O ALFABETIZADOR E O PROCESSO DE LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO: REFLEXÃO E CONCEITOS

Por Benedita Luciana Moraes | 23/11/2014 | Educação

O ALFABETIZADOR E O PROCESSO DE LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO: REFLEXÃO E CONCEITOS

 

 

 

Benedita Luciana de Moraes

Cleodineya Moraes de Campos

Valdinéia Alves Santos  

Jussinei da Silva Santos

 

 

 

RESUMO

 

O foco da reflexão neste artigo prima pela colaboração do processo de compreensão das práticas do alfabetizador das séries iniciais do ensino fundamental.  Assim procura-se por meio do diálogo teórico situar a prática alfabetizadora, possibilitando a criação de uma identidade de professor alfabetizador. Neste sentido é, pois extremamente necessário que reflita e compreenda também o ato de alfabetizar letrando. É, pois necessários a conciliação destes dois processos, a saber, a alfabetização e o letramento para que rompa com os empecilhos da alfabetização e se possa dinamizar mais e mais a prática do alfabetizador.

Palavras-chaves: Prática. Alfabetizador. Alfabetizar. Letramento.

 

1-       INTRODUÇÃO

 

 

 

O mestre Paulo Freire em seus diálogos sobre as práticas pedagógicas nos postulou a idéia de que aprender a ler e escrever é uma dinâmica necessariamente vinculada a tomada de consciência e interpretação das relações humana.  Assim seguiremos aqui as setas no caminho que nos leva a discutir o cenário histórico dos processos da alfabetização, pois ao logo da história da educação brasileira esta tem sido alvo de muitas reflexões e controvérsias.

Neste sentido percorremos algumas teorias da alfabetização traçando um histórico das influencias que esta prática pedagógica tem recebido ao se evidenciar sua construção.   Para isto é, pois necessário que defina o perfil de alfabetizador, sua história, sua identidade, e sua localização em meios as práticas pedagógicas e teorias.  Nesta proposta o diálogo nos levará também a refletir sobre os processos que são exigidos numa alfabetização pelo letramento.

Indagar esta prática é um grande desafio que nos proposto diante do modelo educação que pretendemos nos dias atuais. Numa metodologia que possibilite a reflexão  das teorias e das pratica n um contexto histórico e social. E para que este um processo mais consistente tomaremos por base a pesquisa bibliografia e as teorias de autores como: Kleiman (20154), Ferreiro, e. Teberoski (1999), Britto (2007), Soares (2009) e outros que de forma efetiva contribuir com este processo.

2-       A ALFABETIZAÇÃO NO CENÁRIO HISTÓRICO

 

 

Desde as primeiras discussões da educação em solo brasileiro, a alfabetização vem se transformando na perspectiva de criar um conceito sólido e consistente que de conta de expressar todas as necessidades e elementos necessários para o “Ser alfabetizado.” Deste modo as idéias retrogradas de pessoa alfabetizada começam a ser superadas.  Se focarmos nos ditames da história, pode-se  perceber que por muito tempo o individuo que dominava a técnica de escrever o próprio nome mesmo que de forma mecânica era considerado alfabetizado, conforme assevera Britto (2007), nos anos 40, “passou-se a considerar alfabetizado quem demonstrasse ser capaz de ler e escrever um simples bilhete” (p.20). Vemos que esta seria uma visão um tanto deprimente do ponto de vista da aprendizagem posto que se focasse numa simples repetição mecânica, a margem da interpretação.

Em 58 argumenta Brito (2007), a UNESCO publica um novo conceito de individuo alfabetizado. Este novo conceito trazia a idéia que para ser considerado  alfabetizado o individuo, além de escrever e ler deveria dominar a interpretação de pequenas sentenças frasais que abordassem temas de seu cotidiano.

Posteriormente novamente a UNESCO passa a considerar os indivíduos que não concluira a 4ª serie primária, ou seja, na linguagem atual o 5º ano do ensino fundamental, estava classificado como analfabeto funcional. Desta forma, analfabeto funcional seria aquele indivíduo que lia, escrevia, mas tinha estas capacidades como base para seu aprimoramento e continuação da construção cognitiva.

