O Combate a Leishmaniose Visceral em Limoeiro do Norte
Por José Robério de Sousa Almeida | 31/10/2008 | ArteFco Bruce Lee Brito S. Costa[1], José Robério de Sousa Almeida[2]
Introdução
Leishmaniose é a denominação genérica da infecção causada por protozoários flagelados denominados leishmanias (AMABIS & MARTHO, 2004). O registro do primeiro caso da doença no Brasil ocorreu em 1913, quando Migone, no Paraguai, descreveu o primeiro caso em material de necropsia de paciente oriundo de Boa Esperança, Mato Grosso (BRASIL, 2003). Atualmente no Brasil estima-se que cerca de 20 mil pessoas por ano adquiram um dos tipos de Leishmaniose, visceral ou tegumentar (AMABIS & MARTHO, 2004).
A leishmaniose tegumentar (úlcera-de-bauru) é uma doença parasitaria da pele e mucosas causada pela Leishmania brasiliensis esta doença manifesta-se na pele como feridas ulcerosas, com bordas elevadas e fundo granuloso, nas mucosas (cavidade nasal, faringe ou laringe) destrói tecidos e, em casos graves, pode perfurar o septo nasal e causarlesões deformantes, a transmissão desta doença se dá pela picada do mosquito do gênero Lutzomya (AMABIS & MARTHO, 2004).
A Leishmaniose visceral conhecida popularmente como calazar será o alvo deste estudo destacando a sua forma de combate e como a cidade de Limoeiro do Norte vem trabalhando para que esta doença não venha a atingir a população.
A Leishmaniose visceral tem como agente etiológico protozoários do gênero Leishmania, parasita intracelular obrigatório das células do sistema fagócito mononuclear, com uma forma flagelada ou promastigota, encontrada no tubo digestivo do inseto vetor e outra forma flagelada ou amastigota nos tecidos dos vertebrados (BRASIL, 2003). Apresenta como seus reservatórios:
ØÁreas urbanas: O cão (Canis familiares);
ØÁreas Silvestre e/ou rurais: raposas (Dusicyon vetulus e Cerdocyom thous) e os marsupiais (Didelphis albiventris).
Os vetores da Leishmaniose visceral são insetos denominados flebótomos, conhecidos popularmente como mosquito palha, tatuquiras, birigui. No Brasil, duas espécies, até o momento, estão relacionadas com a transmissão da doença Lutzomyia longipalpis e Lutzomyia cruzi (BRASIL, 2003).
O flebótomo é um inseto de hábito crepuscular e noturno, medindo de 1 a 3 mm de comprimento. Possuem o corpo revestido por pêlos e são de coloração clara. Esses insetos na fase adulta estão adaptados a diversos ambientes, porém na fase larvária desenvolvem-se em ambientes terrestres úmidos e ricos em matéria orgânica e de baixa incidência luminosa. Ambos os sexos necessitam de carboidratos como fonte energética e as fêmeas alimentam-se também de sangue para o desenvolvimento dos ovos, a infecção do vetor ocorre justamente quando a fêmea para suprir suas necessidades orgânicas sugam o sangue de mamíferos infectados, ingerindo macrófagos parasitados por formas amastigotas da Leishmania (BRASIL, 2003).
A leishmaniose visceral é transmitida para o homem, cães e demais reservatórios através da picada do vetor contaminado, alguns admitem a hipótese da transmissão entre a população canina através da ingestão de carrapatos infectado e mesmo através de mordeduras, cópula, ingestão de vísceras contaminadas, porem não existem evidências sobre a importância epidemiológica destes mecanismos de transmissão pra humanos ou na manutenção da enzootia, na há ocorrência de transmissão pessoa à pessoa (BRASIL, 2003).
No Brasil como tratamento da doença em humanos é utilizado o antimoniato N-metil glucamina, que vem sendo distribuída pelo Ministério da Saúde em ampolas de 5 ml, contendo 405 mg de Sb+5 (1ml = 81mg de Sb+5), seu mecanismo de ação ainda não este totalmente elucidado, mas sabe-se que atua nas formas amastigotas do parasita, inibindo sua atividade glicolítica e a via oxidativa de ácidos graxos (BRASIL, 2003).
Os critérios de cura nos humanos são essencialmente clínicos e depende da continuidade do tratamento para se atingi-la, pois com o inicio da aplicação do medicamento já se nota a evolução no quadro do paciente sendo portanto o motivo de muitos pararem o tratamento após um curto período, no entanto, o seguimento do paciente no tratamento deve ser feito aos 3, 6 e 12 meses após o início do tratamento e na ultima avaliação se permanecer estável, o paciente é considerado estável (BRASIL, 2003).
O tratamento em cães (reservatório doméstico da doença estando em maior contato com o ser humano sendo portanto o alvo principal do combate a doença) não é uma medida recomendada, pois não diminui a importância do cão como reservatório do parasito, e mesmo em casos de tentativa do tratamento se nota a baixa eficácia em termos de cura (BRASIL, 2003).
