O Caçador E A Sexta-feira Santa: Uma Narrativa Oral Sob Os Olhos Da Análise Do Discurso

Por Helio Rocha | 19/04/2007 | Sociedade

Analisar uma formação discursiva é tratar um conjunto de performances verbais, ao nível dos enunciados e da forma de positividade que os caracteriza.

Michel Foucault - A arqueologia do Saber

Tomando como ponto de partida e como fio condutor a noção foucaultiana de que não há enunciado livre, neutro e independente; mas sempre um enunciado fazendo parte de uma série ou conjunto, desempenhando um papel no meio dos outros, neles se apoiando e deles se distinguindo (2002, p. 114), observaremos neste paper, a prática discursiva que permeia toda a narrativa o caçador e a sexta-feira santa. Também tomaremos como empréstimo, as idéias bakhtinianas sobre genros discursivos, onde todas as esferas da atividade humana se efetuam em forma de enunciados orais ou escritos, concretos e únicos.

Na análise em questão, vale também nos apoiarmos em fios conceptuais desenvolvidos por Paul Zumthor teórico suíço que deslocou o interesse do fenômeno lingüístico para a voz humana espécie de mediação entre o corpo e a palavra que se endereça à sensação, retém a ambigüidade, anuncia outra potência que, se entrelaçando ao visceral, convida todo o corpo humano à apreensão do fenômeno poético; impondo-se, assim, o comportamento performático.   E com Roland Barthes semiólogo francês alinhavaremos, à análise aqui proposta, a idéia de que o poder é o parasita de um organismo trans-social, ligado à história inteira do homem e que o objeto em que se inscreve o poder e a linguagem ou para ser mais preciso: a língua (2000, p. 12).

Sob as luzes de Foucault, Bakhtin, Zumthor e Barthes, é que nos propomos a fazer algumas considerações sobre a narrativa oral genro discursivo que se materializa através de um jogo de memória, esquecimento e performance. Essa materialização prática discursiva apresenta, de acordo com Zumthor (2000), a particularidade de tomar, simultaneamente, como material, como assunto e campo de atividade, a língua e o imaginário. Toda essa rede de práticas tem por finalidade a comunicação e a representação de mundo, embora ambas não aconteçam de forma gratuita, pois quando se manifestam estão sempre a serviço do poder. A comunicação, quando ocorre, tem o poder de modificar o comportamento do interlocutor.

Explicitemos, agora, o que se entende aqui por performance, que segundo Zumthor (2000, p. 27), significa a presença concreta de participantes implicados nesse ato de maneira imediata e de certa forma, o momento em que o enunciado de um discurso é recebido; o enunciado para Bakhtin (1997), reflete as condições específicas e as finalidades de cada uma das esferas da atividade humana, não só por seu conteúdo temático e por seu estilo verbal, mas, sobretudo, por sua construção composicional. Cada atividade humana pode ser entendida como uma forma de fazer-se do homem e requer determinado tipo de linguagem que se ajuste ao gênero discursivo, no caso da narrativa oral gênero primário. E através da memória, isto é, da capacidade de lembrar, o narrador chega às lembranças, consoante Maurice Halbwachs , em seu livro, A memória coletiva (1990), é própria realização da memória. A recordação é a tentativa de recuperar o vivido e, nesse jogo, determinada ideologia se manifesta e circula na comunidade ouvinte. O discurso, então, veiculado pela narrativa, nada mais é do que uma forma de perpassar valores, por exemplo, políticos, econômicos, morais, éticos ou religiosos, como é o caso da narrativa O caçador e a Sexta-feira santa, contada por Oziel Cunha, jovem maranhense que migrou para Rondônia na década de 90.

Podemos lembrar que a literatura, em relação à ideologia, não fixa, mas mexe com a realidade. Na verdade, há uma circularidade de valores, de conceitos, de crenças, ora avançando, ora recuando e, nessa dialética, vai adquirindo status, seu estatuto de valor. Para ilustrar essa idéia de interação em uma comunidade discursiva, citemos Foucault: não há enunciado que não suponha outros; não há nenhum que não tenha, em torno de si, um campo de coexistências, efeitos de série e de sucessão, uma distribuição de funções e de papéis (2002, p. 114). Com Barthes (2000, p. 22), podemos afirmar que a literatura se afaina na representação de alguma coisa. O real? não é representável, mas somente demonstrável.  Desse modo, nessa demonstração do real, a narrativa oral é uma forma de diálogo, de interação verbal, que tem como função não apenas divertir, de satisfazer as necessidades psicológicas do ouvinte, mas também interpretar o mundo.

