O baile

Por Jacira Cordeiro | 14/12/2010 | Crônicas

O Baile

Acho que a vida é como um grande baile. Só existe dois lugares. Dentro baile ou fora dele. Não que seja bom ou mau ficar fora ou dentro dele. Alguns preferem entrar no baile e pouco importa se tem a roupa certa ou se tomou emprestado, se tem alguma companhia ou vai arranjar lá, se vão dançar, se vão tomar chá de cadeira, se vão levar um fora, se vão mesmo ficar olhando os outros se divertirem. Pouco importa. Querem é estar lá, porque não conseguiriam viver sem isso. Outros preferem ficar de fora. Não querem barulho, são seletivos, não gostam de dançar, acham que a roupa não tá legal, não conhecem ninguém lá dentro, não foram convidados, enfim é mais confortável do lado de fora.
Eu sempre preferi entrar no baile. Acompanhada, sozinha, mal-acompanhada, convidada, de penetra. De qualquer jeito. Quando eu tinha 22 anos, alguém me disse que eu tinha que casar porque não seria bonita a vida inteira. Quando eu tinha 35 anos me disseram que eu era uma louca de acabar com um casamento, porque quem havia de me querer com aquela idade? quando eu tinha 42 e acabei com outro casamento, minhas amigas diziam: nem namorado, minha filha, a gente acha mais porque os homens agora, só querem mulheres de 20 anos.

Insisti. Eu entro no baile porque gosto do baile. Faz parte dançar, faz parte esperar, faz parte pular o muro. E faz parte também escolher a roupa, a maquiagem. Na verdade, a expectativa do que vai acontecer lá dentro, já vale tudo. Meu olho só brilha quando estou ali. E então? Me casei aos 52 anos. Netinha na frente, segurando as alianças. É uma loucura? É, sim. Dessas loucuras permitidas, ansiadas, provocadas. E juro que não foi prêmio de consolação. Meu marido é a minha cara metade. Sou apaixonada por ele e agradeço a Deus todos os dias o presente. Fico pensando como é que seria ficar fora disto e aí eu acho que a vida seria sem graça, sem cor, sem sabor e eu ia preferir morrer.

Se dê uma chance, faça uma coisa radical que marque um novo tempo. Corte os cabelos, pinte a boca. Ponha um perfume. Compre uma roupa nova. Chute o pau da barraca. Olhe-se no espelho e diga a você mesma: EU ME AMO! Faça isso todos os dias. Mais cedo do que você pensa, vai acreditar. E quando acreditar, vai cuidar mais de você, vai se divertir mais, vai sair mais, vai ser mais leve, mais tolerante, vai se permitir mais, vai rir. Você vai ficar diferente. Seu olhar, seu andar, seus gestos, sua luz vai mudar de cor e sem que você se dê conta, entrou no baile.
E vai ser feliz. Só precisa estar lá dentro.

Salvador, 10.12.2010