O combate a essa doença vem sendo realizado em Limoeiro do Norte pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS) em conjunto com 10a Célula regional de Saúde (10a CERES), através da identificação de áreas que contenham o flebótomo é a eliminação de cães infectados pela doença. O trabalho consiste na distribuição de armadilhas realizado pela 10a Célula regional de Saúde (10a CERES) em pontos estratégicos a fim de capturar o flebótomo.
Em julho de 2007 este trabalho foi realizado em 7 pontos da cidade estes pontos são delimitados por bairro, as áreas de distribuição foram: Centro, Bairro João XVIII, Brotolândia, Limoeirinho, Bairro José Simões, Bairro Santa luzia e Pintobeira. Como resultado desta análise apenas em uma área não foi detectado o flebótomo esta área foi o Bairro Santa luzia nas demais o flebótomo foi detectado.
O resultado da análise foi repassado para a Secretaria Municipal de Saúde (OMS) que realizou a sorologia dos cães nas áreas onde o flebótomo foi encontrado sendo elas: Centro, Bairro João XVIII, Brotolândia, Limoeirinho, Bairro José Simões e Pintobeira.
A sorologia consiste na coleta do sangue dos cães para análise laboratorial para detectar a presença da doença leishmaniose. A coleta do sangue nos cães é realizada por agentes da Secretaria Municipal de Saúde (OMS) em visita a casa dos proprietários dos cães. Com uma agulha simples, fura-se a ponta da orelha do cão e com o papel de filtro recolhe-se o sangue, o papel de filtro e identificado com o nome do cão e com o número da amostra feita, depois os dados são passados para um boletim contendo o nome do cão e n° da amostra realizado e os dados do proprietário do animal, estes dados juntamente com a amostra de sangue são enviados para um laboratório na Capita do Estado Cearense (Fortaleza).
O resultado da analise laboratorial e repassado para a 10a Célula regional de Saúde (10a CERES) e a mesma repassa para a Secretaria Municipal de Saúde (OMS). As amostras com o resultado negativo à leishmaniose ficam a disposição dos proprietários na Secretaria Municipal de Saúde (OMS), no caso das amostras com resultado positivo para leishmaniose os donos são comunicados de imediato e são realizadas a eutanásia dos cães infectados.
A realização da eutanásia canina é feita com base na resolução n.° 714, de 20 de junho de 2002, do Conselho Federal de Medicina Veterinária, que dispõem sobre os procedimentos e métodos de eutanásia em animais. O método consiste na aplicação de pré-anestésico em seguida cloreto de potássio (KCl) intra-cárdio possibilitando pouco sofrimento ao animal.
Este procedimento de captura do flebótomo e sorologia dos locais que contem a presença do flebótomo serão estendidas as demais áreas do município.
Para os cães de rua Limoeiro Norte conta ainda com um canil que dispõe de uma carrocinha para a captura dos mesmos, nos animais capturados são realizadas sorologias, os animais contaminados são eliminados e os animais sadios ficam a disposição para adoção caso algum membro da sociedade se responsabilize em cuidar do animal.
Metodologia
Este trabalho foi realizado entre agosto, setembro e outubro de 2008 a partir de pesquisas por meio de livros, além de informações oriundas da Secretaria Municipal de Saúde por meio da visita e entrevista com alguns membros que a compõem. Tendo como fonte mais utilizada o Manual de Vigilância e controle da Leishmaniose visceral.
Resultados
Como resultado deste trabalho nota-se a eficácia do combate a Leishmaniose visceral em Limoeiro do Norte – CE, pois ainda não foi indiciado nenhum caso da doença em humanos.
Verifica-se ainda que o combate do flebótomo em sim é realizado através da limpeza urbana, porém a eliminação do flebótomo se torna inviável pois é impossível controlar a proliferação do mosquito nas matas, e realizar a dedetização é inviável pois, além de provocar danos a outros insetos sendo prejudiciais ao ecossistema seria impossível cobrir todo o município.
Conclusões
Mediante a realização deste artigo foi possível tirar as seguintes conclusões:
1. A Leishmaniose visceral é uma doença que pode atingir tanto homens como cães e outro mamíferos;
2. O tratamento da doença em humanos tem se mostrado eficaz quando se segue todas as suas etapas;
3. O tratamento em cães infectados não tem grande eficiência em termos de cura, além de não diminuir a importância do cão como reservatório do parasito.
4. O combate à doença vem se mostrando eficaz em Limoeiro do Norte – CE com a eliminação do vetor doméstico contaminado (cães).
Referências
AMABIS, J. M.; MARTHO, G. R.. Biologia dos organismos. 2a. ed.. São Paulo – SP: Moderna, 2004. 610 pgs. ils..
BRASIL, M. S.. Manual de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral. Série A normas e manuais. Brasília – DF: Editora MS, 2003. 122 pgs. ils..
[1] Aluno Graduando no Curso de Ciências Biológicas UECE/FAFIDAM.
[2] Professor Esp. do Curso Ciências Biológicas UECE/FAFIDAM.