O Conteudo do Kérygma Cristão
Por Luís Espinhosa | 14/08/2009 | ReligiãoLuís César Alves Espinhosa
O Conteúdo do Kérygma Cristão
Trabalho monográfico apresentado ao curso de Bacharel em Teologia do Seminário Teológico "Rev. Antônio de Godoy Sobrinho", como requisito parcial à obtenção da graduação em Teologia.
Orientadores:
Prof. Ms. Rev. Silas de Oliveira (relator)
Prof. Ms. Rev. Carlos Jeremias Klein
Prof. Ms. Rev. Reginaldo von Zuben
Prof. Rev. Uriel Silveira
Londrina
2004
De acordo com informações obtidas na própria Escritura Sagrada, é notório que o Deus criador continua amando a sua criatura e, por isso, cria dispositivos para conduzir seu povo e meios para trazê-lo novamente pra junto de si. Uma das formas presente nas Escrituras e pela qual Deus se revela ao ser humano, é o Kérygma ou o anúncio da salvação tanto no Antigo como no Novo Testamento.
A proposta deste trabalho é a de tentar esclarecer qual o conteúdo do Kérygma Cristão. No entanto, sabe-se que não é tão simples quanto parece, levantar bibliograficamente qual seja o real e verdadeiro conteúdo do Kérygma Cristão. Levando em consideração essas dificuldades é que esta pesquisa terá como ponto de partida a abordagem do tema a partir da história de Israel e da ação misericordiosa de Deus na vida do seu povo.
O estudo do Kérygma Cristão encontra mais suporte epistemológico no Novo Testamento, onde a raiz desta palavra é encontrada e seu significado está mais próximo da abordagem bíblica na qual pretende-se chegar com este trabalho monográfico. O Kérygma consiste no ato da proclamação das boas notícias de salvação da parte de Deus e também em contrapartida no juízo e na condenação para os que praticam a impiedade contra o semelhante.
É certo que este termo só tem condições de ser mais bem compreendido no âmbito da Igreja, através das formulações teológicas que foram surgindo ao longo dos tempos. Portanto, na Teologia Sistemática encontra-se bastante material de origem Reformada que subsidia esclarecimentos e até mesmo aplicações concretas de qual deve ser o conteúdo do kérygma Cristão para os dias atuais. Por exemplo, em Barth tem-se a ênfase de que o Kérygma deve ter como ponto de partida a epfania de Cristo como revelação suprema e a própria Palavra de Deus encarnada.
Em última instância, o objetivo deste é recolocar o anúncio do A.T. e N.T. analogicamente ao contexto latino-americano, visto que o conteúdo do Kérygma para ambos é muito semelhante, bem como a cultura da opressão e da pobreza em que viviam os antigos israelitas subjugados por nações mais poderosas.
Nesta perspectiva, vê-se que para a Teologia Latino-americana o conteúdo da proclamação não é apenas estático ou dogmático como para a Teologia sistemática, mas é a teologia do acontecer, onde a Palavra se torna ação entre os pobres e excluídos no mundo. A pregação se torna uma forma de defesa em favor dos pobres, da mesma maneira que foi também para o povo de Deus na Bíblia e para o próprio Cristo "pobre". O anúncio salvífico semelhante ao do AT tem a função de enfraquecer poderes, como o da morte e potencializar o valor que é dado à vida.
1.1 O Kérygma como Anúncio de Salvação nos "Credos" de Dt 6;26 e Js 24
Julga-se necessário conceituar biblicamente a palavra kérygma (kh,rugma), tanto no Antigo, como no Novo Testamento.
De acordo com Coenen[1], kérygma provém de um grupo de palavras que possui a sua raiz no termo grego kerýsso, que pode ser encontrado vastamente no Novo Testamento significando: "..."anunciar", "tornar conhecido", "proclamar (em voz alta)"..."; outro termo que também pertence a este grupo é o "...kéryx, "arauto"..."; e por fim, a palavra que está em tela: kérygma, podendo significar,"..."proclamação", "anúncio" e "pregação"...".
Dando continuidade à conceituação, tem-se a salientar que o substantivo kérygma:
...se emprega, assim como outras palavras com a mesma forma, para descrever ou o fenômeno de Kéryssein, i. é, o "retinido" da voz do arauto, o ato de gritar alto..., ou, do outro lado, o conteúdo da proclamação assim feita, o "anúncio", o "edital"... Este conteúdo pode ser qualquer coisa entre um mero "relatório... e um "mandamento" autoritativo...[2].
Baseados nesses dados supracitados, o kérygma é o ato de proclamar tanto no Antigo como no Novo Testamento, porém este trabalho compreenderá exclusivamente o estudo do conteúdo do que é proclamado ou anunciado.
Para abordar o tema do Anúncio de Salvação no Antigo Testamento é imprescindível que começar a partir do Deuteronômio (Dt), visto que diz respeito às primeiras elaborações teológicas do povo de Israel.Segundo Von Rad, O Dt nada mais é que um artístico mosaico de pregação múltiplas sobre os mais variados assuntos, a síntese de uma vastíssima atividade de pregação[3].
Segundo Croatto, a partir do Dt não nascem apenas novas tradições religiosas, mas
originam-se também assim, em Israel, os <<credos>> ou confissões de fé que narram a história sagrada, desde a eleição dos Pais até à entrada na posse da terra da Promessa (cf. especialmente os <<credos>> de 6:20-25 e 26:5-10). Tais profissões de fé, próprias dos ambientes <<deuteronomistas>> (cf. também Josué 24:2-13) representam o quérigma básico da religião de Israel...[4].
O Kérygma como anúncio de salvação é desenvolvido no Dt a partir das idéias de que céus e terra pertencem a Javé, o Deus de Israel, sua possessão, e de que esse Deus Javé, amou a Israel e prometeu-lhes a posse da terra de Canaã (Dt 6,10;7,8;10,14ss). Este conceito de salvação no AT era compreendido a partir do conjunto das disposições benéficas de Javé em favor de Israel, e isso culmina na idéia de um "paraíso terrestre"[5]. Von Rad o chama de "nahalâh", ou seja, uma terra que vai proporcionar ao povo tranqüilidade, livramento e abrigo dos inimigos que rodeavam o povo de Israel. A idéia de "nahalâh"
procede do direito sagrado ao solo e designava originalmente o território destinado por Javé a cada tribo ou família"... "Pelo menos, sob todos os pontos de vista, é o fundamento mais do que suficiente da salvação do povo de Deus, pois é onde Israel espera repouso e libertação de todos os inimigos...[6]..
O cuidado de Javé para com o seu povo é tão intenso que se pode notar no credo de Dt 6 o apelo do pregador ao povo, que no momento histórico em que foi compilado o Dt estava se distanciando do seu Deus, justificando assim o conteúdo do kérygma deuteronomista, ou seja, a ênfase no sentimento e no coração dos ouvintes para a aceitação dos mandamentos. O objetivo dos pregadores é tornar compreensível e visível a vontade de Javé para com o povo; a Israel não resta outra alternativa sensata, senão amar a Javé de todo o coração e com toda a alma, servindo-o e cumprindo os seus preceitos[7].
Em Dt 26,5-9, dispõe-se da considerada mais antiga profissão de fé israelita. Schreiner diz que se trata do "pequeno credo histórico", no qual proclama que Iahweh tirou Israel do Egito e o conduziu pelo deserto para a terra prometida, cujos frutos o israelita, descendente de um antigo seminomade sem terra, oferece agora ao seu Deus em ação de graças[8]. A partir deste ponto se pode notar uma resposta do ser humano ao Deus que lhes concede a salvação.
Segundo Von Rad, a ênfase que é dada na obediência aos mandamentos não funciona em detrimento do kérygma da salvação, porque segundo ele, o Dt não ensina um caminho legalista, mesmo porque, as palavras que aparentam impor alguma dependência da salvação relativamente à obediência, são precedidas da proclamação da eleição e do amor de Javé. Portanto os mandamentos são esclarecimentos do grande mandamento do amor por Javé e de apego exclusivo a Ele (Dt 6,4ss).
