O ANALFABETISMO FUNCIONAL E SUAS CONSEQUÊNCIAS SOCIAIS MEDIANTE O PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM

Por Raquel do Nascimento Santos | 19/07/2018 | Educação

O ANALFABETISMO FUNCIONAL E SUAS CONSEQUÊNCIAS SOCIAIS MEDIANTE O PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM

Raquel do Nascimento Santos

raquellopesnascimento@gmail.com

RESUMO

A escola é uma construção sócio histórica marcada profundamente pela cultura da comunidade pela qual faz parte. Ela não está pronta, está sempre em construção no movimento conflitivo dos interesses que a permeia. O objetivo deste artigo é analisar as interfaces do analfabetismo funcional na sociedade e as consequências desse analfabeto nas relações sociais. Percebe-se que a escola precisa promover aprendizagens significativas que desenvolva no aluno a capacidade aprender que perpasse o ambiente natural, social, o sistema político e os valores sobre os quais se baseia a sociedade. A falta de políticas públicas, os limites impostos dificultam uma práxes pedagógica que tomem a interdisciplinaridade e as aprendizagens significativas. Este artigo será embasado em pesquisas bibliográficas favorecendo aos leitores e educadores fundamentação teórica que possa contribuir na sua formação relacionando o sistema educacional e o processo ensino aprendizagem para a formação do cidadão. Para desenvolver o processo ensino aprendizagem concretamente é preciso que o educador utilize recursos da melhor forma facilitando a comunicação entre ele e o aluno na construção do conhecimento. A educação é instituição social que está voltada para a formação da personalidade dos indivíduos e inseri-los na sociedade, com uma educação de qualidade tornando-os letrados, e quando o sistema educacional falha, os alunos serão excluídos da sociedade, por não atingir a função social da leitura e da escrita, a escola não observou a dificuldade e nem, tão pouco, buscou profissionais que pudesse torna-lo letrado deixando-o assim a mercê dessa sociedade classificatória.

Palavras-chave: educação, analfabetismo, sociedade, afetividade.

INTRODUÇÃO

Ao longo dos tempos, a leitura passou a ser preocupação de muitos estudiosos por perceberem que não havia políticas públicas voltadas para a alfabetização e muitas crianças deixavam a Educação Infantil decodificando, mas não saiam lendo nem tão pouco, compreendendo o processo de letramento, ou seja, saiam com noção básica de leitura e escrita.

        De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais- PCNs de Língua Portuguesa (1997, p. 55) “a escola vem produzindo grande quantidade de “leitores” capazes de decodificar qualquer texto, mas com enormes dificuldades para compreender o que tentam ler”. É em virtude desse equívoco que hoje temos uma sociedade marcada pela exclusão.

     A compreensão textual é um processo que está ligado intrinsecamente ao fator ensino aprendizagem que requer compromisso de todos os envolvidos no sistema educacional e exclusivamente por parte do professor. E para que o processo ensino aprendizagem seja significativo faz-se necessário que o educador ressignifique os conteúdos resgatando sua importância no processo ensino aprendizagem, entendendo-os como formas ou saberes culturais que perpassa em todas as instâncias sociais, requerendo do educador um olhar  crítico no currículo, eficiência no momento de avaliar e no momento da abordagem temática de ser bem planejado de tal forma que venha propiciar interação dos conteúdos para que possam ser adequadamente ensinados e aprendidos. Nessa concepção, o educando não teria dificuldade, desenvolveria suas habilidades e suas competências como letrado.

    Quando a escola deixa de cumprir seu papel social de envolver de fato e de direito os educandos no processo ensino aprendizagem; não levar em conta a deficiência porque o aluno não aprende mediante a sua necessidade especial. De acordo com Soares (artigo jan/ab. 2004, nº 25).

(...) as práticas sociais de leitura e de escrita assumem a natureza de problemas relevantes no contexto da constatação de que a população, embora alfabetizada, não dominava as habilidades de leitura e de escrita necessária para uma participação efetiva e competente nas práticas sociais e profissionais que envolvem a língua escrita”.

