O CAPITALISMO E SUAS CRISES

Por ARINEZINA SANCHES MACEDO DA SILVA | 16/08/2016 | Economia

O CAPITALISMO E SUAS CRISES

Arinezina S. M. da Silva

“Tento restaurar algum entendimento sobre o que o fluxo do capital representa. Se conseguirmos alcançar uma compreensão melhor das perturbações e da destruição a que agora estamos todos expostos, poderemos começar a saber o que fazer”. (David Harvey)

RESUMO

O presente artigo objetiva demonstrar as crises econômicas mundiais do sistema capitalista. Pretende-se, de forma sucinta, explanar a maneira como aconteceram as crises capitalistas que se iniciariam nos Estados Unidos e se disseminaram pelo mundo, mais, especificamente, a de 1929, bem como a do boom imobiliário de 2008.

Portanto, com base em estudos realizados por Max Weber, Karl Marx e David Harvey, busca-se compreender o conceito do capitalismo, suas características principais, e, por conseguinte, as consequencias que a crise financeira global ocasionou e pode ocasionar para esse modelo econômico.

PALAVRAS CHAVES: Marxismo, Capitalismo, Crise Econômica Global.

  1. MAX WEBER E KARL MAX

Antes de falar sobre as crises do capitalismo, é preciso, inicialmente, entender o que é o capitalismo, o seu conceito e suas características principais, afim de que se possa descobrir as causas que impulsionaram o surgimento das crises nesse modelo de sistema econômico, e por conseguinte, suas consequencias para a sociedade e para a economia de um modo geral.

Necessário se faz frisar, que o capitalismo surgiu no declínio feudalismo, o qual foi um modelo econômico baseado, exclusivamente, na produção agrícola e na mão-de-obra artesanal.

Dois são os expoentes teóricos adotados no presente trecho deste trabalho, os quais são de acentuada importância para o estudo das crises econômicas.

Max Weber, ao estudar o modelo de pensamento econômico capitalista, discorre que embora ele não seja um fenômeno exclusivamente ocidental,

foi no ocidente que se desenvolveu uma gama de configurações do Capitalismo que nunca existiu antes, em parte alguma e sugere que é na intenção sustentada pelo agente econômico que se deve buscar o elemento diferenciador do capitalismo ocidental." (CATANI, 1991).

Além disso, Weber destaca que duas características personalizam o capitalismo ocidental, quais sejam: 1. a formação de um mercado de trabalho formalmente livre; e 2. o uso da contabilidade racional. Acrescenta que estes atributos são intimamente interligados, de forma que sem eles o capitalismo não teria sequer existido no ocidente.

Segundo CATANI (1991), Weber diz que o capitalismo moderno é um conjunto de instituições que desenvolvem seu trabalho com base na economia racional. Diz ainda, que é ele a cristalização objetiva de uma série de premissas teológicas éticas que proporcionam ao homem, a partir de seu trabalho e da riqueza adquirida por meio dele, a salvação individual.

Percebe-se pois, que Max Weber, com suas análises, conseguiu identificar o liame existente entre as relações religiosas protestantes e as aspirações mundanas do capitalismo. Para tal teórico, o objetivo desse sistema era aumentar a riqueza alcançada pelo homem, sendo ela uma espécie de recompensa pelo trabalho realizado. Dessa forma, aumentar a riqueza e aumentar o capital era algo que para que o homem já estava predestinado.

De outra sorte, Karl Max, ao elaborar seu estudo científico sobre o capitalismo focou seu olhar no modo de produção burguês e nas lutas de classes. Demonstrou que os capitalistas proprietários dos meios de produção se prevalecem dos trabalhadores, explorando-os de forma que se apropriam da Mais-Valia (maior parte do trabalho que o operário realiza sem receber).

Essa é uma das características do capitalismo que, segundo Max, gera desigualdade, e por consequencia, propicia o surgimento das mazelas e antagonismos sociais, ou seja, de um lado, situam-se os explorados menos favorecidos e do outro, estão os exploradores detentores do poder econômico.

Nesse sentido, o autor diz que o antagonismo causa descontentamento, e a partir dele, surgem as lutas de classes sociais, as quais contribuem para o progresso da humanidade, ou seja, para ele a desigualdade propicia o surgimento de

"um conflito entre a classe burguesa que controla a produção e um proletariado que fornece a mão de obra para a produção. Ele chamou o capitalismo de "a ditadura da burguesia", acreditando que seja executada pelas classes ricas para seu próprio benefício, Marx previu que, assim como os sistemas socioeconômicos anteriores, o capitalismo produziria tensões internas que conduziriam à sua auto-destruição e substituição por um novo sistema: o socialismo"[2].

