O Anticristo
Por Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo | 03/01/2013 | Filosofia1. Introdução; 2. Friedrich NIETZSCHE: a) Vida; b) Obra; 3. O Anticristo; 4. Crítica Pessoal; 5 Bibliografia.
1. Introdução
O cidadão do mundo contemporâneo, inserido em determinada cultura, tem imensa dificuldade em escrever, assumir posições, defender princípios, ideias e valores, sobre matérias da natureza humana, sempre tão profunda, insondável e mística. Este homem, dito contemporâneo, até se envergonha dos seus sentimentos e, muito pior, de chorar para não os demonstrar.
É difícil compreender esta época atual, porque o homem, cada vez mais, se distancia do seu ponto referencial, do seu arquétipo, do mistério divino, enfim, irremediavelmente se vem afastando do ponto “Ómega”, deixando, por vezes, de ser homem, para ser máquina, instrumento, veículo de projetos individuais e egocêntricos.
Este homem contemporâneo torna-se, entretanto, um objeto utilizado indiscriminadamente, mesmo que essa utilização signifique a sua própria eliminação física, quantas vezes, ainda, na sua fase embrionária, para satisfação de alegadas normas sociais, pseudo-bem-estar, seleção dois ditos mais perfeitos, alívio material dos seus próprios progenitores. Que mais se poderá saber? Homem que, eventualmente, é menos pessoa e mais objeto.
Apesar de tudo, este mundo contemporâneo, não será assim tão mau! Não haverá tantas desgraças ou, pelo menos, não haverá só desgraças. O espaço ideal para se alterar o que deve ser alterado, o tempo oportuno para mudar o que deve ser mudado, ainda será uma esperança para os menos pessimistas.
É possível implementar uma nova postura mental de estar na vida. A pessoa humana tem uma palavra a dizer, pode orientar a sua existencialidade a partir princípios, de valores e sentimentos fundamentais que marcam e diferenciam a sua condição privilegiada neste espaço ecuménico.
Deixe-se à imaginação, ao livre arbítrio de cada um as soluções que em seu entender julgue melhores para a plena realização do homem enquanto pessoa; oiçam-se todos os que pensam possuir a verdade; sigam-se aqueles que não tendo soluções, não sendo detentores da verdade, continuam, porém, caminhando, convencidos que um dia encontrarão o ponto máximo referencial e justificativo das suas próprias existências.
Nesta reflexão procurar-se-á situar, enumerar e interpretar os aspetos que parecem relevar da leitura da obra de NIETZSCHE, “O Anticristo” e que poderão estar, ou não, na linha axiológico-religiosa que, num setor muito alargado se defende, ainda que, na atualidade, seja difícil, por vezes incómodo e até “perigoso” assumir a apologia de uma conduta, de uma ideia, de um valor ou de um sentimento, contrários à “oportunidade estabelecida”.
Apesar de tudo, há que correr riscos, aceitar serena e humildemente as críticas, respeitar os princípios dos outros, para que eles acreditem nos nossos e possam vir a observá-los, na medida do possível. Defender-se-á, portanto, uma postura dialógica do “EU-TU”, sem complexos, com firmeza e tolerância, guiados pelos valores da justiça e da paz universal.
2. Friedrich NIETZSCHE
a) Vida – Descendente da família Nietzsche, de aristocratas, lutadores e “super-homens”, de seu nome Friedrich Wilhelm Nietzsche, nasceu em Rocken a 15 de Outubro de 1844. Era uma pessoa bastante doente, muito frágil, construção débil. Com a morte do pai, ficou sob a influência de quatro mulheres: a mãe, a avó e duas tias, crescendo num ambiente efeminado.
A sua infância foi um misto de doença, de terror e de complexos. Frequentou a escola preparatória Pforta, onde estudou poesia e ciência, grego e latim. Para aliviar a tortura das horas solitárias dedicou-se à música, e nas fantasias que idealizava encontrava a energia que a realidade da vida lhe negava.
O seu estado de doença hereditária e crónica levou-o a perder a fé na vida religiosa, e a questionar-se sobre qual era o papel da religião na vida, já que lhe era negada uma existência normal, sadia, plena de todas as virtualidades e satisfação das necessidades vitais.
Mas então o que é que assegura a vida? A vontade de viver! Nietzsche faz uso da vontade para não morrer, porque é nobre desejar a vida, apesar do sofrimento. Esta seria a sua filosofia positiva da vida.
