O COORDENADOR PEDAGÓGICO E SUA ATUAÇÃO EM ESPAÇOS ESCOLARES E EXTRA-ESCOLARES
Por Adriétt de Luna Silvino Marinho | 30/12/2010 | EducaçãoO COORDENADOR PEDAGÓGICO E SUA ATUAÇÃO EM ESPAÇOS ESCOLARES E EXTRA-ESCOLARES
Adriétt de Luna Silvino Marinho1; Rosineide de Lima Alves²; Tamyres Maria Ferreira Guerra³
1Pedagoga, UFPE; E-mail: adriettluna@gmail.com, 2 Pedagoga, UFPE; E-mail: rose_l_alves84@hotmail.com, ³ Pedagoga, UFPE; E-mail: tamyrisguerra@hotmail.com
Introdução e justificativa
Afinal, o coordenador pedagógico está preparado apenas para o trabalho escolar? Foi pensando nisso que surgiu o desejo de pesquisarmos sobre a atuação desse profissional que ainda hoje não é reconhecido em suas potencialidades. A elaboração deste artigo constou de duas etapas metodológicas, sendo a primeira delas prática, quando realizamos entrevistas com coordenadores de instituições ligadas à educação, sendo uma delas em uma gerência de ensino e outra, em uma escola pública.
A primeira entrevista foi realizada com a coordenadora de uma GRE (Gerência Regional de Ensino), situada em Recife-PE. A segunda entrevistada foi a coordenadora de uma escola municipal da Rede de Ensino do município de Jaboatão dos Guararapes-PE.
Destinado ao público em geral, e, em especial aos profissionais da educação, o presente trabalho traz consigo um "pedacinho" da realidade intrínseca no cenário atual da educação no nosso Estado.
Esperamos com isso contribuir com as reflexões sobre a função do coordenador pedagógico nos dias atuais; assim, buscamos associar as falas das entrevistadas com as idéias de alguns autores que constituíram nossa base teórica.
A segunda parte de nossa metodologia constituiu-se num apanhado histórico da Coordenação/ Supervisão Escolar. Nela propusemos uma breve reflexão quanto aos compromissos de mudança que a supervisão pedagógica atual propõe juntamente com a construção reflexiva do conhecimento profissional dos professores.
Com base nesta parte teórica, levantamos algumas questões com relação à fala das entrevistadas e buscamos soluções reflexivas para os problemas por elas citados. Dessa forma, acreditamos estar contribuindo para minimizar dificuldades enfrentadas pelos profissionais da área da coordenação pedagógica. Afinal, tantos reclamam da realidade, mas o que fazem para transformá-la?
1. Aspectos teóricos que permeiam a coordenação pedagógica/ Supervisão
Na história do curso de Pedagogia e dos cursos de licenciatura sempre esteve presente a preocupação com os aspectos legais e administrativos da escola. Contudo, ao analisar a expansão do curso, verificamos que os profissionais por ele formados não estão "bitolados" ao trabalho no ambiente escolar.
Dessa forma, estaremos trazendo uma abordagem histórica quanto aos profissionais ligados à coordenação pedagógica, tanto em escolas quanto em instituições que tratam da educação fora do ambiente escolar.
1.1 Trajetória Histórica da supervisão escolar
Analisando a trajetória da supervisão pedagógica, podemos perceber que esta acompanha a educação desde seus primórdios. Mesmo em sociedades em que não havia escolas, a educação acontecia e era conduzida por alguém. É justamente ai, de maneira implícita, que a função de supervisionar entrava em questão. Nas comunidades primitivas, a educação se dava de forma indireta, por meio da vigilância discreta dos adultos, "protegendo e orientando as crianças, por exemplo, e, eventualmente, por palavras". (Saviani, em FERREIRA, 1999, p.15).