     Nesse contexto, os educandos não compreendem o que lêem, apresenta dificuldade de relacionamento social, é visto como analfabeto funcional para servir à sociedade como mão de obra barata, ou seja, por não apresentar competências de leitura e de escrita que possa necessariamente usufruir em práticas sociais letradas.

Interfaces do analfabetismo funcional na sociedade

 A educação e principalmente nesta última década tem sido uma questão bastante discutida pelos que se preocupam com o processo de alfabetização por ter-se observado as mesmas dificuldades de aprendizagem. Ler e escrever por serem atos linguísticos, mas só recentemente que os linguistas passaram a dar ênfases com projetos educacionais.

  A criança quando entra na escola tem sua linguagem oral deturpada e só na fase adulta é que ela será capaz de observar sua fala sem as interferências da forma gráfica das palavras, após treinamento fonético.

 Sabendo que o processo de alfabetização inclui muitos fatores e quando o professor estiver ciente como se dá o processo de aquisição de conhecimento e de como a criança se situa em termos de desenvolvimento emocional, ou de como vem evoluindo o seu processo de interação social, seja da natureza da realidade linguística no momento em que está acontecendo a alfabetização, mais condições obviamente terá o professor de encaminhar o processo de aprendizagem de forma agradável e produtiva, evitando assim, os sofrimentos habituais nos alunos.

 Quando o professor estiver ciente de todo esse processo, certamente selecionará métodos, técnicas, buscará ritmos e tomará rumos que considera adequados para envolver sua turma, colocando sua sensibilidade acima de qualquer modelo pré-estabelecido para o bom andamento dos trabalhos escolares.

  Na história da humanidade a invenção da escrita foi o momento mais importante e na formação escolar de uma pessoa a alfabetização é sem dúvida o momento mais importante, pois é com os registros escritos e o saber acumulado pode ser controlado pelos indivíduos sendo eles as maiores fontes de poder nas sociedades. Mediante a importância dos processos interacionais atribuindo também a linguagem humana com sua função comunicativa. E quando a escola não alcança seu objetivo de envolver todos os alunos no processo de letramento, ela se tornará fracassada e fracassará seu alunos e se sentirão incapazes de evoluírem na questão do letramento.

                 Segundo Cagliari (2010)

(...) elaboração de atividades que facilitam o processo de aprendizagem por parte dos alunos, que passarão a receber uma explicação melhor de como a fala, a escrita, a leitura e a língua portuguesa funcionam. (p.80)

     Na alfabetização a escrita requer um tratamento especial, sabendo que ela permite a leitura e é a sua interpretação que irá consistir, na tradução simbólica em fala ou seja, ler é um dos seus fatores condicionantes, se por isso, que ela não pode ser entendida como somatória de significados individuais meramente simbólicos. É na fase da alfabetização que a criança demonstra capacidade de produzir textos espontâneos, constroem hipóteses, mas não perdem a facilidade de expressão, a coisa mais importante que a escola deve proporcionar ao educando é a leitura, pois se ele for leitor certamente entenderá o que leu e a escola neste caso cumpriu em grande parte sua tarefa. A leitura é a realização do objetivo da escrita.

     A leitura é antes de tudo uma decifração e uma decodificação. O leitor funcional primeiro decifra a escrita, depois entende a linguagem encontrada, em seguida decodifica todas as implicações contidas no texto e por último reflete e chega ao seu próprio conhecimento e opinião de tudo que acabou de ler. Nesse contexto ele desenvolve a habilidade de falante e é tido como um bom leitor, sabendo que não existe leitura sem decifração da escrita. Quando alguém ler por alto não identifica de imediato as ideias-chave, onde ele chega a uma falsa interpretação, porém ele apresenta habilidades em ler em voz alta.

     Quando o indivíduo está alfabetização, ele encontra na leitura fonte de prazer, satisfação, conquista, se sente realizado, além de estímulo e motivação elevando-o culturalmente.