Estudou Filologia Clássica em Bona e em Leipzig, tendo-se desenvolvido o seu entusiasmo romântico pela antiguidade grega. Cedo a sua obra filosófica atraiu a atenção dos meios científicos e, em 1869, com 24 anos de idade, foi chamado a lecionar Filologia Clássica, na Universidade Clássica de Basileia, tendo renunciado ao cargo em 1879, por motivo de doença.
Perante a situação de guerra entre a Alemanha e a França, entretanto deflagrada, sente que a sua vontade de viver é ofuscada pela vontade de guerra, de poder e de conquistar, mas dada a sua fraca saúde, foi dispensado dos serviços ativos de guerra e passou a cuidar dos feridos, acabando por se desligar do exército depois de ter visto bastantes horrores, nunca conhecendo, porém, a infinita brutalidade dos campos de batalha. A visão do sangue tornava-o ainda mais doente, tendo regressado a casa em grande ruina física.
Entretanto, estabeleceu-se em Turim, continuando a trabalhar na sua última obra: “A Vontade de Poderio”. Em Fevereiro de 1889 adoeceu gravemente, tendo permanecido imerso numa demência mansa na qual, de quando em vez, afloravam as reminiscências e as desilusões da sua vida atormentada.
Os amigos que teve e nos quais acreditava, foram-se afastando, pouco a pouco, da sua obra. A sua fama começou a propagar-se precisamente quando já estava dominado pela loucura, não tendo dela beneficiado porque em 25 de Agosto de 1900 morria na cidade de Veimar.
b) Obra – Em 1872 publicou o seu primeiro livro: “O Nascimento da Tragédia”. “As Quatro Considerações Intempestivas” foram publicadas em 1873. A ligação que o mantinha a Wagner e a Schopenhauer desfaz-se com a publicação em 1878 de “Humano, Demasiado Humano” e, uma segunda parte desta obra, intitulada “O Viajante e a sua Sombra” saiu em 1880.
O livro revelador das suas teses é publicado em 1881 sob o título: “A Aurora”, ao qual se seguiu um outro sobre a afirmação de que o filósofo pode conduzir a humanidade a um novo destino, epigrafado de “A Gaia Ciência”, que publica em 1882.
Depois publica o poema filosófico intitulado: “Assim Falou Zaratustra”, em 1891, embora tivesse sido composto entre 1883 e 1884. Em 1885 publicou: “Para Além do Bem e do Mal”, seguindo-se a “Genealogia da Moral” em 1887, “O Caso Wagner”, “O Crepúsculo dos Ídolos”, “O Anticristo”. Antes de adoecer, iniciou a sua última obra: “A Vontade de Poderio” que interrompeu em 1885 para não mais a terminar. Muitos dos seus livros foram publicados a expensas suas e não chegou a gozar a fama que os mesmos lhe vieram a dar.
A obra filosófica de Nietzsche é uma frontal repulsa e condenação do cristianismo, e a instituição de um homem ilimitado, autossuficiente, defendendo os valores que constituíam para ele o super-homem: a boa saúde e a força física, a ligeireza do espírito, o entusiasmo vital, a riqueza e energia internas, a compreensão, a amizade dos iguais e o êxito do dominador.
Numa sociedade ideal Nietzschiana, os filósofos estadistas são os dirigentes, porque os filósofos são os homens superiores, refinados de força e coragem, eruditos e generais ao mesmo tempo. A filosofia de Friedrich Nietzsche constitui uma tentativa muito séria para desacreditar o cristianismo e os valores a ele ligados.
3. O Anticristo
Refere o autor, logo no prólogo que os seus leitores devem possuir faculdades superiores às da humanidade, para poderem entender o alcance do seu projeto, por isso terão de ser uns predestinados. Efetivamente, pela avalanche de afirmações, conceitos e princípios, que o autor vai defender nos primeiros dez números da obra, só um ser tão dotado de razão, profundamente hermético aos valores fundamentais da pessoa humana, poderá perfilhar tal doutrina.
Nietzsche considera o cristianismo o maior mal do mundo e do homem, na medida em que o torna fanático, piedoso, fraco e niilista. As situações e as pessoas que são objeto de piedade, devem ser erradicadas do mundo e não se justificam como vida, que deve ser plenamente aproveitada.
Este autor entende que a Filosofia está irremediavelmente afetada pela Teologia dos padres, pela verdade que eles próprios propalam mas não sabem esclarecer e, mesmo os grandes filósofos, tais como Leibniz ou Kant, são outros tantos Luteros: «Um freio à integridade alemã já tão pouco sólida» (NIETZSCHE, 1977:22).