Com relação aos povos primitivos temos o seguinte enunciado: "Entre todos os povos primitivos encontramos as cerimônias de iniciação, que possuem especial valor educativo. (...) Embora todos os homens participassem das cerimônias, havia determinadas pessoas as quais cabia a direção das mesmas". (PILETTI e PILETTI, 1997, p. 13,14). Ou seja, essas pessoas deviam direcionar as cerimônias de modo que ela acontecesse dentro dos padrões estabelecidos pela tribo. Essas pessoas supervisionavam, ainda que de forma sutil, a ação educativa.
Na medida em que essa função vem sendo explicitada e a idéia de supervisão é trabalhada, coloca-se a questão da ação supervisora como profissão. Essa "mudança" ocorre pela mediação da idéia de supervisão como a ação de velar sobre alguma coisa ou sobre alguém a fim de assegurar a regularidade de seu funcionamento ou de seu comportamento.
Com a fixação do homem à terra, surgiu a sociedade em classes e com ela, a educação passou a ser dividida, diferenciando-se a educação destinada a classe dominante daquela a que tem acesso a classe dominada. No Brasil, com a vinda dos primeiros jesuítas, em 1949, dá-se inicio à organização das atividades educativas em nosso país. Mas não se manifesta ainda a idéia de supervisão.
Somente com o Ratio Studiorum, plano geral dos jesuítas, a idéia de supervisão se faz presente. Este plano previa a figura do prefeito geral de estudos, que deve auxiliar o reitor na "boa ordenação dos estudos". Ou seja, a função supervisora é destacada das demais funções educativas e representada como uma tarefa especifica para a qual, em conseqüência, e destinado um agente, também especifico, distinto do reitor e dos professores.
O Alvará de 28 de junho de 1759, que instituiu as reformas pombalinas, diluiu o caráter orgânico da função supervisora, passando a englobar os aspectos político-administrativos (inspeção e direção) em nível de sistema concentrados na figura do diretor geral.
O Brasil independente inaugura a questão da escola da organização autônoma da instrução publica com a Lei de 15 de outubro de 1827, que instituiu as escolas de primeiras letras "em todas as cidades, vilas e lugares populosos do império". (Saviani, em FERREIRA, 1999, p.22).
Nessas escolas, os estudos eram realizados de acordo com o "método do ensino mutuo", em que o professor absorvia as funções de docência e também de supervisão.
Na década de 20, surgiram os profissionais da educação, o que exigia a formação de agentes para operar essa cada vez mais extensa e complexa máquina burocrática. Assim, em 1931, o decreto n° 19.851 institui o Estatuto das Universidades Brasileiras, que previa a implantação de Faculdades de Educação, Ciências e Letras, denominada Filosofia, Ciências e Letras. Esta tinha a incumbência de formar professores das diferentes disciplinas das escolas secundarias, criando-se, em seu interior, o curso de Pedagogia, que deveria formar professores das disciplinas específicas do Curso Normal bem como os "técnicos e de educação".
1.2 Compromissos de mudança
Como instituição social educativa, a escola vem sendo questionada acerca de seu papel ante as transformações econômicas, políticas, sociais e culturais do mundo contemporâneo.
Muitas são as transformações a que a escola vem se submetendo. São essas mesmas transformações que configuram a realidade educacional do nosso país. Como vimos anteriormente, desde a década de 1920 surgiram os profissionais da educação. Para atender a demanda, em 1931, foi criado o Estatuto das Universidades Brasileiras. E, mais tarde, o curso de Pedagogia.
A formação de técnicos da educação previa a atuação do supervisor como um especialista, aquele que verificava se os demais funcionários da escola desempenhavam corretamente suas funções.
Com o passar do tempo, as concepções referentes à função do supervisor/ coordenador sofreu alterações ideológicas e funcionais. Com isso foram assumidos alguns compromissos de mudança para tal função.
Por exemplo, é esperado que o coordenador, também chamado supervisor e, mais recentemente, educador de apoio, incentive a práxis (FREIRE, 1979). Para que isso ocorra, os professores devem ser estimulados a refletir sua prática pedagógica, para que, ao planejar as aulas, haja um objetivo a ser alcançado. Uma proposta de mudança e transformação que exige sincronicidade entre os sujeitos do processo pedagógico.