Uma vez apreendida a lei do amor de Javé por Israel, e a materialização desta salvação no "paraíso terrestre", com a fecundidade do homem e dos animais, paz exterior e grandeza política, Israel evoluiu no que diz respeito ao culto, porque, em tempos mais remotos, a fé em Javé não oferecia as mínimas condições de se estabelecer à ligação entre o seu Deus e os benefícios agrícolas. É por isso que o kérygma da salvação é correspondido com sentenças que tomam as formas litúrgicas, que segundo Ruppert, essa resposta do homem trata-se de um dos pontos mais interessantes da Teologia do AT. O homem reage espontaneamente por exclamações de louvor, de agradecimento, por votos e por orações litúrgicas.
Até aqui se nota que, Deus começou a cuidar da salvação de Israel muito antes de fazer qualquer exigência[9]. Croatto é mais claro ao descrever a iniciativa de Deus ao seu povo:
...Javé é um Deus cheio de bondade e de que a condição para se prolongar a sua presença salvífica é amá-lo. Temê-lo também, sem dúvida, mas por admiração. Um temor extático conducente à adesão pelo amor. E à Fidelidade[10].
É considerando este adendo que passa-se a analisar o conteúdo do kérygma também como denúncia-juízo para aqueles que não correspondem fielmente a Javé, deixando-se seduzir pelo politeísmo dos cananeus, fazendo lhes escapar o clima de salvação na terra boa, fértil e espaçosa.
Veja-se como, e em que termos, esse kérygma de denúncia-juízo é dado ao povo de Israel.
1.2 O Kérygma como Denúncia-juízo
A respeito da atividade profética, Von Rad[11] vai dizer que sua pregação era algo totalmente novo que jamais tinha sido ouvida em Israel, inaugurando aí, um regime totalmente novo de salvação. O kérygma profético é constituído de uma dupla proclamação, sobre o fim de Israel (denúncia) e sobre a restauração numa nova perspectiva da ação salvadora de Deus (juízo), que não era mais a simples continuação do passado. O que distingue a mensagem dos profetas de toda a teologia anterior fundada sobre a história da salvação, consiste em que eles esperam tudo o que é decisivo para a existência de Israel, a vida e a morte, dum futuro ato de Deus[12].
A partir dessa nova óptica, Javé não é apenas o dono dos céus e da terra, mas, é também o "Justo Juíz" de todos os povos, inclusive sobre Israel, ao qual acarretará maior responsabilidade diante das denúncias que lhe forem atribuídas. O profeta Amós proclama: "Ai daqueles que desejam a vinda do dia de Javé. Que tem convosco o dia de Javé? Ele é trevase não luz..." (Am 5,18-20).
O kérygma de denúncia nos profetas recai primeiramente, e na maioria das vezes, sobre os filhos rebeldes de Javé, aqueles que se perverteram e lhe viraram as costas. Conseqüentemente, a destruição não será mera fatalidade, mas ação punitiva de Javé, e dentro do plano geral do Deus de Israel, calculando, ao mesmo tempo, destruição e salvação redentora[13].
Segundo Schokel/Diaz, o kérygma de Isaías abrange dois grandes pontos: o problema social, durante os primeiros anos de sua atividade, e a política...[14], posteriormente. Sua mensagem é muito similar a de Amós no que tange às críticas contra a injustiça, luxo e o orgulho da classe dominante, que contrastava com um intenso culto a Deus. Isaías fala sobre o dia de Javé, como sendo Ele próprio que convoca seus santos para uma batalha, passa em revista pelo exército, ou seja, Javé vem combater e a chacina será terrível. O kérygma é anúncio de uma guerra, onde termina com um país desolado. Tudo isso para alertar sobre descontentamento e o eminente juízo de Javé, mas ao mesmo tempo, faz um apelo ao arrependimento do seu povo e a conversão dos maus caminhos (Is 1,17).
Este apelo à fé é contrastado com a função dada por Javé a Isaias, função de "endurecer o coração"[15] do povo (Is 6,10). A má vontade para escutar Javé é denunciada pelo próprio Isaías em 28,12 e 30,9.15[16]. Segundo Von Rad, essa idéia de que o próprio profeta é levado a endurecer o coração supõe a idéia de que a palavra de Javé é criadora, portanto, deve ser interpretada como um caso particular da ação histórica de Javé para com Israel, história da salvação.
Outros profetas se levantam para desmascarar o culto hipócrita. Tais como Amós, Oséias, Miquéias, Sofonias, Jeremias, Isaías e o Dêutero-Isaías, acusam o culto divino desvirtuado. Essa denúncia, em especial, não era coisa simples de emitir, afinal, o culto tinha um significado central para o povo, tornando-se um desafio ainda maior aos profetas em denunciar as incoerências.
As invectivas proféticas visualizavam os sacrifícios (Am 4,4.5;5,21-25; Os 5,6s;6,6;8,11-13; Is 1,10-17; Jr 14,17; Mq 6,6-8), porque os sacrifícios se haviam pervertido em obras mortas, mera formalidade institucional sem verdadeiro encontro com Deus, sem significação autêntica (Is 43,22-28). Ofertaram os sacrifícios com mãos manchadas de sangue! (Is 1,10-17)... Outras vezes é denunciado o culto hipócrita (Os 8,14; Mq 3,9-12; Jr 7,1-15; Is 66,1.2), e os demais serviços em torno do altar (Am 3,14; 9,1-4), porque o templo tornava-se "covil de ladrões" (Jr 7,1-15)[17].
Concluindo essa etapa sobre Denúncia-Juízo, vale ressaltar que o princípio de Justiça não é totalmente oposto ao de Salvação. Pode-se até dizer que são paralelos (Is 51, 8).
Embora cada ato de livramento contenha um elemento de juízo, aqueles que são julgados são culpados e, por isso, merecem essa justiça (cf. Sl 76.8s [9s.]). Nesse aspecto Deus cumpre sua responsabilidade de Redentor ao ser um Salvador... conhecido como "Deus justo e Salvador" (Is 45.21)[18].
A abordagem do tema agora no Novo Testamento é que o próprio Jesus é o portador do Kérygma do Juízo, porém acrescido de uma nova perspectiva, a dimensão Escatológica.
1.3 Jesus Cristo, Anunciador do Juízo
A afirmação "Jesus de Nazaré é o Salvador" está espalhada por todo o Novo Testamento. A narração da ação salvífica de Deus em Jesus Cristo, no Novo Testamento, pressupõe a experiência de Deus como salvador[19]. Considerando que anúncio de salvação é paralelo ao anúncio de juízo, no entanto o anúncio de salvação é eficaz quando se acredita nele; somente assim é possível romper as correntes e sair da prisão. É necessário ainda que alguém não só leve e transmita a mensagem da salvação, mas que, de acordo com os acontecimentos do Êxodo, aquele que leva a mensagem também deve sofrer. Este sofrimentodo mediador tem um significado determinante no anúncio de juízo no NT.
Não obstante o conteúdo do kérygma no AT, no NT não é muito diferente,
no centro da pregação neo-testamentária sobre o juízo está a espera de um juízo final cujo dia (Mt 10,15; 12,36; 2 Pdr 2,9; 1 Jo 4,17) foi estabelecido por Deus (At 17,30ss). Este dia traz a – SALVAÇÃO para os que crêem (Lc 18, 1-8; 2 Tes 1,5-10) e condenação para os inimigos da vontade divina...Este juízo incluirá todos os homens sem exceção (Mt, 11,20-24; 25,31-45; Lc 12, 17-21; Rom 2, 12-16)... O resultado do juízo é descrito de uma parte como – ALEGRIA eterna... de outra parte, como trevas...[20].
