O Coronelismo no Rio Grande do Sul.
Por Prof. Ubiratã Ferreira Freitas | 16/01/2009 | História
Introdução
O trabalho do autor Cláudio Pereira Elmir, destaca a relação do coronealismo na região do Estado do Rio Grande do Sul, a onde essa relação vai além dos modos políticos e de favores, questionando a relação do cotidiano da sociedade, que através da figura do coronel, busca efetivar as necessidades que o município não abrange.
Claro, não podemos deixar de entender, que o poder local era mais forte que o poder municipal, em determinadas regiões, poder esse que se constituía pelo coronel e seus capangas apoiados por políticos.
O trabalho que Cláudio Pereira Elmir produziu, é uma relação de cotidiano, onde o embate das estruturas sociais e poder se enfrentam, mas tende a se moldar conforme a necessidade de cada uma delas, ou seja, com a legitimação do coronel pelo poder regional, apoiado por políticos no governo estatal, onde as oligarquias se apresentam como centro de poder. Já a classe trabalhadora, fica sujeita ao poder local do coronel, que define o rumo das vidas dos trabalhadores rurais e meios urbanos.
O autor se dedicou a pesquisar tendo como fonte primária a correspondência de um coronel, em um recorte de tempo de 1930 a 1935, no Rio Grande do Sul, tentou desmistificar um pouco o “coronel”, da figura de um aglutinador de voto, e tentando mostrar as relações sociais e de favores, que se apresentavam entre o coronel e a sociedade local urbana e rural; visando assim transmitir a figura de um coronel mais humano, em certos momentos.
Como se refere Elmir (1993), “[...] as relações entre o poder local/poder estatal [...] pouco trabalhado [...] existe igualmente uma lacuna no que se refere às muitas derivações de análise que a questão do poder político enseja”, ou seja, ampliar as abordagens, para usufruir das relações que se apresentam, formando um entendimento mais amplo.
Como se refere Almir (1993), “[...]; a percepção das relações sociais enquanto relações de poder”, o que o autor se refere, é sobre o ‘poder simbólico’, como diz Bourdieu (2004) “O poder simbólico como poder de constituir o dado pela enunciação, de fazer e ver e fazer crer, de confirmar ou de transformar a visão do mundo [...]”. Isso quer dizer que o poder simbólico se define em uma relação determinada.
Essas relações fazem do coronel, o agente representante de um setor político muito importante da sociedade, em um período de transformações que o Brasil vinha sofrendo, isto é, cada momento histórico onde ‘os coronéis’ são os sujeitos representantes do poder – tanto local quanto regional – não só a busca de votos, espoliação e manipulação, mas assumiu os deveres do Estado de promover uma sociedade adequada a realidade regional.
Nesse caso o autor ampliou as abordagens, para usufruir das relações que se apresentam, buscando formar assim, um entendimento mais amplo da vida de um coronel.
As relações sociais enquanto relações de poder, a percepção da relação existente entre o público e o privado, nada mais é que, questionamentos das relações coercitivas entre coronel e sociedade, a busca de conformidade e deveres entre as partes, cada um fazendo a seu modo o papel de sociedade legitimando o coronel como o poder local, e uma forma de paternalismo implícito.
Como se refere Elmir:
[...], é possível pensar a participação política manifestada através das práticas de cooptação; em relação aos dependentes do coronel, [...] papeis que assumem enquanto parte do jogo político [...] ou aquela que se coloca apenas através do clientelismo, ou não [...] (ELMIR, 1993, p. 26).
O trabalho do autor está definido, em uma compreensão a relação de poder que se estabelece entre o coronel e seus agregados, através das noções de “poder simbólico”, já citado acima e “capital simbólico”, onde não se pode resolvê-las, mas se fazer centralizado para buscar um entendimento do social.
Coronelismo, Poder Simbólico, Capital simbólico e Campo Político
O coronel é um representante do poder político regional e local, onde assume a importância de manter relações entre os as classes que se definem, tanto no meio rural e urbano. Então, não pode ser visto como somente um organizador e arrecadador de votos, mas sim, que está incerido em uma vasta relação de poder social.