Isso acontece porque, segundo Libâneo (2005)
"As relações dinâmicas ou adaptativas, abertas ou fechadas, ocorrem não só internamente aos sistemas, mas também externamente, na relação de um sistema com o outro. As formas de os sistemas relacionarem-se interna e externamente caracterizam mais claramente a forma de governar dos administradores da sociedade, porque, por meio da organização dos diversos sistemas, serão alcançados determinados fins". (LIBÂNEO, 2005, p.230).
Essas observações demonstram a relação entre educação e política, revelando outra característica do sistema educacional brasileiro: seu caráter histórico e intencional.
1.3 Supervisão pedagógica e construção reflexiva do conhecimento
De um modo geral, podemos inferir que a educação brasileira está entrelaçada num emaranhado complexo teórico e prático.
Segundo Oliveira (1995, p.39), "Numa esfera rasgada por contradições cada vez mais agudas, a esfera ideológica assume grande importância enquanto elemento de coesão social. A escola, portanto, não pode mais permanecer nas franjas do mecanismo de controle social e econômico do sistema capitalista".
Dessa forma a escola deve questionar o que realmente importa quando se está educando. Nas entrevistas realizadas percebemos um forte caráter multifuncional dos supervisores. Tal caráter dá aos mesmos uma condição de trabalho desqualificada, tolhendo o profissional até mesmo de participar de cursos de capacitação, formação continuada, etc.
"A escola necessita da adesão de seus usuários (não só de alunos, mas também de seus pais ou responsáveis) aos propósitos educativos a que ela deve visar e que essa adesão precisa redundar em ações efetivas que contribuam para o bom desempenho dos estudantes". (PARO, em BASTOS, 2002, p. 58).
É necessário que haja um maior engajamento entre as várias esferas da sociedade a fim de que se busque uma reflexão a cerca do sistema educacional e de como este vem contribuindo para uma construção reflexiva do conhecimento.
Conforme PARO, 1997, p. 114:
Em termos administrativos, a escola tem que ser avaliada em seu conjunto, levando em conta a avaliação como elemento imprescindível no processo de realização de objetivos. Além disso, a natureza específica de seu produto exige que a avaliação seja um processo permanente que permeie todas as atividades e todos os procedimentos no interior da escola, procurando dar conta da adequação e do desempenho de todos os envolvidos, não apenas os alunos.
A confirmação desse contexto só pode ser evidenciada numa escola autônoma, onde as relações pedagógicas são humanizadas.
Assim, a escola que queremos pode viver aceitando as anestesiantes circunstâncias oriundas da falta de comprometimento dos que fazem a educação funcionar. Torna-se indispensável que a escola faça uma reflexão sobre sua influência na vida dos que fazem parte do cenário escolar.
2. A prática da supervisão na atualidade
Um dos assuntos mais polêmicos da atualidade e que vem sendo amplamente discutido é a educação, no seu sentido de formação humana. Educar é uma tarefa que exige comprometimento, perseverança, autenticidade e continuidade. As mudanças não se propagam em um tempo imediato, por isso, as transformações são decorrentes de ações. No entanto, as ações isoladas não surgem efeito. É preciso que o trabalho seja realizado em conjunto, onde a comunidade participe em prol de uma educação de qualidade baseada na igualdade de direitos.
Com base em tais considerações, o supervisor escolar representa um profissional importante para o bom desempenho da educação escolar, o grupo escolar, o qual deve opinar, expor seu modo de pensar e procurar direcionar o trabalho pedagógico para que se efetive a qualidade na educação. Na atualidade o supervisor se direciona para uma ação mais científica e mais humanística no processo educativo, reconhecendo, apoiando, assistindo, sugerindo, participando e inovando os paradigmas, pois tem sua "especialidade" nucleada na conjugação dos elementos do currículo: pessoas e processos. Desse modo, caracteriza-se pelo que congrega, reúne, articula, enfim soma e não divide.