O elemento que crucialmente mudou no kérygma do juízo no NT é a ênfase cristológica, dando uma configuração ainda mais escatológica à proclamação. Jesus, de forma muito ampla nos sinóticos, anunciou a proximidade do juízo evidenciada nos sermões, como o da montanha (Mt 7, 24-27), na instrução aos discípulos (Mt 10, 28.33), no sermão escatológico (Mc 13), no discurso contra os fariseus (Mt 23, 13-35) e nas parábolas mais importantes (Lc 16, 1-8. 19-31; Mt 22, 11-13; 24, 37-39; 25). Através de todos esses textos, demonstra-se claramente que a era messiânica fora inaugurada e estava presente em Cristo.
Vale a pena ressaltar que, quando Jesus é chamado de "profeta", não se pode pensar no sentido profissional da palavra, mesmo porque nesta época já não existiam praticamente profetas no sentido judaico. Jesus é chamado de "o" profeta, ou seja, o último profeta que deveria cumprir toda a profecia no final dos tempos. Estritamente o profetismo a partir de Joel fica vinculado a um fenômeno escatológico, que reaparecerá senão no final dos tempos. Nisso consiste a autoridade de João Batista, realiza o que a esperança judaica aguardava há muito tempo: o despertar escatológico do profetismo...[21].
Jeremias chama este novo período, o novo kérygma, de "A Irrupção da Basiléia de Deus". João, como um bom asceta, pregou que o julgamento final estava para acontecer, mas Jesus, como já era mais aberto para o mundo, prega que a basiléia de Deus está a irromper-se, vinde vós, que estais cansados e sobrecarregados[22].
A vinda da basiléia[23] (reino) de Deus compreende a máxima do conteúdo kerigmático de Jesus. O conceito de basiléia não difere muito do conceito de soberania absoluta de Javé sobre os povos da terra, como também sobre o cosmos, trata-se da Soberania real de Deus. Esta máxima vai nortear os escritos dos três primeiros evangelistas, resumidos com as expressões: khru,sswn to. euvagge,lion th/j basilei,aj, "anunciar o evangelho do reino" (Mt 4,23; 9,35) e euvaggeli,sasqai, me dei/ th.n basilei,na, "anunciar a boa nova do reino" (Lc 4, 43; 8,1 cf. 9,2.60).
O kérygma cristão da Basiléia de Jesus em todas as suas formas pressupõe ,...o tempo da salvação, a consumação do mundo, a reconstituição da comunhão de vida que fora destruída entre Deus e o Homem[24]. Através dos símbolos, Jesus começa a anunciar o "já agora" da salvação, através das figuras da luz que brilha (Mc 4,21), da época da colheita (Mc 4,8), da figueira que está a brotar (Mc 13,28s), outras como vinho novo, pão e água da vida, todas elas representando que o dia da salvação é dia de claridade e fartura. Jesus não mostra os sinais da basiléia apenas em palavras, mas em atos.
Atitudes como as de quando Jesus expulsa os profanos do templo, revela que o santuário está sendo renovado, chegou a nova era. Outra atitude que manifesta a basiléia de Deus é o fato de Jesus proclamar as boas novas aos pobres, pequeninos:
para avaliar o que Jesus fez, quando comeu com "pecadores", é preciso saber que no oriente receber alguém em comunhão de mesa significa até os dias de hoje uma honra que quer dizer oferta de paz, confiança, fraternidade e perdão; em breve; comunhão de mesa é comunhão de vida... é anúncio público de reabilitação...no judaísmo em particular, comunhão de mesa é comunhão perante os olhares de Deus...[25].
Sem dúvida, essas são refeições escatológicas, celebrações antecipatórias do banquete salvífico do final dos tempos, ... quando o reino de Deus for erigido, não somente os corações serão purificados, segundo as bem-aventuranças, mas também os famintos serão fartos. O reino de Deus vem sobre o homem e abrange-o totalmente[26].
Para Bultmann, o ser humano só pode alcançar uma existência autêntica se houver uma resposta de fé à graça de Deus oferecida através do kérygma como proclamação cristã.
Essa afirmação, porém, nos leva de volta à visão de Bultmann sobre o Kérygma cristão e sua relação com a fé. Em concordância com Paulo, ele afirmava que o kérygma é a pregação da cruz e da ressurreição como evento salvífico, um evento que forma uma unidade inseparável. ... O que importa é o sentido da cruz e da ressurreição, o significado contínuo que possuem como Palavra de Deus dirigida aos indivíduos de nossos dias. Ao respondermos ao kérygma, a cruz e a ressurreição tornam-se nossa experiência pessoal[27].
O kérygma cristão da basiléia de Deus é veículo da graça, porém, atrelado ao anúncio da graça está o da desgraça, ou seja, a boa-nova é ofertada no último tempo da graça que precede o julgamento. Em Mc 13 vê-se uma profecia de desgraça, que descreve o tempo de maldição e angústia antes da última crise. Já em Lc 17,20-37 diz que o fim virá repentinamente. Mas isso é somente o princípio das dores, o que para Jesus deveria ser logo, afinal Ele mesmo ensina seus discípulos a orarem "que venha a tua basiléia". O apelo é à conversão (Lc 13,1-5), à penitência.
Ainda durante este intervalo da graça, a pregação de Jesus é de denúncia contra seus contemporâneos, isso Ele faz através de oráculos de desgraça, hebraísmos, mais conhecidos como "Ais". Profetiza contra todos os que se recusam a crer, semelhantes aos de Sodoma e Gomorra (Lc 17, 28-30), por isso emite os "Ais", "ai de vós, ricos..." (Lc 6,24-26). Os Escribas e Fariseus também são censurados por Jesus, o ai contra os escribas pode resumir-se numa só acusação: confiam no seu conhecimento teológico, sabem e pregam a vontade de Deus, e todavia não a realizam[28].
Já em vias de concluir este capítulo, ressalta-se as duas ultimas exigências de Jesus na proclamação escatológica do reino de Deus. Para resistir às catástrofes do final dos tempos, o indivíduo deve se converter, reconhecer a culpa (Lc 15,18), não só perante Deus, mas perante os homens, no pedido sincero de perdãoao irmão (Mt 5,23s; Lc 17,4) e na coragem de confessar publicamente os pecados. A segunda e última exigência do kérygma de Jesus é que a resposta ao seu apelo pessoal é a fé, elemento imprescindível, porque sem ele não há aceitação da oferta de salvação. E todo aquele que ouviu Jesus dizer: <<A tua fé te salvou>>, compreende que somente desta maneira pode vir o reino de Deus[29].
Assim sendo, neste capítulo sobre a teologia bíblica do tema proposto, levantou-se os argumentos que indicam que o conteúdo do kérygma cristão está alicerçado no Anúncio de Salvação e Denúncia-Juízo desde o Antigo Testamento, e no Novo Testamento compartilha basicamente a mesma óptica, porém com uma ênfase maior na escatologia, devido ao conteúdo cristológico.
2.1 A Ambigüidade e a Dinamicidade do Kérygma Cristão
Dando seqüência a este trabalho, porém agora fazendo uma abordagem sistemática do assunto, pode-se adiantar que para tratar do conteúdo do Kérygma cristão faz-se necessário o diálogo entre teólogos que se preocuparam com a doutrina da Palavra de Deus, e em especial com o seu anúncio.
Karl Barth representa uma das maiores vertentes sobre este assunto, a dos querigmáticos. Ele também é mais bem conhecido como o "teólogo da Palavra de Deus", por conseguinte, um dos estudiosos mais respeitados do século XX. Devido à sua ênfase teológica na Igreja e sua proclamação, não consegue ver outra forma de conceber o conceito de Kérygma senão atrelado à revelação da palavra e vontade de Deus. Isso se dá de forma equilibrada, ou seja, a pregação não é um ato neutro, nem uma ação entre dois sócios[30], mas ela deve conformar-se à revelação.
Baseado nesta análise de Barth o Kérigma significa então: o vir da epifania de Cristo e seguir para o dia do Senhor[31]. Assim sendo, a pregação já tem um pondo de partida definido, ou seja, a Palavra de Deus se fez carne, portanto, o próprio Deus tem se revelado no Filho com o intuito de restaurar a criatura humana decaída. No Cristo encarnado as nossas culpas são absolvidas de uma vez por todas e agora a humanidade é reconciliada com o Criador.
