O aniversário da infanta, a beleza vista por outro ângulo
Por Giordana Maria Bonifácio Medeiros | 30/06/2012 | LiteraturaO aniversário da infanta, a beleza vista por outro ângulo.
Giordana Maria Bonifácio Medeiros¹
Resumo:
Este artigo tem por fim realizar um estudo sobre o conto de Oscar Wilde, o aniversário da Infanta, promovendo uma discussão sobre as formas de se enxergar o belo e o horrendo quando estas duas qualidades não se podem perceber tão somente com o auxílio de um espelho. Será realizado um contraste com o mito de Narciso que figura na obra Metamorfoses de Ovídio, que se realiza de modo contrário na trama do conto de fadas ora em análise.
Abstract:
This article realizes a study about the Oscar Wilde’s Tale, the Infanta’s Birthday, promoting a dialog about the ways to see the beautiful and the ugly when this two qualities can’t be seen at the mirror. At this work will be realized a contrast with the Narcissus Greek myth, that occurs in a manner contrary at the fairytale in analysis.
1.Introdução
A história passa-se no castelo real do rei da Espanha, que celebrava a festa de aniversário de doze anos de sua filha, a Infanta. Num primeiro momento há um excessivo trabalho do autor de descrever os ambientes palacianos, cujo luxo resplandecia artificialidade e desperdício. As crianças emplumadas, o jardim exultava beleza e as flores eram tão esnobes quanto os homens e as crianças que corriam pelos domínios do palácio. O rei de luto há onze anos pela morte da esposa, via na filha a imagem de seu grande amor, por tal razão vivia ausente da vida de sua herdeira. Não participava sequer das festividades do aniversário da Infanta. Porém, fez questão de promover a festa em homenagem à filha que evitava. A menina irritou-se por o pai não se fazer presente em sua festa e em seu pensamento egoísta não há questão de Estado tão importante quanto sua festa de aniversário, que impeça o rei de estar com ela nesse momento tão especial. E, imaginou que seu pai tinha ido para a capela escura onde não permitia sua presença. Ela não se condói momento algum pelo luto do pai que chega a tratar como tolice tendo em vista a festa e o sol maravilhoso que brilhava no jardim.
As festividades prosseguem com uma tourada de faz de conta, um equilibrista francês e a apresentação de uma tragédia clássica em teatro de bonecos, que, arranca
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1.graduanda em letras pela Universidade de Brasília - UNB
lágrimas dos convidados. Logo após houve o número de um mago africano e um minueto dançado pelos meninos dançarinos da igreja Nuestra Señora Del Pilar. Após aconteceu a dança de um ursinho adestrado por ciganos para então dar início ao show do anão, Dwarf, mais aplaudido de todos. As crianças riram tanto da condição grotesca do anão, sobretudo a princesa, que ele foi premiado com um rosa branca no fim do espetáculo. Tendo havido a exigência da infanta que mais uma vez interpretasse a dança que tanto lhe fez rir. Dwarf, emocionado pelo presente, procura a menina por todo castelo, enquanto fazia lindos planos de se casar com ela. Imaginava que a princesa o amava e não tinha consciência que sua aparência era tão horrível que as crianças riam de sua feia figura e não da dança que ele interpretava. Quando chega ao mais luxuoso dos ambientes do castelo, Dwarf se depara com um espelho e assusta-se com o monstro que avistou. E fica um bom tempo hipnotizado pela feia imagem que a face fria do espelho mostrava-lhe, até que se dá conta que o monstro que via era si próprio. Então definha frente a sua própria imagem, o coração dele se parte enquanto esperneia de desgosto. A Infanta, decepcionada pelo fim da apresentação, exige aos empregados que todos os enviados para lhe divertir, dali em diante, não tivessem um coração.
2. A beleza e a feiura, o monstro e a bela, qual espelho revela a verdade?
A narrativa de Oscar Wilde nos leva a admirar a beleza física da Infanta, mas ao mesmo tempo, nos provoca repúdio em função de seu comportamento egoísta e arrogante. Enquanto ao mesmo tempo, somos obrigados a reconhecer a feiura do anão, admiramos sua bondade e humildade. A pequena princesa e seus convidados bem como o jardim e nobres que a cercavam apresentavam o mesmo comportamento, cheio de esnobismo e desprezo pelo sentimento e condição dos demais que não podiam estar na festa. As criaturas repugnantes eram mera fonte de diversão. Dwarf jamais tivera consciência de sua aparência grotesca, até estar num ambiente que a denotava. Ver-se no espelho deu-lhe consciência que era um monstro. Mas os lindos planos apaixonados que projetou para o seu futuro ao lado da princesa, confere a ciência ao leitor que o espelho que revela a fisionomia, esconde o caráter dos homens. A princesa, cuja beleza é invejável, despertando inclusive a paixão no peito do anão, tem um comportamento tão asqueroso que nos leva a pensar que os papéis estão invertidos. O monstro é a pequena de egoísmo repugnante e o anão é o belo e humilde ser que se esconde sob o aspecto aterrador.