Neste contexto, o Professor Dr. Roberto Giancaterino, afirma que compreender e caracterizar a função supervisora no contexto educacional brasileiro não ocorre de forma independente ou neutra. Essa função decorre do sistema social, econômico e político e está relacionada a todos dos determinantes que configuram a realidade brasileira ou por eles condicionada.
2.1 Tratamento dos dados
De acordo com a entrevista com a coordenadora da GRE (Gerência Regional de Ensino) pudemos verificar que a atuação desta profissional vai desde a análise dos documentos, até atividades "maiores", como fazer um acompanhamento nas escolas na área pedagógica e ainda fazer visitas às instituições por solicitações de uma instância maior, fazer capacitações com os professores e participar de encontros com a central para discutir algum assunto especifico.
Diante disso, podemos constatar que fazer capacitações com professores é umas das atribuições que o coordenador pedagógico exerce, mas este profissional não interfere na prática do docente de modo que venha mudar a prática do professor, pelo contrário, o coordenador deverá incentivar o professor a refletir sobre a sua prática e os desafios que o mesmo enfrentará na atualidade no seu ambiente de trabalho, como por exemplo, a violência na escola que está em crescente ascensão, por causa de fatores externos, como família desestruturada.
Outro fator que pode desafiar a instituição escolar é o desinteresse do aluno em relação à escola, já que, hoje em dia, há várias formas de se obter informação e a escola é apenas mais uma. Assim, a escola nem sempre é uma das fontes mais interessantes de informação, pois existe a internet e a televisão, que chamam mais a atenção das crianças. Nesse caso, a coordenadora tinha a função de fazer regularmente capacitações com os professores, mas na 2ª entrevista com a coordenadora de uma escola municipal de Jaboatão, pode-se perceber que ela não desempenha esta função, pois os professores passam por capacitações fora da instituição escolar, ou seja, os profissionais que desempenham a função de capacitadores não são os coordenadores da escola na qual os professores lecionam.
Isso pode ser visto em um trecho da entrevista da coordenadora: "Esses momentos (as capacitações) são planejados pela prefeitura de Jaboatão que faz um rodízio com as escolas, eles mesmos fizeram um calendário, ai no dia o professor não vem pra escola, ele vai ter a capacitação fora".
Mas o ambiente escolar não passa apenas por estas dificuldades que acabamos de levantar, ocorrem outras:
"A crescente complexidade da sociedade e do conhecimento, as recentes reformas educacionais, os problemas e as contribuições da escola e da prática escolar, ao lado das mudanças do perfil e das necessidades dos alunos e da formação precária e inadequada dos educadores... questões inerentes ao preparo das aulas, à sala de aula propriamente dita, às relações professor-aluno e professor-hierarquia das escolas estão também presentes, a exigir ações e intervenções dos envolvidos no processo educativo". (PLACCO e ALMEIDA, P.97. 2002).
Além de o coordenador pedagógico trabalhar com os docentes para enfrentar esta realidade, também os prepara para superar as situações supracitadas.
Este trabalho do coordenado pedagógico, descrito acima, tem a finalidade de garantir que o processo de ensino/ aprendizagem seja realizado com sucesso, ou seja, estimular o aluno a compreender o conteúdo sem ter que passar por nenhuma situação negativa que o leve a ter traumas futuros da escola.
A coordenadora da escola municipal de Jaboatão dos Guararapes, em sua entrevista, demonstrou preocupação em relação ao processo de ensino/ aprendizagem e diz que se for preciso faz intervenções na prática do professor para que os alunos tenham um bom desenvolvimento da aprendizagem. Uma das respostas da entrevistada pode remeter ao que foi dito: "Significa um colaborador a mais dentro do processo de ensino/ aprendizagem". Esta resposta é em relação ao que significava para ela a função de coordenador.