O cuidado de se pensar o contexto onde as relações sociais se apresentam, percebendo como se efetuam as formas de pensamento, pois temos ainda a noção de ver o coronel, como um a gente ou mecanismo político de manobra, que serve tanto para efetivar ou para afrontar candidatos políticos.
Como se diz Elmir:
[...], não é correto analisar a relação que se estabelece entre o coronel e seus dependentes apenas como uma relação vertical e irreversível de dominação e subordinação respectivamente. [...] diferenciar as várias formas de perceber o coronel e o seu papel a parir da leitura que os supostos subordinados realizavam em função da sua vivência específica da relação coronelista, [...] “troca de favores” (ELMIR, 1993, p. 27, 28).
O coronel se constitui, a partir de uma sujeição de seus dependentes, fazendo assim a legitimação do poder coronelista, Elmir (1993) “[...] o perfil do coronel é constituído pelo dependente neste embate de palavras no qual o subordinado faz questão de marcar a diferença”.
“O fato de o coronel pertencer a uma elite estancieira”, Elmir (1993), faz surgir na sociedade rural urbana, um amparo sujeito ao “dever favor” que se estabelece entre as partes que envolvem as relações, sendo o econômico o fator primordial dessa relação.
O sujeito protegido se nega, mas se submete ao controle e mando do coronel, pois se vê inferiorizado economicamente e desprotegido em sua existência, como ator e sujeito da sociedade, ficando a mercê da exploração coronelista.
Como se refere Bourdieu onde coloca que os agentes sociais muitas vezes aceitam sua situação, fortificando o poder simbólico. No caso do coronel, o poder econômico torna-o coercitivo e com um fator claro onde a aceitação dos subordinados, foi passiva em muitos casos. (referente à citação da p. 29).
“[...], a ordem social não se legitima apenas pela imposição de quem a domina nos diferentes níveis – político, econômico, social – mas também pela aquiescência do silencio dos que não a contestam” (Elmir, 1993, p 28).
Dentro do processo de relações de poder, o coronel estabelece dois tipos de relações poderes. O primeiro é um poder constitucional, onde a partir das relações políticas com candidatos no governo se faz legitimo, já o segundo, parte do econômico e do título simbólico de coronel. Onde o mesmo está mais intrínseco na relação social de dependência, passando para o privado.
Dentro desse contexto de poderes, surgem outros como o “capital simbólico”, na verdade é um crédito que foi acumulado no decorrer das questões política, sociais e econômicas, que faz parte do domínio do coronel, onde perpetua o seu poder na maioria das vezes. Segundo Elmir (1993), “O capital simbólico na verdade é um crédito, um haver que foi acumulado e que serve de estoque de autoridade legitima para que a ação não pareça arbitrária”.
Os créditos de capital simbólico, também perpassa na forma de relação com seus subordinados, onde manifesta o ‘caráter’, pois em muitas vezes depende do coronel o rumos das vidas das famílias, assim, dependendo do caso, a justiça pode prevalecer a favor do coronel e o credito se verifica dentro do contexto que foi aplicado.
“Os agentes é que dão forma ao caráter do coronel, e não a sua função no quadro administrativos de um governo” (Elmir, 1993, p. 31), os agentes são os domínios que se refletem as relações sociais dentro do contexto regional, pois através deles se pode perceber as qualidades de mando e desmando do coronel a sua participação direta nas questões pertinentes da realidade do cotidiano.
As relações políticas que envolvem sociedade e coronel, dentro de um aspecto de dependência, também podem ser válidas as tentativas de analisar uma manifestação de resistência contra o sistema empregado, o de uma política de cabresto, pois embora os agentes sócias possam parecer passivos – até dentro de um certo limite – podem se manifestar em contrário, mas se sujeitando contra a sua vontade em permanecer na situação de dependente.
As Cartas do Coronel: Uma Leitura das Representações de Poder na Fala dos “subalternos”
A partir da relação entre coronel e dependente, o autor busca ler o discurso empregado e suas características dentro do contexto de reciprocidade, onde tenta desvendar um novo olhar perceptivo, para não cair ma mesmice e ambigüidade das homogeneidades que estamos acostumados a ler sobre o coronelismo.