Oscar Wilde, sob o falso manto de conto de fadas, escreve uma história que foge aos padrões deste tipo de narrativa, pois o fim é triste, o anão falece de tanto desgosto, enquanto a Infanta exige que aqueles que a divertissem não tivessem coração. Ocorre que, era à princesa que faltava coração e não a Dwarf que morreu com o choque de se descobrir monstro. É de conhecimento geral que histórias que retratam o contraste entre o feio e o belo, são comuns na literatura infantil. A bela e a fera, história clássica de Gabrielle-Suzanne Barbot , narra o castigo de um rei arrogante de ser convertido em uma fera por uma bruxa, cujo feitiço só foi quebrado quando a mais bela menina do vilarejo apaixona-se por ele , mas apenas quando o monstro se mostra um ser sensível e amável. Há inúmeros ditados populares com o mesmo significado simbólico desses contos, que se perpetuam no imaginário popular por centenas de anos. Um desses é: “quem vê cara, não vê coração”, que ressalta os perigos da beleza que tende a cegar os homens para as atitudes das pessoas. Acontece que, apesar dessa moral passada pelos contos de fadas e provérbios populares, vivemos numa sociedade que valoriza a beleza física em detrimento das demais. Não é para menos que o corpo perfeito das modelos é invejado e perseguido por jovens e adultos. Há inclusive doenças graves envolvendo a busca do corpo idealizado pela sociedade, como anorexia e bulimia.
Então o fato é: a moral resta restrita aos contos de fada. São ensinamentos inócuos, pois, ao mesmo tempo que se procura ensinar à criança a respeitar as diferenças e ver o belo pelas ações das pessoas, na mídia se endeusa a beleza física relegando aos que não estão no perfil de beleza perfeita, papéis coadjuvantes de fonte de riso e pilhéria. Por tal razão, Oscar Wilde foge do fim hipócrita de dar um destino feliz ao anão. Ao invés disso concede-lhe um coração que se parte com a dor, enquanto o órgão falta à princesinha egoísta. Não que não haja finais felizes para os feios. Porque, outro ditado, bem mais sábio que o primeiro, concede esperanças numa sociedade padronizada: “a beleza está nos olhos de quem vê.” O que nos leva a crer que o que é belo para mim, não o será para outra pessoa. Isso porque devemos ter fé que a preferência das pessoas, mesmo muito influenciada hodiernamente pelo que determina a moda, ainda se guie por razões inexplicáveis.
Como surgiu esse culto pela beleza perfeita? Em artigo a revista infoescola, Orson Camargo tenta explicar a origem dessa paranoia social.
“Contudo, foi o cinema de Hollywood que ajudou a criar novos padrões de aparência e beleza, difundindo novos valores da cultura de consumo e projetando imagens de estilos de vida glamorosos para o mundo inteiro.
Da mesma forma, podemos pensar em relação à televisão, que veicula imagens de corpos perfeitos através dos mais variados formatos de programas, peças publicitárias, novelas, filmes etc. Isso nos leva a pensar que a imagem da “eterna” juventude, associada ao corpo perfeito e ideal, atravessa todas as faixas etárias e classes sociais, compondo de maneiras diferentes diversos estilos de vida. Nesse sentido, as fábricas de imagens como o cinema, televisão, publicidade, revistas etc., têm contribuído para isso.
Os programas de televisão, revistas e jornais têm dedicado espaços em suas programações cada vez maiores para apresentar novidades em setores de cosméticos, de alimentação e vestuário. Propagandas veiculadas nessas mídias estão o tempo todo tentando vender o que não está disponível nas prateleiras: sucesso e felicidade.
O consumismo desenfreado gerado pela mídia em geral foca principalmente adolescentes como alvos principais para as vendas, desenvolvendo modelos de roupas estereotipados, a indústria de cosméticos lançando a cada dia novos cremes e géis redutores para eliminar as “formas indesejáveis” do corpo e a indústria farmacêutica faturando alto com medicamentos que inibem o apetite.