Mas, para o professor ajudar o aluno a construir o conhecimento sem passar por uma prática pedagógica que o bloqueie em relação à aprendizagem, é necessário que o mesmo planeje as suas aulas considerando a realidade dos alunos, dessa forma, o trabalho se tornará mais proveitoso. O coordenador pedagógico pode ajudar o professor a adotar esta prática, ou seja, mostrar ao docente que é de suma importância ter conhecimento sobre a realidade do aluno para adaptar os conteúdos que serão trabalhados em sala de aula, esta atitude chamará atenção dos alunos e estes renderão muito mais em sala de aula, do que se o conteúdo trabalhado não fizesse parte da vida deles.
O que foi colocado acima é uma das atribuições da 2ª coordenadora entrevistada, pois ela disse na sua entrevista que faz um acompanhamento do processo de ensino/ aprendizagem e, conseqüentemente, acaba dando orientações a alguns professores em relação à sua prática pedagógica quando necessário. Dessa forma, ela faz intervenções na prática do professor com a finalidade de alcançar o objetivo da educação, que é fazer com que os alunos apreendam os conhecimentos.
Um trecho entrevista da coordenadora que fala sobre isso: "Faço orientação da prática pedagógica, também faço acompanhamento da aprendizagem dos alunos e da prática do docente, dessa forma faço intervenções nas práticas dos professores quando necessário".
Como já abordamos acima, a sociedade atual é bombardeada por várias informações ao mesmo tempo e por diferentes meios de comunicação, isso pode ser uma das causas da nossa sociedade ser tão complexa, o que interfere dentro da escola, pois esta instituição recebe vários alunos e cada um com a sua personalidade, seu modo ser, seus sonhos e seus medos. Isso quer dizer que estão dentro da escola crianças que têm pensamentos diferentes, e isso é acentuado cada vez mais com a sociedade do conhecimento em que vivemos.
Esse problema deve ser trabalhado pelo coordenador pedagógico em capacitações com os professores, em formação continuada e até mesmo no contato diário entre o professor e a coordenação pedagógica, pois muitos docentes ainda não sabem lidar com essa realidade e este ponto é muito importante porque os trabalhos do docente envolvendo o conhecimento dos alunos e o contexto em que estão inseridos tornam a aula mais participativa.
A coordenadora da GRE, como pode ser visto na sua entrevista, afirma que uma das suas atribuições é fazer capacitações com professores, então, diante disso, vamos fazer uma reflexão sobre esta função do coordenador pedagógico.
Já que o coordenado pedagógico atua na área de formação de professores é necessário que este profissional provoque nos professores uma reflexão sobre a prática pedagógica de cada um, para que a partir daí este docente tome consciência da realidade em que os alunos estão inseridos, dessa forma, os professores trabalharão em cima dos problemas, isso tornará a relação entre professor ? aluno mais amistosa e bem mais rentável para ambas as partes.
Esta reflexão sobre a prática pedagógica pode tornar-se uma sincronicidade, mas esse processo só ocorrerá quando os professores de uma instituição tomarem consciência da sua prática pedagógica e despertarem em si mesmos a intencionalidade das suas ações, ou seja, nas atividades que o professor realizar deve haver um objetivo a ser alcançado, uma proposta de mudança, transformação.
A sincronicidade acontece quando o coletivo da escola faz uma reflexão sobre as suas práticas de ensino, a partir desta atitude chegar até a uma reformulação da organização da instituição podendo modificar até o projeto político pedagógico da escola. Mas isso só pode acontecer "Se essa intencionalidade pudesse ser engendrada com as intencionalidades de outros educadores, seria possível se pensar na efetivação de um projeto político-pedagógico da escola". (PLACCO e ALMEIDA, P.97. 2002).
