O Conceito Metafísico do Pensamento Antigo e Medieval

Por Eunice Fagundes | 13/03/2017 | Filosofia

Ao analisarmos o percurso da Filosofia sobre a vida do Homem sob a terra, observamos que o estudo desta deu-se aliado ao estudo da História dos povos simultaneamente. Entre guerras e conflitos travadas entre regiões, construía-se o Pensamento destes também e a Ideia Central da questão até hoje ainda não respondida pelos Homens e também não formalmente concluída pelos Deuses continua como a um eco imperativo conduzindo-nos até a presente data onde já não mais nos observamos como servientes de forma totalitária ao Mítico mas também não mais portador do imperialismo do Homem como meio tão defendido pelos Sofistas.

Desde Tales de Mileto o primeiro dos pré-socráticos  a ser considerado sábio por conceber como princípio das coisas aquelas que procedem da natureza da matéria e de suas mudanças, elegendo a água como o primordial de todas as coisas e de vitalidade à todos os viventes até  Sócrates  que tinha como saber em sua Teoria das Ideias que as verdades só se tornam visíveis a luz da razão e para tanto só podemos chegar a certeza das coisas ou a refutação destas certezas através da reflexão consciente de forma maiêutica,  desenvolvendo  o pensamento sobre uma questão de consequência em consequência  e para tal contradizer-se admitindo nada saber e estar sempre a descobrir em um exercício mental constante e evolutivo e  com isso adquirindo a ciência dos valores que o homem traz em si. Ao fazermos este recorte do mundo antigo, observaremos que as preocupações no pensamento do Homem continham algo a respeito de sua Identidade sobre a face da terra como também o seu procedimento sobre esta Identidade.

Platão discípulo de Sócrates foi o que melhor captou seus ensinamentos  quanto a Teoria das Ideias dando-lhe um sentido novo; concebendo que a Ideia é mais do que um conhecimento verdadeiro; ela é em si mesmo a realidade verdadeira , absoluta e eterna, existindo fora e além de nos, cujos os objetivos visíveis são apenas reflexos.  E neste exercício de pensamento a viagem do Homem pré-socrático cientifico  a ao Homem  socrático sensível com perguntas sobre si  e voltadas a seu espírito. Platão foi o primeiro a desassociar  Ciência Física e Cosmológica  de Filosofia Moral, trazendo a luz das reflexões do Homem conceitos como Virtudes acerca do que é O Belo, O Bem e O Justo, princípios estes que percorreram de formas mais aprofundadas além das Academias  do Platonismo , também  no Período Helenístico, Neoplatônico, Paganismo  e parte do Escolástico.

Aristóteles  discípulo de Platão na Academia  e Educador de Alexandre Magno  construiu um grande laboratório onde dedicou-se a Organizar os conhecimentos Científicos e Filosóficos, criando assim o sentido de Escola , pois suas obras abordam todos os ramos do saber lógico, físico, filosófico, botânico, zoológico e metafísico organizados  em fundamentos  de Retórica, Dialética, Política e Estética. Para Aristóteles diferente de Platão  a ideia não possui uma existência separada, pois para ele só são reais os indivíduos concretos.  Este novo recorte nos trás mais um entendimento  quanto a forma de como o individuo conhece, ou seja : inaugura para a posteridade modernista o conceito de Individuo; deixando claro que não há uma forma única e absoluta acerca do conhecimento e que as ideias carregam em si uma relação com a vida social do individuo, ideias estas que percorreram todo o período do Alto Medievo.

Para passarmos de um sentido antigo de concepção do mundo a um medievo precisaremos de uma ponte de mediação que nos permita a passagem de uma coisa a outra como uma necessidade de explicar a relação entre duas coisas de naturezas distintas , uma de natureza sensível e outra de natureza inteligível, até para que possamos alcançar um conhecimento  acerca do corpo e da alma em Descartes já em um período avançado onde se inaugura a Modernidade.

