O Caçador E A Sexta-feira Santa

Por Helio Rocha | 16/04/2007 | Religião

É... Foi contado pela minha avó... Isso, lá no interiorzinho do Maranhão. Foi o...a história de um caçador, né? Que ele teimava em não acreditar em algumas lenda que são passadas, né? De gerações e ele era incrédulo. E numa sexta-feira santa foi um dia que ele tirou para teimar. Tipo assim, que lê queria... Pagou pra ver, né?

Então, ele tinha conversado com a esposa dele, que era temerosa e... era Joaquim, o nome dele. E ela viu ele se aprontando pra ir caçar, como de costume, né? que ele ia. Mas, só que naquele dia era sexta-feira-santa. E ela falou assim:

- Joaquim, cê vai pescar hoje?

E ele disse que sim. Ela falou assim:

- Mas hoje é sexta-feira santa. Hoje num pode.

Aí ele falou assim:

- Não, mulher. Isso num é... Isso é história. Isso num existe não.

Aí, ela de novo falou:

- Joaquim, num vai Joaquim, porque num é bom a gente brincar com essas coisas, né?

Mas, como el era um homem do mato ele disse que não. Disse que ia. E continuou aprontando o material dele. E dito feito. Ele foi. Botou o material dele nas costa. Pegou a lanterna, espingarda e entrou na mata. E a esposa dele falando:

- Joaquim, num vai. Joaquim, num vai.

Ele já tava até ficando brabo com a mulher, né?

- Num me enche o saco, mulher!

E ele entrou já era umas quatro horas da tarde que ele entrou na mata. E a mata, mesmo você... Uma mata fechada, né? Mesmo sendo quatro horas da tarde, mas já é bem escuro assim. E ele adentrou na mata e... Em relato dele depois, né? Ele foi fazendo o... Saindo atrás do rasto do... da caça e fez lá a cevada e deixou preparado lá. Aí, depois, ele preparou um... um..uma arapuca.

-Vixe, agora! Armadilha. É armadilha, a palavra certa.

Assim, ele subiu na árvore. Colocou uns galhos lá em cima e ficou na espera, espera. Ficou lá em cima na espera. Aí, ele deixou lá a isca sic a isca pra caça vim. E nisso ele ficou. O tempo passou e nada. E, num era de costume, né? Que sempre quando ele ia no máximo depois que ele deixava lá a isca, uma hora, por aí, a caça já vinha pra comer e ele abatia, né? E, curiosamente, naquela sexta-feira santa, que el teimou. Num acreditava nessas coisas de lenda. Ele deixou lá e nada. A caça num apareceu. Aí, deu uma hora. Uma hora e meia. Duas hora. Ele falou:

-Ué!

Ele falou:

- Não, eu vou e vou armar a minha rede, porque a caça hoje num... ela num chegou até agora, né? É porque deve ta cedo. Então, lá pra umas três da manhã eu volto, coloco a isca de novo e faço a espera.

Aí ele desceu, recolheu a isca e... e foi fazer o alojamento dele, né? Aí, ele desceu as tralhas dele, né? Fez lá um... um foguinho...uma fogueirinha. Armou a rede dele. Armou a rede dele num... num lugar alto, porque lá era um...E então, ele se recolheu, né? Falou:

- Vou deitar que daqui a pouco eu tenho que levantar pra ir de novo lá na espera pra abater a caça.

O que ele num. num... num contava é que aquele dia num era um dia normal. Ele tava desrespeitando a lei da Natureza, né? Ele tava...tava subestimando, né? Então ele deitou na rede. Quando ele deu um cochilinho, ele escutou o alvoroçar na mata. Mato batendo e bicho gritando. E ele achou aquilo estranho, né? Ele até se espantou, mas, no entanto ele tinha deixado a arma dele ali... escorada na árvore, né? Ele não tinha, nem tava próximo da arma. Então ele ficou ali meio paralisado na rede. Só escutando esse barulho. E quanto mais o barulho se aproximava, né? E ele assustado. E el imaginou:

- Será que... será que é uma caça que ta vindo pra cá? Porco-do-mato?!! Onça?!!

Mas foi aí que ele se enganou, porque conforme o barulho vinha se aproximando, ele estava paralisado. Sem reação. Ele pegou e falou:

- Eu vou dar uma espiada.

Quando ele ergueu a cabeça e olhou na direção daquele barulho, ele enxerga uma criatura jamais vista. Uma mistura de anta com cavalo, com boi, com cobra. Uma coisa muito feia mesmo. E aquilo vinha na direção dele. Rosnando, gritando. Era uma coisa assim mesmo que não era desse mundo, com certeza, pelo que ele disse.

E el ficou mesmo, aí que ele, que o que... ele ficou mais com medo,mesmo, né? Porque ele num sabia identificar o que era aquilo. E aquela criatura fazendo aquele barulho horrível, tremendo, vindo pra próximo dele. E ele sem reação nenhuma, voltou a se encobrir e ficou ali. E a criatura chegou. Aproximou-se. Ficou de pé. Essa criatura era um quadrúpede, né? e ficou de pé. E no ficar de pé, a criatura pegou e falou:

- Caçador, você está infringindo a lei da Natureza. Você não deveria estar hoje aqui. Hoje, não é o dia da caça. Hoje é o dia do caçador.

E naquilo, o caçador não acredita naquilo que tava ouvindo, né? E então, aquela criatura falando isso pra ele. Falou assim que daquela vez, por ser a primeira vez, ela ia deixar passar, mas na próxima vez que ele...é...desrespeitasse a lei da selva, né? e voltasse a fazer aquilo, el não sairia dali com vida pra contar essa história, pra passar essa história. E ele... o medo que ele tava que era tão grande que ele nem teve coragem de..de olhar pra criatura. Ele ficou na rede mesmo. Do jeito que el ficou que ele...Ficou só escutando aquilo. E depois que ela disse essa palavra, ela simplesmente desapareceu. O barulho que...que ela fez se aproximando, aquele som estranho. Tudo aquilo quando ela chegou... Na hora que terminou que ela disse essas palavras, desapareceu. Ele, simplesmente, pulou da rede, entrou no mato coma lanterninha dele e capou pra casa. Chegou assustado. E aí, ele relatou pra mulher dele. E ela falou:

- Viu Joaquim! Eu te disse. Tu não quis acreditar! Eu te disse!

Então ficou um... Ficou essa história, né? Uns dizem que é verdade; outros dizem que não. Mas é uma lenda, né? que minha avó contava,a mãe contava também e ..Fim.

Este relato foi contado por Oziel Cunha Maranhense que vive em Porto Velho-RO e trabalhava, na época da gravação, na SEMUSP Secretaria Municipal de Saúde Pública. O ano era 2003, o mês novembro. O conto foi gravado por mim, vertido para o enunciado escrito e logo depois analisado.