  1. O CAPITALISMO E SUAS CRISES: Uma análise sob a ótica de David Harvey.

O modelo capitalista moderno já enfrentou duas enormes crises: A primeira se deu em 1929, quando ocorreu a queda da bolsa de valores de Nova York, a qual ocasionou a desvalorização das ações das empresas norte americanas no mercado internacional, e com isso, a falência de muitas empresas, bem como o alastramento da crise pelo mundo inteiro.

A segunda, ocorrida em 2008, também nos Estados Unidos, relacionou-se, inicialmente, ao mercado imobiliário. Todavia, mais uma vez, disseminou-se em outros ramos dos negócios e influenciou as economias do restante do mundo.

David Harvey, em seu livro o Enigma do Capital, explica a segunda crise econômica a partir de uma visão marxista. Nele, analisa as primícias dessa crise econômica e seu argumento

centra-se na concepção do capital como um fluxo, um processo contínuo no qual o detentor da riqueza, o capitalista, lança mão de seu dinheiro para ganhar mais dinheiro: "Capital is not a thing but a process in which money is perpetually sent in search of more money" (Harvey, 2011, p. 40). Embora esse movimento possa assumir várias formas distintas, Harvey sustenta que o modo de circulação do capital industrial, dominante desde meados do século XVIII, é aquele essencial para a compreensão da dinâmica capitalista. Com efeito, a conversão perpétua de dinheiro em mão de obra, matérias-primas e máquinas para a produção de mercadorias cuja venda remunere adequadamente o capital despendido e, assim, permita um lucro que se agregue a esse circuito - ou seja, a própria acumulação de capital - é, para o autor, o processo que confere movimento à economia capitalista. Embora não explicitada pelo autor, a dinâmica à qual Harvey se refere é, na verdade, aquela sintetizada por Karl Marx, em 1885, na conhecida fórmula a seguir (Marx, 1984):

onde D representa o volume de dinheiro avançado como capital, M as mercadorias necessárias ao processo produtivo (decompostas em F, a força de trabalho, e Mp, os meios de produção), representa o processo produtivo, M' as mercadorias produzidas (acrescidas em valor na produção), e D' o dinheiro auferido pelas vendas das mercadorias, cujo valor, em virtude do lucro, é maior do que o valor do capital original, D.[3]

Dessa forma, o autor discorre que o capitalismo é contraditório, de sorte que esse sistema nunca poderá superar as suas crises, pois não é capaz nem mesmo de superar as suas contradições.

Harvey faz uma análise globalizada da crise econômica de 2008, na qual ele contempla, desde a questão das tecnologias da informação, da organização social do trabalho, do saneamento básico (quando enfatiza a questão do lixo urbano e do despejo dos dejetos do primeiro mundo nos países periféricos) poluição, urbanização, moradia, etc.

Por fim, o autor afirma que a crise global econômico-financeira, que se iniciou nos anos 2000, está longe de acabar, vez que é sistêmica e antagônica.

A crise é lançada de um setor para o outro, mudam-se os cenários e os protagonistas, mas os bastidores são muito similares, ou seja, ela inicia-se no financeiro, é jogada para o Estado, que por sua vez a lança para a população, sem que haja nenhuma solução que possa beneficiar a humanidade como um todo.

BIBLIOGRAFIA:

CATANI, A.M. O que é capitalismo. 30ed. (coleção primeiros passos). São Paulo: editora brasilense, 1991.

HARVEY, D.O. O enigma do capital: e as crises do capitalismo. São Paulo: Boitempo, 2011.

HOSBSBAWN, E. A crise do capitalismo e a importância atual de Marx. Disponível em http:://www. cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=15253. Acesso em 15/08/2016

http://pt.wikipedia.org/wiki/Karl_Marx.Acesso em 15/08/2016.

http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1415-98482013000300008&script=sci_arttext. Acesso em Acesso em 15/08/2016.

[1] Arinezina Sanches Macedo da Silva, Graduanda do Curso de Direito da Universidade Federal do Maranhão - UFMA

[2] http://pt.wikipedia.org/wiki/Karl_Marx

[3] http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1415-98482013000300008&script=sci_arttext