Para tanto precisamos ainda trazer a luz do conhecimento outro grande pensador que tratou da Relação entre Deus Único e o Homem, mas não sem antes sistematizar as ideias gerais e universais quanto ao gênero, a espécie, a diferença, a causa e o acidente com as quais Aristóteles definia o Ser. Ideias estas bem defendidas por Porfírio em sua Isagogé, hoje considerada a arvore filosófica do conhecimento e principio de organização do Pensamento entre as questões maiores e menores: Universalistas e Nominalistas. Destinava-se esta a ilustrar a subordinação dos conceitos, a partir do geral que advém do conceito de Substância como Deus, até chegar ao conceito de Homem, sendo este de menor extensão, mas o de maior compreensão. Mas antes devemos expor  a oposição radical de Tertuliano entre a razão que atua nos Filósofos  e a Fé que caracteriza o cristão, para ele não pode haver concordância alguma entre a razão humana e a revelação divina; pois uma é a fonte da verdade e aquela do erro, uma salva e purifica, aquela perde e corrompe. No entendimento deste os Filósofos fizeram na verdade adulterar as escrituras antigas quando da junção de Fé e Razão, de Atenas e Jerusalém.

Para tanto outros dois pensadores que não poderiam ficar de fora de nossas reflexões acerca das principais características do pensamento antigo e medieval sendo Agostinho de Hipona um deles.

Este por sua vez sofreu grande influencia do pensamento grego, sobretudo da tradição platônica, trazendo a termo a interpretação espiritualista de Platão e sua filosofia tem como eixo central a relação entre Fé e Razão da Patrística e retomando no Homem o conceito para além da razão ainda não verificado nas observações quanto a promover a ideia de Salvação e de Felicidade. Para ele as questões da Fé são de ordem Intuitiva e permite a Razão sua forma Inteligível.

Algo que marca também em Agostinho de Hipona  é o percurso que a Filosofia fez para dentro da Historia do Homem, pois ao dividir o mundo em Cidade de Deus e Cidade dos Homens ela demonstra uma inter-relação entre o modelo perfeito do Plano Cosmológico e o modelo imperfeito do Plano Terreno, deixando claro em sua organização que Os Conflitos e a Luta pela Paz existem nos dois mundos.

Chegamos enfim a Thomás de Aquino como a chave que fecha o Medievo e Inaugura a Modernidade; pois este fecha o sentido de conhecimento do Ser, o Cristianiza na ideia Superior de Deus, da qual é através das ações cada vez mais aperfeiçoadas do Homem como Ente buscando ascender a Essência de Deus. Seu papel principal foi o de organizar as verdades da religião e de harmoniza-las com a síntese filosófica de Aristóteles demonstrando portanto que não a ponto de conflito entre Fé e Razão, sua teoria  do conhecimento é portanto universal; pois estende a todos os conhecimentos  do homem e ao mesmo tendo tem caráter critico aos limites e as condições do conhecimento humano; pois para ele o mesmo seria verdadeiro conforme a adequação da inteligência à coisa, conceitos estes vistos em Aristóteles. Retorna este portanto as 5 vias de efeito do conhecimento racional acerca da causa da existência de Deus, conceito este de Tudo, aproveitado no Modernismo para conhecimento da ação do Homem sobre a Causa Eficiente, a Unidade, o Necessário, O Absoluto e o Providente. Para este a ultima felicidade do homem não se encontra nem nos bens exteriores, nem nos bens  do corpo, nem nos bens da alma mas sim na contemplação da Verdade.

Concluímos que as principais características do pensamento antigo e medieval constituem se em questões metafísicas até hoje não resolvidas acerca da Fusão entre conceitos Filosóficos e Teológicos quanto ao Amor, ao Conflito, a Felicidade, a Beleza, a Justiça, a Consolação, a Paz, a Iluminação Divina, a Revelação, o Espírito, o Conhecimento, a Fé e a Razão; a princípio quanto ao Ser e Ente e após como fusão destes dois como uma unidade e sua Essência, onde na modernidade haverá outra fusão dos três inaugurando destes o conceito a respeito da Existência.

 

REFERÊNCIAS

 JAPIASSÚ, Hilton e MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. 3ª ed. Ed. Zahar, 2001.

REZENDE, Antonio. Curso de Filosofia. 13ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005.

SPINELLI, Miguel. O nascimento da filosofia grega e sua transição ao medievo. Ed. Educx, 2010, pp13-220.