O Coronelismo na cidade de Petrolina-PE

Por Ana Lucia Granja de Souza | 09/09/2010 | História

Ana Lucia Granja de Souza 1

O Coronelismo desta cidade se deu de forma gradativa e periódica de acordo com o poderio econômico de cada família no seu auge social e político. Petrolina, terra de clima semi-árido e ensolarada, era conhecida antigamente como "passagem de Juazeiro", devido a sua localização estratégica a margem esquerda do Rio São Francisco, por onde os ricos comerciantes e a população atravessaram para comercializar e viajar para outras cidades e capitais dos estados da Bahia e Pernambuco.
Petrolina hoje tem 115 anos de emancipação política, sua trajetória até tornar-se cidade, começou no século XIX em 1841 passando por várias categorias e finalmente em 1895 sendo definida como cidade.
De acordo com a lenda, o nome Petrolina, derivou-se de uma grande pedra chamada "Pedra Linda" que serviu para a construção da nossa bela catedral de estilo Neo Gótico, outra versão é que quando D. Pedro II veio visitar a região do São Francisco deu-se o nome "Petro" de Pedro e para concluir o nome pegou o sobrenome da imperatriz, sua esposa Teresa Cristina, então ficou com o nome Petrolina. Com essas informações a respeito da origem da nossa cidade, fica aqui a título de informação e conhecimento geopolítico.
O Coronelismo foi um fenômeno social e político da República Velha onde as ações políticas dos grandes latifundiários (Coronéis) exercia o poder local, regional e até mesmo federal de acordo com suas pretensões particulares, pois tinha o poder de mando.
Com a extensão da Guarda Nacional, o Coronelismo permaneceu ainda muito vivo no cenário rural brasileiro, principalmente aqui a exemplo na cidade de Petrolina onde em 1912 esse sistema de coronelismo já começava a brotar com as famílias mais abastadas econômica e politicamente.
Cada prefeito que passava pela prefeitura mesmo usando de suas atribuições e poder local, viam na figura dos coronéis a alavanca para o desenvolvimento da cidade e de outras circunvizinhas mantendo assim a política da boa vizinhança, da troca de favores, pois a demora do governo em repassar verbas suficientes para a manutenção dos serviços sociais de que a cidade precisa, demorava bastante em virtude da precária falta de comunicação e dificuldades estruturais das estradas e distanciamento da capital. Como cita um trecho bastante pertinente de Leal, 1997.

"É pois, a fraqueza financeira dos municípios um fator que contribui relevantemente para manter "o coronelismo", na sua expressão governista"(p.45).

Aqui na cidade de Petrolina-PE predominavam três famílias de coronéis comandando na seguinte ordem:
1912 à 1947 predomínio dos "Padilha"
1947 à 1955 predomínio dos "Barracão"
1955 à ........ predomínio dos "Coelho"

O período dos "Padilhas" inicia-se com o coronel José Rabelo Padilha, um rico comerciante de sal e borracha. Era um coronel excêntrico que não gostava de pessoas conversando na esquina do seu sobrado (o mais bonito da cidade) e de crianças brincando na calçada, daí do alto do seu sobrado ele jogava água nas pessoas e moedas aos moleques só para ver a algazarra do empurra-empurra para pegar as benditas moedas. Politicamente coube aos genros o destino da cidade. O declínio dos "Padilhas" se deve ao fato de que a população achava esta família muito arrogante e aristocrata, portanto não tinha tino para a política, mais permaneceu por vinte anos na liderança política declinando-se economicamente sem haver um líder entre eles que os continuasse.
Ainda no período dos "Padilhas", houve a nomeação de delegados para combater possíveis revoltas que aproximavam da cidade como a coluna prestes que avançava pelos sertões. O delegado nomeado foi Theophanes Ferraz Torres, um jovem oficial que em 1925 esteve em Petrolina atuando na cidade, mas numa época que reinava a paz, era comunicativo, sabia lidar com a sociedade e só procurava fazer amigos.
As pessoas de suas relações além do "Coronel Padilha", tinha também o "Coronel Quelé", Coronel João Barracão, entre outros comerciantes e jornalistas como João Ferreira Gomes, o Joãozinho do jornal o "Pharol".
Nessa época ouviam-se rumores que Lampião iria atacar a cidade de Petrolina, mas o seu intuito não deu certo, porque a padroeira da cidade é Nossa Senhora Rainha dos Anjos, a quem ele tinha verdadeira adoração e que, como sabemos, Lampião era extremamente religioso.
Outro chefe de Polícia que também atuou em Petrolina no ano de 1924 foi Optato Gueiros que desempenhou importante papel na vida de Lampião.
No final da década de 40, o predomínio político da região deu-se com a família "Barracão" na figura do coronel João Ferreira da Silva, o "João Barracão" que desde criança adotou este nome por trabalhar com seu irmão na beira da estrada de ferro, ficando com este apelido até a sua morte. João "Barracão" era um rico comerciante, proprietário de uma das primeiras farmácias; vendia e comprava peles, couro e algodão. Era um homem calmo, sereno, gentil, cumprimentava a todos sem distinção de classe.
No campo político tornou-se prefeito na década de 50, eleição esta marcando o coronelismo na região contra a família Coelho. A família Coelho elegeu a maioria dos vereadores, portanto o prefeito eleito não podia contar com o apoio desses vereadores e nem do governador da época Agamenon Magalhães. João "Barracão" não fez uma boa administração, fez muitos projetos, mas não foram aprovados. Contudo, realizou algumas obras.
O coronel João "Barracão" e a família "Coelho" tiveram muitas desavenças políticas. Barracão morreu, a família se desestruturou política e economicamente, daí a ascensão da figura do coronel Quelé atuando na política local. Uma passagem do livro coronelismo enxada e voto de Vitor Leal, mostra o coronelismo como poder.