Outro teólogo, Bultmann, da mesma forma declarava que podemos conhecer a Deus apenas em resposta à revelação divina, que chega até nós através da Palavra de Deus, o Kérygma, dirigida a cada ser humano[32].
Com a finalidade de elucidar um pouco mais o assunto, ver-se-a o que Barth nos diz ainda sobre o Kérygma.
Para Barth, não dá para tratar corretamente sobre este assunto se não for invertida a ordem tradicional que Lutero criou, ou seja, não se deve usar mais "lei" e "evangelho", mas antes, quem quiser falar sobre este tema, deve falar primeiro em evangelho.
O evangelho não é lei, assim como a lei não é evangelho; mas por estar a lei dentro do evangelho, por ela partir do evangelho e mostrar para o evangelho, nós temos que saber primeiro o que é o evangelho, para saber o que é lei, e não vice-versa[33].
Nisso consiste uma das principais ambigüidades no conteúdo do Kérygmacristão revelado nos evangelhos. Esta mensagem não só nos pode consolar, curar, vivificar, não só ensinar e iluminar, ela também pode nos julgar, castigar, matar; e ela realmente faz tudo isso[34].
Segundo Barth o simples fato de Deus falar ao ser humano através do Evangelho, já representa, em última instância, graça,
justamente pela razão de o evangelho ter a graça como seu conteúdo específico e direto, o qual também encerra em si o conteúdo da lei, o evangelho recebe assim forçosamente a Prioridade ante a lei, a qual, estando encerrada no evangelho e relativamente a ele é não menos palavra de Deus[35].
Nota-se que em sua teologia, Barth concorda que na palavra de Deus contém tanto lei quanto evangelho. Uma vez que a lei é idêntica à vontade de Deus, só se tem acesso a ela em Jesus Cristo em quem a Palavra de Deus sendo feita, ou seja, quando sua graça é vista em ação a lei se manifesta no ser humano.
Barth chama a atenção para a fraqueza do ser humano na tendência de sempre enfatizar o anúncio do pecado e dos erros humanos, privilegiando de certa forma o juízo mediante a lei contida nos evangelhos, ou seja, colocando a lei antes do evangelho, porém segundo ele, mesmo sendo necessária essa denúncia, não se deve fazê-la sem mostrar que o pecado foi aniquilado e o erro destruído. "Pois, ou é verdade que o homem foi perdoado ou não há perdão completo. Não se pode falar de pecado senão como levado pelo Cordeiro de Deus"[36].Por outro lado, não se pode, fazer uma pregação onde o evangelho está separado da lei, porque sendo assim, não é cristã.
Braaten diz que a preocupação principal de Barth é que com a seqüência "lei" e "evangelho" poderia dar margens a equívocos, pois daria a impressão de que é sinônima com a sucessão do Antigo e Novo Testamento. Não obstante, a preferência do próprio Barth – evangelho-lei-evangelho – é ainda mais enganosa, vistoque embrulha a lei com o evangelho e obscurece o fato de que a lei e o evangelho são a mesma palavra de Deus[37].
Contundentemente, Teixeira diz que a lei é sempre necessária na vida do crente, porque lhe aponta as falhas e o leva de certa forma à contrição, e que os evangelhos procuram alimentar no crente a fé salvadora.
...Lei e Evangelho não significam o Velho e o Novo Testamento, como registro da divina Revelação e fonte das doutrinas cristãs; mas o fato de que, nas Escrituras, há o ensino de Deus sobre a conduta moral do crente, ensino esse em forma de mandamentos e proibições; e há também a proclamação da reconciliação entre Deus e o homem, operada pela obra redentora de Cristo, que é a mensagem do Evangelho[38].
No entanto, há de considerar que apesar desta dualidade, a Palavra de Deus revelada em Cristo sempre será a "palavra da verdade", a palavra do "Pai", que demonstra sua unidade no fato de ela sempre ser "... graça, graça livre e soberana, graça de Deus, a qual por isso também pode ser lei, também pode significar juízo, morte e inferno, porém graça, e nada mais"[39]. Isso remete à máxima da Reforma Protestante, ou seja, a pregação é um dos meios da graça de Deus se manifestar e onde o pacto da graça é administrado na nova dispensação[40].
Até aqui chega-se às seguintes conclusões, que tanto Barth, quanto outros autores que foram citados, concordam que há realmente no Kérygma cristão uma certa ambigüidade, Evangelho e Lei, ou vice e versa. Portanto, vê-se que esta ambigüidade não é negativa do ponto de vista em que são complementares. Até o próprio Lutero dizia que os termos não são importantes, mas que somente o conteúdo é decisivo.
O teólogo da Palavra, Barth, chega à conclusão de que esta combinação de Evangelho e Lei se concretiza com a própria figura da Palavra encarnada, Cristo. Com isso retorna-se ao nosso tema para relembrar que o conteúdo do Evangelho como kérygma é o próprio Cristo encarnado, ou seja, a eterna palavra de Deus em sua unidade com a carne não é somente a promessa, mas o cumprimento da promessa: a saber, que o arrependimento da pessoa é a sua salvação, que o justo viverá da sua fé[41].
Tillich, mesmo contemporâneo a Barth, não compartilha da mesma opinião teológica com respeito ao conteúdo da Palavra de Deus como sendo evangelho-lei-evangelho. Sem dúvida ele tem forte influência de Lutero – lei-evangelho. Lutero afirmou certa vez que a proclamação da lei é o pressuposto indispensável e necessário para a pregação do evangelho. Sem a lei não se teria capacidade de reconhecer a pecaminosidade humana.
Se nos defrontarmos com a lei ou com o evangelho depende de como a palavra de Deus nos encontra, como condenação ou como confirmação. Se embrulhássemos a exigência de Deus em sua graça, a palavra de Deus perderia sua seriedade e estaríamos em perigo de oferecer graça barata. ...A lei é a"obra estranha" de Deus que nos permite apreciar o evangelho como "obra própria". Embora funcionem de maneira bastante diferente, a lei e o evangelho são certamente a mesma palavra de Deus[42].
Uma das poucas variações do pensamento de Tillich ao de Lutero sobre este assunto é que Tillich não fez uso dos termos lei e evangelho como fórmulas teológicas explícitas. Ele não chega a formular uma doutrina sobre o assunto, porém desenvolve toda a sua teologia considerando esses dois termos. Segundo ele: ...antes de anunciar a mensagem cristã, o querigma, procura descrever a situação humana. A descrição dessa situação humana é a existência humana sob a lei; a resposta cristã oferece a nova possibilidade de vida sob o evangelho[43].
Braaten comentando sobre o ponto de vista de Tillich afirma que o pensamento bartiano defende que se deve falar antes de Cristo para depois analisar a situação atual do indivíduo. Isso para Tillich não é adequado, afinal a pergunta sempre deve vir antes da resposta. Em sua correlação entre filosofia e teologia baseava-se no confronto entre lei e evangelho, a lei como aquela que questiona e o evangelho como o que dá a resposta, ou seja, o evangelho é a resposta divina às questões da existência humana sob a lei. Portanto, os conceitos: "lei" e "evangelho" são respectivamente análogos à filosofia e teologia.Segundo Braaten:
Tillich acreditava que a "lei dos contrastes" na doutrina luterana de Deus ainda nos pode ajudar a corrigir a tendência da teologia protestante de racionalizar e moralizar a imagem de Deus. Essa lei dos contrastes expressa-se numa série de termos que devem ser mantidos numa relação de tensão dialética: por exemplo, o mistério oculto de Deus e sua revelação, a ira de Deus e seu amor, a obra estranha (opus alienum) de Deus e sua obra própria (opus proprium), o reino de Deus à sua direita e o mesmo reino à sua esquerda, etc[44].