Consequências do analfabeto funcional nas relações sociais

     A criança quando entra para a escola se depara com um ambiente alfabetizador e para que ela se torne de fato alfabetizada faz-se necessário que perceba o que está a sua volta, desenvolva a sua curiosidade e desperte seu interesse, sabendo que o valor social da escrita é puramente a comunicação e a sala de aula, é o local adequado para a aprendizagem por ter diversidade de gêneros textuais fixados nas paredes, diversidade de jogos e até das letras diferentes nos cartazes e a criança por sua vez, irá fazer relações entre letras e sons, as letras do seu próprio nome e ainda relacionar outros nomes que observa no ambiente que está inserida. Apesar de muitos estudos e ambiente alfabetizador o fracasso escolar ainda é um problema gritante na sociedade atual evidenciando as desigualdades sociais.

    Os aspectos emocionais e afetivos de aprendizagem das crianças ligado a falta de técnica e de teoria precisa tem levado muitos educadores se confundir que o problema apresentado pela criança em não aprender seja normal dentro do processo de desenvolvimento. Se o professor oferece ajuda efetiva, a criança poderia aprender de acordo com a diversidade das situações de uso no que se refere as regras de funcionamento da leitura e da escrita favorecendo ao seu desenvolvimento cógnito, pois é a partir desse princípio que ela se  torna letrada, fará relações do que escreve com o que lê e suas regras e obviamente as suas expectativas nesse caso, o professor está propondo ações de ensino aprendizagem favorecendo também a compreensão e as relações sociais de todos os envolvidos.

De acordo com TEBEROSKY “a propagação, aos níveis de competência, corresponde (...) a fatores complexos, de ordem cognitiva”. (2001. P53)

    A escola dentro de sua proposta pedagógica, é trabalhar com diversos gêneros textuais, produção de textos seja ele coletivo ou individual e reescrita. Para ela está envolvendo a criança no mundo letrado, mas não avalia o processo pelo qual a criança está passando fazendo vista grossa levar de fato criança compreender o texto na sua totalidade. Quando ela deixa de fazer esse fator que é preponderante na vida da criança que não é capaz de compreender o que está lendo ou seja não desenvolve sua habilidade de interpretação textual.

  No contexto da alfabetização, a criança só é considerada letrada quando é capaz de produzir textos e ler fluentemente na perspectiva sócio interativa, mas sabe-se que é aquela que tem domínio da leitura e da escrita de acordo a sua necessidade e como podemos enfatizar, essa necessidade mínima como cidadão diante de uma sociedade incontornavelmente penetrada pela escrita. Segundo bagno (2002, p.32)

(...) estimular, nas aulas de língua um conhecimento cada vez maior e melhor de todas as variedades sociolinguísticas, para que o espaço da sala de aula deixe de ser o local para o estudo exclusivo das variedades de maior prestigio social e se transforme num laboratório vivo de pesquisa do idioma em sua multiplicidade de forma e uso.

   Percebemos que as atividades de sala de aula estão totalmente voltadas para a decodificação da língua e não para a aplicação dos conhecimentos linguísticos e o aluno por sua vez, não contextualiza o que decodificou daí, surge os analfabetos funcionais, pois os textos trabalhados em sala de aula não são analisados na integra ou seja, nas suas diversas formas de uso no que se refere as variações de situações na vida humana e quem vê sai na frente em qualquer disputa e tem acesso a informações “privilegiadas”. “a influência na compreensão de um texto traz um diferencial para o indivíduo(fonseca_ 2013. P .16)

  O poder da linguagem e o seu poder na contemporaneidade, o uso de diversidade de gêneros textuais e sua interação é muito importante para o indivíduo, pois vivem nos mais diversos contextos sociais exigindo dele uma nova maneira de compreender a escrita, sua compreensão de fato relacionado assim, às habilidades de leitura e de escrita e suas práticas sociais levando-o a adquirir um outro estado e obviamente a outra condição “(SOARES, 1998, P.37)” “(...) mudar seu lugar social, seu modo de viver na sociedade, sua inserção na cultura, sua relação com os outros, com o contexto.”

