O Crime Do Professor De Português
Por rosyelly araujo | 20/04/2008 | EducaçãoO CRIME DO PROFESSOR DE PORTUGUÊS
A Língua Portuguesa por nós falada, escrita e estudada nas escolas tradicionais possui como base de fundamentação uma disciplina denominada Português, a qual pretende nos ensinar uma língua regrada possuída por imperfeições e contradições.
O professor, dominador dos conhecimentos que cerca essa disciplina, assassino do direito de expressão dos alunos, propõe-se a ensinar um português formado por um conjunto de regras infindáveis absolutamente tomadas por preceitos sintáticos julgados corretos, incluindo todas aquelas pronúncias artificiais que não fazem parte da linguagem usual do seu alunado. A disciplina é ministrada de forma caótica deixando de lado a vivacidade da língua encharcando-a com memorizações inúteis e policiamento na tentativa de seguir regras contraditórias, incompletas e sem cunho científico.
É uma aula na qual um fala e o outro apenas escuta, responde a enfadonhos exercícios e decora regras as quais ditam a gangster mais temida, a conhecida Gramática Normativa. Essa prática pedagógica a qual procura persuadir o aluno a duvidar do seu potencial, incutindo a idéia de que ele "não sabe falar" ou que fala feio, estropiado, errado acusando-lhe de ser o principal culpado da bagunça a qual julga ter se tornado a língua e condenando-lhe à exclusão sócio-econômica-cultural. Esse aluno é facilmente aniquilado com essas palavras seguindo firmemente a sentença de calar-se sendo um ser sem voz, sem vez, sem opção ou opinião, um ser frágil e vulnerável com a mente acostumada a ouvir e cumprir sem pensar, questionar, interferir, decidir.Aqueles que temem o aprisionamento e a condenação à exclusão submetem-se a deitar na cama de Procusto, assim como já nos alertou BAGNO em seu livro Pesquisa na escola, esses então tentam seguir a norma –padrão que é transmitida pela escola e pelos professores.
O docente aniquila assim a capacidade, a experiência, o falar e o falante cometendo o maior dos crimes ao fazê-lo crer que suas capacidades natas são impróprias para conviver com a artificialidade dita "pura" da sociedade a qual o cerca. No tribunal, o falante é condenado pelo crime que sofre, sendo o culpado da situação, não tendo direito de defesa cala-se e cumpre sua pena, o silêncio perpétuo e a pronúncia do sim sempre que estiver diante de superiores como o professor, diretor ou qualquer um outro que fantasiosamente declara-se um falante da norma-padrão culta e por isso digno de respeito e com os direitos acobertados pela lei que condena o inocente com base em preconceitos advindos das mais diversas concepções de sociedade, riqueza, poder, sexualidade, localização geográfica entre tantas outras.
Por isso, precisamos nos libertar das algemas postas por leis e ditadores, dando um grito que servirá para libertár-nos de práticas docentes incoerentes com as necessidades do alunado, não podemos ficar de braços cruzados à espera de um herói que nos tire do cárcere no qual nos jogou escola, sociedade, professores e gramáticos, devemos nos indignar com a situação e não nos conformar.
"É preferível a morte ao silêncio", esse discurso necessita sair do papel e ir para a realidade do aluno que é o conhecedor da sua língua materna, que tem o domínio da palavra, que dispõe de uma visão de mundo que se adequa a sua realidade e de uma linguagem que supre as suas necessidades de falante. Sendo assim, a linguagem irá retratar esse falante, o que comprova que o professor não poderá subjugá-lo, devendo ter consciência de que possui a maior das armas contra o tirano que o conduz à subserviência, a palavra dita da forma mais natural e espontânea possível sem policiamento, medidas, norma, mas com uma construção complexa, firme, enraizada em sua língua origem, condizente com as regras de sua gramática intuitiva.
Contudo, chegará o dia, Professor Assassino, que serás condenado pelos crimes cometidos e essa tua prática mutiladora cairá sobre esse mestre que condenou injustamente e excluiu com base em ridículos preconceitos seres dotados de saber, o silêncio que foi sua arma será sua punição para calar os teus atos insanos de condenação.
Rosyelly de Araújo Cavalcante