Nessa perspectiva, através do dito chega-se ao não-dito e ainda, ao jamais-dito e, assim, possibilita ao ouvinte/leitor, olhares para o real. Nesse borbulhar irrupção vulcânica discursiva - de enunciados, de confirmações, sucessões, apagamentos, reformulações e pactualidade entre a linguagem, o contador e o ouvinte/leitor, a literatura cumpre, ao menos, um de seus muitos papéis: encantar. Possibilita, ainda, ao ouvinte/leitor, a capacidade para perceber o discurso que aí se atravessa e a ideologia perpassada emanando desse ato sherazadiano. Sherazade - a contadora de histórias que viveu no tempo das mil e uma noites e sabia ondular, ao sabor da dança do ventre, as palavras e os gestos. Ela, certamente, falava árabe e cozinhava bolinhos de amêndoa e inventava histórias todas as noites que nunca tinham fim. O objetivo maior era prolongar a sua vida.

Essa contadora de histórias gostava de imaginar as palavras como se cada uma fosse uma missanga. Juntava as missangas segundo as cores e os tamanhos numa bela pulseira ou, em dias de maior inspiração, em belos colares que formavam as suas histórias. Era uma contadora de jóias artesanais que alguns gostavam de ler e outros de escutar. Enuciados enfileirados em uma corrente discursiva que jorrava e jorra incessantemente. Esse diálogo, esse discurso, não deve ser entendido como uma espécie de opinião comum, de representação coletiva que se imporia a qualquer indivíduo. De acordo com foucault (2002), não imorta quem fala, mas o que ele diz não é dito de qualquer lugar. Participando como uma função discursiva, o sujeito possui certo estilo de enunciação e define sua forma e o tipo de encadeamento dos enunciados. Assim, as coordenadas e o status material do enunciado, declara Foucault (2002, p. 115), fazem parte de seus caracteres intrínsecos.

Para que possamos analisar o conjunto de enunciados que construíram a narrativa oral adiante analisada, é preciso compreendermos que o discurso, na concepção foucaultiana, é conjunto de enunciados que se apóiam na mesma formação discursiva ou, os discursos são práticas que formam sistematicamente os objetos de que falam e ainda: conjunto de enunciados que se apóia em um mesmo sistema de formação (2002, p. 124). É bom que esclareçamos o que é, na concepção do filósofo francês, formação discursiva.

 No caso em que se puder descrever, entre um certo número de nunciados, semelhante sistema de dispersão, e no caso em que entre os objetos, os tipos de enunciação, os conceitos, as temáticas, se puder definir uma regularidade (uma ordem, correlações, posições e funcionamentos, transformações), diremos, por convenção, que se trata de uma formação discursiva (2002, p. 43).

Convém, ainda, que visualizemos a arquitetura flexível do enunciado. As regras de formação são condições de existência, de coexistência, de manutenção, de modificação e de desaparecimento de enunciados, em uma dada repartição discursiva. O enunciado função que cruza um domínio de estruturas e de unidades possíveis, e que faz com que apareçam, com conteúdos concretos, no tempo e no espaço (2002, p. 99) compreende quatro características substanciais para seu funcionamento, a saber: formação dos objetos, formação das posições subjetivas, formação do campo associado e a formação das escolhas estratégicas. Explicitemos cada uma dessas características.

A primeira delas é a formação dos objetos - os enunciados, diferentes em sua forma, dispersos no tempo, formam um conjunto quando se referem a um único e mesmo objeto. A segunda - formação das posições subjetivas, se manifesta através/nas modalidades enunciativas e é necessário questionarmos, para uma melhor compreensão da enunciação quem fala? Qual é o status dos indivíduos que têm o direito de proferir semelhante discurso? De que lugares proferem e proliferam tais discursos?