Teixeira, ilustre teólogo brasileiro, e principalmente Presbiteriano Independente, já disse em sua Dogmática:
para que não desanime na luta, ...diante de sua consciência e da lei, há sempre o evangelho da graça para dar-lhe novas forças e reconquistar a paz em Cristo. O conteúdo e o resumo das escrituras, como meio de graça, constituem-se pela revelação que Deus fez de si mesmo em Cristo: o evangelho é o fim da lei[45].
Antes de concluir este tópico, vale a pena mencionar que Tillich discorda de Lutero e Boehme quando da atribuição ao diabo como agente da ira de Deus. Tillich entrou nesta tradição – misticismo medieval tardio – protestando contra a superficial e reduzida imagem de Deus visível que agora era a imagem do pai amoroso do protestantismo do final do século XIX. TILLICH não achava que o símbolo da ira de Deus fosse mera imagem fora de moda da mitologia primitiva que pudesse ser apagada da nossa imagem de Deus[46].
Por fim, em se tratando de uma questão prática, é pertinente ficar com a análise que Braaten faz da proposta de Tillich de que a boa teologia deve manter um equilíbrio constante entre o não do juízo e o sim da graça divina.
A teologia deve ir ao encontro da situação humana não para negá-la, mas para dar-lhe uma resposta. Por isso, as relações entre teologia e filosofia não são de separação nem de contradição, mas sim de correlação: perscrutando o Kérygma, o teólogo responde aos problemas colocados pelo filósofo[47].
Portanto o kérygma cristão é ambíguo e dinâmico, e em meio a esta riqueza de conteúdo pode-se encontrar as respostas para as indagações mais profundas do ser humano.
2.2O Kérygma Cristão como Automanifestação da Graça de Deus
Conforme mencionado, a proclamação é também uma forma pela qual Deus manifesta a sua graça à humanidade. Se for considerado o ponto de partida da pregação que, segundo Barth, Deus tem se revelado em Jesus Cristo. Esta premissa fornece prova suficiente de que esta iniciativa não é outra senão a automanifestação da graça de Deus. Afinal é em Cristo que a humanidade pode experimentar a reconciliação para com o Criador, portanto a pregação por mais que tente se abster, não pode fugir da mensagem da graça.
Por conseguinte, temos que falar sobretudo desse conteúdo do evangelho. A graça de Deus, que constitui esse conteúdo... Esta é a graça de Deus: que ele não só concedeo humano ser de todos nós, mas que em Jesus Cristo ele dá o próprio humano ser de Deus, o humano ser de sua palavra, e nele, neste seu rebaixamento ã nossa baixeza, concede a presença de seu ser-Deus para nós outros, nossa parte em seu ser-Deus, nossa elevação em direção a ele[48].
O tema da graça foi, na verdade, o que embalou um dos eventos mais relevantes na história da igreja cristã, a Reforma Protestante. Este tema foi desenvolvido mais propriamente por Lutero que deu ênfase na Palavra como meio da graça central na Igreja porque, até então, somente os sacramentos eram considerados símbolos da graça divina, restando à palavra apenas o caráter de lei e doutrina. Não é por menos que Lutero considerava o conceito medievaldos meios de graça como degradação da Palavra. Aulén afirma que toda a obra da Reforma está vinculada à descoberta de que a Palavra que Deus fala aos homens é o meio através do qual sua graça – isto é, o amor perdoador e vivificador – alcança o homem[49].
Lutero lança o seguinte questionamento:
Que Palavra é essa que tão grande graça concede e como deverei usar tal palavra? Eis a resposta: A Palavra não é outra coisa que a pregação de Cristo, segundo está no Evangelho; dita pregação há de ser – e o é realmente – de tal maneira que, ao ouvi-la, ouves Deus falar contigo...[50].
A Palavra como meio de graça significa para a fé cristã a autocomunicação do amor divino na forma de mensagem[51]. Com esta afirmação, Aulén quer dizer que o kérygma cristão é portador da graça e do amor de Deus, revelados juntamente no seu Cristo. Não é por menos que Lutero considera a pregação a parte central do culto e o ato da pregação como até mais importante do que apenas a leitura das Escrituras. Tamanha era a importância da pregação para ele que, na sua opinião, na medida em que os sacramentos excluíam os membros banidos da igreja, a pregação, ao contrário, tinha o poder de uni-los novamente e agraciá-los da mesma forma que com os demais comungantes. Afinal "a fé vem pelo ouvir, o ouvir pela palavra de Deus..." (Rm 10.17).
Quando Bultmann refuta a ênfase demasiada que se dava à questão do Jesus Histórico, que segundo ele, não existe mais possibilidade real de se levantar nenhuma informação útil para a fé, chega a dizer que:
É o kerygma ou a mensagem da igreja primitiva que é essencial a fé. ...até mesmo o Novo Testamento, na posição de documento de proclamação da igreja primitiva, concentra-se no Cristo do Kérygma e não nos fatos relativos ao Jesus Histórico. ...A fé não é o conhecimento de fatos históricos, mas a resposta pessoal ao Cristo com o qual nos deparamos na mensagem do evangelho, a proclamação do agir de Deus em Jesus. ...Nessa situação, a fé só pode ser uma dádiva da graça de Deus, vinda até nós no kérygma[52].
Latourelle também fala sobre a importância do kérygma como este veículo que proclama uma mensagem que, ao mesmo tempo em que liberta o ouvinte, também o impulsiona na direção e no conhecimento deste Deus que se automanifesta favorável ao ser humano.
... a pregação é necessária e insubstituível, pois a fé é necessária para a salvação e a fé repousa sobre a pregação da salvação. Para que Cristo seja conhecido e o Pai glorificado, é preciso que haja lábios que anunciem a palavra. Mas, como invocarão a Deus "em quem não crêem? E como hão de crer naquele de quem não ouviram falar? E como hão de ouvir falar dele, se não houver quem pregue?... A fé, portanto, vem da pregação e a pregação é feita por mandato de Cristo" (Rom 10,14-17) ...O que o pregador transmite não é um sistema de pensamento (matéria de ensino que poderia transmitir sem se comprometer pessoalmente), mas uma mensagem de salvação, ligada a um acontecimento que muda o sentido da existência humana em primeiro lugar a existência do próprio pregador.[53]
A Palavra como meio da graça, tanto as Escrituras como a palavra oral, centraliza-se naquele que é o "Verbo". Esta palavra é para a fé expressão direta da voz de Deus que fala aos homens, é o próprio amor divino que age nessa mensagem e que na graça e no julgamento se aproxima do homem diretamente. Ela vem em forma de palavra humana, mas é a Palavra do próprio Deus[54].
Para Buttrick, a Palavra de Deus falada constitui a comunidade, pois a Palavra de Deus sempre se torna carne. Através da nossa pregação, o próprio Cristo continua falando à Igreja, nesse sentido a pregação é graça: "eu falo, contudo não eu; Cristo fala através de mim". O mistério da pregação é, assim, mistério da graça[55].
Até aqui entende-se que o kérygma cristão só tem validade enquanto acontecimento. É assim que a Palavra de Deus pode causar algum efeito na vida do ser humano, não apenas como um compêndio de códigos e leis, mas como palavra pregada e vivida pelo portador desta mensagem. A palavra de Deus só é realmente palavra de Deus, quando acontece aqui e agora. Dessa forma a pregação da Palavra faz com que a graça de Deus aconteça de forma previdente, que já tem atuado em nosso favor. A graça atuante é agora acontecimento escatológico[56].
Na eminência da passagem para a próxima fase deste trabalho monográfico, a Teologia Latino-americana ressalta o fato de que a Reforma Protestante do século XVI, da qual todos têm conhecimento, foi uma importante oportunidade de libertação na Europa Ocidental da época. Foi um movimento de sensibilidade à voz do Espírito de Deus pelo qual o Evangelho se revelou como uma expressão de poder transformador e libertador.