Preocupados com a busca desenfreada da “beleza perfeita” e pela vaidade excessiva, sob influência dos mais variados meios de comunicação, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica apresenta uma estimativa de que cerca de 130 mil crianças e adolescentes submeteram-se no ano de 2009 a operações plásticas.
Evidentemente que a existência de cuidados com o corpo não é exclusividade das sociedades contemporâneas e que devemos ter uma especial atenção para uma boa saúde. No entanto, os cuidados com o corpo não devem ser de forma tão intensa e ditatorial como se tem apresentado nas últimas décadas. Devemos sempre respeitar os limites do nosso corpo e a nós a mesmos.”
Como explica o professor, não é objetivo deste artigo excomungar as modelos, destruir a indústria da moda, provocar uma revolução social tentando expurgar de todos os meios possíveis os padrões de beleza já instituídos. Ao contrário, admite-se que é importante preocupar-se com a saúde, mas respeitando o próprio corpo e seus limites. A busca insaciável da beleza deve ser vista como uma obsessão, uma psicopatia que deve ser tratada. Muitas pessoas estão descontentes com o corpo que possuem hoje em dia. A isso devemos creditar ao fato que estar de acordo com o padrão de beleza exaltado pela sociedade é bem difícil. Exige tempo, dinheiro e dedicação quase que exclusiva, bem como abstinência de certos tipos de comida, como alimentos gordurosos e doces. À grande maioria, esse padrão é um sonho distante, enquanto outros se submetem a cirurgias dolorosas ou fazem exercícios físicos à exaustão. É quase uma religião este culto ao corpo, muitas vezes podendo ser comparada a uma insanidade generalizada.
O que se deve questionar é a formação psíquica das crianças submetidas a este padrão tão elevado. Como podem crescer numa sociedade extremamente discriminadora que exclui o que não se enquadra nos padrões?
Camila Cury, em artigo desenvolvido para revista eletrônica aprendendo, afirma que a anorexia e a bulimia estão sendo desenvolvidas por crianças também. A mídia explora um padrão de beleza infantil que não se aplica a maioria da população infantil brasileira. O padrão é uma criança branca, magra, de cabelos loiros e olhos claros. Ocorre que no Brasil onde a grande parte da população é parda ou negra não se enquadra nesse modelo. Bem como as crianças gordas são colocadas a parte dessa ditadura mirim. Conforme Camila Cury:
“Homens e mulheres não desistem de buscar uma perfeita definição para o ´ser belo´. No decorrer dos tempos, entretanto, tal obsessão pela beleza gerou ainda diversos problemas de saúde, dentre os quais podemos enfatizar a Anorexia Nervosa e a Bulimia.
A Anorexia Nervosa é uma grave doença psíquica que traz sérias consequências orgânicas, podendo inclusive gerar a falência múltipla de órgãos, infecção generalizada e morte. Os sintomas são proeminentes, como queda de cabelo, alteração e até interrupção do ciclo menstrual, emagrecimento mórbido, alterações hormonais, comprometimento do ritmo cardíaco e da pressão sanguínea, humor depressivo, ansiedade, autopunição, alteração da cognição, isolamento social, preocupação obsessiva com a estética, autoimagem distorcida, baixa autoestima, dificuldade de pensar antes de reagir.
A Bulimia Nervosa igualmente é um grave transtorno psíquico com repercussões físicas importantes, porém nem sempre tão intensas como as da Anorexia. Embora em diversos casos não gere um emagrecimento mórbido, pode comprometer o índice da massa muscular e gerar sintomas semelhantes aos da Anorexia. Tem como característica básica o comer compulsivo associado ao sentimento de culpa e vômitos que são provocados.
Tais doenças estão sendo percebidas e atingindo também nossas crianças e jovens que influenciados por colegas, familiares e mais ainda pela mídia, estão sendo já uma das principais vitimas da ditadura da beleza.
O momento é de mudanças com relação a estes paradigmas de beleza e de atenção por parte de pais e professores para tal situação. É necessária uma revolução inteligente e serena contra esta dramática ditadura. Cada ser humano possui uma beleza física e psíquica original e particular e isto é o que o diferencia, é o grande tempero da vida. Ninguém deve se comparar a ninguém, pois cada um de nós é um personagem único no teatro da vida.”
