O CURRÍCULO E A FORMAÇÃO DO SUEITO

Por Ana Carolina Machado Ferrari | 05/09/2010 | Educação

A iniciativa de promover a transformação na educação é papel importante na vida de um gestor. Portanto necessitamos construir uma relação entre os indivíduos e destes com os grupos, sejam eles formais ou informais, para atender as expectativas do mundo moderno, dentro e fora da escola. Podemos perceber que, para que essa transformação ocorra de fato, a escola deve investir no reconhecimento e na aprendizagem contínua dos colaboradores, na construção do Projeto Político Pedagógico baseado na realidade e cultura da escola contando com a participação de toda a comunidade escolar. Nesta perspectiva, esse processo de gestão vincula-se ao cumprimento da função social e política da educação escolar, que é a formação do cidadão participativo, responsável, crítico e criativo, através da produção e socialização do saber historicamente acumulado pela humanidade. Mas essa formação do sujeito crítico e participativo só se dará de fato através das relações existentes dentro da escola, através do currículo.
Para muitos, o currículo é apenas a parte do projeto político pedagógico que mostra quais as disciplinas á ser trabalhadas. O currículo vai além, viabilizando não só a produção de conhecimentos como também de atitudes necessárias à inserção neste novo mundo com exigências cada vez maiores de cidadãos participativos e criativos. Ele constitui e é constituído pelo projeto político pedagógico. Constitui por ser o currículo formal, responsável pelas disciplinas, o que ensinar, como ensinar e suas avaliações; por ser o currículo informal, ou seja, o aprendizado "sem planejar", as relações que ocorrem fora das salas de aula e o currículo real, que é justamente a relação entre o currículo formal e o informal, aquele que relata as experiências do dia-a-dia. E é constituído, pois é no Currículo que o Projeto Político Pedagógico deixa de ser um projeto para se concretizar na prática.
Por mais que exista um currículo legal á todas as regiões nacionais, para que quando uma criança necessite mudar de escola, tenha a mesma base que a sua escola anterior, o Currículo não pode ser fixo, adaptando-se as necessidades e valores da escola que faz parte.
O Currículo vem explicitar no dia-a-dia tudo aquilo que foi discutido, idealizado, projetado para a escola. Deve ser flexível proporcionando a autonomia do educador. Não basta mais impor aos alunos ouvirem, decorarem e transcreverem para o papel aquilo que é dado em sala de aula sem se fazer uma co-relação do que foi ensinado com o dia-a-dia do aluno. A escola tem de fazer um currículo diferenciado. Não se trata de tirar ou colocar novas disciplinas, mas, saber trabalhar com o currículo que se tem. É importante ensinar o aluno a ir em busca da construção de novos conhecimentos e não apenas pegar o que já está pronto.
Não quero dizer que não devemos levar em conta o que currículo disciplinar. Pelo contrário: este possui um caráter acadêmico é, como dito antes, utilizado á nível nacional. O problema é justamente a sua funcionalidade para além da sala de aula.
O Currículo é de extrema importância para a escola, pois, através dele, a escola pode incluir ou excluir sua comunidade a partir das intenções e práticas sociais que estão por trás dele. Pode ser excludente a partir do momento em que se torna um instrumento de reprodução da cultura e da ideologia dominante. O currículo, por outro lado inclui quando busca desvincular a escola desse papel alienador e condicionador, onde professores e gestores munidos de conhecimentos responsáveis procuram construir uma escola alternativa aos interesses hegemônicos. Deve-se levar em conta o contexto social ao qual a escola está inserida para a construção do seu currículo, transformando-o em um currículo inclusivo. De nada adianta montármos um currículo atrativo e fascinante se o aluno não se vê dentro desse facínio. Sem a conexão do conteúdo proposto com as experiências e realidades do aluno, o currículo torna-se supérfulo e incoerente. Um currículo coerente é aquele que leva em conta as diversidades existentes na comunidade escolar e suas peculiaridades, além de se observar o contexto social existente. Assim, o currículo deve levar em conta as pessoas para quais é planejado. É como se quizessem construir uma casa com dez quartos para uma pessoa solteira morar. É incoerente, desnecessário. Não há a conexão com a pessoa, tornando-se supérfulo. O mesmo ocorre com o Currículo. Este não deve ser projetado exclusivamente por agentes externos á quem aprende. Deve-se levar em conta esse conhecimento acadêmico uma vez que o sistema gira em torno dele. Porém deve-se levar em conta o conhecimento popular, resultado das experiências dos estudantes.
O Currículo deve ensinar o fazer fazendo, permitindo não só a autonomia do professor, mas a do aluno também, desenvolvendo sua criticidade e participação. A partir da clareza de quais os objetivos que a escola até então tem proposto e suas conseqüências sociais, será possível oferecer esse espaço reflexivo através do seu Currículo. Assim, através da prática, os envolvidos no processo vivenciam situações de cidadania próprias da dinâmica social e do papel do cidadão nessa dinâmica. A cosntrução coletiva do Currículo permite a construção da cidadania uma vez que todos estão envolvidos na abordagem de questões e preocupaçõs do grupo. Os alunos têm a oportunidade de aprenderem experimentalmente o conhecimento social. Além disso, essa construção coletiva estreita a relação professor - aluno, devido o trabalho em equipe.
É o núcleo do Projeto Político Pedagógico, viabilizando o processo ensino-aprendizagem, materializando os objetivos do projeto em objetivos e conteúdos. Ou seja, é a ponte que liga o PPP e a prática.
Ter clareza do papel social da escola e do homem que se quer formar é fundamental para realizar uma prática pedagógica competente e socialmente comprometida, particularmente num país de contrastes como o nosso, onde convivem grandes desigualdades econômicas, sociais e culturais. Na escola democrática, os saberes têm que ser voltados para o cidadão, para o coletivo. E isso não deve estar preso só á sala de aula mas em toda a comunidade escolar, principalmente nos relacionamentos internos e externos. A escola democrática forma pessoas para cobrarem seus direitos e exercerem seus deveres. Nessa gestão, a escola torna-se um espaço de cidadania, diferente da escola que tem sua gestão autoritária e hierarquizada. Para que o nosso Currículo atinja os objetivos propostos á essa formação crítica e participativa, cabe ao gestor redefinir seu perfil, deixando de lado o autoritarismo e absorvendo a democracia, a participação coletiva e autonomia dos professores e, principalmente, alunos.