3.1 O Kérygma Cristão em Favor do Pobre
Como foi visto anteriormente, a Teologia Sistemática, tanto protestante como católica, esteve totalmente intelectualizada e centrada, de certa forma, no dogmatismo.A partir dessa situação da teologia, a palavra de Deus esteve como que vinculada diretamente ao discurso teológico humano: o teólogo dizia o que Deus dizia. Foi gerada uma certa auto-suficiência nos teólogos que nessa altura, já possuíam a ingênua certeza de que no discurso teológico coerente, Deus invariavelmente estava falando através da boca dos homens. Segundo Comblin, os teólogos dialéticos do século passado, ao perceberem que o modernismo estava provocando o esvaziamento das teologias cristãs,
voltaram a uma palavra voluntariamente arcaica. O arcaísmo bíblico forneceu a imagem de uma transcendência divina. A palavra bíblica restaurada na sua letra ou reinterpretada no seu espírito (presumido) permitiu restabelecer a diferença entre as palavras humanas e as palavras de Deus... Era preciso submeter-se total e cegamente à autoridade das palavras bíblicas e rejeitar categoricamente a intromissão da crítica racionalista[57].
A Teologia Latino-americana, ao contrário da teologia dialética do século XX, que basicamente foi denominada a Teologia da Palavra, é a Teologia do Acontecer. Tudo isso devido ao questionamento deste conceito de palavra, que segundo os iconoclastas de 1961, não se encontrava na Bíblia, pelo contrário, a Bíblia ensina que Deus se dá a conhecer nos acontecimentos. Cristo é o principal exemplo de palavra acontecida de Deus à humanidade. Portanto, a teologia Latino-americana ...há de estudar a história, perscrutar os acontecimentos. Somente acompanhando o desenrolar dos acontecimentos é que ela poderá descobrir a presença de Deus no mundo[58].
Havendo necessidade de ouvir o Kérygma de Deus e conseqüentemente, se ter um encontro genuíno com Ele faz-se necessário caminhar pela história deste mundo, participar da esperança da história, trabalhar e lutar para um mundo diferente. Deus revela-se na esperança ativa da ação transformadora do mundo[59].
O kérygma da Teologia da Libertação continua sendo o da Palavra encarnada, Cristo; porém, com uma diferença básica, é que essa Palavra não apenas se fez carne, mas também se fez pobre. Dessa forma o anúncio de um Cristo que era pobre, fraco e que foi morto crucificado, o clamor dos pobres encontra nele a sua identidade. Portanto, fazer teologia Latino-americana é mergulhar no contexto dos pobres e excluídos, porque afinal Deus se revela na história humana e esse é o espaço do nosso encontro com ele.
Na experiência religiosa latino-americana Deus emerge essencialmente como o Deus da Justiça para o pobre, da Esperança para o desesperançado, da Libertação para os oprimidos, do Futuro para os sem-saída, da Consolação para os reprimidos pela violência... Deus só é real e significativo para a existência humana se ele se revelar, como sempre se revelou nas Sagradas Escrituras, como o Sentido radical da vida, como Aquele que é a Esperança do homem no desamparo, como Aquele que promete liberdade e justiça aos oprimidos e como o Futuro definitivo e último do homem[60].
Como já dito anteriormente, o significado da Palavra para a Teologia Latino-americana é o acontecimento, a palavra é meio de ação. A maneira do Cristo encarnado é a do mais pobre e aparentemente mais fraco no mundo, talvez seja por isso que tenha sido escolhido por Deus como a forma de manifestação da sua vontade.
Mesters em analogia ao "canto do servo" de Isaias levanta o fato de que o povo escolhido por Deus para levar libertação a todas as nações era um povo sofrido e oprimido. Um povo que conheceu a dor de perto e que de tão explorado chegou até a entregar os pontos, era a sobra do mundo, escravizado por Nabucodonosor. O povo é comparado ao Servo, que apesar de machucado, ele não machucava; apesar de oprimido, não oprimia; apesar de injustiçado, não respondia com injustiças[61].
Ora, quem vive assim, mesmo que não saiba de nada, é um anúncio vivo da Boa Notícia que Deus tem para todos. Quem vive assim, mesmo sem o saber, promove o direito e é semente de resistência contra a opressão. Ele merece a preferência do coração de Deus![62]
Quando se diz que o Kérygma é a defesa em favor do pobre, relaciona-se isso com o fato de que a Palavra também foi a única defesa do Cristo pobre que nem era escriba, nem fariseu, nem funcionário letrado, nem ancião com grandes propriedades. Ele sai de Nazaré. ...Um homem que não tem outro poder a não ser o das palavras[63]. Um exemplo claro da condição social dos primeiros cristãos é o fato de que a evangelização que lhes foi outorgada por Cristo foi feita de baixo para cima, foi feita pelos pobres, até alcançar a elite do Império Romano. Não é por menos que não se possui muitos documentos sobre a evangelização do Império Romano nos primeiros séculos, os pobres não deixam muitos documentos da sua atividade.
Gebara, escrevendo sobre a profecia na vida do povo no Nordeste brasileiro, salienta:
Hoje, na América Latina e em particular no nordeste brasileiro, a profecia não é apenas um fenômeno individual, mas um fenômeno coletivo. Não é apenas uma pessoa que fala em nome de Deus e clama pela restauração da justiça, mas é o povo organizado que profetiza, que exprime através de sua vida as exigências da palavra, que denuncia a partir da própria situação, no sofrimento de sua carne, no clamor organizado, na reivindicação justa dos caminhos por onde deve passar a justiça de Deus[64].
Segundo Comblim, o Kérygma ganha esse aspecto defensivo porque os pobres falam razoavelmente muito, facilitando assim o anúncio profético do exemplo de Cristo. Por isso o próprio martírio se tornou uma "arma" de defesa na proclamação, em meio aos cristãos da origem, havia até quem planejasse antecipadamente o discurso de defesa de mártir. O kérygma era proclamado através da expressão de sofrimento.
A Teologia Latino-americana se assemelha muito com o critério bíblico de interpretação da Palavra de Deus, ou seja, Deus fala através do Kérygma encarnado no pobre, na sua situação miserável. Portanto, para se compreender a voz de Deus é necessário se colocar
... à escuta dos sinais dos tempos e na fé de que o Espírito de Deus sopra onde quer e sua linguagem é múltipla e variada, seremos capazes de acolher e captar a profecia que acontece no meio dos pobres. É preciso ler essa profecia por dentro, com os olhos da fé, únicos e capazes de enxergar <<por trás>> dos acontecimentos, <<por trás>> das palavras[65].
Onde está, então, a força da palavra no meio de tanta fraqueza? Comblim responde: na Liberdade, onde a sua primeira expressão é a fé, fé em estado puro, fé na vida e na coragem e vontade de vencer. É dessa forma que Jesus Cristo, como o Kérygma de Deus, proporciona tanto motivação na sua identificação com o pobre quanto subsídios para possíveis reações às adversidades da vida e ao estado de opressão no contexto Latino-americano.
3.2A Contribuição da Igreja no Anúncio de Libertação
Quando se fala de contribuição, trata-se da participação fundamental da Igreja para proclamação da Palavra e para a população global.
A Igreja é fundamentalmente a comunidade organizada dos fiéis que no meio do mundo testemunha Jesus Cristo ressuscitado presente dentro da história como inaudita antecipação de sentido, de futuro e de total realização do homem e dos cosmos incoativamente já agora dentro do processo histórico e definitivamente na plenitude dos tempos. Esta comunidade, enquanto consciência, representa uma elite cognitiva face àquelas que ainda aderiram a ela. Sua vocação entretanto não é elitista, mas universal e significa uma boa-nova destinada a todos os homens[66].
O papel da Igreja, no entanto, é o da proclamação da mensagem de libertação para um povo que em sua maioria vive oprimido social, econômica e politicamente. BOFF, afirma que:
O projeto fundamental de Jesus é, portanto, proclamar e ser instrumento da realização do sentido absoluto do mundo: libertação de tudo o que estigmatiza: opressão, injustiça, dor, divisão, pecado, morte; e libertação para a vida, comunicação aberta do amor, a liberdade, a graça e a plenitude em Deus.[67]
Neste sentido, entende-se que a Igreja é o povo de Deus portador dessa mensagem de esperança. A Igreja deve considerar o mundo como sua base ética, mesmo porque, ...a salvação é comunicada independentemente da Igreja. Ela também comunica a salvação. Mas outras realidades do mundo também a comunicam... Seu específico reside na sinalização da graça já presente no mundo[68].