Portanto, evidente que também as crianças estão sendo afetadas por este alto padrão de beleza. E isso está bem evidente na obra de Oscar Wilde, as pessoas procuram cada vez mais a beleza externa e não se preocupam em cultivar a interna. As boas ações estão em extinção, a promoção da pesquisa e acréscimo de inteligência é algo raro. Parece que estão todos dentro da obra O retrato de Dorian Gray do mesmo Oscar Wilde. Enquanto a beleza externa permanece intocável, o quadro que representa o que o homem é realmente se converte num monstro horrendo. É esta a questão que pretendemos deixar nesse capítulo, quais são as belas e as feras desse mundo discriminador, seria a beleza aquela que o espelho exalta ou em contraponto a que revela o Retrato de Dorian Gray? Todos deveriam possuir um quadro desses em casa para lembrar a todo instante como degradam sua figura com ações detestáveis.
3. Narciso e Dwarf, uma visão intertextual.
Mesmo aqueles que não leram a obra de Ovídio, Metamorfoses, conhecem a história de Narciso. Segundo conta o mito, Narciso é filho de Liriope e Céfiso, um rapaz belíssimo que fomentou paixões em várias ninfas e jovens. Uma das Ninfas foi Eco, outrora muito loquaz foi castigada por Juno por impedir várias vezes que a mulher de Zeus o pegasse em patente traição com outras ninfas. O castigo foi repetir apenas as últimas palavras daqueles que com ela falassem. Eco ao encontrar o belo Narciso, por ele se apaixona. O belo rapaz pergunta por seus amigos numa caçada: “Tem alguém aí?” Eco responde apenas: “aí?” Ele intrigado, pede: “venha até mim!” Eco repete o convite. Narciso então questiona: “por que foges de mim?” Eco repete novamente a última palavra. Então o belo, convida: “vem para junto de mim, unamo-nos!” A nada Eco respondera com mais vontade: “unamo-nos!” Ajuntando o gesto a palavra corre para abraçar o formoso rapaz. Ele afasta-se e diz: “Afasta-te de mim, nada de abraços. Prefiro morrer e não me entrego a ti”. Eco responde apenas: “me entrego a ti.” Foge então para uma gruta envergonhada onde definha até a morte, mas sua voz persiste na caverna, aprisionada para sempre. Para Narciso uma grande pena o esperava por fazer sofrer tantos corações. Numa fonte virgem, jamais vista por homem algum, quando Narciso se aproxima para matar a sede em razão da caçada, avista seu reflexo e apaixona-se por si mesmo. Tentava beijar-se a imagem turvava-se, ele clamava assim pelo seu retorno. Chorava e as lágrimas também faziam a imagem fugir, ele desesperava-se apaixonado. O jovem belo morreu ante ao seu reflexo, sendo convertido na flor branca de narciso.
Aí está a convergência das duas histórias, Dwarf hipnotizado pela horrenda imagem que o espelho refletia, demora a dar-se conta de ser apenas seu reflexo. A face fria do espelho assemelha-se com a face espelhada do açude que impede a Narciso de alcançar seu próprio reflexo. A rosa branca dedicada ao anão pela princesa faz referência à flor em que Narciso se converte ao apaixonar-se por si. Ambos, Dwarf e Narciso morrem em função de seus reflexos desgostosos, aquele por dar-se conta ser o monstro, este por não poder tocar a si mesmo. Quando a infanta entrega a flor para o anão este pensa ser uma demonstração de amor e jamais de escárnio. E a flor de Narciso é considerada símbolo do amor. Segundo Chevalier:“A rosa tornou‐se um símbolo de amor e mais ainda do dom do amor, do amor puro... A rosa como flor de amor substitui o lótus egípcio e o narciso grego. (Chevalier apud Albertim,2004)”
Nenhum dos personagens, Narciso e Dwarf, tem consciência tratar-se de seu reflexo a razão de seu repúdio e encantamento. Ambos encontram a morte ao deparar-se com seu reflexo. Mas a história do anão se assemelha ainda a de Eco, que ao apaixonarem-se têm seu amor rejeitado. São nesses aspectos que as duas histórias se equivalem. É certo que Oscar Wilde pensou nesses aspectos das duas obras ao criar esse conto de fadas tão triste que foge aos aspectos comuns a esse tipo de obra.
Narciso e Dwarf morrem em razão da beleza. Um despreza o amor de Eco, outro tem seu amor desprezado. Dorian Gray mantém seu aspecto jovem e belo enquanto a imagem na pintura se converte no monstro que o personagem se transformou, sem escrúpulos ou moral. Oscar Wilde apresenta um delicioso jogo de metáforas, que nos faz mergulhar nas histórias de Dwarf e Dorian Gray. Ambos presos pelos padrões de beleza, só que este mantém o monstro interno e o desenvolve, ao mesmo tempo em que aquele tem um físico horrendo, mas suas obras são nobres e tocantes. Esse é o espelho que nos apresenta o autor. A pintura revela a realidade. O espelho apresenta a imagem mais fácil de ser vista. O verdadeiro reflexo, aquele que a fonte não revelou a Narciso bem como o espelho não mostrou ao anão, esse é difícil de visualizar num primeiro momento. É necessário algum tempo para se enxergar e para isso, é fundamental aproximação e convivência. O amor pode não surgir à primeira vista, mas quando os olhos já podem ver aquilo que o físico não permite.
