O CEMITÉRIO SÃO JOÃO BATISTA COMO ATRATIVO TURÍSTICO

Por Roberta Poti | 19/06/2011 | Sociedade

CURSO DE TURISMO

MARIA ROBERTA DE ANDRADE POTI

FORTALEZA, 2007.

Maria Roberta de Andrade Poti

Projeto de pesquisa submetido á Coordenação do Curso de Turismo, da Faculdade Latino-Americana de Educação, como requisito parcial para obtenção do Diploma de graduação em Turismo.


Orientador Professor Ms: Fábio Maia Sobral


“ ( ... ) Disciplina é liberdade
Compaixão é fortaleza
Ter bondade é ter coragem
Lá em casa tem um poço
Mas a água é muito limpa ”

 Renato Russo

Introdução

O Cemitério São João Batista é um bem muito importante para a nossa cultura, pois faz parte das nossas raízes, mesmo não sendo reconhecido ainda como patrimônio, ação que já deveria ter sido tomada há bastante tempo pelos órgãos competentes, ele tem seu valor reconhecido entre a maioria dos fortalezenses e dos visitantes locais e estrangeiros que sempre o contemplam.

Sendo um local tido como aterrorizador por algumas pessoas pelo fato de conter cadáveres, superstições de alguns e por emitir um clima sombrio, ele além de mostrar a sua beleza artística através de vários estilos exprime também sentimentos que permanecem ali sejam eles de saudade, dor, tristeza ou até a promessa de um futuro reencontro em um outro plano espiritual. 

Lá podemos perceber que há espaços bem amplos e o interessante é notar que em determinadas há a semelhança com um parque, pois existem diversos bancos ao abrigo de árvores criando um clima harmonioso (onde os visitantes podem descansar ) em meio a tantas lápides sendo estas cercadas de grades com o intuito de proteção sem deixar de mencionar o fato de ter muitas pessoas importantes enterradas lá como, por exemplo, o Frei Tito.

Há a necessidade de perpetuar esse bem para enriquecer ainda mais a nossa história sendo ele um item a mais dos nossos ícones edificados históricos e ampliando nossas mentalidades um pouco mais é que teremos respeito pelo que é nosso, e tendo ações como estas é que seremos também respeitados como cidadãos.

Justificativa

O interesse pelo cemitério como objeto de estudo tem uma relação com as experiências que antecedem a minha vida acadêmica. Quando adolescente costumava visitar cemitérios por me sentir bem.

Após iniciar meus estudos na Graduação de Turismo a paixão pela arte transformou-se e ao estudar alguns estilos arquitetônicos tais como o Neoclássico², me ocorreu o desejo de observar esse tipo de estilo no interior do mesmo.

Nesse sentido, decidi visitar o Cemitério São João Batista3 para estabelecer contato com o local e possíveis visitantes. Durante as visitas me deparei com os espaços apresentado por BATISTA:

Possivelmente o mais significativo jazigo, no São João Batista, com as características de uma cruz fincada em um monte de pedras, adornadas por livros, seja o de Gualter R. Silva, falecido em 1892, que, além de grande anfitrião, exercia a atividade de livreiro. ( BATISTA: 2002)

 

Das vezes em que estive no São João Batista, fiquei impressionada com a arquitetura e com a presença de visitantes como alguns artistas que exploravam o local sem guias, estudantes estrangeiros ligados a Unifor (Universidade de Fortaleza), que fazem pesquisa sobre o local e outros que vão por conta própria para fotografar as sepulturas, os estudiosos e os admiradores dos estilos arquitetônicos que lá existem. A partir desta experiência considerei significativo analisar as práticas de visitação ao cemitério e o significado deste espaço no contexto urbano da cidade. Mesmo com a riqueza arquitetônica que apresenta o cemitério não é tombado apesar de já ser considerado um patrimônio pelos seus admiradores. Entretanto, já se pensa em fazer um projeto com esse propósito.

Considerando que o cemitério São João Batista apresenta uma arquitetura que remonta ao século XIX e possui valor histórico, como este espaço pode ser pensado em seu potencial turístico?

Referencial Teórico

O primeiro aspecto a ser considerado em relação ao Cemitério São João Batista é o histórico da sua construção. O Cemitério São João Batista foi construído num contexto de higienização da cidade de Fortaleza da segunda metade do século XIX.

