O CONDOMÌNIO - CONTO DE UMA SAUDADE

Por L F PETRUCELLI | 21/10/2009 | Crônicas

A manhã de ontem foi igual àquelas de minha infância, em que era acordado pelo canto de rouxinol de minha santa mãezinha, como se agradecesse à Natureza o brilho do Sol nas gotas do orvalho, banhando pétalas de flores vaidosas que, ao exalarem seus suaves perfumes, rivalizavam com a terra úmida o aroma da manhã.
Por coincidência, indo visitar um cliente, passei em frente ao, digamos assim,  "condomínio" em que moram  meus  pais. Pensei em visitá-los, ter um  “dedo-de- prosa”,  “jogar uma conversa fora” ; enfim,  saber como estavam e se havia alguma queixa da administração ou algum  de seus funcionários. Afinal, eles são proprietários e merecem ser bem tratados. O problema é que não abrem a boca nem para reclamar, precisando eu prestar atenção nestes detalhes!
Ah, esses meus pais...!  Passaram a vida toda desculpando os outros, não seria agora, no “bem-bom”, que iriam falar mal de alguém!
Com seus campos  floridos e arborizados, à guisa de jardins  e pomares, o “condomínio" recebe  constantes grupos de animais e pessoas que transitam por suas  alamedas, num ensurdecedor silêncio. Ali, a Mãe  Natureza, saudosa, abraça e recebe de volta a todos com a mesma  hospitalidade, tal qual a parábola do filho pródigo!
As construções são bem diversificadas. Algumas simples, outras suntuosas!  Os estilos são os mais variados....Há cada obra de arte! Nossa...é tanta paz, que quase dá para ouvir o  esvoaçar das asas de  seus anjos de pedra!
Os condôminos vão desde anônimos até artistas e políticos.Todo dia chega morador novo, sendo que os  mais antigos não saem de lá nem mortos!
Há de tudo :  crianças,jovens, velhos, brancos, negros, ricos e pobres. A única coisa que ainda pesa na hora da mudança é a religião;  mas no “fim”de tudo (ou seria o começo), todos vivem em harmonia. Não há aquele que diga: “Não agüento mais este lugar... vou-me embora”! Mesmo porquê de fixo, ali...só o endereço; já que viver, viver mesmo, o fazem em lugar ainda mais belo, aprazível e paradisíaco, com paisagens celestiais e vislumbres angélicos.
Ao novo... toda  mordomia: carro com motorista, flores e, para alguns mais renomados, até banda de música!
De repente,  notei o motorista que conduzia um novo morador  e me toquei que ele, no futuro,  também terá o seu “dia de rei” e poderá “tirar onda”  vindo na parte de trás com motorista só para ele.  Democrático, não ? Só não sei se vai poder desfrutar
Pois bem, como dizia no começo, eu  cheguei a pensar em entrar e dizer um alô para  os meus velhos, mas lembrei que havia marcado um compromisso profissional. Eles já estavam com a vida ganha, eu precisava  ganhar a minha! Fica para outro dia.    Sei que irão entender! Pensei!
Foi assim que, matutando meus pensamentos, continuei meu trajeto.
Passei , então, a observar melhor as pessoas em seus séquitos  opostos,  com olhares marejados, feições sérias e vozes consternadas, a confundirem-se em  bandos.  Alguns, lembrando pombos... outros, urubus!
E assim segui, deixando-me levar por meus devaneios!
Sejamos francos, quem de nós gasta mais que cinco minutos para pensar nestas coisas?
Além do mais, meus pais vêm sempre  me visitar. Basta eu  precisar, que não se fazem ausentes. Quando preciso, aconselham-me , dão ânimo e força.
Infelizmente, a vida toma-me todo o tempo que tenho e , ademais, há de chegar o dia em que irei morar com eles! Então, teremos todo o tempo do mundo para matarmos a saudade... Aí, meu irmão, não irei querer outra coisa: vou viver deitado o tempo todo, sem me importar com mais nada!
Será um tempo em que não terei que me preocupar com os espinhos e, sim, aproveitar o perfume das rosas!

Quem viver, verá...!!

                                                       FIM