Nas cartas estudas, pode-se verificar um alto índice de desigualdade no próprio discurso, tende a estar em dúvida com uma ação do coronel onde resolve seu problema, exalta a forma de heroísmo do coronel, se submete de forma dependente.
Como diz Elmir (1993) referente à carta do sub-delegado do quarto distrito de Santa Cruz “[...] o ilustre Cel. Veio salvar a minha vida na hora necessária; por quanto rogo a Deus que sempre queria protejer-vos, principalmente na vossa ação heróica”.
E m outras cartas, também se pode observa sempre a submissão, podemos ter em mente, que as resistências existiram, e como foi dito acima, em forma passiva pela necessidade de sobrevivência.
As cartas e seus discursos são formados a partir de uma necessidade de permanência e sobrevivência, pois as delimitações do poder do coronel estabilizam as relações e legitima o poder simbólico.
Os subordinados não querem assumir responsabilidades que venham comprometer sua permanência no meio social, transferindo tudo para o coronel e legitima a mais pura concentração de poder. .
Em alguns casos, existe nas cartas uma leitura não clara dos favores que foram feitos pelo coronel, deixando totalmente um fator de dependência do poder coronelista. Os favores não expostos, é somente concedido pelo coronel e realmente só ele sabe, fortificando assim a s relações favoráveis advinda de um futuro próximo, futuro que se transforma em divida para com o coronel.
Segundo Elmir:
Nota-se claramente nesta série de cartas a emergência de agentes ativos que não se submetem simplesmente à vontade pessoal do Cel., mas que consegue elaborar o seu desejo através de uma racionalidade do pedido que imprime a este uma lógica um pouco distante de obediência irrefletida, [...] (ELMIR, 1993, p. 36).
Essa citação se refere a um pedido de colocação em um posto militar dentro da corporação da Brigada Militar de Cruz Alta. Podemos perceber já nesse discurso que existe uma certa resistência e exigência do cargo, pois se refere em dívida de política; as relações das pessoas ligadas ao governo, forma um ambiente lícito de interesses e posteriormente de deveres ao coronel.
Também, podemos definir que os pedidos são diversos e com assuntos variáveis, pois tendo o poder locar/regional, assumindo os deveres do município, tem que resolver as mais diversas questões que se apresentam.
As insistências dos pedidos fazem prevalecer o relacionamento interpessoal que se efetiva o ‘benfeitor social’. Os pedidos representam sempre uma proteção ao coronel.
O significado atribuído ao termo coronelismo por Elmir (1993), “o poder exercido por chefes políticos sobre certo número de pessoas que deles dependem”, fica demarcado nas regiões onde atuam os coronéis, independente de seu poder econômico, passam a controlar sistematicamente as relações sócias.
Segundo Elmir:
[...] se admitirmos que se processa uma relação de forças entre o coronel e seus dependentes, descartando assim uma verticalidade na ação do cel. e reconhecendo que os subalternos se constituem em agentes neste campo político ainda que suas demandas se revelem essencialmente privadas quer nos parecer que o uso da expressão “cooptação política” pode ser alargado no sentido de não apenas dizer respeito às composições político-partidárias e institucionais, especialmente às lideranças, mas estender-se para os elementos que aparentemente não participam desta política, ainda que acionem os mecanismos dela na resolução de suas questões particulares. (Elmir, 1993, p. 39).
A citação se revela onde a verticalidade do coronelismo muda e os dependentes passam a ser agentes ativos, que se integram na composição dos domínios da compreensão do coronelismo.
A cooptação política em forma não elaborada a través da coerção, identifica-se com um poder dirigido e conquistado pelo fator econômico do coronel, que favorece os poderes e suas dimensões variáveis de poder simbólico.
As ações sociais que define a prática coronelista, vão demonstrar certa aceitação de ambas as partes coronel/sujeito em um perfil de dependência e necessidade.
As relações tornam-se como elemento do fazer político, a pessoa busca o favor, o cidadão é uma conseqüência dos conceitos sociais, então a ética é vista e colocada em prática, assim Elmir (1993) define “A reciprocidade da relação coronelista pode ser atestada quando analisamos cartas que demonstram a recorrência de reivindicações por parte do remetente”.