A higienização da cidade se acentuou numa fase em que Fortaleza foi atingida pela epidemia de varíola. O problema se intensificou devido a seca de 1877 e a deficiência sanitária da cidade. Com o alto calor e sem higiene o povo foi acometido por uma devastadora epidemia de varíola e, partindo então dessa crise foram adotadas medidas pelos médicos, que visavam melhorar as condições higiênicas da população incluindo-se a mudança dos locais de enterros.

Anteriormente os mortos pertencentes as famílias ricas eram enterrados nas igrejas e as camadas populares em outros lugares, os chamados campos santos. Com a proibição feita por Dom Pedro I os mortos deixaram de ser enterrados nas igrejas seja por motivos higiênicos, estéticos ou econômicos já que se tornava muito dispendioso remexer no interior das mesmas para realizar os sepultamentos.

Nesse sentido, foi determinada a construção do cemitério público o São Casimiro em 1844. Com o crescimento da cidade este cemitério já se encontrava praticamente, próximo ao centro da cidade, além de estar sendo soterrado pelos areais. A alternativa foi a construção do Cemitério São João Batista, localizando-se distante da cidade e a sota-vento para evitar que, os gases fúnebres circulassem pela cidade disseminando doenças. Atualmente o cemitério se encontra desprovido de cuidados que possam garantir a sua preservação.

Segundo CAMARGO, para falar em preservação e localizá-la historicamente é importante remontar a Revolução Francesa, pois neste contexto:

“(...) surge “um modelo de preservação conduzido como política do estado que, se surgiu nesse período, só irá tornar-se consistente, na própria França, 60 anos após a Queda da Bastilha. É fundamental que possamos conhecê-lo, pois é o modelo pelo qual se estruturou a política de preservação federal no Brasil na terceira década do século XX. (CAMARGO: 2002).

De acordo com o mesmo autor, a partir desse contexto “a existência daqueles bens da coroa, da igreja e dos emigrados, e a concepção de Estado Nacional, constituem-se então os bens nacionais”.(CAMARGO:2002).

Nesse sentido, as obras e os monumentos deveriam mostrar a alma e os costumes dos franceses com o passar do tempo e através dos monumentos que iriam reforçar a identidade nacional, os cidadãos se reconheceriam como franceses.Tal idéia chegou a ser adotada pelos paises que e adaptava-ás a realidades históricas de seu povo. Ela se tornou o modelo para a construção do Patrimônio Nacional brasileiro e é o marco inicial para o conceito de Patrimônio da Humanidade.

No Brasil a primeira medida oficial voltada para o patrimônio cultural foi tomada em 1930 e por esta medida Ouro Preto é erigida como Monumento Nacional. Um aspecto que deve ser destacado é a apropriação do patrimônio pelo varguismo como observa CAMARGO:

É uma historia cujo conceito de epopéia servira admiravelmente aos propósitos da reorganização do Estado após a Revolução de 1930, particularmente a ditadura do Estado Novo de Vargas, que se auto-justificaria como defesa contra doutrinas estrangeiras.O que se quer dizer com isso é a apropriação do patrimônio pelo Varguismo para seus próprios fins.Nesse sentido, os apelos freqüentes á tradição, á ordem, aos sentimentos religiosos, ao conservadorismo, são elementos manipulados politicamente. (CAMARGO: 2002)

Neste contexto se insere a criação do serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional SPHAN com a colaboração de alguns intelectuais paulistas e mineiros. Segundo Fenelon a criação desta instituição:

correspondeu á intenção de "abrasileirar os brasileiros" como se afirmou o mestre modernista, fiel aos princípios de trabalhar para o que pretendia fosse a Descoberta do Brasil, valorizando temas, objetos, sons, cores, construções brasileiras. (FENELON: 1992)

 

A concepção do Patrimônio Histórico, que surgiu durante a fase de repressão e autoritarismo dos anos 30, agitada pelos escritores da fase modernista, mesclou os ideais do governo com os objetivos modernistas, na intenção de recuperar o passado para alcançar um significado de identidade nacional.

Não demorou muito para ser identificado e protegido pelo Estado, através do Instituto do Tombamento regulamentado pelo Decreto 25, um conjunto de bens culturais que integram até os dias atuais, o núcleo do patrimônio histórico oficial do Brasil, o patrimônios edificados tais como igrejas, capelas, quartéis, fortes, cadeias, palácios e casas da câmara também logo surgiram nas listagens e foram restaurados e postos em exposição como símbolos do passado da Nação.

Foi excluído então objetos diversos tais como o religioso com suas ações e seus hábitos do cotidiano. A serviço do poder, a cultura submeteu-se e calou-se diante dos conceitos e objetivos do Patrimônio Histórico .

