensa duas vezes em gritar pela equipe de tiras, afinal podia ter acontecido alguma arbitrariedade sem seu conhecimento, tal como o pai do desconhecido ter sido espancado na repartição policial.
Os policiais chegam, mas nem assustam o desconhecido, que continua na porta do gabinete do delegado. Os tiras perguntam o que aconteceu e o rapaz começa a contar a triste história. O pai tinha sido assassinado no fim de semana e durante o enterro, no cemitério municipal, a família constatou que o cadáver estava sem o dente de ouro. Ele teria procurado o Plantão e disseram que a ocorrência foi encaminhada para o Distrito.
Uma rápida folheada nos jornais atrasados e o delegado vê a notícia, que trazia até Nota Oficial da Prefeitura, a qual falava das providências tomadas, tais como demissão de funcionário do cemitério. Uma busca nos materiais apreendidos e mandados para o DP e lá estava o dente da pobre vítima de assassinato. Formalidades feitas e o objeto foi devolvido ao rapaz.
Passado o susto, o delegado saberia pelos autos que o funcionário do IML disse que o dente foi arrancado, pois corria risco de cair e ser “engolido” pelo morto. A confusão ocorreu porque a família percebeu a falta do dente durante o velório e denunciou o caso como furto, mas na verdade o dente só ficaria apreendido no IML até a segunda-feira, pois o funcionário responsável pelo setor não estava no plantão.
Toda confusão e a repercussão pela imprensa tinha feito a recém empossada equipe da Prefeitura a tomar providência exemplar, como foi a demissão. Mas, a propósito, o funcionário foi readmitido quando seus superiores receberam documentos registrando a apreensão do dente de ouro, o que provaria que ele não agiu de má fé, ou seja não tinha intenção de furtar o objeto...