A terceira é a formação do campo associado. Nesse campo é possível visualizarmos, dedutivamente, o sistema dos conceitos permanentes e coerentes que se encontra em jogo: suas formas de sucessão, disposições das séries enunciativas, as correlações, as formas de coexistência dos enunciados em uma espécie de campo de presença, e ainda, o campo de concomitância, um domínio de memória e os procedimentos de intervenção que podem ser aplicados aos enunciados.

A quarta é a formação das escolhas estratégicas - uma instância onde são trabalhadas as temáticas, as concepções e as teorias; seus pontos de possíveis difrações, de equivalência, de ligação e sistematização na população dos enunciados efetivos. Essa instância se caracteriza pela função que deve exercer o discurso estudado em um campo de práticas não discursivas.  Nela estão compreendidos os regimes e os processos de apropriação do discurso, pois, como sabemos, em nossa sociedade, a propriedade do discurso está reservada a um grupo determinado de indivíduos. Assim, explicado o edifício dedutivo virtual, passemos para nosso objetivo principal: analisar a narrativa O caçador e a sexta-feira santa.

Conforme pontuamos anteriormente, uma função da narrativa oral é transmitir conhecimento e, na narrativa em questão, é visível o respeito, senão, o temor, à sexta-feira santa, dia que para o cristianismo é sagrado por ser considerado um dia de trevas, dia da morte de Jesus Cristo filho de Deus e da virgem Maria:

E numa sexta-feira santa, foi um dia que ele tirou pra teimar... Tipo assim, que ele queria... Pagou pra ver, né? Mas só que naquele dia era sexta-feira santa e, curiosamente, naquela sexta-feira santa que ele teimou, num acreditava nessas coisas de lenda... O que ele num...num contava é que aquele dia num era um dia normal. Ele tava desrespeitando a lei da Natureza, né?

A repetição do termo sexta-feira santa funciona como marca de um discurso religioso propagado pelo cristianismo religião em que, nesse dia, os cristãos se põem em sofrimento, tristeza e dor, em reverência ao filho de Deus, que morrera para expiar o pecado do mundo, para livrar o homem da perdição eterna. Segundo a Bíblia Sagrada, esse dia fora um dia de trevas: desde a hora sexta até a hora nona houve trevas sobre toda a terra (Mateus: cap. 27, verso 45). Esse discurso adquiriu, ao longo dos séculos, várias formas de circulação e, dependendo das condições de produção, principalmente do contexto lingüístico situação em que se dá a produção da linguagem e da intencionalidade ling6uística - intenções existentes na linguagem do narrador, dissemina sua ideologia. Esclarecemos que o termo ideologia, nesse caso, não está sendo visto como forma de fala consciência, como fora proposto por Karl Marx apud Michael Lowy (2000, p.10), mas como um conjunto articulado de valores culturais, étnicos e estéticos por um ponto socialmente condicionado conforme Mannheim, Lowy (2000, p. 12).

O narrador, para seu suporte e maior convencimento da comunidade ouvinte, se coloca junto à personagem que tem a mesma crença, a mesma postura que a dele a esposa de Joaquim, o caçador. Na presente oração adjetiva para utilizarmos a sintaxe há uma característica importante para a contação da história, porque o enunciado que era temerosa funciona como algo louvável em relação às coisas naturais. Na ação-processo desencadeada pelo verbo temer, o temor passa a ser visto como necessário e essencial na transmissão da fé  cristã, onde não se deve questionar qualquer interpretação bíblica. Nem que seja necessário utilizar-se de procedimentos de controle, tais como, a manipulação através da sedução ou da intimidação, ou ainda, através de representações exageradas como acontece na história contada por Oziel Cunha.

O narrado, como um feixe de luz, rompendo a escuridão, constrói imagens e figuras que, gradativamente, se materializam em um discurso de poder. Com Barthes (2000, p. 14), afirmamos que o poder está emboscado em todo e qualquer discurso, mesmo quando ele parte de um lugar fora do poder. E, como o poder se inscreve através da linguagem, lancemos alguns olhares sobe as falas das personagens na narrativa em análise.