Estes conceitos foram mudando e transformando à medida que as discussões em todo da temática da alfabetização iam avançando.  Esse contexto era freqüentemente  impulsionado pelo transformação tecnológica  e pela velocidade em que o mundo trabalhos consolidava suas exigências. Quanto mais desenvolvimento, mas se exige qualificação, ou seja, indivíduos capazes de ir além, de superar as expectativas do mercado de trabalho. Estas transformações e exigência trouxeram mais uma vez para o foco dos diálogos, o conceito de individuo alfabetizado. Estas transformações conceituais ficam evidenciadas na fala de Leite (2008) quando enfoca que:

Inúmeros trabalhos e pesquisas foram desenvolvidos, nos anos 70 e 80, demonstrando a necessidade do desenvolvimento de novos modelos de alfabetização, atendendo às demandas de uma sociedade cada vez mais exigente no que se refere à formação do indivíduo para o pleno exercício da cidadania. (p.24)

O que cada vez mais claro é que os processos de alfabetização tinham que ser discutidos do ponto de vista das práticas pedagógicas, pois só assim colocaria a educação brasileira na busca do rompimento com o tradicionalismo historicamente construído.  As novas exigências feitas à educação, frente à veloz expansão tecnológica, evidenciaram a necessidade de sujeito que não apenas lesse e escrevesse, mas que, além disso, pudesse inferir mudanças no meio através da leitura de mundo e da interpretação social da vida. Assim os desafios que apresentavam eram certo modo um espelho do caminho, da necessidade de superação das práticas alfabetizadoras vigentes. Nesta  ótica Leite (2008) continua contribuindo conosco através de seus argumentos:

Embora, nas últimas duas décadas, tenham se observado grandes progressos teórico-metodológicos na área, a formação do aluno como um competente leitor e produtor de texto, em nossas escolas públicas e particulares, ainda se coloca como um dos grandes objetivos a serem alcançados (p.21-22).

 

Estas reflexões históricas do conceito de alfabetização nos levaram a uma nova forma de expressar-se sobre o individuo alfabetizado que agora dever ser letrado. Todavia as questões referentes ao processo de letramento serão discutidas  no ponto 05 deste documento com mais especificidade.

3-       O ALFABETIZADOR

 

 

                Mediados pelo expansionismo tecnológico do século XXI, cria-se a idéias de que ensinar não mais apenas uma técnica escolar. A compreensão de um processo onde leitura e escrita são práticas sociais exige cada vez uma nova postura do professor alfabetizado.

Neste sentido Ferreiro (2003) contribui enfaticamente com a construção de uma nova postura para este profissional, pedagogo, que chamamos de alfabetizador. A estudiosa coloca a práxis pedagógica do alfabetizado na busca peça compreensão da escrita e da leitura dentro da dimensão sócio-cultural da língua escrita e do aprendizado. Assim o alfabetizador é aquele que entende a necessidade de inovar sua prática e buscar novos recursos que supera a prática mecânica e concilie um novo modelo de ensino e aprendizagem pautado na promoção social do individuo.

Assim é preciso que o alfabetizador seja conhecedor do conteúdo e do caminho a percorrer até chegar à construção cognitiva, pois não se pode ensinar o que não conhece e naco se chega a algum lugar sem as informações necessárias do caminho a seguir. Assim é, pois necessário criar um novo perfil de professor alfabetizador, pautado na busca e no desejo de conhecer cada vez mais.

Conforme  Pires, Ferreira  e Lima (2010):

O alfabetizador deve buscar, com o seu trabalho, conhecimento sobre a linguagem, pois os alunos fazem parte desse processo comunicativo. Nesse sentido, é fundamental reconhecer que o processo alfabetizador é um processo de interação com a língua, em que os aprendentes tornam-se produtores e realizam ações de reflexão sobre a linguagem. (p.03)

 

            A quem vá um pouco ainda mais longe ao se referir  ao alfabetizador, como é possível  ver em   Poersch (1990) apud de  Pires, Ferreira  e Lima (2010):

 

 

O alfabetizador é um profissional do ensino de línguas e, como tal, além do domínio e das técnicas pedagógicas deve possuir sólidos conhecimentos lingüísticos tanto da língua, enquanto meio de comunicação, quanto sobre a língua, enquanto objeto de análise. ( p.05)

 

 

O agente alfabetizador deve ser um conhecedor das variações lingüísticas, da estrutura e do funcionamento da língua, pois “o objetivo do alfabetizador é transportar a criança do domínio do código oral para o domínio do código escrito (Ibid. p.06)

 

 

4-       ALFABETIZAR

 

 

A necessidade da alfabetização nasce exatamente no momento em que nasceu a escrita, e com isso dá-se inicio as formas de leitura e de compreensão da escrita em seu rudimento. Assim Cagliari (1998) afirma que:

“O longo do processo de invenção da escrita também incluiu a invenção de regras de alfabetização, ou seja, as regras que permitem ao leitor decifrar o que está escrito e saber como o sistema de escrita funciona para usá-lo apropriadamente.” (p. 15)

 

A escola atual vive um grande dilema que este colocado a saber a forte dicotomia entre alfabetizar e letrar. Esta dinâmica no permite ver que  ambos se fundem numa busca incessante de construção de conhecimentos. Conforme Soares (2003) e Morais (2010), a práxis pedagógica do alfabetizador brasileiro esta fortemente afundada em uma confusão entre a compreensão de alfabetizar e letrar.

Neste aspecto, o letramento vai sendo concebido como pré-requisito da alfabetização ou a alfabetização passa a ser considerada parte integrante do letramento no processo de aquisição do código. Em nossa observação, as discussões inerentes à prática pedagógica alfabetizadora têm suscitado inúmeros questionamentos acerca de qual terminologia deve ser contemplada no desenvolvimento da ação docente em relação ao ensino da língua escrita. (p.12)

Todavia é importante ressaltar que a alfabetização dá conta do processo de aquisição da língua escrita e falada. Está prática não se ultrapassas apenas se renova e se consolida ainda mais ao passo que estudada e questionada. O que podemos asseverar é que a alfabetização acontece por meio de práticas sociais, a saber, da escrita e da leitura, assim é, pois uma pratica do próprio letramento.

O que se pode dizer então é que alfabetização sempre, desde surgimento do termo, estará ligada à questões que se relacionam a escrita e a leitura, não excluído assim os processos sociais e evolutivos em que estes elementos estão incluídos.

Ferreiro (2001) afirma que, que de extrema importância uma tomada de  recente a tomada de “consciência sobre a importância da alfabetização inicial como a única solução real para o problema de alfabetização remediativa (de adolescentes e adultos)”.

 

5-       REFLETINDO SOBRE LETRAMENTO

 

 

Iniciamos nossa reflexão na tentativa de definir uma linha de raciocínio que de fato defina e nos traga clareza dos conceitos de letramento. Para isso queremos tomar por base a explicação de Soares (2009), ao falar sobre este termo, que assim ele enfoca:

O termo letramento surgiu porque apareceu um fato novo para o qual precisávamos de um nome, um fenômeno que não existia antes, ou, se existia, não nos dávamos conta dele e, como não nos dávamos conta dele, não tínhamos nome para ele. (p.34,35.)

Na visão de Soares (2009), o termo letramento traz para nós educadores não um novo olhar, mas um novo trato à questão da leitura e da escrita em nossa prática pedagógicas. E neste sentido é o autor confere sua argumentação de letramento asseverando que este pode redimensionar no individuo “seu estado ou condição em aspectos sociais, psíquicos, culturais, políticos, cognitivos, lingüísticos e até mesmo econômicos” (p.18).

Nesta perspectiva lançam-se as bases da diferença entre a alfabetização e o letramento. Onde podemos dizer que enquanto o primeiro se preocupa com a codificação e decodificação dos signos, o segundo evidencia o uso desta habilidade  na leitura e na escrita como práticas sociais. Desta forma o letramento imbui o uso consciente da escrita e da leitura em seus significados no meio social e no contexto histórico.

Muito embora este dois elementos se configurem de formas um tanto distintas, o que percebemos é que dinâmica do aprender eles estão indissociáveis. Desta forma o diálogo nos leva ao entendimento de que a alfabetização não pode estar desvinculada do contexto social que, pois é este que lhe dá as possibilidades de interpretação e de uso dos signos de forma significativa, e isto é letramento.

É bem verdade que no que diz respeito à definição de letramento, ainda não há um consenso entre os pensadores do presente século, posto que para alguns como Ferreiro (2001) e Teberoski (1999), a construção do conhecimento em torno da escrita já emerge de salutares contextos sociais de interação com a cultura e com o mundo.

Contrapondo as idéias das teóricas Kleiman (2005) argumenta que o letramento imbui-se em um processo ainda maior que a alfabetização, não se limita apenas as ações que se dão no interior da escola, mas expande-se e se configura no contexto das práticas sociais, pois o “letramento não é alfabetização, mas a inclui!” (p.11).

Assim kleiman (2005) continua:

[...] o termo letramento já entrou em uso carregado de novas associações e significados, como, por exemplo, uma nova relação com a oralidade e com linguagens não-verbais, não incluídos nem previstos no termo alfabetização. (p.12)

Deste modo pode-se perceber que há, pois consideráveis diferenças entre a alfabetização e o letramento, posto que o segundo trás a primeira em seu bojo dando-lhe mais conteúdos e a conciliando como prática social.

 

6-       CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

 

Após travarmos este diálogo pode-se chegar à conclusão de que  alfabetização é o processo que dá conta da leitura e da escrita, estando por sua vez fundada na própria idéia de letramento enquanto prática social.

Muito embora alfabetização e o letramento possam ser vistos por muitos teóricos como processos distintos da aprendizagem, ambos são indissociáveis na construção cognitiva. Assim estes dois processos não se dão de forma separadas, podem ser evidenciados em cada pratica pedagógica que se realiza em torno da aprendizagem.

Há teóricos como Ferreiro  e Teberoski que não  vêem a necessidade de uma  nova nomenclatura para a alfabetização, no caso o letramento. Pelo contrario as autoras defendem a idéia de que os processos de ensino da escrita e da leitura por si já estão imbuídos na interação com o mundo e com as praticas sociais. Por outro lado há quem defenda esta dicotomia dos processos, todavia o que se pode concluir é que o professor que se propõe a assumir o desafio de alfabetizar deve ter claros os desafios que lhe estão propostos.

Neste sentido é preciso que se crie uma identidade nacional de alfabetizador e que sua prática esteja centrada  neste rico processo de ensino e aprendizagem e sua dinâmica leve a construção cognitiva coerente e sólida.

 

 

7-       REFERENCIAS BIBLIOGRÁFIC

 

            Alfabetização, Professor Alfabetizador E Prática Pedagógica PIRES, Maria das Graças Porto. FERREIRA, Lúcia Gracia. LIMA ,Daniel Fernandes  disponível em https://www.google.com.br/search?q=ALFABETIZAÇÃO%2C+PROFESSOR+ALFABETIZADOR+E+PRÁTICA+PEDAGÓGICA&i  acessado em 22/11/2014

BRITTO, L. P. L. Alfabetismo e Educação Escolar. In Silva, E. T.(Org.). Alfabetização no Brasil: Questões e Provocações da Atualidade. Campinas: Autores Associados, 2007.

KLEIMAN, A.B. Os significados do letramento: uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita. Campinas, SP: Mercado das Letras, 1995.

KLEIMAN, A.B. Preciso ensinar o letramento? Não basta ensinar ler e escrever? Brasilia, MEC/.Cifiel/IEL/UNICAMP. 2005.

FERREIRO, E. Reflexões sobre a alfabetização. Tradução Horácio Gonzales(et.al.), 24 ed. São Paulo: Cortez, 2001.

FERREIRO, E. TEBEROSKY, A. Psicogênese da Língua Escrita. Trad. Diana Myriam Lichtenstein, Liana Di Marco e Mário Corso. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. São Paulo. 41ª ed.Cortez. 2001.

SOARES, M. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.

________ Alfabetização e Letramento. São Paulo: Contexto, 2008.

________ Letramento e alfabetização: as muitas facetas. Revista Brasileira de

Educação. Jan/fev/mar/abr/, 2004 nº 25. Disponível em:< www.scielo.br/pd/rebdu/n25/n25a01.pdf>   acesso em: 20/11/2014.

PIRES, Maria das Graças Porto. FERREIRA, Lúcia Gracia. LIMA ,Daniel Fernandes

 

SOARES, M. A reinvenção da alfabetização. Presença Pedagógica. Vol 9, n. 52. jul/ago, 2003, p. 14-21.

 

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