O avental de Nona Leonor!

Por Ciro Toaldo | 27/01/2020 | Sociedade

O AVENTAL DE NONA LEONOR!

As boas lembranças devem ser rememoradas, em meu caso vou tentar escreve-las, como forma de não deixar o tempo apagar as boas histórias vivenciadas. Estamos inseridos na época do descarte, onde ganha importância somente o novo! O velho é renegado! Quero contradizer está visão, escrevendo algumas memórias de minha avó materna chamada Leonor, casada com meu avô Ciro Dambrós. Ambos falecidos fazem décadas, mas nunca serão esquecidos!

O titulo do artigo é homenagem, pois lembro que nona Leonor somente não usava o seu avental para ir à missa. Este vestimento representava zelo, dedicação, amor e carinho e de sua geração em relação ao trabalho e jeito de encarrar a vida. A geração de minha avó era composta de criaturas extremamente simples, amáveis, dóceis, gostavam de conversar e eram compenetradas em seus afazeres!

Eu nunca fui à casa de minha nona Leonor, ela residia em Ouro, nos alto da Rua Presidente Kennedy (de onde havia uma bela vista da cidade de Capinzal), sem ela estar com seu avental! Era uma cozinheira excepcional. Ela sabia fazer pratos maravilhosos, dentre eles uma sopa de agnolini (capelletti) como ninguém, além de um maravilhoso macarrão caseiro, maionese, uma marmelada de dar água na boca e tantas outras delicias, mesmo com o passar do tempo, guardo o sabor de cada um deles!

Com seu avental, além de cozinhar, limpar a casa, lavar a roupa (durante muito tempo era na beira de uma sanga (riozinho)), ela fazia todas as suas tarefas diárias, sem esquecer, obviamente de seu sagrado chimarrão! Guardo na memória a nona Leonor com seu avental em volta de seu fogão à lenha, desde as nove da manhã, compenetrada em seu almoço! Quando vinha uma visita (não do convívio diário), num relance ela tirava seu avental e o escondia!

Lembro-me de uma conversa que tive com ela, após meu avô ter falecido, já lecionava em Capinzal e contei sobre as dificuldades de estudar, ir até Joaçaba (SC), todos os dias, pois lá havia a faculdade; ela sentada numa cadeira de área, disse-me de sua frustração de não ter estudado. Fiquei perplexo e triste, pois ela havia lutado para seus filhos estudar, os netos também estudados e, no entanto ela pouco sabia, inclusive ler e escrever!

Talvez, aquele avental foi à forma dela demonstrar quanto era dedicada a sua família e, por meio dele e do seu jeito de ser, deixando seu legado! Com meus avós maternos e paternos aprendi a importância da humildade, de quanto é preciso se esforçar, enfrentar os desafios e, principalmente trabalhar de forma ordeira e honesta: meu avô materno era saboeiro do Frigorifico Ouro, hoje pertence a Perdigão em Capinzal (SC) e o avô paterno era alfaiate.

Enfim, até no momento de sua morte, nona Leonor deixou seu ensinamento: conseguiu reunir em volta de sua cama, em sua casa, quase toda família que assistiu sua morte de forma serena enquanto balbuciava o santo terço que todos rezavam com ela. Esta foi a minha querida nona e madrinha Leonor!

Deus dê um bom lugar para ela!

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