Está é uma das funções do coordenador pedagógico, Segundo as autoras
"relativa ao papel do coordenador pedagógico-educacional e de seu inerente papel de formador de professores, faz-se necessário ressaltar a presença da sicronicidade no professor e as possibilidades de, por meio do trabalho formativo do coordenador, auxiliar o professor a tomar consciência das dimensões envolvidas em sua prática, o privilegiamento de uma ou outra dessas dimensões que, a cada momento, o desempenho do professor concretiza e a impossibilidade desse privilegiamento, no entanto, negar as demais dimensões". (PLACCO e ALMEIDA, P.99. 2002).
O coordenador pedagógico pode despertar no professor a intencionalidade das suas ações e chegar até a estabelecer uma relação de sincronicidade entre os atores que fazem a escola. Mas para isso acontecer o coordenador pedagógico deve ser o mediador do processo de reflexão do docente perante a sua prática, isso pode levar a construção da sincronicidade. A sincronicidade, assim concebida, representa um processo interno, mediador da ação pedagógica. Mas essa função mediadora só resulta em mudança da prática docente se a sincronicidade for ampliada e ressignificada em processos conscientes e crítico. (PLACCO e ALMEIDA, P.99. 2002).
Mas, antes que a sincronicidade seja estabelecida na instituição, o coordenador pedagógico deve se comprometer a estimular nos docentes a reflexão das suas ações durante os encontros periódicos que acontecem entre a coordenação e os docentes e/ ou na formação continuada, que são os campos de trabalho onde o coordenador pedagógico atua, para daí estimular esses profissionais a desenvolverem a intencionalidade não só em sala de aula, mas nas contribuições que os docentes oferecem na instituição como um todo.
Dessa forma, através da reflexão de todos que atuam na escola, o trabalho desses profissionais da educação terá um objetivo coletivo em prol da escola e isso resultará na sincronicidade.
O trabalho de desenvolver a intencionalidade do professor nas suas ações e a sincronicidade de todos da escola através de um objetivo único, que pode ser o desejo de mudança da própria organização escolar, como, na postura do professor diante da realidade que o aluno está inserido, pode proporcionar ao próprio professor uma autonomia, pois estes profissionais irão refletir sobre as suas ações práticas em sala de aula e a partir daí irão planejar as suas aulas com a finalidade envolver os alunos na aula e construir conhecimento coletivamente.
Mas, ao mesmo tempo em que o professor começar a desenvolver a autonomia, também deverá começar a trabalhar em grupo, já que para se tornar uma sincronicidade todos devem está juntos por uma única causa.
Esse trabalho dever partir do coordenador pedagógico, ou seja, o mesmo deve trabalhar esses aspectos com os professores (a importância do trabalho em grupo e o desenvolvimento da autonomia).
O coordenador pedagógico deve ter consciência de que o professor não fará uma reflexão apenas da sua prática de ensino, mas também do ambiente escolar como um todo e dos fatores externos que influenciam o interior da escola, já que uma coisa não pode ser separada da outra. Um exemplo disso são as drogas, a sexualidade, a violência familiar e urbana. O professor deve levar em consideração todos esses fatores (o ambiente externo e o interno), pois lidamos com seres humanos e o comportamento destes pode ser influenciado diante do contato com os fatores externos.
Por conta disso que o coordenador pedagógico deve trabalhar com os professores esses problemas que acontecem na escola com a finalidade do docente compreender que esses assuntos devem ser trabalhados, estudados, analisados e inseridos na prática docente, por fazerem parte da realidade e da vida de muitos alunos. Isso pode ser trabalhado pelo coordenador pedagógico durante as reuniões que os professores têm com a coordenação pedagógica e nas capacitações e formações continuadas também. Vale salientar que este é um trabalho contínuo e ajudará na relação professor ? aluno.