As relações são diversas e muitas delas exigem uma forma de pensar mais aguçada por parte do coronel, já quando é uma classe mais necessitada, o coronel faz a questão da reciprocidade, pois a partir dessas classes se constituem os votos futuros dos políticos que o coronel apóia, pois a necessidade é maior por parte principalmente da classe trabalhadora.
“Esta reciprocidade só acontece por que se estabelece anteriormente a equivalência de vontade, noção esta talvez mais próxima das relações pessoais do coronelismo que a de clientelismo” Elmir (1993); a ética nas relações entre subordinados e coronel, é os limites que são impostos pelo coronel, sendo esses aceitos com reciprocidade. Até o cuidado pessoal dos filhos dos subordinados, é pedido como um sistema fiscalizador.
Assim como diz Elmir:
Seja como crença de verdade ou como estratégia de convencimento de si e do coronel, este é o jogo de relações de forças do coronelismo, através do qual se gera uma complexa rede de reciprocidade que dão conta das diferentes formas de o dependente se perceber como um agente (ativo ou passivo) que não se dilui numa espessa nebulosa de sujeição (Elmir, 1993, p. 44).
Considerações finais
A discussão que é feita nesse trabalho tem o objetivo de esclarecer algo que a muito está generalizado como concreto, e que é o coronelismo como agente aglutinador de votos, mas antes de mais nada, temos que levar em conta o tipo de abordagem q ue é dado ao tema.
Em termos mais estreitos, a participação política é relacionada ao mandato que os eleitores outorgam aos seus representantes, neste caso, quase sempre abrindo mão da autoridade, do poder ou da soberania em benefício de um porta-voz.
As cartas analisadas, também demonstram as relações que se efetivam e deixam bem clara que, os agentes estão longe de transformar em cidadãos, pois delegam o voto ao poder do coronel.
Bibliografia
ELMIR, Cláudio Pereira. Olhares Sobre Si e o Outro: as Várias Faces do Coronelismo. Porto Alegre; Ufrgs, 1993.
O trabalho do autor Cláudio Pereira Elmir, destaca a relação do coronealismo na região do Estado do Rio Grande do Sul, a onde essa relação vai além dos modos políticos e de favores, questionando a relação do cotidiano da sociedade, que através da figura do coronel, busca efetivar as necessidades que o município não abrange.
Claro, não podemos deixar de entender, que o poder local era mais forte que o poder municipal, em determinadas regiões, poder esse que se constituía pelo coronel e seus capangas apoiados por políticos.
O trabalho que Cláudio Pereira Elmir produziu, é uma relação de cotidiano, onde o embate das estruturas sociais e poder se enfrentam, mas tende a se moldar conforme a necessidade de cada uma delas, ou seja, com a legitimação do coronel pelo poder regional, apoiado por políticos no governo estatal, onde as oligarquias se apresentam como centro de poder. Já a classe trabalhadora, fica sujeita ao poder local do coronel, que define o rumo das vidas dos trabalhadores rurais e meios urbanos.
O autor se dedicou a pesquisar tendo como fonte primária a correspondência de um coronel, em um recorte de tempo de 1930 a 1935, no Rio Grande do Sul, tentou desmistificar um pouco o “coronel”, da figura de um aglutinador de voto, e tentando mostrar as relações sociais e de favores, que se apresentavam entre o coronel e a sociedade local urbana e rural; visando assim transmitir a figura de um coronel mais humano, em certos momentos.
Como se refere Elmir (1993), “[...] as relações entre o poder local/poder estatal [...] pouco trabalhado [...] existe igualmente uma lacuna no que se refere às muitas derivações de análise que a questão do poder político enseja”, ou seja, ampliar as abordagens, para usufruir das relações que se apresentam, formando um entendimento mais amplo.
Como se refere Almir (1993), “[...]; a percepção das relações sociais enquanto relações de poder”, o que o autor se refere, é sobre o ‘poder simbólico’, como diz Bourdieu (2004) “O poder simbólico como poder de constituir o dado pela enunciação, de fazer e ver e fazer crer, de confirmar ou de transformar a visão do mundo [...]”. Isso quer dizer que o poder simbólico se define em uma relação determinada.
