O Colecionador de Sílfides - Prólogo

Por Alec Silva | 16/07/2010 | Literatura

"O mundo é um lugar curioso." Foi esta frase que marcou a vida da pequena sílfide. Naquela época ela tinha apenas um centímetro, ou seja, uma cri¬ança com um terço do tama¬nho tradicional desse povo alado.
A mãe da pequena Yasmim cantava belas letras, nar-rando um mundo além das muralhas da cidade. Eram po-emas sobre gnomos, elfos, anões, ogros, humanos, centau¬ros, sátiros... Mas nenhuma menção sobre sílfides ou silfos.
Os olhinhos verdes da pequena "ouviam" tudo com o auxílio da imaginação, pois não são os ouvidos, mas sim os olhos que devem maravilhar-se com as histórias fantásti¬cas. Claro que a sílfide enchia a mãe de perguntas, dei¬xando-a tão confusa quanto uma mariposa atraída pela luz da lamparina.
? Quer saber de uma coisa? ? perguntou a mãe, certa noite.
Claro que Yasmim queria saber; era curiosa a ponto de desejar aventurar-se entre as borboletas só para saber o gosto do néctar que elas bebem.
? Um dia você vai andar por algum lugar maravi-lhoso e vai viver uma aventura ainda mais incrível do que as que já contaram e ainda irão contar ? falou a mãe, antes de fazer cócegas na barriga da filha.
A pequena sílfide riu muito, gravando na mente a-quelas palavras tão mágicas.
Como a verdadeira aventura não aconteceu na casa de nossa amiguinha, nossa história avançará até o aniver¬sário dela. O curioso no mundo dos silfos é que quando alguém completa 17 anos, a rainha dá um pequeno colar e escolhe um noivo ou noiva, dependendo do caso.
O aniversário de nossa amiga aconteceu no penúltimo dia de inverno. Os pais dela organizaram uma festa gran-diosa para ela. Tur, o pai, conseguiu da rainha a permissão de ele próprio escolher o noivo. E o escolhido foi Kalir, fi¬lho de um chefe militar muito importante no reino. Ebony, a mãe, conseguiu com a rainha o colar de cristal rosado.
Ainda era inverno e o gelo ainda cobria as copas das árvores, os galhos, o tronco e o solo. O frio ainda era grande e as folhas ainda estavam murchas. E nenhuma flor primaveril nas plantas, exceto aquelas que precisam do gelo e do frio para florescerem.
E naquele penúltimo dia de inverno Yasmim sobre-voava o solo branco, pousando ora ou outra nas flores de inverno. Tocava as pétalas aveludadas e azuladas, so-nhando em viver uma grande aventura em alguma terra distante.
? Bom dia, amiga! ? cumprimentou um silfo que es-tava montado em um esquilo malhado de branco e cas-tanho.
? Bom dia, amigo! ? exclamou a sílfide, contente em ver Myr ali.
O amigo de Yasmim era um silfo camponês, um jo¬vem caçador que fora amaldiçoado pela deusa Flora e não possuía asas como os silfos comuns. Por causa de sua de-formação, os pais dele foram banidos de Arlândia, o reino desses seres alados tão belos. No entanto, a rainha Ayla resolveu fazer de Myr o caçador oficial do reino, mas ele preferiu não retornar ao reino.
? Eu tenho um presente para você, amiga ? disse o silfo, descendo do esquilo.
? Sério?! O que é?
? Acho que você vai gostar. Demorei quatro estações completas para achar.
A sílfide começava a ficar cada vez mais curiosa:
? Ah, amigo! O que é?
O silfo já havia subido na flor e caminhava calma-mente pela enorme flor azulada. Aproximou-se da amiga e mostrou um objeto embrulhado em uma folha vermelha.
? Que Flora, nossa protetora querida, agracie sua vi-da, amiga! ? desejou ele, entregando o presente.
Lágrimas rolaram pelo rosto claro de Yasmim. Ela es-tava comovida pela dedicação do amigo. Levantou-se ? pois estava sentada até o momento ? e abraçou-o afeti-vamente, dando um beijo na bochecha direita dele.
? Fico grata, amigo ? sussurrou ela, com a voz doce e harmoniosa.
Myr também estava emocionado, PIS Yasmim era a única habitante de Arlândia que o considerava como um silfo normal e não como um renegado.
? Abra o presente, amiga! ? pediu ele, contendo as lágrimas que queriam sair pelos olhos negros.
A jovem sílfide pegou o embrulho e o abriu com cui-dado, querendo preservar a folha que servia de proteção. Lentamente ela retirou o objeto e viu uma semente deco¬rada sair de dentro.
? Por Flora, amigo! ? exclamou Yasmim, surpresa.
? Não gostou? ? perguntou o silfo, preocupado.
? Não é isso. É que é uma semente de uma rosa rara...
? A rosa negra, amiga.
? Amigo, mas é impossível conseguir uma semente dela!
Myr sorriu, falando:
? Amiga, não há nada que seja impossível de aconte-cer.
A jovem sílfide abaixou a cabeça; precisava falar algo com o amigo, mas não sabia como ? faltavam-lhe pala¬vras certas.
? Amigo, eu preciso falar algo importante com você ? começou ela, ainda cabisbaixa.
? Pode dizer!
Yasmim respirou fundo e ergueu a cabeça, prepa-rando-se para falar o que sentia. Mas nem chegou a for-mular direito as ideias, pois um pardal arremessou-se con-tra ela e agarrou-a com uma das patas e voou bem alto.
O caçador nada pôde fazer a não ser ver o pássaro se-guir rumo aos pântanos perigosos.