Friedrich Nietzsche defende, portanto, uma vida materialmente concreta, uma seleção humana dos mais fortes, um reino de homens superiores, sem religião, sem valores espirituais, sem ideais abstratos.
A virtude deve ser uma necessidade pessoal, uma condição vital, uma invenção de cada um, de acordo com as leis da conservação. A Razão prática kantiana não é mais do que uma forma de corrupção da consciência intelectual. O Imperativo Categórico de Kant: “tu deves” é uma razão “Ad Hoc”, onde a moral fala no imperativo, sob a capa dos deveres sagrados, num plano ou hierarquia superior, tornando o filósofo uma extensão do padre.
O homem não é um descendente do puro espírito da divindade, mas um animal astucioso, que se encontra ao mesmo nível de outros animais, mais imperfeito porque se desviou dos seus verdadeiros instintos e, por isso, o mais falhado, porquanto o espírito é um sintoma de imperfeição do organismo.
O autor termina a sua análise do comportamento cristão com uma condenação do cristianismo, porque: o seu Deus é fraco, porque bom; porque está ao lado dos doentes; porque está em contradição com a vida. O homem precisa de um Deus forte, no sentido de conhecer a maldade, a cólera, a injustiça, a inveja, a vingança.
Um Deus sem estes atributos não é desejável, pois significa a decadência, a corrupção de um povo que o adora. Os deuses apenas têm duas alternativas: «Ou são a vontade da potência e então serão deuses de um povo; ou são a impotência da potência e neste caso tornar-se-ão necessariamente bons …» (Ibid:34).
Nietzsche considera que o budismo é uma religião niilista, de decadência, tal como o cristianismo, no entanto pensa que aquele é mais realista, verdadeiramente positivo enquanto religião, age no campo das realidades, tais como: lutar contra o sofrimento; vida ao ar livre e o egoísmo torna-se um dever, uma coisa necessária.
O autor da obra enumera alguns aspetos sobre o cristianismo que contrapõe ao budismo e assim, quanto à primeira religião ele afirma que: «Promete tudo mas não cumpre nada, existe o instinto submisso dos oprimidos, castas mais baixas, que é a causa do pecado, a inquisição da consciência, a oração é o êxtase perante Deus, desprezo pelo corpo e pela higiene, crueldade para consigo próprio e para com os outros, a grande pompa dos cultos». (Ibid: 52)
Pelo contrário, o budismo: «Não promete mas cumpre, é mais verídico, mais objetivo e mais frio, não consta o sofrimento, coloca-se para além do bem e do mal, combate a depressão fisiológica pela vida ao ar livre, pela temperança, pelas precauções contra as bebidas espirituosas. A oração está excluída e não implica nenhuma obrigação.» (Ibid:52).
Contrapondo, assim, o cristianismo ao budismo, Nietzsche afirma que a origem do primeiro reside na afirmação de coisas que não sejam realidades, tais como: uma esperança no além; a castidade como reforço da interioridade do instinto religioso; o amor como um estado que transforma as coisas naquilo que elas não são, suportando-se todos os sofrimentos por amor. As três virtudes cristãs que o autor chama de “três prudências cristãs”: Fé, Amor e Esperança, fundamentam, portanto, o aparecimento do cristianismo.
A História de Israel é analisada por uma perspetiva religiosa, considerando «Javé Deus de Israel e da Justiça, lógica de todo o povo que possui o poder e desse poder tem a tranquila consciência.» (Ibid.:52), tecendo fortes críticas aos padres judaicos, os quais teriam transformado a história de Israel na Bíblia Sagrada, fazendo do seu passado um instrumento de salvação.
Considera, seguidamente, que a vida de Jesus de Nazaré não é mais do que «um movimento insurrecional, uma repetição do instinto judaico, contra a realidade do padre» (Ibid: 57), resultando, por isso, uma revolta contra a Igreja Judaica, contra a casta, o privilégio, a ordem, um não contra tudo quanto era padre e teólogo, acabando Jesus por ser condenado à morte na cruz, precisamente por ter desprezado os ricos, lutado contra a ordem estabelecida, considerado, portanto, como um criminoso político numa sociedade impolítica.
O retrato psicológico que faz do Salvador, leva-o a concluir que o arrependimento, a oração, o pedir perdão, não são caminhos para Deus, porque só a prática evangélica é que conduz até Deus, ela é que é Deus.