Mais uma vez se tornava prioridade reconhecer como obras de valor os pertences da classe dominante e a maioria da população estava impedida de incluir suas experiências de vida no ramo cultural e não via seu reflexo nestes pertences.

Segundo a autora, a criação de patrimônios nacionais intensificou-se durante o século XIX e serviu para criar referenciais comuns a todos que habitavam um mesmo território, unificá-los em torno de pretensos interesses e tradições comuns resultando na imposição de uma língua nacional, de "costumes nacionais", de uma história nacional que se sobrepôs ás memórias particulares e regionais.

A construção do patrimônio cultural é um ato que depende das concepções que cada época tem a respeito do que, para quem e por que preservar. A preservação resulta, por isso, da negociação possível entre os diversos setores sociais, envolvendo cidadãos e o poder público.O significado atribuído ao patrimônio também se modifica segundo as circunstâncias do momento. (RODRIGUES: 2001)

 

Considerando que o Cemitério São João Batista é um espaço dotado de valor histórico e que atualmente mesmo com a ausência de leis que procurem valorizar o local há a presença de turistas, acho de suma importância analisar os significados das visitações pelos turistas e pensar as possibilidades que o local oferece como ponto turístico em Fortaleza.

Atualmente em Fortaleza poucos locais do centro da cidade são explorados. Há muitas visitas em torno de parques aquáticos como o Beach Park e praias como a da Caponga, Canoa Quebrada, Cumbuco, Lagoinha e Mundaú. Já com o City- Tour é incluído como ponto turístico da cidade a Beira-Mar, a Praia do Futuro, o Mausoléu, a Catedral, o Forte Nossa Senhora da Assunção, a Ponte dos Ingleses, o Mercado Central e a Encetur ( Centro de Turismo), sendo que há mais pontos a serem visitados e que são esquecidos!

Certa vez, me deparei com uma frase que me tocou bastante: “um homem sem passado é um homem sem história” o que me fez pensar sobre a valorização dos lugares históricos de Fortaleza. e me fez refletir, se quisermos que valorizem nossa cidade temos de valorizá-la primeiro, como no caso do cemitério São João Batista que tem muito a nos revelar sobre a história local, e possui um grande acervo artístico em estilos como o Barroco¤. Por que não fazer dele um produto turístico como exemplo do que acontece com o Pére Lachaise em Paris? É preciso deixar romper o preconceito quanto aos locais desta natureza que se destinam a guardar os mortos. Os que se foram deixaram rastros das suas experiências dos seus costumes que ajudam a compreender a história da cidade. Não se trata apenas de ser o local onde repousam os mortos, mas também é o local rico histórica e culturalmente. Para os que viajam e sentem a necessidade de conhecer a história e a cultura de outros povos o cemitério é um ponto de visita significativo.

Segundo RODRIGUES: 2001, o hábito de se realizar viagens é muito antigo e no século XVII as famílias ricas mandavam seus filhos terminarem os seus estudos realizando viagens a locais conceituados, onde aprendiam os costumes dos outros povos, compravam obras de arte e visitavam monumentos antigos.

O turismo é proveniente de uma sociedade que visa não apenas o lucro e que cresceu por causa de várias motivações, dentre elas o consumo de bens culturais. O Turismo cultural não só engloba a oferta de espetáculos ou eventos, mas também a existência e preservação de um patrimônio cultural representado por museus, monumentos e locais históricos.

De acordo com a autora, além do valor cultural, esses bens materiais possuem outro valor, o de serem objetos indispensáveis, cujo consumo constitui a base da sustentação da própria atividade de turismo. (RODRIGUES: 2001)

 

 

Em 1964, o interesse do Estado brasileiro na área da cultura aumentou e, três anos depois, em 1967 foi promovido um encontro no Equador, pelo Departamento de assuntos Culturais da Organização dos Estados Americanos ( OEA ). Nesse encontro foi criado um documento, Carta de Quito, que foi assinado pelos países participantes, dentre eles o Brasil

Nela se recomendava que os projetos de valorização do patrimônio fizessem parte dos planos de desenvolvimento nacional e fossem realizadas simultaneamente com o equipamento turístico das regiões envolvidas.Recomendava-se, ainda cooperação dos interesses privados e o respaldo da opinião pública para o desenvolvimento desses projetos. ( RODRIGUES, 2001)

 

Durante essa fase, o governo do então Presidente Castelo Branco criou o Conselho Regional de Turismo e a Empresa Brasileira de Turismo (Embratur), e durante o ano de 1967 foi criado o Sistema Nacional de Turismo. Realizou-se também o I Encontro Oficial de Turismo Nacional e o objetivo desse encontro era o de fomentar uma atividade econômica que atendesse ao desenvolvimento social, meta que, com a segurança e a integração nacionais, constituía, então o núcleo da política do governo federal. Nesse período o Turismo estava apenas começando a se desenvolver e não possuía pessoas com o devido conhecimento do assunto nem apoio algum ao ramo.