Por isso mesmo o "coronelismo" é sobretudo um compromisso, uma troca de proveitos entre poder público progressivamente fortalecido e a decadente influência social dos chefes locais notadamente de senhores de terras. (1997, p.40).

Como podemos observar o coronelismo tem esse poder de comandar, de sobressair aos seus interesses, de realizar ações onde o governo demora a chegar.
Dentre as figuras de coronéis que atuaram em nossa cidade, destaco o coronel de maior relevância política ? econômica e social que foi Clementino de Souza Coelho, o Coronel Quelé. Era um homem de visão futurista. Foi a maior fortuna da região São Franciscana na época. Seu ramo de negócios eram variados. Exportava e comercializava café, algodão, querosene, cera de abelha, pena de ema, rapadura, mamona, couro e peles.
Coronel Quelé não tinha muito estudo, mas aprendeu o suficiente para gerir negócios. Tinha um espírito empreendedor para os negócios, para o comércio. Viajava várias vezes para negociar em Salvador e cidades vizinhas. Não media esforços para ter o que queria. Figura importante, bem vestido (só vestia branco), proprietário abastado, fortuna sempre em crescimento, não poderia receber outro título, senão o de coronel. Foi subprefeito por duas vezes em 1916 e 1927.
Casado com dona Josefa Coelho teve uma prole de 17 filhos, sendo alguns vivos hoje, mas que ele acreditava na importância e primazia da educação. Educou todos os filhos tornando-os profissionais de nível superior na área da medicina, engenharia, economia, administração, ou seja, coronel Quelé amava sua terra, e claro, pelo poder que exercia sobre a população local e regional, tomou a iniciativa de lançar seus filhos na política para que a cidade pudesse ter seus representantes que elevasse o nome da sua terra para todo o país.
Seu filho mais ilustre foi Nilo Coelho, senador, deputado federal, governador e presidente do Congresso Nacional em Brasília, não só Nilo, mas outros filhos do clã "Coelho" até hoje participam ativamente da política nacional em prol do engrandecimento da nossa região e do nosso país.
Quelé sempre dizia: "Nunca recue na vida diante das dificuldades. Dificuldade é para ser vencida". Ele era um homem muito altivo, rigoroso, era organizado em tudo, não admitia brincadeiras na hora do trabalho e era rigoroso com horários. Mas como pessoa era muito humano e preocupava-se em ajudar os pobres, coisas que nem todos que ostentavam a patente de coronel faziam essas ações. Foi também um dos maiores acionistas da CHESF quando esta companhia estava no início de sua expansão. Foi um coronel que não tinha atrito com outros coronéis, inclusive era muito amigo do Coronel Veremundo Soares de Salgueiro com quem trocava confidências. Morreu no início da década de 50 de acidente automobilístico a caminho de Salvador, mais deixou um legado de garra, perseverança e luta. Foi um homem a frente do seu tempo, moderno, empreendedor.
A trajetória do coronelismo no Brasil perdura até hoje principalmente no interior das cidades do país onde os trabalhadores que não têm um poder aquisitivo que o dignifique, buscam favores através desses poderosos que os manipulam atendendo suas necessidades e em troca desses favores, atentam para seus próprios interesses. É uma situação notoriamente desumana que fere a honra de qualquer individuo que faz parte da história da sociedade.

Historiadora e membro da SBEC (Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço)