O Alimento
Por Alberto Montenegro Siqueira | 04/06/2008 | CrônicasOcorre, nestes nossos dias de hoje, aquele fenômeno; "coma num restaurante por quilo que é mais barato!"
Óbvio que isso só pode funcionar para quem está em pleno regime, sofre de anorexia ou acertou na mosca o peso de seu prato! O que nunca foi o meu caso!
Com a chegada do inverno, então, é minha recente (bem, nem tão recente assim!) versão de ex-magro, que sofre as conseqüências. Comida, muita comida. O apetite dilatado pelo frio exige.
E lá estou eu... empunhando um prato, carregando nas colheradas e aumentando o peso (o meu e o do dele!).
De posse da comanda brilham os 600 gramas. Um absurdo!
Passados alguns minutos, entra no restaurante um jovem, 15 anos no máximo, baixinho e franzino, mal vestido e um pouco molhado.
Avança no corredor de iguarias variadas com uma certa ansiedade, servindo-se de tudo um pouco. Enche o prato de tal forma que me faz sentir bem. Penso que ali deva haver cerca de um quilo. Quando chega à balança decepciono-me um pouco com meu chute; "só" 850 gramas.
Vem então a surpresa;
-Xii moça, não posso pagar tudo isso não - diz com um sorriso ao mesmo tempo maroto e inocente. Só tenho dinheiro para duzentos gramas!
-Como? - retruca a funcionária, obviamente desconfiada da cena que se produz a sua frente. Mas você não viu que ia dar muito mais do que isso?
-Eu não sabia muito bem não quanto isso ia pesar.
Sem saber o que fazer, já que o prato estava feito e não haveria possibilidade de reaproveitamento da comida ela chama o gerente.
Ele mede o piá de cima a baixo, discute baixinho algo com ele, olha para os clientes. Não, não é um destes velhos conhecidos da casa. Não tem dinheiro mesmo. E está com fome. Pede para que ele espere.
O garoto ansia por uma definição. Olha em sua volta e, percebendo-se o centro das atenções, sorri sem jeito para todos que acompanham a situação.
Neste momento estou disposto a me levantar e oferecer a refeição ao mesmo. Não dá tempo!
O gerente volta, olha mais uma vez para o garoto, pergunta quanto ele tem no bolso. Faz menção, em tom mais grave, que abrirá somente esta exceção e entrega-lhe o prato.
O garoto, feliz, senta-se e começa a refeição. Come com gosto, saboreando cada garfada, apesar de um tanto corrido.Eis então, que o gerente retorna à mesa. Carrega uma bandeja e nela um copo de suco que é oferecido ao rapaz.
Terminada a refeição o menino se levanta e dirigindo-se ao caixa, puxa do bolso uns poucos trocados.
O gerente balança a cabeça em negação, sorri e devolve o dinheiro.
Sai o menino feliz e alimentado. Fica o gerente, feliz e com a alma alimentada. Saem os clientes restantes com a esperança renovada.
Hoje, menos uma pessoa passou fome, nesta nossa terra, ainda ingrata!