Essas relações fazem do coronel, o agente representante de um setor político muito importante da sociedade, em um período de transformações que o Brasil vinha sofrendo, isto é, cada momento histórico onde ‘os coronéis’ são os sujeitos representantes do poder – tanto local quanto regional – não só a busca de votos, espoliação e manipulação, mas assumiu os deveres do Estado de promover uma sociedade adequada a realidade regional.
Nesse caso o autor ampliou as abordagens, para usufruir das relações que se apresentam, buscando formar assim, um entendimento mais amplo da vida de um coronel.
As relações sociais enquanto relações de poder, a percepção da relação existente entre o público e o privado, nada mais é que, questionamentos das relações coercitivas entre coronel e sociedade, a busca de conformidade e deveres entre as partes, cada um fazendo a seu modo o papel de sociedade legitimando o coronel como o poder local, e uma forma de paternalismo implícito.
Como se refere Elmir:
[...], é possível pensar a participação política manifestada através das práticas de cooptação; em relação aos dependentes do coronel, [...] papeis que assumem enquanto parte do jogo político [...] ou aquela que se coloca apenas através do clientelismo, ou não [...] (ELMIR, 1993, p. 26).
O trabalho do autor está definido, em uma compreensão a relação de poder que se estabelece entre o coronel e seus agregados, através das noções de “poder simbólico”, já citado acima e “capital simbólico”, onde não se pode resolvê-las, mas se fazer centralizado para buscar um entendimento do social.
Coronelismo, Poder Simbólico, Capital simbólico e Campo Político
O coronel é um representante do poder político regional e local, onde assume a importância de manter relações entre os as classes que se definem, tanto no meio rural e urbano. Então, não pode ser visto como somente um organizador e arrecadador de votos, mas sim, que está incerido em uma vasta relação de poder social.
O cuidado de se pensar o contexto onde as relações sociais se apresentam, percebendo como se efetuam as formas de pensamento, pois temos ainda a noção de ver o coronel, como um a gente ou mecanismo político de manobra, que serve tanto para efetivar ou para afrontar candidatos políticos.
Como se diz Elmir:
[...], não é correto analisar a relação que se estabelece entre o coronel e seus dependentes apenas como uma relação vertical e irreversível de dominação e subordinação respectivamente. [...] diferenciar as várias formas de perceber o coronel e o seu papel a parir da leitura que os supostos subordinados realizavam em função da sua vivência específica da relação coronelista, [...] “troca de favores” (ELMIR, 1993, p. 27, 28).
O coronel se constitui, a partir de uma sujeição de seus dependentes, fazendo assim a legitimação do poder coronelista, Elmir (1993) “[...] o perfil do coronel é constituído pelo dependente neste embate de palavras no qual o subordinado faz questão de marcar a diferença”.
“O fato de o coronel pertencer a uma elite estancieira”, Elmir (1993), faz surgir na sociedade rural urbana, um amparo sujeito ao “dever favor” que se estabelece entre as partes que envolvem as relações, sendo o econômico o fator primordial dessa relação.
O sujeito protegido se nega, mas se submete ao controle e mando do coronel, pois se vê inferiorizado economicamente e desprotegido em sua existência, como ator e sujeito da sociedade, ficando a mercê da exploração coronelista.
Como se refere Bourdieu onde coloca que os agentes sociais muitas vezes aceitam sua situação, fortificando o poder simbólico. No caso do coronel, o poder econômico torna-o coercitivo e com um fator claro onde a aceitação dos subordinados, foi passiva em muitos casos. (referente à citação da p. 29).
“[...], a ordem social não se legitima apenas pela imposição de quem a domina nos diferentes níveis – político, econômico, social – mas também pela aquiescência do silencio dos que não a contestam” (Elmir, 1993, p 28).
Dentro do processo de relações de poder, o coronel estabelece dois tipos de relações poderes. O primeiro é um poder constitucional, onde a partir das relações políticas com candidatos no governo se faz legitimo, já o segundo, parte do econômico e do título simbólico de coronel. Onde o mesmo está mais intrínseco na relação social de dependência, passando para o privado.