O Evangelho descreve uma vida nova, mas não uma nova fé. O reino dos céus é um estado do coração e o reino de Deus é uma experiência do coração, está em toda a parte e em parte nenhuma, Jesus morreu como ensinara e vivera, tendo deixado aos homens a prática da vida, recusando qualquer atitude que pudesse culpabilizar alguém sem resistir ao mal, deixando-se morrer na cruz.
Assim, a história do cristianismo não passa de uma interpretação desfasada do simbolismo primitivo. Segundo Nietzsche, teria sido S. Paulo o autor da destruição da vida de Jesus, em proveito do cristianismo, porque a antevisão do Juízo Final não é mais do que uma ideia de que Cristo ressuscitará, para castigar os pecadores, tendo a partir desta ideia instaurado a «tirania sacerdotal para formar rebanhos: a fé na imortalidade, a doutrina do juízo» (Ibid:85)
O autor de “O Anticristo” continua o seu pensamento e disserta, então, sobre a autenticidade e aplicabilidade dos Evangelhos, que considera documentos de corrupção da comunidade, à qual se apela pela moral, pela virtude, pelo bem, pela verdade, pela luz e pelo reino de Deus, para manter e estender uma determinada confissão, transcrevendo para o efeito, passos dos Evangelhos, comentando, ironicamente, os mesmo, concluindo com algumas acusações contra S. Paulo, nomeadamente a de que: «S. Paulo veio pôr fim à sabedoria do mundo: os seus inimigos são os bons filólogos e os médicos da escola de Alexandria (…) porque (…) ninguém é simultaneamente filólogo e médico sem ser anticristo.» (Ibid: 99).
Nietzsche acha que, no contexto do cristianismo, a ciência é a coisa proibida e a génese do pecado original, porque o homem ao tornar-se cientista rivaliza com Deus, logo, é preciso expulsar o homem do paraíso e não deixar que ele tenha pensamentos, por isso, o padre inventa toda uma série de desgraças, misérias, horror, de tal maneira graves, que o homem, efetivamente, não pode pensar coisas más em termos de ciência, no entanto, o conhecimento desenvolve-se, a emancipação do jugo sacerdotal vai-se tornando uma realidade.
Então Deus toma a decisão de afogar o homem, e na sequência desta lógica entrou no mundo a ideia de pecado, de culpabilidade e de punição, devendo o homem sofrer, de molde a ter sempre necessidade para o perdão do padre, porque é preciso um salvador que conduza a humanidade para o perdão e para a graça e, assim, o padre reina pela invenção do pecado, nisto assentando a sua psicologia que, afinal, consiste na representação do Salvador e na deteção dos poderes supremos de perdoar.
A psicologia da fé, fundamenta-se na doença dos espíritos fanáticos, na sua dependência de uma moral do sacrifício, em ordem a uma prudência e a uma vaidade de vontade fraca, mas convicta da verdade que subjaz à ideologia fideísta. A mentira é o suporte da fé, é a convicção que afinal define essa mesma fé.
É assim que, contra esta convicção, contra a fé tradicional e contra o livro sagrado da Bíblia, se destaca o Código de Manu, no qual se resume a «prática, a prudência e a moral experimental (…) concluindo e não criando mais nada» (Ibid: 120). Este Código utiliza o imperativo – “Tu Deves” – que é a condição primeira para se fazer obedecer.
Friedrich Nietzsche termina a sua obra com as mais audazes acusações contra a Igreja Cristã, responsabilizando-a por todas as misérias, pela corrupção, pela falsidade, culimando esta verborreia caluniosa com a equiparação do cristianismo a «um estigma vergonhoso da humanidade» (Ibid:138)
4. Reflexão Pessoal
Num contexto civilizacional caraterizado por uma Europa de valores ancestrais, como o Direito Romano, a Filosofia Grega e o Cristianismo, qualquer leitura de Friedrich Nietzsche poderá constituir uma “aventura”, se se considerar que ele é um autor arriscado, provocador e, por isso mesmo, é necessário estar-se disposto a colocá-lo em causa, na medida em que a sua radicalidade torna-o num mestre da “suspeita”, porque ele filosofa a partir da sua experiência vital: um homem perante o abismo.