O povo de Deus tem como tarefa a proclamação do Reino como a visão de um novo mundo e a celebração antecipada da vitória. Toda a opressão do povo latino-americano é o anti-reino, porque não está a favor da vida e um sinal inequívoco no ministério de Jesus é que o Reino é pró-vida. (...) Todo o ministério de Jesus proclama a vida, celebra a vida, defende a vida, restaura a vida, promete a vida.[69] A pregação profética dá um sentido derradeiro e absoluta realidade. Em nome dessa libertação a morte perde os seus poderes.
Neste caso, o anúncio deve ser uma luta em favor da vida contra toda força contrária onde a opressão promove a morte. Para Deus, nada é mais precioso do que a vida e o que abrange todos os aspectos dela: vida física, espiritual, emocional, psíquica, social e inclusive eterna. Sendo assim, o Kérygma proclama e celebra a vida, e a vida está acima de qualquer coisa.
A concretização da proclamação da Igreja, como portadora da mensagem, resulta na esperança do povo sofredor latino-americano, ele espera o fim da opressão e a igualdade e justiça social. A sua vontade é a resposta a esta esperança do povo oprimido, pois Ele diz: Bem aventurado os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos (Mt. 5:6).
Contudo, o papel de anunciar a boa-nova da parte de Deus no contexto Latino-americano é estar ao serviço do Senhor. Neste ponto não se deve esquecer novamente da analogia que Mesters faz do "canto do servo" em Isaías. Segundo ele os quatro cânticos de Isaías foram utilizados como um roteiro para o ministério de Jesus aqui:
Durante trinta anos , lá em Nazaré, junto com Maria sua mãe, Jesus viveu a condição dos pobres de Deus...Na hora do seu batismo, Jesus ouviu a voz do Pai... Assumiu a missão de Servo, e na sinagoga de Nazaré, apresentou o seu programa ao povo: <<Anunciar a Boa-Nova aos pobres... Começou a servir, anunciando a Boa-Nova do Reino de Deus...Jesus denunciava a injustiça do sistema dos fariseus... Incompreendido pelos amigos, mas vivendo o destino dos pobres, Jesus assumiu o quarto passo, o passo da paixão e do sofrimento... Como o Servo, Jesus foi condenado por um falso julgamento, sem testemunhas, sem defesa... <<Missão Cumprida>>... Mas o Pai o ressuscitou, confirmando assim que este é o caminho[70].
Neste caso, esta mensagem significa ao ser humano à conversão (metanóia). O chamado de Jesus à conversão implica principalmente numa mudança de atitude, de prática. É por isso que Jesus inicia seu ministério dizendo: O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho (Mc. 1:15), este texto revela o motivo do arrependimento, da conversão: a proximidade do Reino de Deus.
O homem ou a mulher convertida deve andar na contramão dos princípios éticos das convenções sociais humanas, que principalmente nesta sociedade capitalista de hoje, prioriza o egoísmo e o individualismo, e crer no evangelho e viver os princípios do Reino de Deus. Conversão significa o indivíduo tomar como seu o projeto de Deus, a conversão não tem apenas um sentido metafísico da salvação, pois essa não depende dele, é pela graça de Deus. Conversão é, positivamente, a produção de relações modificadas em todos os níveis da realidade pessoal e social de tal forma que concretize libertações e antecipe o Reino[71].
Nessa visão de Boff, o ser humano convertido é um colaborador na instauração da Basiléia de Deus, no sentido de que ele deve interferir nos meios políticos, sociais e até mesmo religiosos, lutando pela causa dos oprimidos latino-americanos. A escolha consciente de Jesus foi o esvaziamento de si mesmo em prol da libertação de toda a humanidade. Portanto, se converter significa seguir a Cristo, significa tomar a sua cruz.
O desafio para a Igreja é o de anunciar a utopia do Reino como uma esperança escatológica de um mundo novo e liberto de todo pecado e opressão, e ao mesmo tempo, antecipar essa utopia em práticas que mudam a realidade sofredora deste mundo, traduzir essa utopia em topia, pois ela já se fez presente na vida de Jesus. Seguir a Jesus é pro-seguir sua obra, per-seguir sua causa e con-seguir sua plenitude[72].
No contexto Latino-americano o conteúdo do Kérygma é viver essa realidade de forma histórica e assumir a luta a favor dos oprimidos como um compromisso ético com o Reino de Deus. Na vida de Jesus Cristo o Deus que se fez pobre veio para anunciar o Reino de Deus à serviço do amor.
Por derradeiro, despretensiosamente não foi intenção destacar verdades absolutas do conteúdo do Kérygma, mesmo que de fato o seja. Porém, com este trabalho monográfico observou-se a dinâmica da proclamação bíblica e o que se proclama através de formulações teológicas embasadas na própria Bíblia, até os nossos dias.
No entanto, para se aplicar toda essa pesquisa na realidade atual é necessário refletir sobre a proclamação atual da Igreja, na pregação e na postura perante a sociedade e por que não dizer, no mundo. O conteúdo desta mensagem, ao exemplo do Kérygma, deve-se ir ao encontro das necessidades básicas de uma população que está perdida em meio aos veículos de comunicação que possuem o seu Kérygma próprio.
Com este desafio procura-se resgatar os valores que foram deixados de lado, como o do anúncio de salvação no sentido concreto, e não mais apenas uma salvação carregada de ascetismo religioso que pouco pode aliviar as dores e os problemas do ser humano atual, e que no máximo pode desviar a atenção dos enfrentamentos reais e cotidianos. O anúncio de salvação deve compreender que Deus é Soberano e que deseja que o seu povo desfrute dos benefícios do "paraíso terrestre" que Ele já de antemão preparou para todos. Proclama uma vida estável para o povo de Deus, liberto e protegido dos inimigos.
Além de anúncio de salvação, o Kérygma é juízo e condenação para os rebeldes e todas as injustiças que são praticadas pelo ser humano. Tanto no contexto bíblico como nos dias atuais a proclamação de juízo e condenação se torna necessária, até se parece que nada mudou desde aquele tempo, afinal as atitudes ou principais setores dignos deste juízo e condenação continuam sendo o do problema social e da política, que por sua vez são a raiz de todos os males do ser humano.
Cunhando a comparação entre o anúncio de salvação que se apresenta no modelo bíblico com o conceito que se tem hoje nas Igrejas cristãs no que refere à pregação, é perceptível o desvio considerável de conteúdo que o kérygma sofreu ao longo da história. Com vista nesta constatação, ressalta-se como as Igrejas intituladas cristãs têm destinado tão pouca atenção à proclamação em suas liturgias. O momento da palavra que é objetivo e verdadeiro tem sido substituído por novos meios de comunicação e de novas mídias interativas, também períodos intermináveis de canções modernas e subjetivas que na maioria das vezes proporciona mais sonoridade do que propriamente o kérygma libertador.
Este trabalho nasceu desta indagação: O que tem sido pregado nas Igrejas hoje – se é que tem – condiz ao conteúdo do kérygma bíblico que a Teologia Reformada interpretou e sistematizou e a Latino-americana têm procurado dar vida e fazer acontecer? Como Igreja de Cristo, portanto, proclamadora das boas notícias da parte de Deus, não se pode permitir este declínio teológico no testemunho das nossas Igrejas, tambémnão perder de vista o aspecto sacramental da Palavra no culto e muito menos os aspectos cristológicos e escatológicos do kérygma.
O kérygma é um dos principais meios da Graça de Deus se manifestar na humanidade, afinal o kérygma é vox Dei (voz de Deus).
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[1] Coenen, L. khru,ssw. In: O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. Pp. 739-748.
[2] Coenen, L. khru,ssw. In: O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. Pp. 739-748.
