O CORPO E A HEMODIÁLISE: UMA LEITURA A LUZ DA PSICANÁLISE
Por Themis Wyne Farias Cardoso | 21/06/2017 | PsicologiaRESUMO
O presente artigo partiu da experiência clínica em um hospital, no setor de hemodiálise, que despertou o interesse quanto os efeitos subjetivos que o paciente renal sofre em consequência das alterações no corpo por ocasião do tratamento dialético. Fazer a inserção da psicanálise nesse setor pareceu relevante, já que, a mesma trata o corpo como uma manifestação somática do eu, de uma dimensão da satisfação da pulsão, em que se encontra entre o somático e o psíquico, que do surgimento dos efeitos subjetivos em consequência de qualquer intervenção sofrida por este corpo. Este estudo tem por objetivo investigar e buscar teorizar dentro do conceito de corpo à luz da psicanálise, articulando junto à subjetividade do sujeito.
Palavras-chave: Hemodiálise; corpo; sujeito; psicanálise
INTRODUÇÃO
A instituição hospitalar é um local que sempre despertou-me um certo interesse e curiosidade por pensar nas possibilidades de inserção da psicanálise nesse local, onde o discurso médico prevalece. O desejo de engajamento com o tema foicrucialpara a escolha do meu estágio dentro deste âmbito. Porém, vêm as dúvidas de quais bens e contribuições eu, como estudante de psicologia, atravessada pela psicanálise, poderia tirardaquele local onde a dor, o sofrimento, a perda e a morte andam sempre presentes? Através desta escolha, tive a oportunidade de escutar pacientes com insuficiência renal crônica, diagnosticados recentemente ou em tratamento há bastante tempo, em um hospital de ensino, que é referência na região norte do Ceará.
Esse trabalho nasceu em decorrência de minha experiência clínica de estágio na hemodiálise, onde me deparei em diversos atendimentos com pacientes que traziam questões relacionadas ao corpo, o que despertou algumas inquietações e interrogações que fizeram-me questionar a respeito deste ‘’corpo’’. De que corpo se trata e o que ele representa para esse sujeito, que ao adoecer, depara-se com rupturas que atingem e ferem a sua vida, seus projetos e o próprio corpo, provocando assim uma possível angústia desmedida diante do desconhecido, das diversas mudanças ocasionadas pelo tratamento dialítico. E o que seria a hemodiálise?
A hemodiálise consiste em um processo artificial de filtração do sangue, em que o sujeito fica ligado a uma máquina durante aproximadamente quatro horas por dia, três vezes por semana. Esse tratamento causa diversas reações, como dormências, câimbras, desgaste físico, emocional e, com o passar do tempo, causa alterações no corpo e pele do paciente.
Afinal, o que seria esse corpo? O conceito de corpo é objeto de estudo de vários campos da ciência, a medicina moderna trata do corpo biológico, uma noção mecânica, ou seja, um “corpo-organismo”, mas o corpo que se propõe tratar neste artigo é o corpo abordado pela psicanálise, aquele que manifesta somaticamente os sinais do eu, da subjetividade do sujeito, o sujeito do incosciente. O corpo retomado por Freud é algo inerente ao pensamento, ou seja, que mesmo sendo um sintoma manifestado no corpo, tem uma causalidade psíquica. (Alberti; Ribeiro, 2004:8).
Partindo do pressuposto Freudiano, que o corpo é constituído de linguagem, e que o eu, é acima de tudo um “eu-corporal”, ouso-me através desse estudo buscar, pesquisar, investigar sobre o mesmo, sendo esse o desejo de percorrer teoricamente as linhas que constituem esse artigo.
Esse artigo tem por objetivo refletir, analisar e compreender o conceito de corpo voltado para a perspectiva psicanalítica, a partir da escuta clínica, tomando relevância a manifestação desse “corpo” dentro do processo dialítico, articulando junto a qual lugar da subjetividade do paciente junto a instituição hospitalar e dentro de uma equipe multiprofissional.
Escrever sobre a temática do corpo é desafiador e complexo, que nos convoca a “ligar” e “desligar” algumas facetas do corpo, este que é cenário das relações de diversos saberes na instituição hospitalar.