O Condomínio Ontem e Hoje
Por Lucio Feitosa | 17/08/2010 | AdmA família Nogueira dividiu-se em duas pequenas partes. Foi o que sobrou. Antônio Nogueira há tempos vivia no Brasil. Tempo suficiente para montar um rentável negócio. Toda essa dedicação lhe rendeu uma bela pneunomia e o forte e sempre ativo Antônio não resistiu. Já a outra parte que restou da família chegou duas semanas depois. Irmão caçula e herdeiro dos negócios, Juarez Nogueira demorou a entender como aquelas famílias podiam morar e dividir os espaços mínimos do casarão que o irmão mantinha como principal fonte de recursos. Cada grupo familiar usava o quarto para dormir e as refeições ocorriam na grande mesa da espaçosa cozinha, onde eram passadas as regras de convivência, advertências, cobranças, avisos e apresentações de novas famílias durante uma refeição ou outra. Este era o público que morava no cortiço de Antônio Nogueira. Basicamente familiar, assim era mais fácil controlar. Início dos anos 50, e o sotaque lusitano de Juarez consquitou Maria Del Pillar e após o casamento eles foram morar em um prédio novinho em folha, no Largo do Arouche. O espaço era maravilhoso, uma grande sala, dois dormitórios e um banheiro a disposição de Maria e Juarez. De mais ninguém. Bem diferentes das circunstâncias a que todos eram submetidos nos casarões. Filas e mais filas nos horários de pico. Era de matar!
Com a experiência em gerenciar os perrengues alheios, Juarez foi escolhido para ser o responsável pelo prédio todo. Algo um pouco síndico, um pouco zelador, o faz tudo! Maria, não gostava daquela atividade, pois o marido passava o dia inteiro a resolver os problemas dos outros e quando chegava em casa tinha mais problemas do prédio para resolver. Seguindo os preceitos de Friedrich Engels em "A Origem da Família, da Propriedade e do Estado", tudo estava sendo aplicado. O tempo passava e a família crescia com a chegada de João Vitor. Esse se torna o seguidor do pai em todas as situações. Sempre presente nos jogos de cartas que ocorriam no hall do prédio, João Vitor tinha uma caderneta, onde apontava os nomes das pessoas, classificando-as: as chatas, as devedoras, as reclamonas, as que nunca faltavam a nenhum encontro do prédio e a que ela mais gostava a Dona Gertrudes que dormia o tempo todo. Estava claro que o pai e mais alguns amigos é quem mandavam no prédio. Nas idas ao Canindé por falta de espaço para crianças no prédio, João Vitor podia brincar, correr, nadar e ter uma infinidade de atividades ao alcance das mãos, enquanto o pai conversava sempre com as mesmas pessoas. Astuto João Vitor se perguntava: "-Qual seria o motivo das pessoas reclamarem tanto das coisas? E por que algumas pessoas não faziam questão nenhuma de reclamar de nada?".
A cidade de São Paulo cresceu e junto cresceram as instituições e os interesses de todos. João Vitor concluiu o curso de graduação em Administração, investiu as economias da familia e tinha em mente alguns objetivos com base na excelência em gestão social, ética, humanismo e pioneirismo. Centralizando as atividades geradoras de sustentabilidade. Algo inovador! Oferecer um produto que sintetizasse todas as necessidades do indivíduo e da família. - Estou pra ver! Pensava o podre sonhador. Os canteiros de obras foram pipocando pela cidade, empreendimentos voltados para as faixas de poder aquisitivo de grupos denominados de "A a Z" . Às vezes alguém do "Z" querendo algo do "A". E do "A" sempre querendo pagar como "Z"
A participação das pessoas nas conhecidas assembléias de condomínios não melhorou em nada o quórum. O poder decisório continua a passar pela deliberação de poucos, e não é por falta de incentivos, estão aí os condomínios clubes repletos de atividades com o único intuito de aproximar as pessoas. A grande mesa cedeu lugar a grandes salões de reuniões. Sempre vazios! A confraternização proposta pelos empreendedores na implantação sugere a repetição dos encontros constantes e voluntários. Um convite a prática da cidadania.
Maria Del Pillar como muitos prefere o sossego da casa a bravatas e atos de tirania legalizada. Para a doce mãe o que valia era saber que o miúdo Vitinho encantaria o avô que não conheceu ao discorrer sobre o momento que se deu a edição do Decreto nº 5.481, de 25 de junho do ano de 1928, que iniciou a legislação sobre a estruturação legal e logo em seguida veio o Decreto-Lei nº 5.234 de 08/02/1943, que puxou pela Lei nº 285 de 1948, que admitia a possibilidade de edificações com até cinco andares, serem reconhecidas como prédios. Todas essas leis e direitos foram adaptados às necessidades das cidades em aproveitar e valorizar o espaço e o imóvel. Mas até a pobre mãe sofre com tantos números e datas que compunham as apresentações feitas aos novos proprietários. Logo, para assustar o sono e encurtar o tempo ela vai ao ano de 2002. Parece que foi aí que designaram aos prédios, a alcunha de "Condomínio Edilício". Ficou mais bonito do que na antiga Lei de nº 4.591/64; aquela que gerou uma série de modificações, para agradar, não lembro quem, pensou ela.
Atualmente Vitinho controla os bens da familia lá do escritório, também da família que leva o nome da cidade natal do avô, aquele que ele não conheceu: Tejo Administra Bem. É um prédio muito grande, todo de vidro que fica na principal avenida da cidade. Ontem Vitinho chegou cedo, mesmo tendo uma assembléia para secretariar. Na qual não foi ninguém, só ele e o síndico. Ai meu "Deus"! Vitinho é o sindico.
Lucio Feitosa
Sindico Profissional da Multisindico Serviços.
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