Dentro desse contexto de poderes, surgem outros como o “capital simbólico”, na verdade é um crédito que foi acumulado no decorrer das questões política, sociais e econômicas, que faz parte do domínio do coronel, onde perpetua o seu poder na maioria das vezes. Segundo Elmir (1993), “O capital simbólico na verdade é um crédito, um haver que foi acumulado e que serve de estoque de autoridade legitima para que a ação não pareça arbitrária”.
Os créditos de capital simbólico, também perpassa na forma de relação com seus subordinados, onde manifesta o ‘caráter’, pois em muitas vezes depende do coronel o rumos das vidas das famílias, assim, dependendo do caso, a justiça pode prevalecer a favor do coronel e o credito se verifica dentro do contexto que foi aplicado.
“Os agentes é que dão forma ao caráter do coronel, e não a sua função no quadro administrativos de um governo” (Elmir, 1993, p. 31), os agentes são os domínios que se refletem as relações sociais dentro do contexto regional, pois através deles se pode perceber as qualidades de mando e desmando do coronel a sua participação direta nas questões pertinentes da realidade do cotidiano.
As relações políticas que envolvem sociedade e coronel, dentro de um aspecto de dependência, também podem ser válidas as tentativas de analisar uma manifestação de resistência contra o sistema empregado, o de uma política de cabresto, pois embora os agentes sócias possam parecer passivos – até dentro de um certo limite – podem se manifestar em contrário, mas se sujeitando contra a sua vontade em permanecer na situação de dependente.
As Cartas do Coronel: Uma Leitura das Representações de Poder na Fala dos “subalternos”
A partir da relação entre coronel e dependente, o autor busca ler o discurso empregado e suas características dentro do contexto de reciprocidade, onde tenta desvendar um novo olhar perceptivo, para não cair ma mesmice e ambigüidade das homogeneidades que estamos acostumados a ler sobre o coronelismo.
Nas cartas estudas, pode-se verificar um alto índice de desigualdade no próprio discurso, tende a estar em dúvida com uma ação do coronel onde resolve seu problema, exalta a forma de heroísmo do coronel, se submete de forma dependente.
Como diz Elmir (1993) referente à carta do sub-delegado do quarto distrito de Santa Cruz “[...] o ilustre Cel. Veio salvar a minha vida na hora necessária; por quanto rogo a Deus que sempre queria protejer-vos, principalmente na vossa ação heróica”.
E m outras cartas, também se pode observa sempre a submissão, podemos ter em mente, que as resistências existiram, e como foi dito acima, em forma passiva pela necessidade de sobrevivência.
As cartas e seus discursos são formados a partir de uma necessidade de permanência e sobrevivência, pois as delimitações do poder do coronel estabilizam as relações e legitima o poder simbólico.
Os subordinados não querem assumir responsabilidades que venham comprometer sua permanência no meio social, transferindo tudo para o coronel e legitima a mais pura concentração de poder. .
Em alguns casos, existe nas cartas uma leitura não clara dos favores que foram feitos pelo coronel, deixando totalmente um fator de dependência do poder coronelista. Os favores não expostos, é somente concedido pelo coronel e realmente só ele sabe, fortificando assim a s relações favoráveis advinda de um futuro próximo, futuro que se transforma em divida para com o coronel.
Segundo Elmir:
Nota-se claramente nesta série de cartas a emergência de agentes ativos que não se submetem simplesmente à vontade pessoal do Cel., mas que consegue elaborar o seu desejo através de uma racionalidade do pedido que imprime a este uma lógica um pouco distante de obediência irrefletida, [...] (ELMIR, 1993, p. 36).
Essa citação se refere a um pedido de colocação em um posto militar dentro da corporação da Brigada Militar de Cruz Alta. Podemos perceber já nesse discurso que existe uma certa resistência e exigência do cargo, pois se refere em dívida de política; as relações das pessoas ligadas ao governo, forma um ambiente lícito de interesses e posteriormente de deveres ao coronel.
