O absurdo custo do spread bancário ao Brasil

Por Alexsandro Rebello Bonatto | 29/04/2009 | Economia

A cada nova reunião do COPOM o Brasil está mais próximo a conviver com uma taxa SELIC de apenas um dígito. Esta é uma vitória da estabilização, do Governo Lula, enfim de todos os brasileiros.

Mas a grande questão que deve emergir: será que o spread bancário também cairá?

Durante muito tempo, os bancos argumentaram que em função da taxa básica estar em patamares tão altos, era impossível praticar uma taxa mais básica para o tomador final.

Como este discurso tem prazo de validade, os bancos já preparam seu argumento para o pós-SELIC-um-dígito.

Eles dirão que o spread bancário não tem nada a ver com a SELIC. Eles estão altos em função da inadimplência que não pára de subir.

Se é assim caímos num buraco negro: o spread é alto por causa da inadimplência, ou a inadimplência é alta em função da taxa de juro cobrada?

Segundo relatório divulgado pela FIESP, o aumento do spread bancário em meio à crise financeira mundial custou R$ 8,2 bilhões aos brasileiros. Significa que dizer que o equivalente a nada menos do que 1,5% do total de investimentos em produção feitos no ano passado, ou cerca de 0,5% do consumo das famílias, foi pago a mais por causa dos aumentos do spread acima do valor correspondente à inadimplência entre setembro de 2008 e fevereiro deste ano.

O trabalho da Fiesp ajuda a contestar o argumento dos bancos, que alegam ter aumentado o spread por causa da maior exposição das entidades à inadimplência. A inadimplência cresceu 19,5% entre setembro de 2008 e fevereiro de 2009. A Fiesp, no entanto, ponderou essa alta pela participação da inadimplência no spread, que era de 37,4% em 2007 (última estimativa disponível do BC). Chegou à conclusão de que o aumento do calote justificaria uma elevação de apenas 7,3% no spread, quase a metade dos 13% aplicados pelos bancos.

Ao longo dos cinco meses pesquisados pela Fiesp, as despesas dos brasileiros com pagamento de juros somaram R$ 152,6 bilhões, conforme o BC. Nas contas da Fiesp, esse gasto deveria ter sido de R$ 144,3 bilhões. Segundo a entidade, os cerca de R$ 8,2 bilhões excedentes correspondem aos aumentos injustificados do spread.

Diferentemente do que dizem os bancos, a FIESP considera que os elevados spreads (diferença entre a taxa de juros cobrada pelos bancos e a que eles pagam para captar recursos) vigentes no País é que causam a inadimplência, e não o contrário. A instituição observa que os bancos aumentaram o spread porque estão trabalhando com a perspectiva de que a inadimplência vai aumentar ainda mais este ano. "É uma profecia que se autorrealiza."

Felizmente o governo tem defendido publicamente uma redução acelerada da Selic, como forma de incentivar a economia brasileira a atravessar a crise financeira mundial da melhor forma possível. Tanto que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva demitiu Antonio Francisco de Lima Neto da presidência do Banco do Brasil, por causa justamente das altas taxas de juros e spread cobrados pela instituição.

O negócio é aguardar para ver qual será a posição dos bancos depois da reunião do COPOM desta semana. Minha aposta é que a queda de braço está apenas começando.

Bibliografia:
Jornal O Estado de São Paulo de 26 de abril de 2009