 

 

Dentro dessa perspectiva, o indivíduo passa a pensar de forma diferente, pois é capaz de compreender o contexto o qual está inserido e expor suas ideias, por ser um membro atuante na sociedade.

O modo de inserção dos membros dos grupos “poucos letrados” na sociedade tem marcas de exclusão em um sistema em que o pleno domínio da leitura e da escrita e de outras práticas letradas é pressuposto da constituição das competências individuais necessárias e valorizadas nessa sociedade. “(OLIVEIRA, 2003, p. 147).”

  O indivíduo não é letrado por muitos fatores e um dos principais fatores foi a falta de oportunidades seja de interação ou sistemática com determinados aspectos culturais. Sabendo que na atual sociedade os “analfabetos” representam uma grande parte que atuam apenas nos trabalhos braçais. Onde são considerados e estigmados “sujeito menor” esse argumento é mascarado pela sociedade para a construção do papel e consequentemente do lugar submetido para o não escolarizado e se sobressaem os “considerados” letrados. “os processos psicológicos formam-se sob influência da interação verbal com adultos. “(VIGOTSKY_ 2010 p.153.). quando a criança vive num contexto familiar letrado tem ambiente propício para interagir com eficiência e eficácia numa sociedade camuflada de ideologia que “indiretamente” exclui os considerados analfabetos funcionais.

 

Conclusão

 

   A escola atualmente se depara com novos desafios desde estabelecer condições mais adequadas para atender a diversidade dos indivíduos como assumir, respeitar a compreender essa diversidade por ser requisitos para orientar a transformação de uma sociedade que é tradicionalmente pautada pela exclusão.

   Para que o aluno seja totalmente inserido e sinta-se como transformador dessa sociedade excludente é necessário que a escola estabeleça relações com os demais agentes da educação seja eles psicológicos, assistentes sociais dentre outros, que possam de acordo com suas especificidades contribuir no processo de desenvolvimento cognitivo de seu alienado, pois a escola deve ter concepção democrática voltada para o respeito do educando como ser único que constrói seu aprendizado como ser capaz de encontrar a melhor maneira para construir seus conhecimentos. 

   A falta de políticas públicas voltadas para os considerados excludentes comprovam o fracasso da educação que exige mudança em toda organização escolar e também no projeto político pedagógico que norteia todo trabalho da instituição.

 Vivemos numa sociedade letrada onde os estudantes buscam constantemente ampliar suas capacidades de produção e compreensão de variados gêneros textuais sejam eles orais ou escritos. Sabendo que a escola não leva em conta a dificuldade de aprendizagem apresentada por alguns alunos, e alguns desses alunos até decodificam o que ler porém, não conseguem compreender o que está lendo. Se o processo de planejamento das atividades escolares pelos educadores fosse realmente levado em conta como enfatiza lcal (2006) (...) uma forma de facilitar a ação diária(...) melhorar e conduzir as atividades, (...)prever as possíveis dificuldades dos alunos... “(p. 93/94) não teríamos aulas improvisadas e não obteríamos resultados indesejados.

  O problema na compreensão evidenciam que os alunos apresentam problemas, mas não são capazes de relacionar as ideias e realizar inferências. Nesses casos, à escola deve buscar ajuda especifica para envolver esses alunos proporcionando meios para que elevem sua autoestima, desenvolva suas habilidades e consequentemente suas competências. Para coll (2004 p.110) ... “a questão não é tanto fazer uma proposta sobre como desenvolver a linguagem escrita, mas sim antecipar os êxitos e os riscos que o acompanham independentemente da metodologia que se considere adequado”.

     Mediante a tantos problemas no sistema educacional ligado ao processo cognitivo, o desenvolvimento dos alunos quanto a capacidade de ler para aprender e de escrever para pensar implicam diretamente num alto grau de regulação onde requer atenção especial de todos os envolvidos e que os educadores possam de fato desenvolver nos alunos seu processo claro e preciso de letramento e insira-os na sociedade e que possam sentir-se como parte integrante e transformadora dela como ser pensante e atuante.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

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