Estilo Barroco 

Estilo marcado por intenso dramatismo e realismo, pela exuberância das formas, expressões teatrais e movimento onde os artistas procuraram destacar expressões faciais e características individuais como cabelos, lábios, músculos, onde procuravam glorificar a religiosidade.

 

Objetivo Geral

Analisar o Cemitério São João Batista como potencial atrativo turístico devido ao seu valor artístico, histórico e cultural.

 

 

Objetivos Específicos

• Observar a variedade de visitantes, sendo eles turistas e não turistas

• Perceber as expectativas dos visitantes em relação ao local

• Identificar os espaços existentes no cemitério

• Identificar também alguns dos aspectos artísticos encontrados em certas

lápides.

• Analisar a Importância deste cemitério no espaço urbanístico da cidade.

Metodologia

A metodologia a ser empregada no presente estudo terá como base a pesquisa qualitativa, onde se delimita e se formula um problema.

A delimitação e a identificação do problema exige que o pesquisador se infiltre na vida e no contexto, no passado e nas circunstâncias presentes que façam parte do problema.

 

O pesquisador não se transforma em um mero relator passivo: sua imersão no cotidiano, a familiaridade com os acontecimentos diários e a percepção das concepções que embasam práticas e costumes supõem que os sujeitos da pesquisa têm representações, parciais e incompletas, mas construídas com relativa coerência em relação á sua visão e á sua experiência.

( CHIZZOTTI: 1998).

 

 

A partir dessa infiltração o pesquisador terá como explorar as características do local estudado a fim de conhecê-lo melhor, de buscar soluções para determinadas indagações a respeito deste local.

As técnicas a serem utilizadas incluem a observação seguida de diário de campo, entrevistas que incluirão os funcionários do cemitério e os visitantes, nativos ou não, com 20 questionários colhendo as opiniões destas pessoas e a análise de documentos.

Como técnica também será utilizada a coleta de dados quantitativos, que segundo o autor é uma parte da pesquisa que exige muito tempo e trabalho visando reunir informações indispensáveis para se comprovar uma hipótese, onde necessita de uma organização criteriosa da técnica e a confecção de instrumentos adequados de registro e leitura dos dados colhidos em campo.

Nas pesquisas tidas como experimentais o apoio é feito em objetos ou instrumentos adequados aos fins comensurativos, tais como o uso de gravadores.

Uma das três principais técnicas que utilizam instrumentos sistematizados de coleta de informações mensuráveis e é utilizada neste projeto é a entrevista diretiva ou estruturada onde espero conseguir o máximo de informações possíveis para que o presente estudo tenha uma gama de informações indispensáveis e necessárias para a sua conclusão.

 

 

Referências Bibliográficas

 

BATISTA, Henrique Sérgio de Araújo. Assim na morte como na vida. Arte e sociedade no Cemitério São João Batista ( 1866- 1915) . Ceará: Museu do Ceará ( Coleção Outras Histórias ). 2002.

CHIZZOTI, Antônio .Pesquisa em ciências humanas e sociais. São Paulo: Cortez, 1998.

CAMARGO, Haroldo Leitão. Patrimônio Histórico e Cultural. São Paulo: Editora Aleph ( Coleção ABC do Turismo. 2002.

FENELON, Déa Ribeiro.Departamento do Patrimônio Histórico. Secretaria Municipal da Cultura Prefeitura do Município de São Paulo: “ O direito á memória.Patrimônio Histórico e Cidadania, São Paulo, 1992.

LAVILLE, Christian e Dionne, Jean. A construção do saber: Manual de metodologia da pesquisa em ciências humanas. Porto Alegre: Artes médicas sul LTDA. 1999

PONTE, Sebastião Rogério. Fortaleza Belle époque. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha. 2001

RODRIGUES, Marly.Imagens do passado.A constituição do patrimônio em São Paulo, 1969-1987.São Paulo: Unesp:Inesp: Condephaat, 2001.

Site: www.spectrumgothic.com