"Enfim, percebe-se a possibilidade de o conceito de sincronicidade - e a sua consciência - ser um instrumento útil para o trabalho de formação continuada de professores, a ser realizado pelo coordenador pedagógico-educacional. Esse conceito, por incluir dimensões da pessoa inteira, possibilita a mobilização de aspectos diversos da formação, desde a autonomia e parceria dos professores no processo de ensino-aprendizagem, até o aprimoramento de relações pessoais, intra e inter-grupais; desde o desenvolvimento de hábitos de estudos do professor, até sua possibilidade de intervir na formação de seus alunos quanto à sexualidade e à prevenção ao uso indevido de drogas; desde a formação científica contínua, até o conhecimento e o compromisso com o desenvolvimento social, emocional e cognitivo dos educandos, nas diferentes faixa etárias; desde o aprimoramento das relações professor-aluno, até a construção de um espaço individual de desenvolvimento dos professores". (PLACCO e ALMEIDA, P.102. 2002).
O coordenador pedagógico deve ter ciência de que o desenrolar do processo da sincronicidade e do desenvolvimento da intencionalidade nos docentes não é um trabalho fácil, pois sabemos que estes dois processos acontecem de forma contínua, através de reuniões entre a coordenação pedagógica e os professores, podendo acontecer também nas capacitações e na formação continuada.
Mas esta continuidade pode ser interrompida e a regularidade do processo pode deixar de acontecer, por que existem profissionais da área de educação que preferem não mudar a sua prática em sala de aula, por vários fatores, como a falta de necessidade de modificar a sua prática pedagógica por medo do novo ou mesmo pela falta de informação, dessa forma, concluímos que este trabalho tem altos e baixos, ou seja, pode ocorrer evolução, estagnação ou um atraso na formação e no andamento dos processos de sincronicidade e da intencionalidade despertada no professor.
Diante disso:
"O coordenador não pode supor que as transformações da prática possam ocorrer de maneira contínua e regular, e na direção previamente estabelecida, mas haverá sempre, no cotidiano, um movimento que envolve idas e vindas, circulares, saltos, evoluções e retrocessos, no tempo e no espaço em que essa prática se realiza. Nesse movimento é que se pode identificar e confrontar a consciência da sincronicidade dos educadores". (Placco e Almeida. P. 103, 2002).
Em relação ao que foi dito acima e no parágrafo anterior, pode-se verificar que a 2ª coordenadora entrevistada passou por um dos problemas relatados nesses parágrafos, pois alguns professores dos quais ela tentou fazer intervenções nas suas práticas não admitiram que tivesse necessidade de mudar, ou até começaram a modificar a sua prática pedagógica, mas não finalizaram o trabalho planejado. Ou seja, houve diálogo para definir o que seria necessário mudar na prática do docente e como deveria ser feito este trabalho, porém o mesmo não seria concluído, já que, o professor começaria se disponibilizando e se abrindo para o novo e começaria a colocar em prática os frutos dos encontros com a coordenadora, mas depois retomaria a sua prática anterior sem ter acrescentado na sua experiência profissional o que construiu com a coordenadora, isso é a prova que não houve a construção da sincronicidade. Como lemos nesse trecho da entrevista:
"A resistência dos professores é um problema que acontece que acontece não profissão, pois alguns professores não aceitam que se façam intervenções nas suas práticas, ou seja, não aceitam que apontemos algum problema, assim acaba se formando uma barreira entre o professor e o coordenador. Em alguns casos essa dificuldade é superada em partes, alguns escutam e fazem novos planejamentos."
Outra função do coordenador pedagógico é a sua participação ativa na construção e na aplicação do Projeto Pedagógico, podemos verificar que as duas entrevistadas trabalham com projetos, porém a 2ª entrevistada tem uma maior atuação nesta área, desta forma, podemos concluir que o coordenador pedagógico
"A supervisão participa do Projeto Pedagógico da Escola, da sua elaboração ? os componentes estruturais, conceituais, os fundamentos, finalidade ? e da sua utilização, como referência, não só do que é, mas também do que se pretende que seja a trabalho educativo". (Rangel, em FERREIRA, 1999, p.93).
