O BEBUM ENTERRADO VIVO
Por Henrique Araújo | 11/09/2010 | ContosO BEBUM ENTERRADO VIVO
Manuel foi a uma festa até o sapatão. Todo mundo comia, bebia e brincava alegremente. Manuel ficava ali atazanando a paciência de um e de outro. Chegou a uma rodinha de bebuns que estava comendo um churrasco e bebendo uísque. Aí Manuel estacionou. Os outros comiam e ele só bebia. Passou o dia inteiro bebendo e só bebida forte. Perdeu o sentido completamente e caiu.
Vendo o homem caído, os amigos combinam fazer uma sacanagem com ele. Puseram Manuel num caixão de defunto com muita vela, flores e enfeites e levaram-no ao cemitério. Cavaram uma sepultura e puseram o homem na cova. Só não jogaram terra para não matá-lo mesmo. Todos foram embora e deixaram um deles vigiando para quando ele sarasse do porre.
Era mais ou menos meia noite quando Manuel voltou ao normal. Achou estranho tudo aquilo. Onde estava? Tentou andar, mas topou com as paredes de terra. Viu que estava numa sepultura e gritou alto:
- Onde diabo estou? Há alguém aí em cima?
Carlão, que estava vigiando, exclamou no escuro, numa voz cavernosa:
- Você está no inferno. Aqui é o lugar dos beberrões inveterados.
Essa agora. Manuel no inferno? Bebeu tanto a ponto de ir para o inferno? Mas ele não se lembrava de ter morrido. E agora o que faria? E seu pai e suas irmãs? Não se lembrava de coisa alguma. Resolveu perguntar novamente ao interlocutor:
- E quando foi que eu morri?
- O bebum morre toda vez que bebe? Você já vinha morrendo há muito tempo.
Ele ficou pensando um pouco. Estava muito escuro e ele não enxergava quem estava falando. Seria o capeta ou o diabo? Seria algum outro amigo beberrão? Então gritou novamente e bem alto:
- E você, quem é você?
- Eu sou uma alma penada que morri de tanto beber - Manuel abriu um olhão e respondeu rapidamente:
- Então você, amigo, que mora aqui há muito tempo, sabe de algum bar por aqui. Anda logo, me tire daqui, vamos tomar logo um trago. Estou com a garganta seca.
Foi um trabalho tirar o Manuel da sepultura. Não adiantava mesmo, até no inferno ele não deixava a caninha.