O ano de 1808.

Por Cristiane Uzeda Doval Villas Boas | 12/03/2012 | História

 

A Inglaterra, depois de ter vencido a batalha de Trafalgar contra a França, tornou-se a grande potência marítima da época e, como Napoleão sabia que não havia como vencê-la, adotou o bloqueio continental como medida para enfraquecer a economia do país.

 

Napoleão obrigou todos os países da Europa a aderirem à medida, que consistia no fechamento dos portos europeus ao comércio de produtos ingleses e na proibição de receber navios do Reino Unido, sob pena de invasão. Todos os países acataram a ordem, menos Portugal que fazia um jogo duplo: oficialmente não se opunha ao bloqueio Continental, mas, às escondidas, continuava a permitir a entrada de produtos ingleses em seus portos. Tudo isso porque a Inglaterra era a principal parceira comercial de Portugal.

 

Napoleão, na intimação, obrigava Portugal a aderir ao bloqueio continental, declarar guerra à Inglaterra, retirar seu embaixador em Londres, expulsar o embaixador inglês de Lisboa e fechar os portos portugueses aos navios britânicos. Ainda teria que prender todos os ingleses e confiscar suas propriedades. Com medo, o conselho português aprovou imediatamente as condições impostas, com ressalvas: os ingleses não seriam presos e nem teriam suas propriedades confiscadas.

 

Como Portugal era um “peixe pequeno” entre França e Inglaterra, enquanto fingia aceitar o ultimato da França, negociava com a Inglaterra uma solução para o impasse. Como era precária a comunicação e o transporte, a negociação era demorada e, com isso, Portugal ganhou tempo, enquanto tentava, com a Inglaterra e com a França, uma saída mais honrosa ou aceitável para o frágil reino colonial.

 

Napoleão descobriu a armação de Portugal e ordenou a invasão.  Com medo de entrar em guerra e consequentemente perder o reinado, Dom João foge para o Brasil com a família real levando as jóias, tesouros e todos os aparatos do Estado.  A Inglaterra faria a escolta da família e, em troca, teria abertura dos portos do Brasil que, até então, só os navios portugueses tinham autorização para comprar e vender mercadorias na colônia. Essa simples mudança viria a acarretar profundas transformações políticas, econômicas e, principalmente, culturais na colônia Brasil.

 

Portugal estava dependente economicamente do Brasil. A colônia era rica naturalmente, tinha muita mão-de-obra e sustentava a economia de Portugal, então era melhor fugir para o Brasil do que perder a batalha para Napoleão e acabar entregando a colônia.  

 

Em 22 de janeiro de1808, afamília real desembarca em Salvador para, dois meses depois, se estabelecer no Rio de Janeiro.  Há várias especulações sobre a paradaem Salvador. Ahipótese mais aceita estava associada à tempestade que fez com que os navios do príncipe regente, a princesa e rainha ficassem à deriva e fossem levados para a Bahia, mas a mais provável é que o príncipe estivesse tentando evitar o descontentamento do povo baiano, que ficou ressentido pela mudança da capital para o Rio de Janeiro e já vinha tentando uma separação com a revolta dos Alfaiates.

 

Como a Bahia tinha um posicionamento estratégico, e Dom João precisava do apoio financeiro e político de todas as províncias, o príncipe regente nomeou o Conde dos Arcos como governador e anunciou a abertura dos portos ao comércio de todas as nações amigas. Estava autorizada a importação de todos e quaisquer gêneros de mercadorias transportadas em navios estrangeiros das potências aliadas. 

 

A abertura dos portos foi inevitável, pois Lisboa estava tomada pelos franceses e, com isso, o comércio ficou paralisado. Fora que Portugal prometeu à Inglaterra a abertura em troca da proteção contra as tropas de Napoleão. Além da abertura, Portugal também autorizou a instalação de uma base naval britânica.

 

Portugal sempre teve a Inglaterra como parceira preferencial, era uma aliança antiga, que remontava às origens da monarquia portuguesa.  Foi a Inglaterra quem ajudou o primeiro rei, Afonso Henrique, a expulsar os mouros e conquistar o porto, hoje a cidade de Lisboa. O Primeiro tratado de comércio entre os dois países é de 1308. Era uma aliança de benefícios mútuos, da qual a Inglaterra também se valeu em momentos de necessidades. Foi com a ajuda de Portugal que a Inglaterra conquistou o estreito de Gibraltar.

 

A Inglaterra exigiu algumas condições para ajudar Portugal que foram: a abertura dos portos, a concorrência livre e reservada, tarifa de direitos irrisória e um dos portos do Brasil. Com a abertura, a Inglaterra era a única beneficiada, pois a Europa estava ocupada por Napoleão e ela era a única que podia transitar pelos mares.

 

A Inglaterra aproveitou muito bem a abertura dos portos, enchendo o Brasil de produtos ingleses, numa escala inimaginável. Ela exportava tudo, desde coisas úteis, como tecidos de algodão, cordas, pregos, martelos, serrotes e ferragens em geral, como também produtos totalmente inúteis, que não poderiam ser usadas por causa do clima, do ambiente, da localização, como patins de gelo e pesadas mantas de lã.  Com a revolução industrial, a Inglaterra conseguia produzir em grandes quantidades a preços baixos e, como não tinha acesso a nenhum comércio por causa do bloqueio, despachava tudo para o Brasil.

 

Os benefícios concedidos para a Inglaterra foram tão bons que nem o comércio Português conseguia competir. A taxa alfandegária era menor que a aplicada para Portugal, virando um porto livre para os ingleses. Além das prerrogativas comerciais, a Inglaterra ainda foi beneficiada pela livre locomoção dentro da colônia, podendo fixar residência, adquirir propriedades e o melhor: ser julgado pela justiça inglesa.

 

O ano de 1808 foi o ano da transformação do Brasil. Um país que ia deixar de ser uma colônia totalmente dependente de Portugal. Com a chegada da família real, o país foi obrigado a se desenvolver, a crescer e comercializar. Com a abertura dos portos, muitos brasileiros e portugueses ficaram ricos, pois foram criadas indústrias, estradas, escolas, hospitais e igrejas para que a realeza se sentisse em casa.

 

 

Bibliografias:

 

Gomes, Laurentino; 1808