2.2 Principais dificuldades e estratégias de superação
De acordo com as entrevistas feitas com as coordenadoras podemos destacar algumas dificuldades encontradas por elas nos seus respectivos ambiente de trabalho. A coordenadora da escola municipal de Jaboatão dos Guararapes apresentou ao nosso grupo que uma das suas maiores dificuldades é fazer interferência nas aulas dos professores, diante disso, podemos concluir que esta atitude dos professores é fruto de uma concepção arcaica sobre o papel do supervisor. Isso pode ser percebido quando a própria coordenadora fala na sua entrevista sobre a época em que assumiu o cargo na coordenação, pois ela disse que no momento não tinha ninguém qualificado com interesse de ocupar o cargo de supervisão a não ser ela mesma.
Um dos motivos para isso pode ser algumas atribuições que ainda são classificadas como sendo funções do supervisor, um exemplo, é a responsabilidade deste profissional em supervisionar todas as atividades dos docentes e a visão que se tem sobre o supervisor como um cargo de chefia e uma pessoa que é mais capacitada em relação aos docentes. Esta visão dos professores só poderá ser mudada se a própria coordenadora pedagógica refletir sobre a relação professor- coordenação e apartir daí tomar consciência de que alguns mitos sobre a supervisão devem ser desfeitos, como por exemplo, o supervisor sendo um vilão que está no ambiente escolar como os olhos do diretor e não como um colaborador no processo de ensino/ aprendizagem. Mas, para a coordenadora conseguir que os professores entendam o papel do supervisor é preciso que ela também tenha ciência da importância de esclarecer esses pontos com os professores. A coordenação também deve levar em consideração não só as dificuldades dos alunos, mas também os problemas dos professores não podem ser deixados de lado, já que está lidando com seres humanos e as suas dificuldades podem atrapalhar o desempenho do seu trabalho.
Dessa forma, a coordenadora deve mostrar aos professores que a sua função na escola é ter uma visão de todas as atividades específicas e a partir desta posição privilegiada fazer uma articulação entre todas as atividades que promovem o desenvolvimento do processo de ensino/ aprendizagem. Diante disso a coordenadora deve deixar claro que, no trabalho entre os docentes, a coordenação visa atingir o objetivo comum, que será a aprendizagem dos alunos, por isso, esse é um trabalho entre iguais não uma hierarquia.
3. Considerações finais
O pedagogo não é preparado para um trabalho unicamente escolar, mesmo sendo esse o foco de sua formação. A entrevista da coordenadora da GRE é riquíssima, pois nos mostra outra forma de trabalho do pedagogo que assume a função de coordenador pedagógico.
Se analisarmos as duas entrevistas e pontuarmos as diferenças, estaremos aqui cometendo um grande erro, pois tratam - se de duas atuações diferentes, entretanto, ambas têm por objetivo melhorar o ensino-aprendizagem dentro do Sistema Público.
4.Referências
? FERREIRA, Naura Syria Carapeto (org). Supervisão educacional para uma escola de qualidade: da formação à ação. São Paulo: Cortez, 1999.
? FREIRE, Paulo.Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1970.
? GIANCATERINO, Roberto. A supervisão educacional: mudanças sob olhar de uma educação libertadora. Disponível em http://www.meuartigo.brasilescola.com/educacao/a-supervisao-educacional-mudancas-sob-olhar-uma-educacao-.htm, acesso em 29/12/2010.
? LIBÂNEO, José Carlos.(org) Educação escolar: políticas, estrutura e organização. 2.ed. São Paulo: Cortez,2005.
? OLIVEIRA, Dalila Andrade (org). Gestão Democrática da Educação: desafios contemporâneos. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.
? PARO, Vitor Henrique. Gestão democrática da escola. 3.ed. São Paulo.SP: Ática, 1997.
? PILETTI, Nelson e PILETTI, Claudino. História da educação. São Paulo: Ática,1997.
? PLACCO, Vera Maria Nigro de Souza & ALMEIDA, Laurinda Ramalho. As Relações Interpessoais na Formação de Professores. São Paulo: Loyola, 2002.