O ''desviante'' nas práticas sexuais
Por Paula Marsolla | 14/12/2009 | PsicologiaEste artigo se baseia em abrir vários questionamentos e incentivar a reflexão sobre a validade do conceito de normal e desviante dentro das práticas sexuais. A partir de uma perspectiva dialética, a autora aponta em vários momentos históricos que essa distinção na prática não existe, é meramente simbólica e se encontra no plano da moral influenciada por uma cultura judaico-cristã. Foi realizada uma busca bibliográfica sobre as principais obras no campo da sexualidade. Aqui se mostra uma parte do estudo.
A partir dos nossos conhecimentos no âmbito do senso comum, o desviante só pode ser entendido se relacionado ao se oposto, o normal. É como frio e calor, não se conhece o frio a partir do calor. Mas será que realmente é assim? O conceito de normal no senso comum é algo que é comum a todos, que não causa nenhum choque e qualquer uma das esferas mais amplas que nos rodeiam, como a moral, a religião, a tradição, entre outras. E a partir disto é possível classificar o desviante, é tudo que "foge" dessa definição.
Assim temos uma curva parecida com essa:
Dados hipotéticos para demonstrar a estatística das práticas sexuais
Os picos correspondem à normalidade, aquela que é socialmente esperada, os extremos correspondem ao considerado desviante.
Atente para o fato que a normalidade aparece com maior freqüência, e o desviante como minoria. Mas realmente é assim? Tratamos aqui de definir normal no âmbito do senso comum como algo comum, mas o comum para mim pode não ser comum para você e pode até haver outra classificação para um terceiro. Seguindo os três exemplos da apresentação:
As fotos: Uma menina de doze anos, posando para fotos e certas posições. Para os próprios membros daquela família houve divergências ao lidar com a normalidade e desviante das poses, então imagine quando isso toma proporções maiores, como em uma instituição ou na própria cultura, onde existem membros com repertórios extremamente diferentes e que divergem em inúmeros pontos.
A música: Um menino de quatro anos cantando uma música de "funk" e com vocabulário, digamos, inapropriado para sua idade. Nesse determinado contexto, alguns podem considerar o menino um prodígio de cantor, outros que ele não tem idade nem maturidade o suficiente para fazer como faz.
O vídeo: Mesmo nos contextos desviantes, o conceito entre normal e desviante é presente.
Como demonstrado no casal de homossexuais que adotaram um menino e acreditavam que ele era homossexual também e descobriram que o menino tinha se apaixonado por uma menina, e isso foi o fato chocante.
Essa indagações levam a um questionamento muito mais amplo, será que realmente existe um padrão?
O relatório Kinsey é um estudo feito na década de 50, aproximadamente, que revelou que práticas sexuais ditas desviantes eram muito mais comuns que a normalidade pressuposta.
Ou seja, temos um gráfico assim agora:
Dados hipotéticos para demonstrar a estatística das práticas sexuais
Os picos referem-se às práticas sexuais mais usadas, o que não quer dizer que correspondem as mais aceitas.
Isso quer dizer, que a exceção é maior do que a regra?
Temos a regra como um modelo a ser seguido, e como todo modelo não existe na prática a própria palavra já diz, modelo. Por isso se propõe novos paradigmas para se pensar a questão do normal e desviante. E como toda mudança de paradigma resulta numa mudança no senso comum, como trataríamos isso?
Talvez a distinção entre normal e desviante é tão presente no nosso vocabulário, não somente quanto às práticas sexuais, mas a um grande número de situações, precisaremos de mais tempo para refletir sobre a questão de rotulação das pessoas.