Mikhail Bakhtin (1997) pontua que o discurso citado destaca-se sobre um fundo perceptivo que pertence metade ao narrador e metade ao herói. Desse modo, podemos dizer que o narrador utiliza-se da fala das personagens, ora para acentuá-las, ora para atenuá-las. Vejamos um exemplo retirado da narrativa: - Joaquim, cê vai caçar hoje? Mas hoje é sexta-feira santa. Hoje num pode. Joaquim, num vai. Joaquim, num vai. E assim, o narrado vai tecendo, de maneira dissimulada, seu comentário. Mas como ele era um homem do mato, ele disse que não. Disse que ia e continuou aprontando o material dele. Pegou a lanterna, espingarda e entrou na mata. E a esposa dele falando: - Joaquim, num vai. Joaquim, num vai. Observemos que, os vocábulos utilizados para especificar o material do caçador, não estão em grau aumentativo ou diminutivo. Com essa postura, podemos afirmar que o narrador em nada minimiza a ação do caçador; contudo, em outro trecho declara o seguinte: Ele simplesmente pulou da rede da rede, entrou no mato com a lanterninha dele e capou pra casa.

Confrontando esses dois momentos, é possível notarmos que o caçador, antes, em posição superior em relação ao desejo de caçar, passa a uma posição inferior, não apenas pelo fato de ter deparado-se com uma criatura horrenda, mas no próprio signo utilizado pela narrador, quando diz pegou sua lanterninha. Nesse caso, o grau diminutivo do signo, denuncia a situação de pequeneza, de derrota, de fracasso e medo do caçador, antes eufórico, incrédulo e teimoso, agora, apavorado e, de certa forma, vencido. Sua sanção encontro com o ser sobrenatural e alerta aos ouvintes para que não desacreditem em certos acontecimentos, para que guardem a sexta-feira santa.

Fatos, que para um narrador não têm tanta importância, ganham relevância quando os colocamos em evidência. Como, por exemplo, o nome Joaquim, comum na região amazônica, evidencia um homem. Um indivíduo que tem suas raízes arraigadas ao lugar onde habita e, visto por um ângulo geral, simboliza qualquer homem da Amazônia brasileira. A identidade cultural, propagada em suas várias formas de representação de si e da natureza, está bastante marcada em seus contos, danças, política e religião. Caso o contador, em vez de usar o nome Joaquim, proferisse o nome Charles, Washington, Michael, Robert ou qualquer outro nome não tão comum na Amazônia, perderia seu poder generalizador, como também, causaria estranheza e descrédito na comunidade ouvinte. Através da narrativa oral, a lembrança é revocada, reconhecida e reconstruída novamente. No entanto, para que ela se engendre, é necessário que os ouvintes continuem a fazer parte da mesma sociedade efetiva, da mesma comunidade ouvinte.

Outro fato importante dentro da narrativa, é que se passa à noite, horário propício ao místico. Quando a personagem diz: Então, lá pra umas três da manhã eu volto... O sentido gerado por essa construção discursiva é que o sobrenatural se manifesta na semi-escuridão, à noite para que possa adquirir status de veracidade. Segundo Zumthor (2000), o importante não é resgatar o objeto que não está mais lá nessa contação, mas resgatar os valores ontológicos ligados dos primeiros olhares lançados para o mundo. E, costurando com a linguagem, Foucault (2002) pontua que ela a linguagem- parece sempre povoada pelo outro, pelo ausente, pelo distante, pelo longínquo: ela é atormentada pela ausência. Essa afirmação remete-nos ao dialogismo bakhtiniano. Para esse grande filósofo da linguagem, toda a compreensão é prenhe de resposta.... E ainda mais, todo enunciado comporta um começo absoluto e um fim absoluto: antes do seu início há os enunciados dos outros, depois do seu fim, há os enunciados-respostas dos outros. E, nessa interação verbal, a narrativa é mais um elo n cadeia da comunicação verbal.  Essa idéia de rede também está em Michel Foucault, especificamente, em seu livro A arqueologia do Saber.

