O Brasil nos BRICs: Um Novo Satélite do Oriente

Por Leôncio de Aguiar Vasconcellos Filho | 04/11/2024 | Política

Nos últimos dias, nos deparamos com uma situação insólita, que foi o veto do Brasil à entrada da Venezuela nos BRICs (uma Confederação de países emergentes que reunia, no início deste século, Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul, e em que, após várias admissões posteriores, também já figuram Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Etiópia, Egito e Irã). Vejam que todas essas últimas nações foram admitidas, sem dissenso entre os cinco originários. Como ainda não há uma Pessoa Jurídica de Direito Público Internacional que designe, globalmente, os BRICs como esta Confederação econômica, sob direção temporária e rotativa de cada um de seus membros, já há, no entanto, um banco próprio, apto a emitir a sua moeda comum, que será entre eles utilizada nas transações comerciais. Até porque são países considerados, mais quantitativa que proporcionalmente, potências mundiais, como o Brasil, a Rússia, a China e a Índia. Este grupo almeja ser o representante do Sul Global nas negociações internacionais, tendo por triunfos a referida moeda própria e o armamento nuclear da Rússia, China e Índia, já que o Brasil e a África do Sul, por serem mais democráticos, não as possuem (a África do Sul já possuiu armas nucleares na época de segregação racial oficial, mas voluntariamente delas desistiu e as destruiu).

Há, assim, na formação de dita Confederação, uma reunião de Estados Soberanos, que nunca se submeteram ao Poder de um mundo unipolar comandado pelos EUA (como Rússia e China), ou que, em algum momento de sua História, foram não-alinhados e-ou a eles se submeteram (Brasil, Índia, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Etiópia e Irã), e que, por volta de 2050, viria a representar cerca metade da economia bruta mundial. Para além de uma união econômica, será também uma aliança militar, capitaneada por Rússia e China, a quem se somariam os demais membros, em troca de benefícios econômicos, como a já citada moeda própria, que circulará no fechado comércio multilateral. Rússia e China querem se expandir e dominar esses países, em especial o Brasil, que seria “agraciado” com um escudo nuclear sino-russo, garantidor do fim da influência dos EUA, eis que recentemente recebemos, como um sinal de alerta do governo estadunidense, a “visita” do maior porta-aviões nuclear do mundo, no Rio de Janeiro.

É por isso que Maduro tanto ataca o Brasil: como não mostrou publicamente as atas eleitorais que provariam sua vitória, houve uma quebra de confiança entre ele e Lula, que vetou a entrada da Venezuela nos BRICs. Afinal, é um bloco dos mais modernos, oferecedor de segurança aos seus membros. Segurança, inclusive, nuclear sino-russa, exercente de poder de dissuasão, especialmente em prol do Brasil. Como seríamos um satélite sino-russo na América, haveria a perda da influência dos EUA, que não teriam argumentos diante da manutenção de nosso sistema democrático, visto de forma indiferente por Rússia e China, eis que cumpriríamos os novos compromissos comuns entre os BRICs. A Venezuela já tem esse “guarda-chuvas atômico”, tropas do Exército regular russo e soldados da milícia privada russa Wagner no seu território, mas, como não fará parte do bloco, seria excluída da circulação da moeda comum e seu petróleo teria de ser vendido, em condições desvantajosas, somente ao Ocidente, que lhe faria chantagens relativas à sua posição pessoal, sob pena de embargo.

Quanto às guerras na Ásia, todos são países que apoiam a causa palestina, especialmente os que são adversários de Israel, como o Irã e a Etiópia (ou mesmo os aliados dos EUA, como o Egito e a Arábia Saudita, embora não movam uma palha para ajudar os palestinos). Quanto à Guerra na Ucrânia, os planos do Brasil são elogiados pela Rússia e China, que os apresentariam e os apresentarão ao Conselho de Segurança da ONU, com certeiro veto dos EUA, em especial por retaliação ao fato de o Brasil haver se alinhado ideologicamente ao “outro lado da Nova Guerra Fria”.