4. Conclusão
O objetivo deste artigo foi questionar os padrões de belezas vigentes num estudo sobre as obras de Oscar Wilde: o aniversário da Infanta e O retrato de Dorian Gray. Bem como fazer um estudo de intertextualidade dos livros acima com o mito de Narciso presente nas Metamorfoses de Ovídio. Num primeiro momento foi feita uma crítica à sociedade atual e aos modelos de beleza vigentes que afetam até mesmo as crianças. É lógico que a beleza está se tornando uma obsessão que provoca doenças psíquicas graves como a anorexia e a bulimia. E estes males já estão presentes até mesmo na infância. A busca desenfreada pela beleza está criando monstros, pois a figura mais fácil de ser vista, aquela que o espelho nos apresenta pode estar de acordo com que exige a sociedade, mas aquela, que traduz os homens como pessoas, definha como Narciso frente ao seu reflexo. Dwarf conscientizou-se que o amor que imaginava ter a Infanta por si era puramente escárnio. E saber-se monstro casou-lhe a morte. Sabe-se que as pessoas querem estar dentro dos padrões. Querem cinturas finas, cabelos loiros, a imagem que a mídia promove enfim. E nessa luta para ser aceito, acabam por destruir-se como Narciso e Dwarf ao deparar-se com si mesmos.
A conclusão mais clara desta trama é: não podemos nos enviesar pelo terreno da hipocrisia. É sabido que a maioria dos homens e mulheres escolhem seus parceiros em razão da atração física, mas existem aqueles ainda que se mantém originais. Pessoas que veem nos outros bem além do que pode apresentar o externo. Gente que tem em mente que a beleza é temporária e que o tempo é atroz e que a luta contra ele pode garantir alguns anos a mais de beleza. Porém, ninguém foge à velhice e decrepitude dos corpos. O que importa mesmo, no fim, é a beleza que Dwarf não pode ver em si, e que Narciso não poder perceber em Eco. Ambos se iludiram com seu reflexo. Por isso é necessário fugir dessa ditadura que dita a moda. O mundo está numa luta constante entre o que a sociedade nos exige e o que os homens são realmente. E nessa guerra interna, muitas vezes o lado que vence não é aquele que promoverá a felicidade do indivíduo. O prazer de estar em sintonia com que exige os padrões vigentes, não durará muito. E após a perda inevitável da beleza, talvez as pessoas se conscientizem que os valores mais importantes não se perdem jamais. Dwarf tinha o coração que faltava a Infanta e essa era dotada de uma beleza artificial, pois a generosidade que deveria ter aprendido de berço faltava-lhe. É fundamental compreender-se que a beleza é perecível e o que é realmente importante não poder ser visto. Porque já dizia Saint-Exupéry no seu Pequeno príncipe: “o essencial é invisível aos olhos”.
5. Referências Bibliográficas
ALBERTIM, Alcione Lucen, Dwarf, um mito subversiv, in http://www.revistaaopedaletra.net/volumes/vol%206.1/Alcione_Lucena_de_Albertim--Dwarf_um_mito_subversivo.pdf, último acesso em 30 de junho de 2012.
CAMARGO, Orson, Mídia e o culto à beleza do corpo, in http://www.brasilescola.com/sociologia/a-influencia-midia-sobre-os-padroes-beleza.htm
CURY, Camila, A Ditadura da Beleza também atinge nossas crianças e jovens!, in http://www.escolainteligencia.com.br/blog/aprendendo/a-ditadura-da-beleza-tambem-atinge-nossas-criancas-e-jovens/ último acesso em 30 de junho de 2012.
OVÍDIO, Metamorfoses, Ediouro: São Paulo, 1983.
SAINT-EXUPÉRY, ANTOINE, O pequeno príncipe, Agir: Rio de Janeiro, 48ª Ed., 2006.
WILDE, Oscar, O aniversário da Infanta in Histórias para aprender a sonhar, Companhia das letrinhas:São Paulo, 2011.
WILDE, Oscar, O retrato de Dorian Gray, Círculo do Livro: São Paulo, 1974.