O CABOCLO GARIMPEIRO
Por Henrique Araújo | 12/07/2009 | CrônicasO CABOCLO GARIMPEIRO
No início é um sertão bravo onde está o domínio das feras e das epidemias, árvores grossas e gigantescas e uma quantidade imensa de insetos e doenças de todos os tipos que dá medo a qualquer ser vivo.
Depois ele chega em busca da riqueza que muitas vezes não encontra, porém mesmo assim ele vai desbravando o sertão. Derruba árvores, mata feras, acaba com as doenças, extermina os insetos e fixa-se na região.
Estou falando do garimpeiro, o mais nobre desbravador do sertão brasileiro. É o caboclo respeitável de todos os momentos. É ele que passa os maiores tormentos da vida, que vive isolado por alguns anos, mas não desiste de sua missão. Ele não chora, não se lastima da vida, quer apenas chegar ao final de sua meta. Então pelos caminhos tortuosos do mais bruto sertão, ele caminha devagar com suas ferramentas nas costas. Às vezes anda mesmo a pé. É assim que vai abrindo picadas, modelando caminhos, construindo estradas, explorando a região, construindo barracas. Plantando cidades, tudo pela procura do outro e do diamante.
O garimpeiro chega ao sertão bruto a procura do precioso cascalho diamantífero, fura seus buracos, experimenta o cascalho e se o mesmo tiver a fabulosa gema, então ele arma a sua barraca de palha, de pau-a-pique, de pacova, de sapé. Depois de construído o novo lar, vai roçando ao redor da barraca a fim de exterminar um pouco os mosquitos. Às vezes cultiva pequena agricultura perto do seu novo lar, mas para ele o mais importante mesmo é o diamante.
Caso não encontrar o cascalho coroado, então ele perfura buracos para ver se o cascalho está embaixo da terra, sendo que para isto ele usa a sonda (instrumento de ferro). Encontrado o cascalho, ele remove a terra, quebra o cascalho, carrega para o rio e começa a lavação para ver se a forma de diamante existe. Se existir formas boas, então já é uma vitória e fixa-se no local e explora a região toda.
Se não encontrar o precioso diamante, então joga sua bagagem nas costas e se manda para outras plagas a procura daquilo que ele não perdeu e que procura encontrar. E pelas pequenas gretas das florestas, ele vai passando, ora parando num lugar, ora parando em outro, conhecendo a região, testando cascalho, enfrentando feras e doenças, pondo em jogo a sua preciosa vida a procura de umas pedrinhas chamadas diamantes.
Se conseguir encontrar um bom garimpo onde os diamantes são mais fáceis, então começam as influências dos garimpeiros e a fama do novo garimpo percorre o mundo, modo que aparece gente de todos os lugares. Começa então a nova corrutela onde predomina os bailinhos, os cabarés com suas prostitutas e um pequeno comércio alegre e movimentado. É o início de uma nova cidade. Com este pequeno movimento vai nascendo as pequenas ruas poeirentas e tortuosas, alguma casa de material, geralmente surge uma capelinha, pequenas escolinhas e o novo arraial vai ganhando rumo. Com o passar dos anos estes arraiais vão-se tornando em pequenas cidades onde já começam a aparecer os primeiros vereadores, prefeitos e autoridades.
Foi assim que nasceu Cuiabá, a famosa capital Mato-Grossense que há pouco mais de duzentos anos era apenas a mina de Sutil e de alguns índios que habitavam a região. Hoje, graças a estas minas e aos bandeirantes daquela época, temos a grande Cuiabá, conhecida no Brasil inteiro.
E estes bandeirantes não só plantaram a capital, mas outros núcleos que mais tarde se tornaram cidades movimentadas. Destas surgiram Poxoréo, Alto Paraguai, Nortelândia, Arenápolis e muitas outras no Mato Grosso e no Brasil inteiro.
Hoje caminha o nosso garimpeiro sempre para o norte, rumo a Rondônia, ao Amazonas a procura daquelas pedrinhas brilhantes que muitas vezes não as encontra, mas continua lutando. Às vezes nem mesmo as feras, as doenças são obstáculos para este homem forte, este homem brasileiro que enfrenta até a própria morte procurando engrandecer o Brasil.
Em sua meta, o garimpeiro sonha com a gema e seja como for, como o futuro quiser, como o destino ordenar ele irá sempre para a frente, não pode parar, tem sempre o garimpo como base, os produtos de seus braços como o alimento e o sertão como seu lar.
O garimpeiro ao lado do boiadeiro é o símbolo da presença de Mato Grosso no Brasil e graças a estes dois, temos no Brasil este colossal Estado de Mato Grosso.
O garimpeiro deveria ser um homem privilegiado no Brasil, pois enquanto em outros países os diamantes são enfeites de reis e rainhas, aqui os garimpeiros vão buscá-los nos sertões, nos lamaçais, nos rios e em seguida esses diamantes são vendidos nas cidades para o engrandecimento das nações.
Outro dia importante deveria ser criado no calendário brasileiro, o dia do garimpeiro,. Dia este que a gente deveria dizer bem alto: parabéns a você, desbravador brasileiro, criador de cidades neste país gigante.