O CHATO DA HORA

Por JUNIA PIRES FALCAO | 26/01/2010 | Crônicas

Todo mundo sabe que ninguém foge a um bom papo, mas há conversas tão maçantes que em certas ocasiões só mesmo Deus para nos livrar delas. São aqueles papos do tipo presentinho surpresa, coisa antiga, ultrapassada, onde o dito cujo presente bem pequenininho, está embrulhadinho no fundo de uma caixa grande entupida de pedacinhos de papel amassado, para tentar aguçar a curiosidade de quem procura o presente. Aaai! Ledo engano, porque só enche o saco. São conversas irritantes e intermináveis sobre coisas que geralmente nos interessam pouco, e até a pessoa dizer o que tenta dizer faz tanto rodeio, relata tantos detalhes sem importância que a gente cansa de ficar olhando para ela com cara de bobo, escutando aquele monólogo sem fim enquanto ela fala, fala, fala. Até porque essas pessoas nunca deixam os outros falarem também, então a gente fica ali parado, amarrado, ouvindo o maldito monólogo, pedindo a Deus que apareça alguém de repente com um assunto quentinho da hora para interromper aquele suplício, ou que o telefone toque,que o circo pegue fogo, qualquer coisa vale para que a gente aproveite para fugir dali de fininho, e é muito difícil alguém se livrar de uma companhia dessas. Eles costumam aparecer em festinhas informais, em igrejas, salões de beleza, em lugares públicos e surgem até mesmo como companheiro de viagem no banco ao lado, no ônibus ou no avião.

Conheci uma senhora que se aproximava sorrateiramente, puxava um papo qualquer e dali começava a contar histórias intermináveis. Ela chegou ao cúmulo de me segurar os dois antebraços, quando percebeu que eu já olhava para os lados buscando socorro, louca para cair fora. Foi horrível.

Muitos são apenas faladores compulsivos, inconseqüentes e loquazes, outros são pessoas carentes de atenção, falam muito de si mesmos e de seus problemas íntimos. Sempre falam de pessoas mas nunca de coisas,pois são um tanto desatualizados. Geralmenteessas pessoas não realizaram seus sonhos; vivem do passado e seus projetos não têm fundamento e não raro sofreram ou sofrem algum tipo de rejeição. Tudo o que desejam é que alguém lhes ouça e lhes dê atenção, sem se dar conta ou mesmo se importar se estão incomodando ou não, e para isso elas usam alguém como sua ouvinte. É importante que os outros a vejam falando, vejam que elas estão sendo importantes para alguém, que alguém está lhe dando atenção.Entretanto todas elas não percebem que estão traçando um caminho para a sua própria solidão, pois todos fogem da sua companhia entediante.

Junia