Também, podemos definir que os pedidos são diversos e com assuntos variáveis, pois tendo o poder locar/regional, assumindo os deveres do município, tem que resolver as mais diversas questões que se apresentam.
As insistências dos pedidos fazem prevalecer o relacionamento interpessoal que se efetiva o ‘benfeitor social’. Os pedidos representam sempre uma proteção ao coronel.
O significado atribuído ao termo coronelismo por Elmir (1993), “o poder exercido por chefes políticos sobre certo número de pessoas que deles dependem”, fica demarcado nas regiões onde atuam os coronéis, independente de seu poder econômico, passam a controlar sistematicamente as relações sócias.
Segundo Elmir:
[...] se admitirmos que se processa uma relação de forças entre o coronel e seus dependentes, descartando assim uma verticalidade na ação do cel. e reconhecendo que os subalternos se constituem em agentes neste campo político ainda que suas demandas se revelem essencialmente privadas quer nos parecer que o uso da expressão “cooptação política” pode ser alargado no sentido de não apenas dizer respeito às composições político-partidárias e institucionais, especialmente às lideranças, mas estender-se para os elementos que aparentemente não participam desta política, ainda que acionem os mecanismos dela na resolução de suas questões particulares. (Elmir, 1993, p. 39).
A citação se revela onde a verticalidade do coronelismo muda e os dependentes passam a ser agentes ativos, que se integram na composição dos domínios da compreensão do coronelismo.
A cooptação política em forma não elaborada a través da coerção, identifica-se com um poder dirigido e conquistado pelo fator econômico do coronel, que favorece os poderes e suas dimensões variáveis de poder simbólico.
As ações sociais que define a prática coronelista, vão demonstrar certa aceitação de ambas as partes coronel/sujeito em um perfil de dependência e necessidade.
As relações tornam-se como elemento do fazer político, a pessoa busca o favor, o cidadão é uma conseqüência dos conceitos sociais, então a ética é vista e colocada em prática, assim Elmir (1993) define “A reciprocidade da relação coronelista pode ser atestada quando analisamos cartas que demonstram a recorrência de reivindicações por parte do remetente”.
As relações são diversas e muitas delas exigem uma forma de pensar mais aguçada por parte do coronel, já quando é uma classe mais necessitada, o coronel faz a questão da reciprocidade, pois a partir dessas classes se constituem os votos futuros dos políticos que o coronel apóia, pois a necessidade é maior por parte principalmente da classe trabalhadora.
“Esta reciprocidade só acontece por que se estabelece anteriormente a equivalência de vontade, noção esta talvez mais próxima das relações pessoais do coronelismo que a de clientelismo” Elmir (1993); a ética nas relações entre subordinados e coronel, é os limites que são impostos pelo coronel, sendo esses aceitos com reciprocidade. Até o cuidado pessoal dos filhos dos subordinados, é pedido como um sistema fiscalizador.
Assim como diz Elmir:
Seja como crença de verdade ou como estratégia de convencimento de si e do coronel, este é o jogo de relações de forças do coronelismo, através do qual se gera uma complexa rede de reciprocidade que dão conta das diferentes formas de o dependente se perceber como um agente (ativo ou passivo) que não se dilui numa espessa nebulosa de sujeição (Elmir, 1993, p. 44).
Considerações finais
A discussão que é feita nesse trabalho tem o objetivo de esclarecer algo que a muito está generalizado como concreto, e que é o coronelismo como agente aglutinador de votos, mas antes de mais nada, temos que levar em conta o tipo de abordagem q ue é dado ao tema.
Em termos mais estreitos, a participação política é relacionada ao mandato que os eleitores outorgam aos seus representantes, neste caso, quase sempre abrindo mão da autoridade, do poder ou da soberania em benefício de um porta-voz.
As cartas analisadas, também demonstram as relações que se efetivam e deixam bem clara que, os agentes estão longe de transformar em cidadãos, pois delegam o voto ao poder do coronel.
Bibliografia
ELMIR, Cláudio Pereira. Olhares Sobre Si e o Outro: as Várias Faces do Coronelismo. Porto Alegre; Ufrgs, 1993.