O caboclo Matinhense
Por LEANDRO SILVEIRA TAVARES | 17/12/2010 | CrônicasQuantos anos ainda haveremos de passar sem nos darmos o valor ao que temos de maior valor, nossa cultura, a parte mais singela do que carinhosamente chamamos de nossa historia.
Numa noite de frio, quando tudo é treva, o ar gelado corrói os corações das pessoas, o conforto está nas historias que nos são contadas pelos mais antigos, os causos de monstros e assombrações, as lendas do "boi tatá", "mula sem cabeça" e tantas outras historias do cotidiano local.
O Matinhense, embalado por tragos e tragos da boa pinga, que antes era calado e arredio, se torna falastrão, coisas banais do dia a dia se tornam grandes produções, gesticulando, acenando, ora sentado e sorrindo, ora de pé encenando personagens, animais ou qualquer que fosse a historia.
Nos bares, botecos como aqui conhecemos, muito comum era a reunião nos finais de tarde, sorrateiro e calado, nosso bom Matinhense chegava com aquela cara de poucos amigos, recostava ao balcão, o primeiro trago era pra firmar a mão como era comum ouvir, era amigo de todos, conhecia a vida de cada um dos seus amigos, cada historia, cada anseio, se ajudavam e eram companheiros. Um causo puxava o outro, "quando era criança", assim começavam a maioria das historias, "antigamente?, toda, digo toda historia tinha e ainda tem ligação com nosso cotidiano e traduzem o que foi, o que era nossa vida a anos atrás.
E mesmo assim, com toda essa riqueza, com toda essa diversidade de detalhes e conhecimento, ainda hoje, mesmo nos considerando uma geração privilegiada, geração que tem direito a educação e ao conhecimento, mesmo assim, não valorizamos nosso passado, de tal forma a descriminar e submetê-la ao pior dos castigo possíveis, o esquecimento.
Quando o caboclo pega contar suas façanhas e glorias, não é por que quer se engrandecer ou supervalorizar suas historias e sua vida, é por que a cada palavra, a cada gesto, ele revive sua historia, em suas palavras pode mais uma vez rever seus pais, seus irmãos, e mantê-los vivos, mesmo que seja na memória e em seu coração.