Verifica-se nas suas obras que Nietzsche é um pensador “errante”. Um pensador da “errância”, porque em permanente tensão, defendendo que a fé é um produto da doença do espírito. Ele separa-se do cristianismo, de professor, da filologia, da universidade, da pátria. Ele rompe com o seu mestre, Schopenhauer, com Wagner, com a mãe e com a família. A fé em Nietzsche é o absurdo dos absurdos, e o ateísmo é nele algo de instintivo. Cristo só houve um e esse morreu na cruz mas, por detrás do seu anticristianismo, há uma interpelação.
No caso concreto da sua obra, “O Anticristo” é difícil concordar com ele, se se atender aos argumentos apresentados, na medida em que se afigura sofrerem de um raciocínio apriorístico, baseado numa casuística pontual, muito circunscrita a um determinado período histórico nacional, também a um ambiente niilista, agravado por circunstâncias fisiológicas próprias do autor que, irremediavelmente, o afetaram: moral e intelectualmente.
Ainda que na atualidade se possa encontrar uma ou outra situação de algum modo análoga à descrição que ele faz da atividade dos padres, os conhecimentos disponíveis e, como já referido, no que respeita ao espaço europeu, é bem sabido que a influência da Igreja Católica e da sua jerarquia têm sido, em geral, positiva, quer no aspeto cultural, quer quanto à construção e conservação do património arquitetónico; quer ainda e principalmente na formação ético-social das comunidades.
A cultura tradicional, que a esmagadora maioria da humanidade hoje aceita e defende, provém do valioso contributo dos religiosos monásticos; os princípios fundamentais da boa ética, vão buscar-se a muitos pensadores cristãos, que ao longo dos séculos foram desenvolvendo e divulgando as suas teses doutrinais.
Invoque-se, por exemplo, Santo Agostinho, S. Tomás, Espinosa, Hegel e tantos outros, não menos profundos e credíveis, inclusivamente, nossos contemporâneos, destacando-se, na circunstância, o Papa João Paulo II, incansável nos seus apelos à paz, ao amor, à tolerância, à verdade, ao trabalho, ao direito à vida, à justiça, quer a partir do altar de Deus, em brilhantes homilias e discursos, proferidos, mas também, em todos os quadrantes geográficos e políticos.
Igualmente o atual Papa, Bento XVI, um defensor acérrimo da paz, da justiça, do não derramamento de sangue que, constantemente a partir de Roma e nas viagens “peregrinas” que vai realizando pelo mundo, não se cansa de incentivar os governantes e os detentores do poder para que ponham cobro a tantas atrocidades, que sacrificam crianças, mulheres e idosos inofensivos.
Em todo o caso, a obra de Friedrich Nietzsche, objeto desta reflexão, serviu para tomar consciência de que cada vez mais o homem necessita da fé, a pertinência de uma convicção cristã é hoje, mais do que nunca, justificada, a conveniência do homem se relacionar com os demais neste mundo, resulta, afinal, da desorientação que o envolve quando isolado, fechado em pensamentos tenebrosos.
Na verdade, o pensamento de Nietzsche, analisado à luz da sua vida física e social, é a prova mais evidente de que a sua apologética ao anticristianismo não pode ser seguida por um ser humano que pretenda viver como Pessoa Humana, no sentido antropológico da palavra e, quanto mais não fosse, só por isto, já vale a pena meditar na sua última obra: “O Anticristo”.
O homem continuará a ter de assumir sempre, com mais ou menos evidência, aquilo que o distingue, que o torna superior, através de princípios, valores e sentimentos. A crise que neste início da segunda década do século XXI se atravessa é, essencialmente, devida à ausência ou, pelo menos, à falta das boas práticas, justamente no campo daquelas dimensões humanas: Princípios, Valores, Sentimentos.
5. Bibliografia
ABAGNANO, Nicola, (s.d) História da Filosofia. 2ª Ed. Lisboa: Editorial Presença. Vol. XI, Págs. 89-116
DURANT, Will, (s.d.). História da Filosofia. Lisboa: Edições Livros do Brasil. Págs. 386-395
NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm, (1978). Assim Falou Zaratustra. Trad. M. de Campos. Lisboa: Europa-América
NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm, (1976). A Genealogia da Moral. 3ª Edição. Tradução de Carlos José de Meneses. Lisboa: Guimarães & Cª Editores
NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm, (1977). O Anticristo. Trad. Tavares Fernandes. Mem Martins: Publicações Europa-América
THOMAS, Henry & THOMAS, Dana Lee, (s.d.). Vidas de Grandes Filósofos. Lisboa: Edições Livros do Brasil. Págs. 321-341
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