Outra marca importante e, por isso mesmo, freqüente nas narrativas orais é a repetição de alguns signos lingüísticos, tanto da conjunção coordenativa aditiva e, como do advérbio . Vejamos um exemplo: E numa sexta-feira santa foi um dia que ele tirou pra teimar; e  era Joaquim o nome dele; e ela viu ele se aprontando..; e ela falou assim...; e ele disse que sim; ele falou assim; ela de novo falou; depois ele falou; depois ele preparou...; ele deixou lá a isca. Esses elos enunciativos instauram a coesão discursiva e costuram os fios da narrativa oral.

A entonação expressiva, de acordo com Bakhtin (2000), é um dos recursos para expressar a relação emotivo-valorativa do locutor com o objeto do seu discurso. Para Foucault (2002, p.124), os discursos são práticas que formam sistematicamente os objetos de que falam. Nesse ponto, os dois teóricos aproximam-se, pois para ambos, os discursos formam o objeto. O narrado ganha uma atmosfera condizente com a condição de produção, instaura um efeito de encantamento, constrói imagens que definem, conforme Foucault (2002), o sistema que permite arrancar o discurso passando de uma inércia e reencontrar algo de sua vivacidade perdida. Analisando a performance, o enunciado adquire vida e envolve a comunidade ouvinte.

Outro termo bastante repetido na narrativa O caçador e a sexta-feira santa é o , que desempenha aí sua função fática da linguagem, funcionando como um pacto funcional adotado pelo narrador e ouvinte. Foi o... a história de um caçador, ?; ...pagou pra ver, ?; ...como de costume, né?; uma mata fechada, ?. Para testar seu canal informativo, o narrador, a cada instante, confirma e reconfirma o dito com a comunidade ouvinte que, encantada com o desenrolar dos fatos, embriaga-se nas/com as palavras do narrador.

A análise mostra-nos que existem regras enunciativas, as quais, conforme Foucault (2002) colocam o passado enunciativo como verdade adquirida, como um acontecimento que se produzia como uma forma modificável, como uma matéria transformável, ou ainda, como um objeto de que se pode falar. Esse passado adquire um novo valor na voz de um narrador que emprega seu saber como forma de admoestação e administração dos demais membros da comunidade, perpassando, dessa forma, a ideologia religiosa, afinal, como nos ensina Foucault (2002, p. 127), um único e mesmo conjunto de palavras pode dar lugar a vários sentidos e a várias construções possíveis; ele pode ter, entrelaçadas ou alternadas, significações diversas, mas sobre uma base enunciativa que permanece idêntica Assim, a modificação do enunciado, sua transferência, interferência ou substituição pertencem ao nível da formulação, contudo, ele próprio não é afetado. Convenhamos que, a linguagem, em sua forma viva e voraz, acolhe-nos em seu turbilhão efervescente e caudaloso. Ao mergulharmos nessa corrente lingüística, somos arrastados, sem querer, ao assombro do discurso, às suas regras de formulação e modulações, ao interior e exterior de um imenso corpo discursivo.

Resumindo, a ausência e o não-dito, assombram e instauram práticas discursivas, paralelas ao discurso proferido, seja em sua forma oral ou forma escrita. Essa função enunciativa que se apóia em conjuntos de signos, requer, para sua existência e funcionamento, um referencial, um sujeito, um campo associado e uma materialidade. Nessa narrativa analisada, ainda, há muito que dizermos, porém, como pontuamos no início, lancemos alguns olhares sobre a história, à luz da Análise do Discurso de vertente francesa, pois nos valemos das idéias propagas por Michel Foucault, Mikhail Bakhtin, Paul Zumthor, Roland Barthes e outros mais. Assim como fez Foucault, procuramos analisar o mais de uma narrativa oral.

REFERÊNCIAS

BARTHES, Roland. Aula.Trad. Leyla Perrone-Moisés. São Paulo: Cultrix, 2000.

BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e Filosofia da Linguagem. São Paulo: Hucitec, 1997.

________________ Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. Tradução Luiz Baeta. 6ª edição. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2002.

HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Squértice, 1990.

LOWY, Michel. As aventuras de Karl Marx contra o barão de Münchhassen Marxismo e Positivismo na sociologia do conhecimento. São Paulo: Cortez, 2000.

ZUMTHOR, Paul. Performance, Recepção e Leitura. Tradução Jerusa Ferreira e Suely Fenerich. São Paulo: Educ, 2000.