[3] Von Rad, Gerhard. Teologia do Antigo Testamento I. P. 223
[4] croatto, J.S. História da Salvação. P. 181. (grifo nosso).
[5] A idéia de paraíso terrestre está ligada com o princípio de salvação próprio do AT, totalmente materializada. Os povos do Antigo Oriente não faziam distinção entre o material e o espiritual, sendo assim, o conceito de salvação está ligado mais aos muros (Is 60,18) do que à vida sobrenatural; diz respeito tanto as vitórias em campo de batalha, como também, a segurança e tranqüilidade necessárias para levar uma vida livre dos inimigos em uma terra que mana leite e mel, um verdadeiro paraíso na terra.
[6] Von Rad, Gerhard. Teologia do Antigo Testamento I. P. 226.
[7] croatto, J.S. História da Salvação. P. 180.
[8] ruppert, Lothar. O Javista, Anunciador da História da Salvação. In: Schreiner, Josef. (ED).Palavra e Mensagem. P. 143.
[9] LOHFINK, Norbert. A Mensagem da Aliança: O Deuteronômio. In: Schreiner, Josef. (ED).Palavra e Mensagem. P. 254.
[10] croatto, J.S. História da Salvação. P. 180.
[11] Von Rad, Gerhard. Teologia do Antigo Testamento I. P. 80.
[12] Von Rad, Gerhard. Teologia do Antigo Testamento II. P. 114.
[13] WESTERMANN,Claus. Teologia do Antigo Testamento. P. 109.
[14] SchÖkel, Alonso L./ DIAZ, Sicre J.L. Profetas I –Isaias, Jeremias. P. 109.
[15] O coração é o órgão da compreensão, tanto entre os semitas como em quase todas as culturas fora do horizonte de influência helenística, portanto a expressão bíblica "duro de coração", não indica sentimentos negativos, como aos ocidentais, mas resistência para entender o outro. (cf. CROATTO. Isaias, Vol 1, P. 60)
[16] CRoATTo, J. Severino. Isaias, Vol I: 1-39, O Profeta da Justiça e da Fidelidade. P. 60.
[17] WESTERMANN,Claus. Teologia do Antigo Testamento. P.114.
[18] j.e.h. In:Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento. P. 682.
[19] WESTERMANN,Claus. O Antigo Testamento e Jesus Cristo. P.36.
[20] PESCH. W. JUSTIÇA. In: Dicionário de Teologia– Conceitos Fundamentais da Teologia Atual. P. 79.
[21] CULLMANN, Oscar. Cristologia do Novo Testamento. Pp. 31-33.
[22] JEREMIAS, Joachim. Teologiado Novo Testamento: A Pregação de Jesus. P. 81.
[23] "reino" de Deus, este termo reserva pelo menos dois aspectos básicos, o presente e o futuro. Falava-se de um reino perpétuo de Deus na era presente (antigo judaísmo) e dum futuro reino de Deus na nova era. Jesus usa Basiléia no sentido escatológico. Cf. JEREMIAS. Pp. 154-156.
[24] JEREMIAS, Joachim. Teologiado Novo Testamento: A Pregação de Jesus. P.159.
[25] JEREMIAS, Joachim. Teologia do Novo Testamento: A Pregação de Jesus. P.179.
[26] GOPPELT, Leonhard. Teologia Do Novo Testamento. P. 97.
[27] BULTMANN, Rudolf. A Transcendência do Kérygma. In: GRENZ, Stanley J./OLSON, Roger E. A Teologia do Século 20. Pp.112-113.
[28] JEREMIAS, Joachim. Teologia Do Novo Testamento: A Pregação De Jesus. Pp.225-226.
[29] GOPPELT, Leonhard. Teologia Do Novo Testamento. P.99.
[30] BARTH, Karl. A Proclamação do Evangelho. P. 20.
[31] BARTH, Karl. AProclamação do Evangelho. P. 20.
[32] BULTMANN, Rudolf. A Transcendência do Kérygma. In: GRENZ, Stanley J./OLSON, Roger E. A Teologia do Século 20. P.102.
[33] BARTH, Karl. Dádiva e Louvor. P. 217.
[34] BARTH, Karl. Dádiva e Louvor. P. 217.
[35] BARTH, Karl. Dádiva e Louvor. P. 218.
[36] BARTH, Karl. A Proclamação do Evangelho. P. 21.
[37] SCHWARZ, Hans/ JENSON, Robert W. Os Meios da Graça, In: BRAATEN, Carl E./ JENSON, Robert W. (ed.). Dogmática Cristã. Volume II. P. 279.
[38] teixeira, Alfredo Borges. Dogmática Evangélica. P. 279.
[39] BARTH, Karl. Dádiva e Louvor.P. 218.
[40] Catecismo Maior de Westminster, resposta 35.
[41] BARTH, Karl. Dádiva e Louvor. P. 219.
[42] SCHWARZ, Hans/ JENSON, Robert W. Os Meios da Graça, In: BRAATEN, Carl E./ JENSON, Robert W. (ed.). Dogmática Cristã. Volume II. P. 279.
[43] braaten, Carl C. Paul Tillich e a Tradição Cristã Clássica, In: TILLICH, Paul. Perspectivas da Teologia Protestante nos Séculos XIX e XX. P. 30.
[44] braaten, Carl C. Paul Tillich e a Tradição Cristã Clássica, In: TILLICH, Paul. Perspectivas da Teologia Protestante nos Séculos XIX e XX.P. 30.
[45] teixeira, Alfredo Borges. Dogmática Evangélica. P. 279.
[46] braaten, Carl C. Paul Tillich e a Tradição Cristã Clássica, In: TILLICH, Paul. Perspectivas da Teologia Protestante nos Séculos XIX e XX. P. 31.
[47] MONDIN, Battista. Os Grandes Teólogos do Século Vinte. P. 102.
[48] BARTH, Karl. Dádiva e Louvor. P. 218.
[49] AULÉN, Gustaf. A Fé Cristã. P. 311.
[50] LUTERO, Martim. Da Liberdade Cristã. P. 12.
[51] AULÉN, Gustaf. A Fé Cristã. P. 311.
[52] BULTMANN, Rudolf. A Transcendência do Kérygma. In: GRENZ, Stanley J./OLSON, Roger E. A Teologia do Século 20. Pp.104.
[53] LATOURELLE, René. Teologia da Revelação.Pp. 529-530.
[54] AULÉN, Gustaf. A Fé Cristã. P. 312.
[55] BUTTRICK, David. Uma Breve Teologia da Pregação. In: MCKIM, Donald K. (editor), Grandes Temas Da Tradição Reformada. Pp. 279-287.
[56] BULTMANN, Rudolf. Jesus Cristo e Mitologia. P. 65.
[57] COMBLIM, José. A Força da Palavra. P. 15.
[58] COMBLIM, José. A Força da Palavra. P. 16.
[59] COMBLIM, José. A Força da Palavra. P. 16.
[60] BOFF, Leonardo. Teologia do Cativeiro e da Libertação. Pp. 240-241.
[61] MESTERS, Carlos. A missão do Povo que Sofre. P. 38.
[62] MESTERS, Carlos. A missão do Povo que Sofre. P. 39.
[63] COMBLIM, José. A Força da Palavra. P. 35.
[64] GEBARA, Ivone. A Profecia na Vida do Povo Nordestino. In: Estudos Bíblicos4. P. 60.
[65] GEBARA, Ivone. A Profecia na Vida do Povo Nordestino. In: Estudos Bíblicos 4. P. 60.
[66] BOFF, Leonardo. Teologia do Cativeiro e da Libertação. P. 201
[67] BOFF, Leonardo. Jesus Cristo Libertador. P. 27.
[68] BOFF, Leonardo. Teologia do Cativeiro e da Libertação. P. 201
[69] ARIAS. Venga Tu Reino. P. 66.
[70] MESTERS, Carlos. A Missão do Povo que Sofre. Pp. 128-130.
[71] BOFF, Leonardo. Jesus Cristo Libertador. P. 31.
[72] BOFF, Leonardo. Jesus Cristo Libertador. P. 35.