O ARGUMENTO ONTOLÓGICO DE SANTO ANSELMO DE CANTUÁRIA

Por Carlisvan Lima de Sousa | 23/07/2015 | Filosofia

Anselmo nasceu em Aosta em 1033, de nobre família. Entrou no mosteiro beneditino de Santa Maria de Bec na Normandia, do qual se tornou prior e depois abade, em 1078. Passou os últimos anos em Canterbury, onde morreu em 1109.

Assim Santo Anselmo começa o proêmio do Proslogion: “Depois de insistentes pedidos de alguns coirmãos, escrevi um opúsculo como exemplo de meditação sobre as razões da fé, como alguém que, raciocinando consigo mesmo, indaga o que ignora; mas depois, considerando que o escrito é constituído pelo encadeamento de muitos argumentos, comecei a me perguntar se não podia encontrar um argumento único que demonstrasse por si só, sem necessidade de outro qualquer, que Deus existe e que é o bem supremo, qual não precisa de nada e de quem todo o resto necessita para ser e para ter valor, e que também bastasse para demonstrar as outras verdades nas quais acreditamos acerca da substância divina”.

Nesta obra, Anselmo introduz uma prova da existência de Deus a priori a qual é conhecida como “argumento ontológico”. Deus é a realidade da qual não se pode pensar nada de maior. Todas as investigações de Anselmo são norteadas pela idéia de Deus. Falar sobre a existência de Deus e sua natureza é a tarefa principal da teologia filosófica.  Com o argumento ontológico Anselmo demonstra a existência de Deus tanto a posteriori como a priori.

Para entender a posição de santo Anselmo é preciso levar em conta que ele era teólogo “que não pensava pelo gosto de pensar: tinha bem vivo dentro de si o sentimento de responsabilidade e do dever de difundir a verdade, a verdade de Deus. Daí a necessidade de um argumento simples, persuasivo e autossuficiente, destinado a gerar a imediata e invencível convicção da existência de Deus”.

Anselmo estava movido por um desejo de conhecer e tornar conhecido, pelo intelecto, o que já conhecia pela fé, visto que a fé é um dom que nem todos possuem; crer que Deus existe é possível sem o dado da fé. Partindo deste pressuposto ele elabora o seu argumento ontológico: Deus é a realidade da qual não se pode pensar nada de maior. Ora, não é possível pensar algo que não exista; e isso é pensado até pelo tolo do qual se refere o salmo que no seu coração diz: “Deus não existe”. Mas para o ateu ou o tolo negar a existência de Deus ele precisa pensar no termo “Deus” e sabe o que está pensando, logo “Deus” existe no seu intelecto, do contrário, não poderia ser nem pensado nem se poderia negar sua existência. Porém ao falar “Deus não existe” o ateu está querendo dizer que Deus não existe fora do seu intelecto.

Se Deus é o ser do qual não se pode pensar nada de maior, é impossível considerá-lo como existente no pensamento e não na realidade, pois, sendo assim não seria o Ser maior. “Mas talvez não exista tal natureza, posto que o insipiente diz em seu coração: Deus não existe. Sem dúvida, porém, o próprio insipiente, quando ouve o que eu digo (algo maior do que tudo que se pode pensar), entende o que está escutando e o compreende em seu intelecto, mesmo sem entender que aquela coisa sobre a qual escuta existe.

Entender, de fato, uma coisa com o intelecto é distinto de entender que aquela coisa existe”. Com relação a esse problema também Xavier Zubirri nos deu sua contribuição: “o problema de Deus, enquanto problema, não é um problema qualquer, colocado arbitrariamente pela curiosidade humana, mas é a própria realidade humana em seu constitutivo problematismo”.

Essa questão de Deus é uma questão que deve ser estudada sempre mais e demonstrada pelos argumentos filosóficos. Por ser uma questão de interesse de crentes e ateus, não pode se limitar às explicações formuladas pela teologia. “A existência ou não existência de Deus, que se encontra em debate na teologia filosófica deve demonstrar-se mediante argumentos”.

O argumento ontológico de Santo Anselmo de Cantuária trata de uma prova a priori da existência de Deus partindo da própria idéia que já se tem de Deus. Ela é baseada no pressuposto que a existência real de Deus é uma perfeição; porque se Deus é o ser que possui todas as perfeições, deve por natureza possuir a existência. Mas o seu próprio discípulo, Gaunilon, se opôs ao seu pensamento. Segundo ele o termo “Deus” é muito difícil de ter um conhecimento substancial; pois, “não é suficiente ter uma idéia dele para que se possa afirmar sua realidade objetiva”. Esse argumento foi superado por Tomás de Aquino.

           

REFERNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1 – SCHAEFFLER, Ricard. Filosofia da Religião. trd. Artur Morão. EDIÇÕES 70, 1992.

 2 – ZILLES, Urbano. O problema do Conhecimento de Deus. Porto Alegre; EDIPUCRES, 1989, ed. 2°, Coleção Filosofia 61.

 3 – ANSELMO, Santo Arcebispo de Cantuária, Monolólgo; Proslogio; Santo Anselmo/ Abelardo. trad. Ângelo Recci; ed. 3°. São Paulo: Abril Cultura, 84, (Os Pensadores).

 4 – REALE Geovanni – ANTISERI, Dario. História da Filosofia; Patrística e Escolástica. São Paulo: Paulus, 2003.

 5 – SILVA, Jackislandy Meira. A idéia de Deus em Anselmo de Cantuária. Disponilvel em: http://www.umasreflexoes.blogspot.com/

http://www.chegadootempo